Em manutenção!!!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O leilão do pré-sal e as urnas




Por Zezinho de Caetés

O leilão do pré-sal foi uma piada formal. Eu vi pela internet todo o aparato que foi armado em torno dele e até esperei que aquela urna “bombasse” de envelopes de todas as empresas do mundo querendo explorar o que a Dilma  disse ser a redenção do Brasil.

No final das contas chegou um envelope com alguns gatos pingados de empresas capitaneadas por uma Petrobrás quase falida pela irresponsabilidade de um governo que a usa para ganhar eleições, sustentando baixos os preços dos combustíveis.

E o pior de tudo, como diz o Sandro Vaia, em texto transcrito abaixo (“Go home, Petroleiras” – Blog do Noblat – 25/10/2013) é que não se sabe, ao certo o que é o pré-sal em termos de quantidade produzida e preço. A primeira gota de óleo, se houver, surgirá daqui a cinco anos, e a produção rentável talvez com dez anos. Por que o talvez? Porque o que hoje se faz mais no mundo é pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias alternativas ao petróleo, para geração de energia.

O Brasil, mais uma vez, como no computador tempos atrás, sai na “rabeira” tecnológica por pruridos ideológico. Enquanto os Estados Unidos desenvolvem a tecnologia da produção de energia a partir do xisto, que pode deixar o petróleo para trás, e já é estudada em outros países, nós ficamos fazendo do pré-sal a plataforma eleitoral do PT, como fez a presidenta em cadeia de TV. Daqui a dez anos poderemos ter um mundo de petróleo a preço de banana pela mudança tecnológica. Os carros podem ser “flex” entre o xisto e a eletricidade, enquanto nós poluímos os oceanos atrás de petróleo.

Tudo pode ser diferente, no entanto, e o pré-sal e o dinheiro que dele advirá poderá servir para educar o povo brasileiro para que não acreditem em promessas e apeie o PT do poder. Se continuar com este partido no governo a Petrobrás não chega a retirar a primeira gota de óleo.

Fiquem com o Sandro Vaia que vou tentar sair com meu carro “flex” entre álcool e gasolina, que nunca mais usou um pingo de etanol, que segundo Lula era a redenção do Brasil. Para Dilma é o pré-sal. E de mentira em mentira....

“Existe alguma coisa mais inútil, ociosa ou ridícula do que a discussão semântica sobre privatização ou concessão? Pode ser, mas vai ser difícil encontrá-la.

A imagem de um manifestante dando um pontapé no traseiro de um agente foi o que ficou como imagem icônica da oposição a um leilão de privatização durante o governo “neoliberal” do social-democrata Fernando Henrique.

Na semana passada, durante a realização do leilão do campo petrolífero de Libra, a jóia da coroa do “bilhete premiado” do pré-sal, houve escaramuças entre manifestantes e policiais, mas parecia apenas um replay compacto das manifestações de junho, sobre cuja natureza os sociólogos ainda nos devem uma explicação.

Houve a clássica foto dos leiloeiros e arrematadores segurando um martelo, mas por via das dúvidas, a presidente da República resolveu ficar longe do fragor das ruas e deixou para cantar vitória em mais um dos seus inúmeros solilóquios televisivos, onde ela diz o que quer sem o perigo de ser contestada.

Um sucesso ou um fracasso?

Do ponto de vista do significado estrito da palavra leilão - que significa a venda pública de um objeto pelo maior lance foi um fracasso. Houve apenas um consórcio concorrente, que levou o direito de explorar Libra pelo menor preço: devolução ao governo de 41,65% do lucro-óleo.

Do ponto de vista do negócio em si, os especialistas se dividiram: poderia ser melhor ou poderia ser pior, dependendo do viés do analista. Como disse o colunista José Paulo Kupfer, chamemos de empate.

Deixando de lado a ridícula batalha semântica sobre a diferença entre privatização e concessão, há algumas dúvidas que ficam pairando no ar e que só o tempo responderá.

1) O sistema de partilha é mais vantajoso para o País que o sistema de concessão que vinha sendo usado?

2) A Petrobrás continuará sendo submetida a um estrangulamento econômico como esse que a tornou a empresa mais endividada do mundo pelo cínico usufruto eleitoral que o governo faz dela? Continuará sendo obrigada a subsidiar preços de combustível em nome do combate à inflação ou a assumir encargos visivelmente superiores à sua capacidade operacional e de investimentos?

3) As previsões sobre o tamanho da jazida, da qualidade do óleo, do preço do barril e do seu custo de exploração serão confirmadas?

Se tudo correr bem, ótimo para o País. No mínimo, serão derrubados tabus obsoletos contra a participação de empresas privadas na exploração do petróleo ,e embora a presidente seja obrigada a demonizar a privatização que seu governo mesmo está praticando, a esquizofrenia ideológica que atrasa o país a obriga a dizer que a reação às empresas estrangeiras no consórcio é “xenofobia”.


Ela que não espere, porém, que seus próprios jurássicos saiam à rua gritando "Go home, petroleiras" nem Wellcome Shell...”

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

DONA LOBELINA




Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho


A Dona Lobelina, a Belinha carinhosamente chamada pela vizinhança, era uma mulher pobre morando na casinha no final da Rua da Areia. Na pequena sala na parede o quadro de Coração de Jesus e o Coração de Maria. Ao lado num pedestal a imagem do Padre Cicero e no outro o retrato de Santa Terezinha do Menino Jesus e o dos anjos Gabriel e Miguel. Frequentava a igreja Santa Terezinha, onde ouvia a pregação do Padre nas missas do Domingo.  Era do Apostolado da Oração, se orgulhava de usar a fita vermelha. Vivia de lavar roupas das pessoas mais chiques da cidade. Todo o dia entregava as roupas limpinhas e engomadas. Seu marido Seu Júlio, também conhecido como Seu Julinho, era carpinteiro num pequeno vão por trás de casa, onde fazia cadeiras, camas, mesas, porta chapéu, tambores e dava assistência a aqueles que o chamava, para qualquer conserto. Tinha dois filhos menores. Miguel e Gabriel. Meninos sadios e fortes. Frequentava a Escola Municipal, todos os dias à tarde. Tomavam banho logo cedo, almoçava e com uma sacola com um pão de doce iam pela calçada. Miguel, o mais magrinho adoeceu. A tosse braba fazia o menino ficar sem folego. A febre a tarde vinha com frequência. Os pais aperreados levavam para o medico. Como não tinha dinheiro, iam para o Hospital Dom Moura, onde todos os pacientes diziam em uma só voz “Dom Morra”, pois o atendimento era péssimo e saião com o mesmo problema. Assim acontecia, por varias consulta, com o Doutor. Miguel cada dia ficava mais fraco mesmo com o remédio passado pelo doutor a tosse e a febre continuavam. Já não sabiam o que fazer, pois o único lugar que poderiam ir era o Hospital Dom Moura. Na boca da noite a vizinha Dona Sofia, chegou e encontrou o menino deitado num sofá já usado se debatendo em febre e uma tosse continua. -Comadre leve este menino para um medico particular! Muié como é que eu vou fazer se não tenho dinheiro para este luxo. Olhe muié, se não cuidar teu filho vai morrer. Este dizer estremeceu dona Belinha. Falou com o seu marido e disse que ia saber o valor da consulta. Saiu em seguida. Voltou já com o valor que estava fora de suas posses mais que daria um jeito para pagar com duas ou três lavagens de roupa. Assim fez. O menino amanheceu todo quebrado devido à tosse durante a noite. Olhos piongos. O frio era forte. A chuva e a garoa fininha fazia com que eles pensassem como sair de casa. Não tinha ônibus e nem dinheiro para pagar a corrida. Mas diz um ditado – quem não tem cão caça com gato - e saíram. Foram a consultório, do medico na Avenida Santo Antônio. Subiram a escadaria de madeira e no primeiro andar encontraram alguns pacientes, bem vestidos com casacos contra o frio. Ela, com um chalé vermelho e uma blusa azul e um gorro branco na cabeça divergia com os demais pacientes que olharam para ela com desdém. Não se incomodou. Sentou-se com Miguel em uma cadeira de palinha, encostando a sobrinha na parede. Esperaram mais ou menos uns quarenta minutos para ser atendida. A moça chamou – Dona Lobelina, pode entrar no consultório dois. O doutor lá estava em pé na porta sorrindo. Bom Dia dona Lobelina. O que a traz aqui? Sente-se aqui, puxando uma cadeira antes de sentar-se a sua frente. Sorridente foi colocando o óculo enquanto perguntava novamente o que se fazia presente ali. Comentou sobre o frio. Ofereceu um cafezinho. E ao menino encolhido junto à mãe mostrando-lhe um quadro na parede com uns gatinhos. Dona Belinha, disse - é o meu filho que vem há dias com uma tosse danada. O doutor olhou para o menino encorujado dentro de um capote velho e, disse – venha meu filho para eu lhe auscultar. O menino levantou-se desconfiado, sentou-se na cama coberta com um lençol branco enquanto o medico dizia gracinha pra ele. Abra a boca! Faça hahahaha, com uma paleta segurando a língua, fazendo que o Miguel tossisse. Deite, mandou. Apertou a barriga, auscultou os pulmões, olhou os olhos e disse a mãe, este menino esta com inicio de pneumonia. Sentado já passando a receita, disse olhando para ela, e o doutor do hospital não viu isto não? Quem foi este doutor? É falta de responsabilidade no atendimento deste doutor. Quem foi este doutor, perguntou mais uma vez. A mulher olhou para ele séria e disse – foi o senhor...

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Da palavra e do palavrão




Por Carlos Sena (*)

Um dia Dom Hélder disse, diante de uma mulher que proferia um palavrão: "o palavrão não depende de quem o diz, mas de quem o escuta". Eu lembro disso, inclusive, porque o conheci de perto e recebi dele uma mensagem por ocasião do lançamento de um livro meu VERBO SER.  Tenho até hoje essa mensagem que ele escreveu de próprio punho e, também por isso, a memória não me traiu nesse conceito de palavrão. Certo que falar o que pensamos nem sempre se reduz ou se conduz via palavrão. Mas, há ocasiões em que não há espaço para ser pudico, porque é o palavrão a sua melhor tradução, senão vejamos: diante de uma topada, um PORRA fica bem melhor do que chamar por um santo qualquer...

Alguns queridos e estimados amigos, bem como outros leitores, não simpatizam com alguns textos nos quais uso e abuso do palavrão. Mas, jornalismo à parte, qualquer palavrão antes de sê-lo dito ou escrito, está no cognitivo de quem lê ou ouve. Então, vem a lógica da escuta em que um palavrão toma a dimensão que o receptor tiver dele. Porque, a rigor, a vida na sua intimidade é igual para todos, o que muda é apenas o "palco" em que as pessoas estão desempenhando seus papeis.

O palavrão tem outro viés pouco explorado por quem só gosta de ler textos dentro da moral social estabelecida: se quem proferir um palavrão for uma pessoa famosa, então o palavrão ganha o contexto da excentricidade. Dizem que quem gostava do palavrão era o famoso ASCENSO FERREIRA. Mas, quando ele abria o "verbo" logo os pudicos da época sorriam sem parar. Achavam que ele era excêntrico e que aqueles palavrões tinham que ser vistos no conjunto da sua fala (SIC).

Certo que nunca os palavrões vão agradar todos os palácios. Mas, as palafitas que não se incomodam muito com o moral das palavras, certamente são mais felizes sendo como são. Certo também que cada lugar tem sua liturgia, mas é igualmente certo que algumas estruturas litúrgicas arcaicas foram rompidas no tempo pela dura sorte, para o nosso bem (da humanidade).

Outro viés do palavrão está na cultura dos povos. Rapariga em Portugal significa moça, bem como lá BICHA significa FILA e assim por diante. Depreende-se, por conseguinte, que, de fato o PALAVRÃO depende mais de quem o escuta e de quem o lê do que de quem o escreve ou o pronuncia... Mesmo assim, a gente pode compreender a função social da palavras. Até porque elas são invenções sociais, por incrível que nos possam parecer!

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 09/09/2013

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A semana - Privatização, "beagles" e ladrões




Por Zé Carlos

O nível de humor do filme semanal do UOL não está dos melhores, pelo menos no primeiro tópico. Talvez consigamos rir da presidenta Dilma tentando dizer que o leilão do pré-sal é muito diferente de privatização. Como já estamos em plena campanha eleitoral para a presidência, para evitar contradições no tempo precisa-se levar em conta, hoje, os meios de informação e de seu armazenamento no tempo para que os candidatos não se contradigam. Quando vejo o Lula hoje falar que o Bolsa Família é o suprassumo para redução das desigualdades sociais e econômicas, não há como não rir de alguns dos seus depoimentos que estão no na internet.

Quando hoje não temos como privatizar nem nossas conversas mais íntimas ao telefone, como evitar que se privatize a Petrobrás? Eu fiz um ar de riso quando a dirigente alemã, Angela Merkel, foi filmada usando seu celular cobrindo a boca para que os repórteres não interpretassem sua conversa. Fiquei pensando que se ela estivesse falando mal do Obama. Ele deve deve ter ficado com muita raiva. Aqui no Brasil se reclama da falta de privacidade e da privatização, hoje dois artigos de primeira necessidade no mundo.

Eu sempre adorei animais e tive alguns quando era criança, lá em Bom Conselho e outros na idade adulta. Não é motivo de riso, para mim, mal tratos com os animais, e pessoalmente não gostaria de ter uma profissão que lidasse com seus sofrimentos e suas dores, o que veterinários e cientistas o fazem, com as melhores das intenções.

O caso do ataque ao laboratório que guardava os “beagles” não é engraçado, a não ser pela passagem do filminho do Snoop, um beagle que acompanhou muitos de minha geração. O grande problema é que o homem também é um animal, e suas formas de sobrevivência, levam muitas vezes a fazer outros animais sofrerem.

É óbvio que o sofrimento não precisa ser igual ao de um porco que vi ser morto em Bom Conselho, e que me deixou traumatizado até hoje. E, sem nenhum vergonha na cara, continuei a comer a saborosa carne de porco. E ainda tem o problema da indústria de remédios que hoje não teria progredido nada sem algum sacrifício dos animais.

O que se tem que fazer é o óbvio. Se não podemos prescindir de usar os animais em pesquisas científicas, que, pelo menos sejam usados métodos que minimizem o seu sofrimento. Isto deve se aplicar à indústria de alimentos. Eu já estou muito velho para me tornar vegetariano, e espero respeito com os animais.

Já estava esperando não rir mesmo com este filme, mas, entrou uma entrevista com o Paulo Maluf. Só pensar que ele ainda é deputado federal e que tem uma vida política ativa, dá vontade de rir da política neste país.

E, como falei lá em cima, o arquivamento das conversas anteriores é o grande inimigo dos políticos ao longo do tempo. A preferência explícita pelo crime de estupro quando comparada com o crime de morte, foi a grande piada atribuída ao Maluf, anos atrás. Ele tentou dar uma nova versão, mas, igual ao filme da presidenta sobre privatização do pré-sal, o que ele disse estava gravado e foi colocado no ar,  no filme.

Onde ri mesmo foi quando ele disse que todo o político é chamado pelo povo, pelos jornais ou pela mídia de “corno”, “viado” ou “ladrão”. Segundo ele, dos dois primeiros termos ninguém o chamou, e diante da expectativa da repórter, ele emendou: “Ladrões, todos são!” Eu ri com sua sinceridade.

Fiquem com o resumo do roteiro pelos produtores do UOL e depois vejam o filme, e tentem rir.

“Depois de condenar as propostas de privatização do pré-sal durante as eleições de 2010, a presidente Dilma Rousseff celebrou o leilão do Campo de Libra e a parceria da Petrobras com multinacionais do petróleo, firmados em meio a protestos no Rio de Janeiro. A semana foi marcada também pela atrapalhada e mal explicada “revolta dos beagles”, no interior de São Paulo. Para completar, o folclórico Paulo Maluf deu o ar da graça em entrevista ao programa Super Pop, da RedeTV.”



sábado, 26 de outubro de 2013

Testemunhos do Vovô Zé - O Dia da Criança


Davi e Miguel


Por Zé Carlos

O dia em que escrevo é o Dia do Professor. Um dia, muito tempo atrás, fui um deles. Hoje o sou nas lembranças. Por que então não escrevo sobre os professores que hoje protestam tanto e muitas vezes com razão e umas tantas sem ela? Simples. Quando me travisto de Vovô Zé, só tenho dois leitores, meus netos, e ainda, no futuro.

O Davi, o mais velho, com seus quatro aninhos e pouco, já está quase juntando as letras, coisas que eu só fiz aos seis anos e pouco. Breve terei leitores para esta coluna. Mas, ainda ficarei esperando o Miguel. Espero viver para ouvir deles, de suas próprias vozes, de forma educada e carinhosa, para me agradar:

- Vovô Zé, gostei do que você escreveu sobre nós!

Entretanto, dia de professor aposentado é todo dia para mim. Hoje escrevo sobre o Dia da Criança, no qual fui ter com eles, em seu reduto, lá no interior. Nem preciso mais dizer que a farra foi geral, porque foi, e bastaria dizer só isto para eles concordarem comigo no futuro. E eu ainda tento escrever um pouco mais.

Eles têm que saber, no futuro, que vivemos uma época em que sabemos a hora que saímos mas não sabemos a hora em que iremos chegar. Desde o trânsito do Recife, o sacrifício para sair da cidade, como seus engarrafamentos monumentais, até o quase congestionamento da BR-432, que já poderia, tecnicamente, ser triplicada. E não só até à entrada para a Arena Pernambuco, mas até Caruaru, pelo menos. Ah, se houvesse um bom trem até lá! Quem sabe, quando os meus bisnetos me lerem, já exista um, além do trem do forró?

Todavia, lá chegamos, já contando com mais um engarrafamento para entrar em Caruaru, pelo caminho que faço sempre. Os avós geralmente usam o mesmo caminho pelo mal funcionamento dos neurônios. Não sei se é pela experiência ou pela idade mesmo e envelhecimento das sinapses neuronais que nos tornamos mais conservadores. E com o Vovô Zé, e com os caminhos, não é diferente.

E lá chegamos e privamos dos beijos e abraços para o qual vivemos hoje, eu e a Vovó Marli. E sempre ouvimos a pergunta, agora feita pelos dois:

- Trouxe presente?!

Mas, desta vez, diante da facilidade de comunicação, eles já sabiam o que estávamos levando para eles, como prometido muito tempo atrás, e a pergunta foi:

- Cadê minha raquete?!

Esta foi a promessa que fizemos a Davi, o mais propenso ao atletismo entre os netos, embora o Miguel já comece a dar os seus chutes na “cafusa” (bola da copa), e agora queira dar suas raquetadas, no tênis. E levamos duas raquetes para crianças com todas as devidas proporções. E ainda, já sabendo quem seria o parceiro principal, que seria eu, levei também raquetes maiores para o Dia da Criança ser também o Dia dos Avós. E não sei por que não é. Eu me diverti mais do que eles, como sempre acontece.

Fora as diversões propriamente ditas, o que me chamou atenção desta vez foi competição que já se forma entre eles em qualquer momento e por qualquer coisa. Com a raquete não foi diferente, e tivemos o cuidado de, ao comprar de diferentes tamanhos, explicar de antemão o porquê o fizemos. Tentamos explicar pela idade de cada um e porque as cores eram diferentes. E parece que tivemos sucesso na empreitada porque o Davi e o Miguel concordaram com as raquetes.

Mas, quando pensamos que tudo estava bem, o Miguel começa a chorar e a dizer:

- Eu quero aquela!

Então foi aquela explicação generalizada por pais e avós para explicar tudo outra vez. E não conseguíamos ter sucesso na empreitada. Miguel chorava e gritava:

- Eu quero aquela!

Não poderíamos fazer o que ele pedia porque as raquetes eram diferentes e de acordo com a idade. Até que descobrimos que o que ele queria não era trocar as raquetes, mas, trocar uma bola de tênis pela que estava com Davi, porque achava que elas eram diferentes. E não eram. Aí foi mais fácil convencer ao Davi a fazer a troca. Ou seja, a competição se dar até por coisas iguais e dadas em tempos diversos.

Para aqueles que acharam que Miguel, por ser o mais novo, seria o mais competitivo, houve outro episódio que prova o contrário, e também prova (talvez isto eles irão demorar mais para entender) que a competição está entranhada dentro da gente para o bem e para o mal. E neste caso o que há é o humor, de que eles rirão no futuro.

Algum tempo atrás o Miguel machucou o dedo e a unha ficou dolorida, roxa e depois caiu. Com o tempo nasceu uma nova. A mãe dele pegou sua mãozinha e disse:

- Eita, Miguel, tu ganhastes uma unha nova!

E Davi que estava por perto, falou choromingando:

- E eu não vou ganhar uma unha nova não, é?!


E assim caminha esta humanidade competitiva. E foi um bom Dia da Criança. Não posso dizer o mesmo do Dia do Professor, pois já estou com saudade deles outra vez, e pensando no próximo encontro. 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

POLITICAMENTE CORRETO




Por Carlos Sena (*)

Preconceito é coisa que todos têm. Acho mesmo impossível a gente, neste estágio de passagem na terra, não tê-lo. Só que não precisa tê-lo pra sabê-lo. Nem vê-lo para poder saber se tem... Muito menos precisamos perseguir outrem com base no politicamente correto. Porque mesmo esse ( o politicamente correto), muitas vezes se reveste de preconceito.

A carapuça do preconceito nos parece só mudar de gradação. Porque há preconceitos clássicos contra os quais, boa parte das pessoas já se cuida para não praticá-lo. São aqueles que ultimamente foram invadidos pelo “politicamente correto”: gays, negros, judeus, mulheres, só para ficar nestes. Há preconceitos acessórios. É aqueles que as pessoas carregam como quem carrega uma bolsa, um celular, um relógio, mas que podem, não raro, provocar sérios danos nas vítimas dele.  A fealdade é um deles. A velhice, outro. A pobreza mais um. A forma de vestir, mais outro e assim tantos. Contudo, o preconceito nos parece estar no nosso DNA na sua forma mais dissimulada, porque muitos adoram usar a expressão “não tenho preconceito” e depois detonar seu veneno preconceituoso, principalmente no quesito sexo e sexualidade. Neste mesmo diapasão, quando se diz “negro de alma branca” tudo parece se fechar no tempo do preconceito dobrado. Tomando por base o negro, preconceitos clássicos e acessórios se triplicam em intensidade por osmose: negro, pobre, feio, homossexual, morando na periferia e exercendo função laboral de pouca complexidade! Se ainda tiver passagem pela polícia, certamente morrerá feito um quiabo.

O pior do preconceito é sua base psicossocial montada na cultura ou no substrato cultural de cada pessoa. Por isso é que fica dificílimo vencer preconceitos apenas com a instalação de campanhas dentro do POLITICAMENTE CORRETO. Entendo que o grande foco contra o preconceito generalizado é a escola. Mas essa, logo essa, tem estado à parte das questões maiores que nutrem o preconceito. Seus professores, no geral, estimulam mais do que o combatem em sala de aula. Porque eles são tão vitimas quanto vitimam os alunos com suas poucas capacidades interiores disso. Mesmo na escola dita moderna, os processos educacionais claudicam sobre as dificuldades financeiras dos salários dos educadores e das poucas inserções dos pais dos alunos no processo educacional. Certamente que o que tem segurado um pouco a barra da escola como elo de manutenção de valores (embora frouxos) são alguns bons professores. Esses, abnegados, se submetem a viver de salários indignos aguentando os acharques de alunos cheios de direitos e vazios de deveres, e de pais que participem das suas vidas. Mas esse é o caminho, quero dizer, o caminho de vencer o preconceito clássico, enquanto que os acessórios a gente pode ir tocando neles pela vida enquanto não evoluímos mais por dentro.

Assim, a lógica do POLITICAMENTE CORRETO continua fingindo que ajuda a diminuir preconceitos e os preconceituosos continuam fingindo que são evoluídos, até a próxima oportunidade de verbalizar: “não tenho preconceito”... E, pimba: “não tenho nada contra os gays, mas eles lá e eu cá”... E assim por diante.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 07/09/2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Afasta de mim este cálice




Por Zezinho de Caetés

Esta semana eu estava tentando usar o Mural desta AGD, como sempre faço, colocando mais a opinião dos outros do que as minhas, e vi que o Zé Carlos havia restringido o seu uso por uma ordem judicial. Eis que venho aos meus arquivos e encontro o texto que transcrevo abaixo, do Sandro Vaia, intitulado “A bebida amarga” (Blog do Noblat, 18/10/2013), e que trata de um forma muito especial do caso das “biografias não autorizadas”. Os dois episódios são comuns ao uso da censura como meio de tolher a informação.

Eu, de vez em quando, até lido com o mural, e sei que não há nada mais terrível do que fazer o papel de censor. Muitas vezes eu me pergunto porque este mural ainda é mantido. E respondo a mim mesmo. Pelo amor à informação e pela importância que ela tem numa democracia. E por isso com ele colaboro e fico triste pelo Zé Carlos ter que exercer a censura prévia que, segundo o jornalista abaixo, é vedada pela Constituição.

O importante do texto abaixo é aliar a bela poesia das letras de um autor que hoje é contra a publicação de biografias não autorizadas, a uma crítica contundente a ela. E ele pergunta como os versos dele várias vezes: Como beber dessa bebida amarga?

Eu pergunto o que se pode escrever sobre a vida de alguém de forma livre? Pelo jeito do debate, penso que resta muito pouco. Qualquer artigo de jornal ou revista que traga o nome de alguém e algum feito dele, ou algo a ele relacionado, poderia ser motivo de processo desde que não se tivesse um documento assinado em cartório para autorizar. Estaríamos na idade das trevas.

Se digo que Lula matava rolinhas em sua infância em Caetés, sem uma assinatura dele autorizando, lá vem processo. Se digo que a Dilma teve um loja de 1,99 que faliu, sem sua assinatura, lá vem processo. Se digo que.... E assim por diante, pois os exemplos pululam. Ninguém saberia mais nada de ninguém, a não ser por fofocas.

Como hoje estou me censurando previamente, deixo com vocês a letra da música do Chico Buarque (Cálice), de onde vêm os versos que o jornalista cita. No final coloco o vídeo com letra e música só para ver como as pessoas podem mudar com o tempo:

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Agora leiam o texto do Sandro Vaia e depois ouçam a bela música.

“Como beber dessa bebida amarga? Tragar a dor, engolir a labuta?

Eram maus tempos aqueles em que as pessoas se dedicavam ao delicado quebra-cabeça de ressignificar as metáforas que vinham semeadas com inteligência, escondidas entre as dobraduras dos textos de jornal e das letras de música.

Como era proibido falar com clareza, a censura obrigava a imaginação a se desdobrar em imagens poéticas para ser decifrada e fruída intelectualmente por aqueles a quem a trava das proibições era uma violência a merecer vingança.

E a vingança era a poesia que escapava à limitação intelectual dos censores.

Pois não é que agora os nossos construtores de metáforas, que incendiaram o imaginário popular com seus impiedosos versos, e aqueles que gritavam que era “proibido proibir” se transformaram eles mesmo na reencarnação moderna do mal contra o qual lutaram?

Como beber dessa bebida amarga?

Não há metáfora que esconda o verdadeiro sentido da ação do grupo Procure Saber, encabeçado pela famosa sabe-se-lá-o-quê Paula Lavigne: vetar biografia não autorizada é censura prévia. A Constituição, à qual um artigo do Código Civil não pode sobrepor-se, veta expressamente a censura prévia.

As justificativas que os nomes célebres que aderiram à causa alinhavaram em textos de jornal, tornaram a emenda pior que os seus piores sonetos.

Caetano e Chico escreveram artigos desajeitados no jornal para justificar a sua posição; o primeiro chegou a escrever que topa uma biografia não autorizada de tipos como Sarney, sem dar-se conta que defendia a censura seletiva.

O segundo cometeu um pecado do qual teve que redimir-se pedindo desculpas: desmentiu ter dado uma entrevista, que o autor tinha gravado e, para vergonha do bardo, colocou no ar.

Dos defensores da causa, as vergonhas maiores ficaram para Paula Lavigne, que usou um programa de TV para cometer uma baixaria contra a colunista Bárbara Gancia, a pretexto de fazer uma analogia despropositada, e Marilia Pêra, que “monetizou” a questão com esta frase de rara infelicidade:

- É "doloroso" ver publicadas verdades indesejáveis sem compensação financeira ao biografado.

Ela quis dizer que com compensação financeira as “verdades indesejáveis” deixam de ser indesejáveis ou, com um pouco de boa vontade, devemos considerar que ela cometeu apenas uma impropriedade de linguagem? A dúvida e a vergonha alheia ficam pairando no ar.

Biografias honestas costumam ser narrativas históricas de fatos reais, que compõem as histórias de vida de personagens públicos. Se o autor relatar fatos que não aconteceram e incorrer em injúria contra o biografado, existem leis para reparar esses danos.

O que não há é lei que justifique a censura prévia. Afastem de nós esse cálice.”


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A AMEAÇA




Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho


O medo leva muitas pessoas deixaram de ser aquilo que apresenta e involuntariamente age diferente. “Manezinho, gostava de tomar pinga”. Era um homem boêmio. Vivia de bar em bar, no bairro de Cavalheiro em Jaboatão dos Guararapes. Gostava de conversar bastante e contar causos e piadas, onde todos riam, entre goles. Era namorador. Afirmava que tinha três mulheres uma “matriz” e duas “filiais” e com vaga pra mais uma, dizia rindo aos amigos. Mas com o tempo começou a sentir as pernas cansadas. Pela manhã ao acordar cambaleava. Não tinha mais a firmeza, que tinha alguns anos atrás, mesmo com os seus cinquenta e cinco anos. Ficou apavorado. Correu ao medico. Foi ao médico que atestou problemas de atrozes e atrite. Começou a fazer fisioterapia e hidroterapia. As juntas doíam e os amigos gozando diziam “junta tudo e joga fora”. A conselho médico passou a usar muletas para se sustentar e se equilibrar. Foi um desastre para ele que gostava de folguedos nos finais de semana. E sem esses encontros nos bares a sua vida arruinou-se, ficando em casa a ver televisão e tomando uma e outras no terraço. A saudade doí-lhe do convívio dos amigos seresteiros. Afastou-se do trabalho e começou receber auxilio doença pelo INSS. De seis em seis meses comparecia ao ambulatório para refazer exames e renovar o auxilio. Chegou o tempo de mais uma vez ele se apresentar. Tomou banho logo cedo. Fez a barba. Vestiu a roupa calçou uma sandália franciscana após um “gordo” café da manhã. Apanhou as duas muletas que estavam ao seu lado, levantou-se e foi até o banheiro pentear os cabelos grisalhos e colocar um perfume dado pelo filho no Dia dos Pais. Saiu de casa capengando. Apanhou o ônibus com destino ao Posto do INSS na Avenida Mario Melo, chegando por volta das nove e meia da manhã. Apanhou a ficha 19 e sentou-se enxugando os rosto com lenço já amarrotado. Colocando a muletas ao lado, conferiu o numero que estava no painel, 14. Tinha cinco pacientes à sua frente. O ar condicionado estava sem funcionar. O calor era intenso e o vozerio era ensurdecedor. A sede batia-lhe na boca. Levantou-se e foi tomar agua. Chegou um paciente em “cadeira de roda” o que lhe fez pensar“ será que eu vou necessitar deste troço para me locomover” Cada pessoa que ali estavam contavam suas estórias e atendiam o celular. As atendentes em frente ao computador atendia aqueles que ali chegavam.  O barulho foi quebrado por um homem alto e forte, louro e de olhos azuis e barba prá fazer. Sandálias nos pês vestindo bermudas colorida. O doutor Eduardo esta ai?  Gritou forte. Todos olharam para ele assustados. Quero falar com ele! Aquele “safado” ainda vai me pagar, pode crer! Vou matar este “nojento” que me prejudicou! Estou doente e ele diz que estou bom para o trabalho e cortou o meu auxilio. Quem sabe se estou doente sou eu! Todos ficaram paralisados. O guarda veio em seguida tentando acalmar a situação. Quanto mais o guarda falava ele gritava. Sentou-se na frente do consultório e ali ficou calado. Todos voltaram a conversar sobre este acontecimento e outros. O painel anunciou o meu numero, depois, de mais uma hora. Sentei-me em frente ao médico enquanto ele de cabeça baixa fazia anotações na ficha do paciente que saíra. De repente este homem entrou na sala, aos gritos O susto foi grande tanto por mim como para o doutor que ali ficou paralisado. Doutor “safado” vim aqui para acertar as “contas” com o senhor! E não vim para brincar e vim para matar, sacando de um canivete, ameaçando e aquele que se meter morre também. Investiu em direção ao medico furioso. Eu estava sentado esperando ser atendido levantei-me às pressas e agarrei-me com o agressor enrolando no chão. A guarda do posto veio logo correndo, me socorrendo, o prendeu, chamando a policia que o levou para a Delegacia. Levantei-me como nada sentisse. Os pacientes voltaram para o seus lugares, assustados. O medico saiu da sala e foi até a copa tomar agua pelo susto que passou, enquanto uma enfermeira trouxe para mim agua....

terça-feira, 22 de outubro de 2013

SETE DE SETEMBRO na minha Terra.




Por Carlos Sena (*)

7 de setembro dos anos idos. Angustia boa, tensão boa, esmero. Torcida do São Geraldo. Torcida do Colégio. Ainda não havia o Estadual, mas isso era de somenos importância, pois havia o Colégio das Freiras e o Ginásio São Geraldo e, assim, o que mais importaria no dia sete se só eles, apenas eles, enchiam as ruas de glamour?

O mês de agosto por gosto se poderia ver. Era o mês inteiro de ensaios, de rumores acerca do que um ou outro colégio iria apresentar no dia sete. No São Geraldo, que era a minha “catedral” tudo girava em torno daquele dia e do que ele significava para os alunos e professores. Quase que a gente  não estudava, principalmente nós que tocávamos na banda marcial. Ensaios, ensaios, ensaios mil a qualquer hora do dia ou da noite. Houve noites que a gente ensaiou a partir de meia noite. Era para que o Colégio das Freiras não ouvisse nossos novos acordes, dobrados, paradinhas feitas com o tarol e os pratos ou mesmo com as cornetas meio desafinadas.

Aloisio! Como era dedicado aos ensaios e às marchas dos alunos perfilados em pelotões. Geraldo Grade. Pense num caba bom. E as balizas? Show a parte eram elas. Quando a gente chegava na boca da rua de Aguas Belas (esquina com o Banco do Brasil) elas, as balizas pareciam estrelas de cinema. Celina Ferro. Essa era o arraso! Ninguém ganhava pra ela em suas piruetas. Pernuda, graciosa e seu sorriso solto se somavam ao seu carisma. Ela fazia como poucas o movimento que a gente achava o máximo: “abrir escalas” – algo como se lascar no chão abrindo as pernas e aguardar os aplausos de todos. Nesse quesito ninguém tirava do colégio das freiras essa primazia. Mas, ao São Geraldo, os louros da banda marcial eram só seus. A gente gostava de dizer quantos instrumentos havia e ainda fazíamos propaganda: “este ano nós vamos sair com “tantos instrumentos”“. Outro capítulo dessas lembranças de sete de setembro era o trajeto. Uns diziam que o colégio ira sair pela Rua Siqueira Campos. Outros diziam que o São Geraldo iria pela Avenida pegando a Rua de Aguas Belas (não sei se ainda a chamam assim). Até a Rua de Mané Léu entrava no rol dos desfiles e nas bolsas especulativas dos nossos sonhos de ser estrela por um dia...

Independente de anseios, ou de torcidas, fato é que os colégios todos se encontravam no centro da cidade. Bem em frente da loja de Zé Maria (hoje Mercadinho de Tiana), mais parecendo a praça da apoteose lá na Sapucaí.  Pensem num glamour! Lembro-me de um ano em que o Estadual, já na disputa por uma fatia daquele “mercado” arrasou: fez uma pirâmide humana que no ápice um aluno levantava uma réplica da taça Jules Rimet. A gente ficou boquiaberta diante daquela inovação. Algo como o que Joãozinho Trinta fazia nas escolas de samba. Ainda bem que tudo são escolas: umas de samba e outras de bandas... Mas, no fundo, todos brilhavam, pois havia torcidas para todos e, no final, cada um saia por uma rua diferente levando consigo seus admiradores... Mas, afinal, quem “ganhava o desfile”? Cada  um que dissesse que o seu colégio saiu melhor. Assim, todos ganhavam e saiam felizes para curtir o cansaço de um mês de ensaio para uma manhã de efetivo desfile...

Certo que há mais sentimento nessas histórias que não couberam nessa crônica. No momento, às vésperas deste sete de setembro em pleno terceiro milênio, reflito: cadê meu tarol-mor? Em que esquinas eles soam? Cadê Professor Waldemar Gomes, em que céus sua morada se sustenta? Cadê Celina, em que destino abre suas “escalas” rumo aos seus sonhos? Cadê Geraldo Grade, em que corneta trombeteia o final dos desfiles de hoje? Cadê as “escaletas” das meninas do colégio das freiras, em que tons se perderam ou em que batons se transformaram? Cadê Aloisio Barbosa, em que dobrados se imiscuiu ou em que tempo se dobrou na vida? Cadê Diógenes, cadê Ciba, cadê Nadja e Vera, cadê Arlinda de Dona Nega, Nárrima Amaral, cadê Joanita e Deusdete e Arlete e Sônia Padilha... Cadê o vento e a ventania? Sei que ele levou de nós uns tantos lá para onde não havia... Ah, para não colocar rima pobre, cadê o padre Frei Dimas, em que parte descansa? Em que pedras dá vida no corte do seu cinzel? Ah, céus, ah céus. 

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 06/09/2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A semana - As biografias não autorizadas e os ringues autorizados




Por Zé Carlos

A meu ver, o filme desta semana, do UOL, não teve graça nenhuma. Ou melhor, teve. O Senador Suplicy cantando Vinícius da tribuna do Senado. “Olha que coisa mais feia, e mais sem graça, desafinando tudo que ver e que passa...”. Talvez Vinícius, com sua genialidade merecesse coisa melhor. Mas, vamos fazer de conta que o filme é de humor.

O que não leva ao riso mesmo, e sim ao choro, é o caso das biografias não autorizadas. Artistas, como se diz, de fino trato, embarcarem nesta canoa furada de elevar a censura prévia aos píncaros da glória. O que mais impressionou foi que o Chico Buarque estivesse entre eles. Em minha adolescência, cantar suas músicas era quase uma forma de protesto. Será que dizer isto me fará ir parar nas barras de um tribunal, ou, para evitar, tenho que o contatar formalmente para uma autorização? Através de e-mail ou pelo cartório?

Meu Deus, se a moda pega, ninguém conhecerá mais ninguém neste país, a não ser que se entre num processo burocrático infernal, que gerará empregos para despachantes mil, para dizer que alguém nasceu em Quebrangulo. Eu não entendi nada. E eu que já estava pensando em incentivar a Lucinha Peixoto a escrever a história de Dominguinhos. Só não sei a quem ela deveria pedir autorização. Eu, pessoalmente, gostaria de escrever a  biografia do Zé Bebinho, a quem conheci em Bom Conselho, e foi um dos homens importantes da minha época. Mas, a quem pediria autorização para fazê-lo?

Para mim, este é o ponto alto do filme cuja vontade de rir vem apenas quando eles dizem que estão usando músicas do Chico (lindas, por sinal) sem autorização. Penso que os artistas perderam muito com isto. E confesso, não ri nenhum pouco.

Outro ponto é que a presidenta Dilma repetiu o que meu avô dizia a mim quando me mandava fazer uma coisa e eu rebatia dizendo que ele não fazia aquilo: “Faz o que digo mas não faço o que eu faço.” A Dilma falou que para ser presidenta é necessário que se estude e se aprenda sobre o Brasil. Se alguém reclamou que ela não fez isto, ela apenas deve ter repetido o meu avô. E continua governando, de salto alto, e como aluna do mundo. Não explicou de qual mundo.

Diante do ringue formado para a luta entre o PT e o PSB, o Eduardo diz que não é um ringue. Talvez, penso eu, seja uma rinha de galos. Ou me expressando melhor, uma inovação moderna no Brasil, um ringue de “galinhas” (entre aspas para não ficarem pensando besteira com as várias interpretações do termo). Marina bate no fígado da Dilma de que seu governo foi um retrocesso e Dilma retruca citando o velho do restelo, que de tão velho, parece que não surtiu efeito, e os dólares de reserva que estão se exaurindo não tão lentamente. E a luta continua, companheiros. É pena para todos os lados.

O fato definitivamente mais triste, sem humor, ou se tiver, da mais clara negritude, é o caso de vandalismo mostrado junto com as manifestações dos professores. Não é possível que se possa continuar no Brasil com estes tristes eventos. Depois das manifestações de junho, das quais pensamos ter sido um despertar democrático para um país reivindicador, para torná-lo mais justo, agora temos uma população medrosa diante do inescrupuloso uso de suas sérias demandas por individuas que usam a violência como objetivo final. Não é para rir, se sim para chorar.

Fiquem com o resumo dos roteiristas do UOL e riam ou chorem conforme o sentimento de cada um.

Na semana dominada pela discussão sobre as biografias não autorizadas, o Escuta Essa! traz trilha sonora especial inspirada no personagem central dessa polêmica: o compositor Chico Buarque –contrário a essas publicações, ao lado de nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Chico embala também a pesquisa Datafolha que mostra a presidente Dilma Rousseff (PT) em vantagem nas intenções de voto para 2014, além das manifestações que culminaram em uma aula de vandalismo em cidades como Rio e São Paulo.


sábado, 19 de outubro de 2013

A GAZETA E A GAZETA DIGITAL - Um agradecimento




Por Zé Carlos

Recebi anteontem a edição 344 da A GAZETA, nosso jornal escrito pelo brilhante jornalista Luis Clério Duarte. Estranhei um pouco porque já havia recebi antes a edição 345, com novo layout e que comemora os 23 anos de existência do jornal, evento pelo qual lhe damos os parabéns. O estranhamento passou logo quando me lembrei da greve dos correios, que também me levou a alguns atrasos nas minhas contas.

Entretanto, o que me traz aqui é um agradecimento ao espaço que foi cedido no prestigioso jornal ao nosso humilde blog, e sua defesa do nosso Mural de Recados, e a seus corajosos anônimos e não anônimos. Como já dissemos antes, em outros lugares, defendemos o espaço livre para expressão de qualquer um que queira se manifestar, mesmo que aconselhando moderação naquilo que é dito.

E, até agora, ele (o Mural) parece ter cumprido seu papel, falando mal ou bem de Deus e do diabo, penso eu, com o mesmo equilíbrio em termos de estatísticas. Ele não tem somente recados contra vereadores ou contra o prefeito. Tem também elogios e boas opiniões sobre tudo e todos. Quando há exageros eu tento intervir da maneira que posso, e que me dói muito, quando tenho fazer isto. Muitas vezes nos pedem para retirar recados do ar e o fazemos, outras vezes, não. Mas, no final das contas não somos responsáveis pelo que resta, e sim quem os escreve. Eles são considerados nossas fontes jornalísticas e as protejo como se jornalista fosse. E o Mural vai dando seu recado, que é evitar as fontes monolíticas de notícias que assolam nossa região.

Com nossos 500 acessos diários, a A GAZETA DIGITAL (aproveitamos o ensejo para dizer que não temos nenhum projeto editorial comum com o jornal escrito A GAZETA) vem cumprindo o papel para o qual foi criado. Fazer com que a população de Bom Conselho lesse cada vez mais. Começamos com 20 ou trinta acessos diários e hoje já são mais de 500, com mais de 330.000 acessos na sua breve vida. E isto, sendo patrocinados por Jesus, Maria e José, que nos pagam em graças divinas, que muitas vezes não contam neste mundo, mas, espero, contarão no outro.

Enfim, estamos contentes com o projeto apesar de alguns percalços que nos incomodam como a incompreensão de algumas pessoas públicas quanto ao projeto editorial. Não temos partido político nem apoiamos especificamente alguém na política de Bom Conselho. Não posso, eu, Zé Carlos (um pseudônimo não registrado de José Carlos Cordeiro), dizer que não tenho algumas preferências. Mesmo se dissesse as teríamos de qualquer jeito. Mas, estamos tão afastados geograficamente da cidade que as opiniões mais abalizadas se restringem a uma viagem ou outra, pelo menos de forma mais detalhadas. Não vivo em Brasília mas tenho algumas opiniões sobre a presidenta Dilma, como qualquer brasileiro. Isto se aplica a Bom Conselho.

Então agradeço mais uma vez a citação de uma GAZETA pela outra, reconhecendo a importância maior daquela não digital, e ao mesmo tempo aproveito para fazer uma leve correção ao nosso jornal.

O meu amigo Luis Clério faz uma pequena biografia, que mesmo não autorizada eu não irei processá-lo nem recolher os jornais das bancas, onde ele diz que sou casado com um médica de Bom Conselho. E a Marli Tenório com quem sou casado não é médica e sim, Farmacêutica-Bioquímica, Doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz, pesquisadora em virologia, e que ainda trabalha muito, ao contrário do marido, cujo trabalho hoje, quase se restringe a tentar fazer com que Bom Conselho leia mais.

Quanto às outras informações são todas verdadeiras, incluindo o lugar onde nasci (cuja casa ainda existe mas não sei o que funciona dentro) e que morei por muito tempo na Rua da Cadeia (Rua José do Amaral).

Por falar em biografia, pouco tempo atrás, alguém, que não conheço pessoalmente, perguntou no Facebook: Alguém conhece José Carlos Cordeiro? Pouquíssimas pessoas se manifestaram dizendo que sim, inclusive eu, na perspectiva que não fosse um homônimo meu, ao qual ele se referia. E realmente não era porque se referia à velha questão se eu sou ou não sou a Lucinha Peixoto, sobre a qual estou cansado de escrever, e ela também. Porém, como antes dizia que não era mas adoraria sê-lo, agora digo que não sou porque NÃO tenho medo de sê-lo, e seria uma honra sê-lo. Aliás, sei, pelo seus escritos que ela está viajando, e, até agora não mandou buscar os exemplares do jornal que o Luis Clério manda para ela, com meu endereço. Amiga Lucinha, se você estiver lendo este blog ainda, já deixei na portaria os seus exemplares. Estão ótimos.


 Em tempo: Eu também não sou o Zé Negão, nem a efigênia indignada. Na minha próxima visita a Bom Conselho, visitarei a amiga Narrimam Amaral, para registrar o único pseudônimo que adotei até agora, para evitar as confusões de praxe: Zé Carlos. E esclareço que não sou candidato a vereador em 2016. A Lucinha Peixoto, apesar do meu desaconselhamento, diz que sim. Cada um com sua vocação.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A verdadeira surpresa




Por Zezinho de Caetés

Esta semana ainda não dá para mudar de assunto. A surpresa da entrada da Marina no PSB ainda não sai da cabeça dos analistas políticos. No entanto, parece nem ter entrado nas análises do imortal Merval Pereira, se tirarmos pelo texto que ele escreveu (abaixo transcrito)  no último dia 15/10/2013 no Globo, onde ele alardeia no título: “Por que a eleição de 2014 será diferente”.

Nele, o Merval dá pouca importância à chegada da Marina ao PSB, usando-a apenas para citar algo que a dirigente da REDE disse do governo Dilma, que é um retrocesso em relação a um período do governo Lula e ao do FHC, o que é uma verdade insofismável. A situação de nossa economia não está boa, a não ser para a presidenta, que anda por aí vendo cachorros atrás de crianças na tentativa vã de dizer que estamos bem. Quando a plateia é do PT ela não recebe vaias, e vai em frente.

E a pouca importância dada à união entre o mangue e SUAPE vem do fato visto pelo Merval de que eles não querem, de forma nenhuma, passarem por “traidores do Lula”, como se alguém pudesse ser contra o PT e a favor de Lula. Nem mesmo aqui em Recife isto ocorreu e o grande culpado pela derrota do Humberto foi o Lula que deixou o Eduardo nadar de braçada. Se esta dupla ficar acanhada em relação à culpa de Lula no que tem de ruim deste país, realmente sua importância vai ser pequena.

Eu já penso que a dupla fará uma diferença não tão sutil, se o PSDB conseguir ir para o segundo turno, reeditando, a polarização que a dupla Marina-Campos quis evitar. Nesta situação, seria muita cara de pau, feita da mais pura madeira de lei da floresta amazônica se a dupla apoiasse a Dilma para não se atritar com o Lula. Penso que, se assim o fizessem, poderia dar adeus a suas carreiras políticas, pelo menos no nível nacional.

E a grande diferença vai ser a dupla dinâmica apoiando o PSDB, e quem sabe, o Serra. É viver para ver.

Fiquem agora com a análise técnica do Merval e vejam se podem tirar alguma coisa dos números nela contidos, enquanto eu vou meditar sobre as chances da dupla em 2018.

“Há diversos fatores diferentes nesta eleição para a de 2010, a começar pela situação econômica do país. Mesmo que a economia não se deteriore a ponto de por si só derrotar a candidatura governista, não estaremos em situação nem mesmo próxima à da última eleição presidencial, quando o PIB cresceu 7,5%.

O então presidente Lula gozava de um prestígio popular tão grande que lhe permitiu tirar da cartola uma ilustre desconhecida para eleger presidente. Mesmo assim, Dilma foi menos votada que Lula em todas as regiões do país, com exceção do Sul, onde manteve o mesmo patamar de 44% dos votos, e foi para o segundo turno.

Até mesmo nas regiões onde teve votações avassaladoras, garantindo a vitória, Dilma teve menos votos: Lula teve 77,2% no Nordeste, e Dilma, 70,6%; e, no Norte, Lula teve 65,5% contra 57,4% de Dilma.

É verdade que Dilma venceria Serra mesmo descontados os votos de Norte e Nordeste, mas a diferença seria de apenas 0,25%. No Norte e no Nordeste, Dilma tirou vantagem de nada menos que 11.777.817 votos.

Há, porém, diferenças sensíveis no quadro atual a favor da oposição. O PSDB espera tirar de três a quatro milhões de votos de diferença em Minas, onde Dilma venceu por diferença de 1.797.831.

Minas pode ser para Aécio quase como São Paulo foi para Fernando Henrique nas duas eleições em que venceu Lula no primeiro turno, tirando vantagem de cerca de cinco milhões de votos em 1994 e 1998. Essa diferença a favor dos tucanos, porém, vem caindo em São Paulo: Alckmin venceu em 2006 por 3,8 milhões, e Serra, em 2010, por 1.846.036. Além disso, em 2014 o PT estará fortalecido por ter vencido a prefeitura de São Paulo.

Até mesmo no Norte e no Nordeste a situação de Dilma deve ser mais difícil, pois a oposição está mais bem representada em estados como Amazonas, Pernambuco e Bahia.

Nesses três estados, Dilma teve quase seis milhões de votos de diferença a seu favor, o que pode não acontecer em 2014. Desde 1994 a diferença entre o vencedor e os demais contendores tem ficado na base de 5% dos votos no primeiro turno, seja quando FH venceu direto, seja quando as oposições levaram a eleição para o segundo turno.

No segundo turno, fosse qual fosse o candidato, o PSDB teve cerca de 40% de votos, sendo que, em 2010, essa marca subiu para cerca de 45%. Com diferença crucial: em todas as eleições, candidatos adversários como Ciro Gomes e Garotinho aderiram a Lula no segundo turno, contra o PSDB, e, na eleição de 2010, Marina Silva ficou neutra, tendo feito uma campanha que dificilmente poderia ser tachada de oposicionista.

A mudança de postura de Marina desta vez e seu acordo com Campos indicam que os dois estão dispostos a assumir candidatura oposicionista, colocando-se mais próximos do PSDB nas questões econômicas.

Ontem, Marina disse que a marca do governo Dilma é o retrocesso na economia e defendeu o tripé econômico dos governos de FH, mantido por Lula até a saída do ministro Antonio Palocci: equilíbrio fiscal nas contas públicas, câmbio flutuante e metas de inflação.


Segundo a aliada de Campos, a política econômica de Dilma vem sendo praticada “com alguma negligência em função da ansiedade política”. A questão é que os dois temem ser tachados de “traidores” de Lula, como já estão sendo tratados pelos petistas. E Dilma vem recuperando sua popularidade em ritmo suficiente para se manter como favorita.”

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Não pode comer, mas bota terra.




Por Carlos Sena (*)

Tem gente que quando não pode comer bota terra. E esse hábito nos parece estar nalgumas pessoas tão arraigado que já beira a inconsciência dos que assim agem. Ou não? Prefiro acreditar que sim, porque há pessoas que vivem diuturnamente apostando no mal, ou no bem do outro, desde que esse “bem do outro” sobre pra ela de alguma maneira. “Não comer e botar terra” representa muita pobreza de alma – alma sebosa! Porque quando é pobreza de espírito a gente até perdoa porque sabe que não há escola nem faculdade para formar pessoas em “riqueza de espírito”. Portanto, compraz-me o óbvio dessa questão, posto que é no óbvio que os pobres de alma mais se expõem diante de alguma ação coletiva que faça bem indistintamente. “Não comer e botar terra” é muito próximo ou até simbiótico aos que gostam de “puxar o tapete”, de “puxar o saco”, mesmo esse saco não sendo “escroto”, mas, de lixo mesmo. Lixo da cobiça, lixo da incompetência, lixo da falta de amor ao próximo, lixo de egoísmo e, acima de tudo, o lixo da inveja. Puxar tapete, nem mesmo se for persa! Mas, no rol do “não comer e botar terra” está todo um universo que compõe as pessoas mesquinhas que se iludem consigo mesmas e se buscam no fracasso real ou imaginário que elas constroem acerca dos outros, principalmente dos vitoriosos – daqueles que lutam e trabalham dignamente e não sabem bajular os poderosos e nem, em nome deles, tergiversar para ganhar algum tipo de vantagem – tal qual aqueles que vendem a própria mãe para se manter nos cargos ou nas tetas cheias de leite de algum poderoso de plantão...  Melhor preferir permanecer com fome a ficar sem comer e botar terra no “prato” dos outros.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 04/09/2013

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Divagar é preciso




Por Zezinho de Caetés

A última vez que escrevi sobre sucessão em 2014 e na REDE da Marina Silva foi para comentar um texto do imortal Merval Pereira (aqui) e dizia que a surpresa poderia ser o José Serra sair como candidato. Já hoje, sabemos que a surpresa foi outra: A Marina entrou para o PSB. É como se no século XIX, o Marx comprasse um empresa de sucesso e esquecesse os trabalhadores. Seria muito melhor para o mundo mas improvável.

Abaixo transcrevo o texto do Sandro Vaia de 11/10/2013, no qual ele, ainda atônito como eu, comenta a adesão da sonhática com o pragmático, ou seja, Marina e Eduardo, que agora, ambos bem juntinhos prometem continuar tangendo os tubarões de SUAPE e sustentando os mangues aqui em Pernambuco e alhures.

Este fato, o casamento do século, apenas prova que o analista político, tanto quanto os políticos só fazem história nos arquivos mortos das bibliotecas, um século depois. E amanhã será outro dia.

Hoje já começou a guerra de quem será o (a) cabeça de chapa, e a Dora Kramer diz que é de Eduardo e ninguém tasca, como publiquei no mural acima, outro dia. E eu pergunto, e por que a Marina tem que ser a vice? Só porque não pode ser o Caiado? E Fernando Bezerra Coelho? Seria Pernambuco demais? O grande problema agora é encontrar gente do PSB, fora de nordeste que possa compor uma chapa presidencial. Havia muito cacique para pouco índio na época do Ciro Gomes, agora temos um cacique só para dezenas de índios da REDE.

Sendo menos irônico, achamos que a chapa Marina-Campos ou vice-versa vai dar trabalho mais ao Aécio do que à Dilma. O grande problema dela vai ser se Aécio não passar para o segundo turno, porque não concebo o Eduardo falando mal de Lula. E tenho certeza, se não falar mal dele, a Dilma continuará na presidência.

Mas, o que seria mesmo surpreendente seria uma segundo turno entra Lula e José Serra. Quem sabe? E desta vez, com ambos apoiando o Bolsa Família, o Mais Médicos, e o Fome Zero, a população resolva votar por idade, considerando que antiguidade é posto.

Cansei destas divagações de analista político em dia de feriado, e os deixo com o jornalista Sandro Vaia. Não que ele divague menos do que, e sim porque ele escreve melhor. E agora vou curtir a praia de Boa Viagem, sem entrar na água, claro. Os tubarões de SUAPE estão á espreita.

“Eis que estavam todos postos em sossêgo curtindo na sombra os preparativos para a eleição de 2014 quando alguém atirou uma pedra no lago e a marola se fez.

Os círculos concêntricos provocados pela pedra que caiu no meio do lago pegaram o marqueteiro presidencial no contrapé, pois ele havia acabado de classificar a luta de sua candidata como um passeio sobre uma federação de anões.

Excesso de confiança antes do jogo não faz bem à alma, como seria capaz de ensinar até o Felipão, e mesmo que o time tenha cara de favorito, cantar vitória antes da vitória pode soar como soberba.

O fato é que a transferência da sonhática Marina e seu embornal de fundamentalismos para o PSB de Eduardo Campos, embora envolto pela marca da transitoriedade, com data de vencimento válida até o momento em que ela consiga legalizar a sua Rede, entornou a água do lago.

Ou, pelo menos, deu ao jogo a aparência de um novo kickoff para uma partida que parecia terminada antes de começar.

Pode ser que o terremoto seja apenas uma marola de superfície, porque como disse o ministro Paulo Bernardo, com seu proverbial senso prático e pragmático, “ninguém vota em vice”.

Ainda assim, a água do lago se mexeu e provocou algumas ondas até do lado do PSDB, onde José Serra relutará até os 45 minutos do segundo tempo e mais a prorrogação que conseguir, em reconhecer que o candidato do partido desta vez não será ele.

Aparentemente nasce uma espécie de frente de oposição extraída das próprias costelas da situação, que é o que costuma acontecer em política quando algumas situações se tornam incomôdas, e o ventre do poder costuma gerar a sua própria antítese para no fim terminar numa síntese onde algo pareça mudar para que fique tudo como está, só para lembrar Lampedusa.

A aparente frente de oposição tem mais cara de aparente do que de oposição. Os espíritos da floresta ungiram Marina Silva com os santos óleos de uma quase divindade, que lhe deram uma aparência de um novo que desfralda bandeiras tão paradoxais quanto o de fazer política pregando ser a negação da política.

Eduardo Campos, tão pragmático quanto o histórico avô, é uma oposição situacionista, que quer manter tudo o que ele apoiou desde o começo com algumas pitadas a mais de eficiência gerencial, ítem em que a atual presidente,eleita como uma factótum, não conseguiu convencer. Ele acha que pode fazer a mesma coisa, mas fazer melhor.


Embaixo do aparente maremoto, a única verdadeira oposição que desponta até o momento, é a que José Serra faz à sagração do candidato de seu partido, Aécio Neves, que com paciência beneditina espera a sua vez de poder dizer que a oposição é ele e explicar,finalmente, o que isso significa e para que serve.”

terça-feira, 15 de outubro de 2013

MAIS MÉDICOS - O BOM E O RUIM




Por Carlos Sena (*)

O assunto MAIS MÉDICOS tá rendendo mais do que mandioca mole. Isso é bom, mas é ruim ao mesmo tempo. Ruim porque nos mostra quanto somos falsos moralistas até em questão de saúde. Explico: há falta de médicos no país; há mais de 700 cidades sem médicos para fazer um “chá” e, mesmo assim, há quem condene o governo por querer trazer médicos de fora. Bom porque essa celeuma toda veio dar uma ducha de água fria na panela fervente do mercantilismo da medicina no Brasil. Ruim porque os que são contra tudo, logo se locupletam da ideia para tirar proveito eleitoreiro. Bom porque todos que tinham dúvidas do caráter mercantilista da nossa medicina, agora pensam duas vezes. Ruim porque a imprensa marrom que vive do caos tudo investiga, sem muito sucesso,  no sentido de colocar podridão onde não existe. Bom porque diante das atitudes hostis de alguns médicos brasileiros com seus colegas estrangeiros tem levado a população a ficar a favor dos estrangeiros, especialmente dos cubanos. Ruim porque a gente percebe quão poucas pessoas, de fato, tem um discurso coerente com suas práticas e que, para defenderem posições politiqueiras, tudo fazem para prejudicar um programa que leva médicos para aqueles que não os tem um por perto. Bom porque a gente percebe que não são todos os médicos que estão contra o Mais Médicos, pois diante das posições classistas radicais, se indignaram e apoiaram o programa. Ruim porque demonstra quão nossa classe médica é desprovida de solidariedade e amor ao próximo. Bom porque o bom debate se instalou na sociedade brasileira e despertou a população para o caos que tem sido o “mercado médico” que levou boa parte deles ao “quem pagar mais leva”. Ruim porque a chafurdação em cima da mentira muitas vezes atrapalha o tramite normal que leva a inserção dos médicos no interior do Brasil. Bom porque depois do MAIS MÉDICOS os quase deuses terão que repensar suas práticas, inclusive deixando de achar que só podem ser médicos os de “olhos claros”, apessoados, ricos, morando em bairro nobre, etc. Deixando, inclusive, a ilusão de que INTELIGENCIA só se tem quem cursar medicina. Certamente que uma coisa não está atrelada a outra. Certamente que há muita gente boa, nobre até, inteligentes, sendo médicos. Mas, há também gente negra inteligente, gente pobre inteligente, gente simples inteligente, gente gente  inteligente. Há médicos que se parecem com empregadas domésticas e há domésticas que conseguiram formar filhos médicos. Assim, entre o “Bom” e o “Ruim” deste paralelo, há o melhor: o povo simples, pobre, por que não dizer, que estão nos nossos cafundós dos Judas sofrendo, entregando tudo a Jesus, como forma de sustentar suas esperanças. E que não se politize a questão e nem se partidarize. Porque o Mais Médicos é um programa cidadão, não é um palanque para politiquice barata.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 02/09/2013

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A semana - A languidez das "gordinhas"




Por Zé Carlos

Não poderia ser diferente. O filme que resume, de forma humorística, os acontecimentos da semana que passou, deveria ter como principal assunto a “união”, “coligação”, “junção”, “casamento” e outros termos que signifiquem “marchar juntos” a Rede de Sustentabilidade (REDE) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB).

É um casamento quase à base da espingarda do pai da noiva, que, em se tratando de partidos sem conotação de gênero não sabemos quem é dos dois. Pelos dirigentes envolvidos, e seus respectivos gêneros, podemos dizer que a noiva está na REDE e o noivo no PSB. Pelo menos é o que mostram as caricaturas e charges produzidas sobre o evento. E por isso mesmo, não conseguiu produzir um filme que nos fizesse rir tanto assim. Rimos pouco deste episódio da política brasileira. Talvez, já pensando no que acontecerá depois da lua de mel, o que já vem acontecendo no momento em que escrevemos.

Em nosso modo de enxergar a coisa o PSB, sob o comando do Eduardo Campos, pensa tanto em sustentabilidade quanto a REDE, sob o comando de Marina Silva, não pensa. São dois estilos quase antagônicos de ver as coisas que ao se unirem, o fizeram por absoluta necessidade, para seguir com o objetivo de ambos, que é tirar o PT do poder. E, para nós que só assistimos ao casamento, de longe, sem nada entender, nem de “progamatismo” nem de “pragmatismo” o filme pareceu um pouco bisonho, do ponto de vista do humor.

Confessamos que rimos muito mais com a languidez, alegria e felicidade das esculturas gordinhas e sexys que nossa presidenta diz apreciar. Aliás,  só rimos mesmo quando chegou a hora de sua entrevista com o Ratinho quando ela disse que gosta de ovo. Talvez por que nós gostamos também, embora sem tomate e sem cebolinha.

Não temos mais dúvidas de que a campanha para eleição de 2014 está na rua e que os carros alegóricos tiveram que ser preparados com mais de um ano de antecedência se a comparação com os desfiles de Escola de Samba fosse perfeita. Infelizmente, não é, porque os desfiles são anuais. A comparação mais perfeita é com a Copa do Mundo. Podemos dizer que foram antecipadas as construções dos estádios em mais de um ano, e se tudo permanecer igual, para a eleição de 2018, já começaram a vender ingressos e que já vem com direito a vaia garantido nele.

Mas, fiquem com o resumo do roteiro dos produtores do filme, do UOL, e tentem rir um pouco, o que, quase não conseguimos. Tenha uma boa semana e acompanhem o novos lances matrimoniais.

“Sonhática, Marina Silva continua sua saga em busca de um lugar ao sol. Depois de PT, PV e da Rede, que fracassou, ela decidiu, na bacia das almas, de olho nas eleições de 2014, entrar no PSB. Agora, a pergunta é: o casamento entre Eduardo Campos e Marina irá vingar? Quem será o candidato do partido à Presidência? Ela, que aparece em segundo lugar nas pesquisas ou ele, que tem cerca de 5% das intenções de voto? Enquanto isso, Dilma Rousseff, a favorita, dá entrevista ao Programa do Ratinho e agrada as “gordinhas sexy”.”