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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

POLITICAMENTE CORRETO




Por Carlos Sena (*)

Preconceito é coisa que todos têm. Acho mesmo impossível a gente, neste estágio de passagem na terra, não tê-lo. Só que não precisa tê-lo pra sabê-lo. Nem vê-lo para poder saber se tem... Muito menos precisamos perseguir outrem com base no politicamente correto. Porque mesmo esse ( o politicamente correto), muitas vezes se reveste de preconceito.

A carapuça do preconceito nos parece só mudar de gradação. Porque há preconceitos clássicos contra os quais, boa parte das pessoas já se cuida para não praticá-lo. São aqueles que ultimamente foram invadidos pelo “politicamente correto”: gays, negros, judeus, mulheres, só para ficar nestes. Há preconceitos acessórios. É aqueles que as pessoas carregam como quem carrega uma bolsa, um celular, um relógio, mas que podem, não raro, provocar sérios danos nas vítimas dele.  A fealdade é um deles. A velhice, outro. A pobreza mais um. A forma de vestir, mais outro e assim tantos. Contudo, o preconceito nos parece estar no nosso DNA na sua forma mais dissimulada, porque muitos adoram usar a expressão “não tenho preconceito” e depois detonar seu veneno preconceituoso, principalmente no quesito sexo e sexualidade. Neste mesmo diapasão, quando se diz “negro de alma branca” tudo parece se fechar no tempo do preconceito dobrado. Tomando por base o negro, preconceitos clássicos e acessórios se triplicam em intensidade por osmose: negro, pobre, feio, homossexual, morando na periferia e exercendo função laboral de pouca complexidade! Se ainda tiver passagem pela polícia, certamente morrerá feito um quiabo.

O pior do preconceito é sua base psicossocial montada na cultura ou no substrato cultural de cada pessoa. Por isso é que fica dificílimo vencer preconceitos apenas com a instalação de campanhas dentro do POLITICAMENTE CORRETO. Entendo que o grande foco contra o preconceito generalizado é a escola. Mas essa, logo essa, tem estado à parte das questões maiores que nutrem o preconceito. Seus professores, no geral, estimulam mais do que o combatem em sala de aula. Porque eles são tão vitimas quanto vitimam os alunos com suas poucas capacidades interiores disso. Mesmo na escola dita moderna, os processos educacionais claudicam sobre as dificuldades financeiras dos salários dos educadores e das poucas inserções dos pais dos alunos no processo educacional. Certamente que o que tem segurado um pouco a barra da escola como elo de manutenção de valores (embora frouxos) são alguns bons professores. Esses, abnegados, se submetem a viver de salários indignos aguentando os acharques de alunos cheios de direitos e vazios de deveres, e de pais que participem das suas vidas. Mas esse é o caminho, quero dizer, o caminho de vencer o preconceito clássico, enquanto que os acessórios a gente pode ir tocando neles pela vida enquanto não evoluímos mais por dentro.

Assim, a lógica do POLITICAMENTE CORRETO continua fingindo que ajuda a diminuir preconceitos e os preconceituosos continuam fingindo que são evoluídos, até a próxima oportunidade de verbalizar: “não tenho preconceito”... E, pimba: “não tenho nada contra os gays, mas eles lá e eu cá”... E assim por diante.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 07/09/2013

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