Por Carlos Sena (*)
Preconceito é coisa que todos
têm. Acho mesmo impossível a gente, neste estágio de passagem na terra, não
tê-lo. Só que não precisa tê-lo pra sabê-lo. Nem vê-lo para poder saber se
tem... Muito menos precisamos perseguir outrem com base no politicamente
correto. Porque mesmo esse ( o politicamente correto), muitas vezes se reveste
de preconceito.
A carapuça do preconceito nos
parece só mudar de gradação. Porque há preconceitos clássicos contra os quais,
boa parte das pessoas já se cuida para não praticá-lo. São aqueles que
ultimamente foram invadidos pelo “politicamente correto”: gays, negros, judeus,
mulheres, só para ficar nestes. Há preconceitos acessórios. É aqueles que as
pessoas carregam como quem carrega uma bolsa, um celular, um relógio, mas que
podem, não raro, provocar sérios danos nas vítimas dele. A fealdade é um deles. A velhice, outro. A
pobreza mais um. A forma de vestir, mais outro e assim tantos. Contudo, o
preconceito nos parece estar no nosso DNA na sua forma mais dissimulada, porque
muitos adoram usar a expressão “não tenho preconceito” e depois detonar seu
veneno preconceituoso, principalmente no quesito sexo e sexualidade. Neste
mesmo diapasão, quando se diz “negro de alma branca” tudo parece se fechar no
tempo do preconceito dobrado. Tomando por base o negro, preconceitos clássicos
e acessórios se triplicam em intensidade por osmose: negro, pobre, feio,
homossexual, morando na periferia e exercendo função laboral de pouca
complexidade! Se ainda tiver passagem pela polícia, certamente morrerá feito um
quiabo.
O pior do preconceito é sua base
psicossocial montada na cultura ou no substrato cultural de cada pessoa. Por
isso é que fica dificílimo vencer preconceitos apenas com a instalação de
campanhas dentro do POLITICAMENTE CORRETO. Entendo que o grande foco contra o
preconceito generalizado é a escola. Mas essa, logo essa, tem estado à parte
das questões maiores que nutrem o preconceito. Seus professores, no geral,
estimulam mais do que o combatem em sala de aula. Porque eles são tão vitimas
quanto vitimam os alunos com suas poucas capacidades interiores disso. Mesmo na
escola dita moderna, os processos educacionais claudicam sobre as dificuldades
financeiras dos salários dos educadores e das poucas inserções dos pais dos
alunos no processo educacional. Certamente que o que tem segurado um pouco a
barra da escola como elo de manutenção de valores (embora frouxos) são alguns
bons professores. Esses, abnegados, se submetem a viver de salários indignos
aguentando os acharques de alunos cheios de direitos e vazios de deveres, e de
pais que participem das suas vidas. Mas esse é o caminho, quero dizer, o
caminho de vencer o preconceito clássico, enquanto que os acessórios a gente
pode ir tocando neles pela vida enquanto não evoluímos mais por dentro.
Assim, a lógica do POLITICAMENTE
CORRETO continua fingindo que ajuda a diminuir preconceitos e os
preconceituosos continuam fingindo que são evoluídos, até a próxima
oportunidade de verbalizar: “não tenho preconceito”... E, pimba: “não tenho
nada contra os gays, mas eles lá e eu cá”... E assim por diante.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 07/09/2013
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