Por Carlos Sena (*)
Eu falo de flores sem entender de
jardins. Falo de amores e de sua rima rica. Falo de solidão e das agruras que
ela deixa. Falo do falo e de tudo que ele protege ou expurga. Falo do céu e do
escarcéu que é não ter limite em cada horizonte. Falo de Deus. De deus pequeno
e de deus grande – um em maiúscula e outro em minúscula letra. Falo do cão e da
besta que confunde nossa era com a besta fera sem tom e sem quimera. Falo do
que se foi e do que nunca conseguiu ficar. Algo como aborto ou algo como nascer
pra vida de fé rente ou diferente do socialmente estabelecido. Falo do homem e
da mulher. Também do jacaré eu falo pelas possibilidades de cada um ser o que
quiser. Falo das flores. Como disse, falar de flores remete odores, bem como
falar de amores remete dores. Mas, entre as flores, os odores e as dores, a
solidão é a estação que o tempo escolheu para se recolher de si. Solidão de
amor, de paixão, de mística e de estética nunca laboral. Porque em cada fala de
amor a solidão ronda e em cada fala de solidão nem sempre o amor tem facilidade
de romper. Falo pela diferença que faz não dize ou dizer sem falar por medo ou
por falsa moralidade. Falo. Em minha volta a felicidade não bate a porta,
porque minha porta não fecha. Falo. Em minha porta a solidão quando bate se
equivoca porque o travesseiro da minha cama está completo com quem me ama...
Por isso falo e quando não falo não é por isso. Minha mudez não é de
consentimento, mas de sentimento consentido pelas pegadas que a vida me deu em
cada beco, em cada ladeira, em cada canto da cidade deserta... Figa,
escapulário, talismã. Tudo serve no meu rosário, porque no meu divã durmo eu
sozinho no embalo da vida parida clandestinamente.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 25/08/2013
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