Por Carlos Sena (*)
(A modernidade muitas vezes não
encontra novos termos para se comunicar acerca de antigos modos de pensar, agir e sentir. No rol desses
termos, muitas vezes cai nossa "ficha". No rol deles também nos
sentimos, de uma forma ou de outra "no armário".)
............. * * *.............
O
"armário" virou designativo de GAY que não se assume. A lógica
dessa metáfora é interessante porque não há nada novo no termo. Mas houve uma
ressignificação importante por conta de ser ele, o armário, uma alternativa de
de abrigar coisas que são sem ser, mas que também poderão representar outras
que nunca foram mas são.
O armário, no quarto, que é onde
normalmente ele mais se encontra, está ali posto e na dependência do que se
coloca dentro dele. Sua projeção psicológico-comportamental se estabelece em
função de que tudo se pode colocar dentro dele, inclusive preferencias sexuais,
sociais e morais. Há casos em que o armário deixa de ser metafórico para ser
literal: quando alguém, por exemplo, coloca dentro dele o amante! Teremos então
o amante do armário, diferente do GAY que vive no armário sem nunca nele ter
entrado. Dito diferente, um entra sem nunca ter saído e o outro sai sem nunca ter entrado. Há
também os casos de gays que também socam lá dentro seus amantes por situações
idênticas às do amantes heteros. Percebe-se que o armário tem mais serventia do
que bombril pra limpar as "ferrugens" afetivas. Mas, As ferrugens
sociais também poderão ser incluídas dentro dele, do nosso decantado armário. Político que não
sabe a quem bajule é um político a quem costumamos chamar de "em cima do
muro" mas, que também poderemos dizer "no armário" pela
ressignificação simbólica do termo.
Embora a comunidade GAY tenha se
apoderado desse termo, podemos também utiliza-lo noutras construções. Tem puta
no armário. Tem político no armário. Tem padre no armário. Tudo pode ter dentro
dele, mas os que mais se locupletam são os gays até por necessidade de
proteção. Proteção: essa é a chave do armário. Quem mais sofre nesse contexto
são os gays, naturalmente. Porque muitos o fecham tão bem fechado que esquecem onde guardaram as chaves e ficam
sufocados sem dele poderem sair... Diferente dos políticos, das pautas, dos
garotos de programa, dos padres e pastores e outros atores que são chegados a
um armário. Outro dia um pastor foi visto disfarçado de pecador, pois, estava entrando numa seção de cinema pornô. É
o mesmo caso dos demais que se protegem no armário como forma de não perder o
mercado de trabalho ou a pouca vergonha que alguns parecem ter por não se
sentirem felizes por dentro, em conformidade com o que de verdade sentem.
O problema se estabelece quando o
armário, já velho, começa a se deteriorar e os que estão dentro dele podem ser pegos de surpresa. É
quando literalmente a casa cai e com a queda o armário não suporta o peso e
também cai com ela. Mesmo porque os armários, com o tempo se modernizam em seus
leiautes. Alguns deles ficam até na modalidade de vidro fumê o que deve ser o
"ó do bo-ro-go- dó", pois deixam os
usuários completamente sem proteção. Então, talvez seja nesse momento
que, ao menor sinal de avaria dos armários muitos enrustidos decidem mesmo é
"SOLTAR A FRANGA". Os heteros que por acaso estiverem nessa hora no
armário poderão inclusive, levar um tiro! Ninguém nunca sabe da reação de um
corno, mas, no geral, eles gostam de matar...
Os gays, de dentro do armário
poderão ainda se divertirem. Lá dentro tem roupas de homem e de mulher, de sapo
e de jacaré. Há armários que são completos e até guardam coisas exóticas como
vibradores e outras da sexualidade censurada pelos pudicos. Dizem que alguns
gays adoram quando suas esposas, coitadas, viajam sem eles. Porque eles ficam
dentro do armário se vestindo com suas roupas e soltando a franga como se não
existisse mais o dia seguinte - aquele em que
a esposa chega, flagra ele com um
BOY em sua própria cama!
Como se vê armário dá até tese de
mestrado e doutorado. Porque belo dia a
" casa cai", digo, o armário cai. Então será um deus-nos-acuda sem
fim: purpurina, blache, batom, cornetas, trombetas, tapetes vermelhos, chuvas e
trovoadas, tudo junto e misturado, porque entra filho desesperado que não
aceita ter um pai de armário, sai a mãe inconsolada porque se acha incompetente
por ter perdido o marido para um rapaz e por aí vai. É nessa hora que a
"Ficha" cai qual o pano do teatro sinalizando que o "ESPETÁCULO
TERMINOU"...
( "Ficha" já nem existe
mais na conotação original, pois os poucos orelhões estão todos digitais. As
fichas, coitadas, só servem hoje como pano de fundo da nossa pobre
comunicação... E como traduzem bem o sentimento simbólico de quando a
comunicação se estabelece por completo!)
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 16/08/2013
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