Por Zezinho de Caetés
Hoje faço um nariz de cera para uma aula de história. O Ruy
Fabiano, no último sábado, a partir do Blog do Noblat, escreveu o texto: “O tamanho da crise”, e nele procura
esmiuçar as crises políticas que se passaram em nossa república nos últimos
tempos, desde a queda do general Figueiredo, de não saudosa memória.
Nele, vocês encontrarão a seguinte frase: “De mudança em mudança, chegou-se ao PT, que
a prometeu em termos mais radicais que seus antecessores: seriam não apenas
econômicas, sociais, mas, sobretudo, de ordem moral. O partido construíra sua
reputação com um discurso moralista tão extremado que Brizola chegou a
apelidá-lo de “UDN de tamancos”.”
Vejam bem como a política, que o Magalhães Pinto dizia que
parecia uma nuvem, porque mudava de forma todo o tempo, e eu já digo que parece
cocô de cachorro na calçada, pois a cada pessoa que passa e nela pisa, sai
xingando, enquanto sua forma mudou, já houve um tempo em que o PT falava em
moral. Alguém viu nos últimos 10 anos pelo menos, este partido pronunciar esta
palavra? Claro que não, porque suas ações foram tão diferentes de sua pregação
que a palavra foi esquecida. E quando falam, seu significado é diferente da
Moral. Para os apreciadores da Unidos da Papuda, quem agora é a “UDN de grife” é o PSDB e a oposição em
geral, que hoje critica sua derrocada moral.
Hoje, temos uma governante que se esconde nos piores momentos
de crise que o país atravessa desde a redemocratização do país, que
simplesmente sumiu e, como eu já disse aqui mesmo, só pode ser por vergonha.
Pelo menos, meu conterrâneo Lula, não sumia quando a coisa apertava. Mentia,
está certo, como para dizer que o mensalão era apenas caixa dois e depois que
não existia, mas, pelo menos, não fugia da raia. O cara era mesmo sem vergonha,
mas não sumia, até agora.
A Dilma está muda, e não sei se surda, mas, isto ela sempre
foi porque só ouvia Lula, que falava muito alto, e agora, que estão brigados,
não ouve mais ninguém. Agora também o Lula emudeceu ou não tem mesmo o que
dizer, depois do que Marta Suplicy disse dele. Eu já penso que a mudez deles
vem do rombo bilionário que o partido criou na Petrobrás. Ora, se isto agora é
admitido mesmo pelo ex-presidente da empresa, o Gabrieli, além dos doleiros da
vida, como eles irão explicar que não sabiam, e que agora o TCU descobriu que o
Zé Dirceu ganhou tanto dinheiro das empresas que davam propina, que não quer
mais saber deles?
Além disso, como explicar ao distinto público, sem uma Carta
aos Brasileiros, que agora a economia voltou ao “neoliberalismo” (o que nunca usou a não ser o liberalismo do FHC,
tolhido pelas circunstâncias) como promessa de levar o pobre para o seu lugar?
O que a Dilma descobriu, e tem menos malícia e apego ao poder do que o Lula,
foi que não se pode dar almoço grátis a todos, sob o perigo de todos ficarem
sem almoço. O que eu não sei é se o Levy, o Risonho, é a pessoa certa para
levar à frente este retorno à era FHC. Eu mesmo preferia o seu professor, o
Armínio Fraga.
Mas, pensando bem, do jeito que a economia brasileira está,
foi até melhor que a Dilma ganhasse as eleições, mesmo se valendo de um
estelionato eleitoral, como o país jamais viu, porque temos a certeza de que,
se ela não sair antes por impeachment ou por renúncia, sairá daqui a quatro
anos. E se continuar com a vergonha que está hoje, pela porta dos fundos, como
Figueiredo.
Mas fiquem com o texto do Ruy Fabiano e meditem sobre a
história, para não repeti-la, pensando que o Lula é uma solução. Ele é o
problema.
“O exercício continuado do poder é, historicamente, fator de desgaste e
enfraquecimento, sobretudo quando sua longevidade é atropelada por crises
conjunturais. Há numerosos exemplos – e
entre nós, o mais recente foi o próprio regime militar.
Durou 21 anos e não resistiu ao acúmulo de fatores adversos que o tempo
impõe (e expõe), em especial quando entra em cena a economia. Quando o presidente
Figueiredo viu-se desafiado pela frente oposicionista comandada por Tancredo
Neves, em 1984, já iam longe os bons tempos de crescimento alto e inflação
controlada, que tornavam os outros erros secundários.
O país começava a mergulhar na crise que, no governo seguinte, o
levaria à hiperinflação. A crise, porém, começara ainda no governo Geisel,
estendera-se pelo governo seguinte, levando às ruas o discurso da mudança. Não
se acreditava mais na capacidade do regime de protagonizá-la.
O resto é história. Não houve eleição direta, mas houve notória
participação popular nos acontecimentos que levaram a oposição a vencer no
colégio eleitoral.
De mudança em mudança, chegou-se ao PT, que a prometeu em termos mais
radicais que seus antecessores: seriam não apenas econômicas, sociais, mas,
sobretudo, de ordem moral. O partido construíra sua reputação com um discurso
moralista tão extremado que Brizola chegou a apelidá-lo de “UDN de tamancos”.
Nos dois períodos do governo FHC, em que a economia começou a se ajustar
– não sendo, portanto, tão eficazes as críticas a esse tema -, o PT investiu
duramente na estratégia das denúncias. Pedia CPI todo dia. Lula não hesitava em
dizer: “Quanto mais CPI, melhor”. Foi com esse discurso, que assegurava que era
possível “um mundo melhor”, que o partido chegou ao poder.
É bem verdade que contou com uma mãozinha do próprio FHC, que, antes
das eleições, chegou a dizer que “agora é a vez do Lula”. Supunha que PSDB e
PT, vertentes do que via como gradações de um mesmo programa esquerdista,
estavam destinados a se alternar ad eternum no poder.
Mas essa é outra história, que a História desfez. O que importa é
constatar que o moralismo petista era meramente estratégico. Sabia que a
maioria das denúncias que fizera quando na oposição era de fachada. Não fosse,
já as teria reaberto e dado consequência judicial desde o início. O partido
assumiu conduta que ele próprio passou a chamar de pragmática (palavra que
adquiriu significado para lá de ambíguo).
Aliou-se às lideranças que mais execrava e absorveu, com impressionante
talento e rapidez, os métodos mais abomináveis do fisiologismo. Tudo isso,
claro, provocou dissensões internas.
Os primeiros a desembarcar foram os intelectuais fundadores do partido.
Prevaleceu a ala pragmática, que tem em Lula e José Dirceu, seus expoentes. E o
partido começou a colecionar escândalos, chegando ao paroxismo do Petrolão, que
o The New York Times considerou o maior do mundo moderno.
De escândalo em escândalo, rompeu-se parcialmente a impunidade. José
Dirceu, ícone do partido, foi preso. Lula, embora poupado, ficou exposto.
Ninguém crê no seu alheamento em relação ao que se denuncia – nem ele.
O resultado é o que está em curso: as maiores lideranças do partido
tentam se descolar uns dos outros. Dilma distancia-se de Lula, que, via Martha
Suplicy, manda recados ao Planalto. José Dirceu está magoado com ambos: Dilma e
Lula.
Sente-se excluído do poder, o que sugere que não se deu conta ainda de
sua condição de presidiário (ainda que em regime aberto). O PMDB, aliado do
poder – não importa quem lá esteja – reclama de sua escassa fatia no loteamento
de cargos.
Dilma, sem maiores aptidões para a negociação política, põe-se de
costas para os partidos aliados, dos quais necessitará dramaticamente quando o
novo Congresso, a partir de fevereiro, se empossar. O que ocorrerá? Ninguém
sabe.
Sabe-se que a política é feita de paradoxos – e o que une, neste
momento, os que estão no poder e em suas adjacências é exatamente o risco de se
encontrarem no banco dos réus.
Isso impõe, ao menos em tese, uma aproximação estratégica (ou
pragmática) dos que neste momento duelam e trocam adjetivos pouco cordiais. São
inimigos íntimos, que dependem de uma boia comum para sobreviver.
O quadro é mais desafiador que o do fim do regime militar. Além da
crise econômica, gerencial e política, há a crise moral, a mesma que o PT,
quando na oposição, buscou imputar a seus adversários. Está enfim provando do
próprio veneno – só que preparado e servido por ele mesmo.”