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terça-feira, 1 de outubro de 2013

O armário




Por Carlos Sena (*)

(A modernidade muitas vezes não encontra novos termos para se comunicar acerca de antigos  modos de pensar, agir e sentir. No rol desses termos, muitas vezes cai nossa "ficha". No rol deles também nos sentimos, de uma forma ou de outra "no armário".)

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O  "armário" virou designativo de GAY que não se assume. A lógica dessa metáfora é interessante porque não há nada novo no termo. Mas houve uma ressignificação importante por conta de ser ele, o armário, uma alternativa de de abrigar coisas que são sem ser, mas que também poderão representar outras que nunca foram mas são.

O armário, no quarto, que é onde normalmente ele mais se encontra, está ali posto e na dependência do que se coloca dentro dele. Sua projeção psicológico-comportamental se estabelece em função de que tudo se pode colocar dentro dele, inclusive preferencias sexuais, sociais e morais. Há casos em que o armário deixa de ser metafórico para ser literal: quando alguém, por exemplo, coloca dentro dele o amante! Teremos então o amante do armário, diferente do GAY que vive no armário sem nunca nele ter entrado. Dito diferente, um entra sem nunca ter saído  e o outro sai sem nunca ter entrado. Há também os casos de gays que também socam lá dentro seus amantes por situações idênticas às do amantes heteros. Percebe-se que o armário tem mais serventia do que bombril pra limpar as "ferrugens" afetivas. Mas, As ferrugens sociais também poderão ser incluídas dentro dele,  do nosso decantado armário. Político que não sabe a quem bajule é um político a quem costumamos chamar de "em cima do muro" mas, que também poderemos dizer "no armário" pela ressignificação simbólica do termo.

Embora a comunidade GAY tenha se apoderado desse termo, podemos também utiliza-lo noutras construções. Tem puta no armário. Tem político no armário. Tem padre no armário. Tudo pode ter dentro dele, mas os que mais se locupletam são os gays até por necessidade de proteção. Proteção: essa é a chave do armário. Quem mais sofre nesse contexto são os gays, naturalmente. Porque muitos o fecham tão bem fechado  que esquecem onde guardaram as chaves e ficam sufocados sem dele poderem sair... Diferente dos políticos, das pautas, dos garotos de programa, dos padres e pastores e outros atores que são chegados a um armário. Outro dia um pastor foi visto disfarçado de pecador, pois,  estava entrando numa seção de cinema pornô. É o mesmo caso dos demais que se protegem no armário como forma de não perder o mercado de trabalho ou a pouca vergonha que alguns parecem ter por não se sentirem felizes por dentro, em conformidade com o que de verdade sentem.

O problema se estabelece quando o armário, já velho, começa a se deteriorar e os que estão  dentro dele podem ser pegos de surpresa. É quando literalmente a casa cai e com a queda o armário não suporta o peso e também cai com ela. Mesmo porque os armários, com o tempo se modernizam em seus leiautes. Alguns deles ficam até na modalidade de vidro fumê o que deve ser o "ó do bo-ro-go- dó", pois deixam os  usuários completamente sem proteção. Então, talvez seja nesse momento que, ao menor sinal de avaria dos armários muitos enrustidos decidem mesmo é "SOLTAR A FRANGA". Os heteros que por acaso estiverem nessa hora no armário poderão inclusive, levar um tiro! Ninguém nunca sabe da reação de um corno, mas, no geral, eles gostam de matar...

Os gays, de dentro do armário poderão ainda se divertirem. Lá dentro tem roupas de homem e de mulher, de sapo e de jacaré. Há armários que são completos e até guardam coisas exóticas como vibradores e outras da sexualidade censurada pelos pudicos. Dizem que alguns gays adoram quando suas esposas, coitadas, viajam sem eles. Porque eles ficam dentro do armário se vestindo com suas roupas e soltando a franga como se não existisse mais o dia seguinte - aquele em que  a esposa chega, flagra ele com um  BOY em sua própria cama! 

Como se vê armário dá até tese de mestrado e doutorado. Porque belo dia  a " casa cai", digo, o armário cai. Então será um deus-nos-acuda sem fim: purpurina, blache, batom, cornetas, trombetas, tapetes vermelhos, chuvas e trovoadas, tudo junto e misturado, porque entra filho desesperado que não aceita ter um pai de armário, sai a mãe inconsolada porque se acha incompetente por ter perdido o marido para um rapaz e por aí vai. É nessa hora que a "Ficha" cai qual o pano do teatro sinalizando que o "ESPETÁCULO TERMINOU"...

( "Ficha" já nem existe mais na conotação original, pois os poucos orelhões estão todos digitais. As fichas, coitadas, só servem hoje como pano de fundo da nossa pobre comunicação... E como traduzem bem o sentimento simbólico de quando a comunicação se estabelece por completo!)

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 16/08/2013

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