Por Zezinho de Caetés
Sempre que posso, e posso quase sempre, leio o texto do Ruy
Fabiano publicado no Blog do Noblat. Hoje ele toca num assunto que eu estava
apenas rodeando: O caso do atentado ao jornal francês Charlie Hebdo, praticado por terroristas muçulmanos que
diziam estar lá fazendo vingança por Alá (desculpem a rima extemporânea).
Encontrei lá também outro texto, que coincidentemente, forma a mesma dupla que
publiquei aqui semana passada, da Maria Helena de Souza. Não há como não
transcrevê-los aqui. O primeira chama-se “O
PT e Charlie Hebdo” e o segundo “Eu
sou Charlie”.
Ontem eu publiquei no Mural deste blog uma fala da Rachel
Sheherazade, sim, aquela que foi demitida por dizer coisas desagradáveis contra
os poderosos de plantão, o qual já tocava nas semelhanças entre o atentado de
Paris e o atentado que o PT está querendo cometer aqui contra a liberdade de
expressão, com esta história de regulação da mídia. Nada mais correto. E hoje o
Ruy Fabiano apenas repete, com mais profundidade, as reações da CUT e do PT
(além de outros) sobre o atentado e que são guiadas pelo comportamento do
governo em relação aos países que abrigam os terroristas através de nossa
política externa. Leiam para lembrar o que o Lula fez para acariciar os árabes.
Não vou me alongar porque hoje é dia de ir para feira
verificar o que significa uma inflação no teto da meta e o Levy, o Risonho,
dizer que está tudo muito bom, tudo muito bem. Chega de desfaçatez.
Então fiquem com o Ruy e com a Maria Helena e tenha cuidado,
pois o próximo pode ser você, caro jornalista. Principalmente, aqueles que
condenam as vítimas para não ficar contra Dilma e Lula.
“Terrorismo e coerência não combinam. Caso contrário, os energúmenos
que enxergam agressão numa piada, por mais abjeta, veriam que é incomparável,
sob todos os aspectos, com o que eles mesmos promovem em terras muçulmanas
contra cristãos.
Mais de cem mil cristãos – incluídas aí crianças - são assassinados por
ano no mundo muçulmano pelo simples fato de que são cristãos. Não fazem
proselitismo, não hostilizam, não fazem piada, nem muito menos constroem
templos. Apenas têm outra crença. É o bastante.
Somente em Paris, há mais de cem mesquitas – grande parte construída
nesta Era em que o Ocidente é alvo de atentados e hostilidades, sob pretexto
religioso -, sem que se impeça ou constranja alguém de frequentá-las (a partir
de agora, e em decorrência do que aconteceu na quarta-feira, já não se sabe).
O atentado tem força simbólica maior que os inúmeros que o precederam
nos últimos anos em todo o Ocidente. O alvo foi a liberdade, personificada numa
revista de humor. Nesses termos, é ainda mais chocante que o das Torres Gêmeas
de Nova York, que atingiu o coração financeiro do capitalismo.
O que ocorreu em Paris fere a conquista mais preciosa da humanidade,
que é o direito de se manifestar. Alega-se que o cristianismo teve seu tempo de
trevas na Idade Média. Pois é: quantos séculos faz? Estamos em pleno século 21.
De lá para cá, muito sangue correu para que jornais pudessem circular
livremente.
O Charles Hebdo já ridicularizou padres, pastores e rabinos, e nenhum
apontou nem sequer um estilingue contra a revista.
Comentou-se a pouca ênfase com que o governo brasileiro repudiou o
episódio, sem falar no silêncio de entidades diretamente ligadas às vítimas –
Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Federação Nacional dos Jornalistas
(Fenaj), por exemplo.
Outras, como PT e CUT, por meio de alguns de seus militantes,
procuraram atribuir, nas redes sociais, a responsabilidade às próprias vítimas.
É compreensível.
É para essa gente – os que representam os algozes – que a diplomacia
brasileira (e bolivariana) tem direcionado seus interesses na Era PT. Foi Lula
quem trouxe para cá, e o recebeu com tapete vermelho, o sanguinário ditador
iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que proclamava seu propósito de banir Israel da
face da terra.
Foi ele também que comparou atos repressivos homicidas no Irã, em
retaliação a protestos contra fraudes eleitorais, a uma briga de torcida entre
Flamengo e Vasco.
Dispôs-se a mediar, num lance cômico – que o Charlie Hebdo, se lhe
desse importância, teria ridicularizado -, os conflitos do Oriente Médio. Lula,
como se recorda, invocou seus dons de sindicalista para resolver um conflito
imemorial, que transcende a capacidade de compreensão (e solução) da
humanidade.
Pior: pretendeu resolvê-lo em favor de uma das partes, o que desfaz o
sentido d o verbo mediar. Em Israel, recusou-se a visitar o monumento ao
fundador do sionismo, Theodor Herzi, gesto diplomático que nenhum chefe de
Estado, em visita ao país, recusa fazê-lo. Já Dilma, no final do ano passado,
num igualmente ridículo discurso na assembleia da ONU, condenou as retaliações
militares aos degoladores do Exército Islâmico, propondo diálogo.
Sua proposta, quem sabe, poderia agora ser recolocada à polícia
francesa e às famílias das vítimas.
O tom da diplomacia petista, que transformou o Itamaraty de órgão de
Estado numa célula partidária, é de hostilidade aos Estados Unidos e à União
Europeia. Ao Ocidente. E de franca simpatia a governos que promovem e acobertam
atos como os que estarreceram o mundo na quarta-feira.
A diplomacia do PT definitivamente não pode repetir com o mundo
civilizado: “Je suis Charlie”.”
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“Extremistas odeiam a liberdade de expressão. Odeiam jornalistas e é
por isso que tantos foram assassinados recentemente. Odeiam pessoas que fazem
perguntas, desafiam a autoridade e usam o humor em vez de metralhadoras e
facas. (Joan Smith, The Guardian, 7/1/2015)
Charlie Hebdo, o semanário que tinha em sua equipe alguns dos maiores
cartunistas do mundo, não foi o veículo que inaugurou a ironia e a sátira para
transmitir seu pensamento.
Jornalistas de coragem que se utilizavam do humor para manter o povo
bem informado existem há muitos séculos. O riso é uma arma muito poderosa,
quanto mais nas mãos de jornalistas inteligentes.
As Sátiras de Juvenal, poemas que satirizavam a moral de Roma do final do século I ao início do século II; Os
Caprichos de Goya, obra-prima das gravuras onde ele descrevia a sociedade
espanhola dos últimos anos do século VIII; Krokodil, a revista semanal
satírica, que ria e fazia rir da corrupção, da preguiça, da indisciplina, da
burocracia e do comportamento social na URSS, criado em 1922; na França, Le
Canard Enchainé; na Inglaterra, o Private Eye; aqui A Careta; o Pasquim e
grandes cartunistas que não pararam de fazer rir e pensar, sobretudo durante os
anos de chumbo.
Há uma charge do Ziraldo da qual nunca esqueci. O DOPS (Departamento de
Ordem Política e Social) era mui justamente temido. Pois o Ziraldo fez um
desenho sensacional que dizia isso tudo e mais alguma coisa: o desenho mostrava
um moleque franzino, vendedor de balas na porta do cinema, sendo erguido pela
goela por um PM enorme, com a legenda singela: OLHA O DROPS! Não era necessário mais nada para explicar o
que era o DOPS... e em que mundo vivíamos naqueles anos 70.
O ataque ao jornal francês foi um ataque ao jornalismo independente, à
liberdade de informar e comentar – o desafio agora é defender o direito de
continuar a criticar e provocar, com a mesma coragem do Charlie Hebdo, o riso
que faz pensar.
A resposta ao horror em Paris só pode ser uma: cada vez mais textos e
mais risos que levem o leitor a pensar sobre seu tempo e sua vida. Por mais que
no momento ninguém esteja com o coração à larga para isso.
É nesses momentos abomináveis que o mundo deve se unir para não deixar
que a estupidez, a violência e o fanatismo vençam. Que na França, assim como em
qualquer outro lugar do mundo, vençam a cordialidade e a liberdade de
pensamento, sempre.
Jornalistas foram mortos mas o jornalismo continua vivo e nós
honraremos melhor sua memória continuando a fazer nosso trabalho. Até ontem eu
sempre dizia que não era jornalista, posto que não sou. Mas de agora em diante
me incluo entre os jornalistas: quero ter a honra de ser chamada de jornalista.”
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