Por Zezinho de Caetés
Os meus poucos leitores devem achar que eu estou como um
sambinha de uma nota só quando leram o título deste texto. Afinal de contas
escrevi sobre o Padrão Brasil de Qualidade (PBQ) faz menos de uma semana. Mas,
quem manda os bons jornalistas e escritores deste país “só pensarem naquilo”. O tema é reincidente e continuará assim até
que o PT, partido que trouxe este padrão para o Brasil seja alijado de vez do
poder, e o Lula, meu conterrâneo tenha voltado para Caetés, onde a cadeira
número 13 de nossa Academia Caeteense de Letras, que ele não ajudou a fundar,
está à sua espera.
Hoje comento um escrito da Ruth de Aquino (Revista Época,
03/06/2014) que tem como título: “Salve,
salve, o padrão Brasil”, onde ela coloca a seguinte questão, tão importante
quanto o Hexa na copa: “Devemos nos
conformar? Ou podemos almejar outro padrão além daquele que orgulha a Dilma?”.
Como é sabido, a nossa gerenta presidenta andou por aí dizendo que se orgulha
do padrão Brasil, porque este ficará sempre conosco. Ah que saudade do nosso
complexo de vira-latas. Pelo menos, com ele, poderíamos ter esperança de mudar
um dia, com a ajuda de um bom analista. Mas, agora resolvemos deixar de ser
vira-lata, não deixando de ter o complexo e sim dizendo que não somos
vira-latas.
Isto acontece desde que Lula resolveu, na conversa (e todos
sabem que camelô na conversa vende algodão por veludo, porque neste mundo tem
bobo prá tudo), dizer que o Brasil mudara e que agora iria prá frente mesmo. Na
sua lábia, os pobres tiveram vez e agora são classe média. Sendo inteligente
como ele é, descobriu que para fazer isto seria preciso que os ricos se
tornassem mais ricos e abriu a torneira do BNDES. Foi um espanto. Conseguiu
fugir da cadeia na época do mensalão, se reelegeu e ainda elegeu um poste para
seu substituto, e este foi o seu único erro, e que agora se mostra fatal.
Depois de quase quatro anos de poste apagado, as pesquisas
revelam que o brasileiro quer mudanças, ou seja, quer pelo menos uma réstia de
luz. O que fazer então? Lula já havia descoberto isto e orientou o poste:
Mentir é o melhor remédio. E o Brasil passou a ser uma grande mentira, sendo
que, para isto, tenta-se “fazer o diabo”
para que a verdade não venha à tona. E até tenta-se se criar um Padrão
Brasileiro de Qualidade que não se sustenta, porque a criação não tem nada a
ver com a realidade.
Qualquer pesquisa honesta mostrará que hoje o que mais
preocupa o brasileiro não é só a impossibilidade de chegar a um estádio, mas, a
inflação que assalta seu bolso a cada visita ao supermercado. Na birosca onde
almoço alguns vezes, o galeto que comia por R$ 12,00 há um ano, agora está
valendo R$ 33,00. Sazonalidade, diz o Mantega, porque nunca comeu numa birosca.
Resultado? Os classes média do PT agora estão voltando a serem pobres e mostram
seu descontentamento nas pesquisas.
E agora, pasmem, já sabendo que no próximo outubro as urnas
serão sua herança maldita, a gerenta presidenta, usa o Decreto 8.243, cujo
objetivo principal é acabar com a Democracia Representativa, atingindo o
coração de nossa Constituição. Não posso dizer aqui que o regime político em
que vivemos é um exemplo de perfeição,
mas, é o único na história que foi compatível com a liberdade individual de
empreender. O Decreto cria a figura de conselhos que representariam os cidadãos
junto aos órgãos públicos, igualzinho ao que faz o MST, o MTST e outros que
tentam atingir os princípios basilares de nossa sociedade, sendo legitimado com
a desculpa que representam melhor o povo do que nossos representantes legais,
distribuídos por todos nossos parlamentos, aproveitando-se da desonradez de alguns dos nossos representantes. Ou seja,
tenta-se jogar fora o bebê, junto com a água do banho, apenas porque alguns
bebês fizeram cocô.
Já estou me estendendo demais, mas, não posso parar sem
antes citar o Estadão, como o faz o Sandro Vaia em texto a respeito:
"O Decreto nº
8.243 é um conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa parecer, numa
leitura desatenta, uma resposta aos difusos anseios da rua. Na verdade é puro
oportunismo para colocar em prática as velhas pretensões do PT a respeito do
que membros desse partido entendam que seja uma democracia".
Este é o ponto, e o jornalista que comento quase sempre, mas
não hoje, vai além e cita o Ives Gandra
Martins, que pela sua expertise, não compra algodão por veludo:
"Quando eles
falam de participação da sociedade, todos nós sabemos que essas comissões serão
de grupos articulados, como os movimentos dos Sem Terra e dos Sem Teto que têm
mentalidade favorável à Cuba, à Venezuela".
O único objetivo é tentar “alijar o Congresso” que, se não sair do seu marasmo, continuará
nele para sempre, conclui.
Fiquem com a Ruth, que comenta mais o PBQ, e em outubro, não
esqueçam, tentem mandá-lo para a PQP. Chega de enganação!
“Deixa que digam, que pensem, que falem. Você comemorará cada gol
brasileiro na Copa, se emocionará a cada vitória, sofrerá se nossos craques
pisarem na bola, vai gritar e até chorar. Isso não significa que, fora do
estádio ou do sofá, você precise parar de criticar o péssimo planejamento deste
Mundial, a inadmissível quebra de promessas para a população, a aparente
roubalheira nas obras superfaturadas e o inferno dos serviços públicos. O
Brasil tem abusado de nossa cordialidade, nossa paciência e nosso otimismo, ano
após ano.
Na semana passada, foi comovente o esforço do governo e das autoridades
para derreter o coração canarinho e evitar protestos durante a Copa. A reação
nacionalista a “acusações” de estrangeiros foi uma tentativa patética de
transformar críticos em traidores da pátria. A presidente Dilma Rousseff
afirmou, com orgulho cara-pálida, que os aeroportos do Brasil não são “padrão
Fifa” mas “padrão Brasil”. Lindo. A gente sabe que padrão é esse quando precisa
ir ao banheiro, pegar uma escada rolante ou aguardar a chegada das malas.
O secretário de Turismo do Rio de Janeiro e homem de confiança do
prefeito Eduardo Paes, Antônio Pedro Figueira de Mello, disse que “o Rio não é
a Suíça”, ao se referir às longas filas que os turistas terão de enfrentar na
cidade. Antônio Pedro também reconheceu que o Rio não se preparou para receber
deficientes porque, na Copa do Mundo, “não há tanto esse público”. Depois pediu
desculpas pela bola fora.
Talvez por o Rio não ser a Suíça, o Exército tenha sido convocado para
dar segurança aos turistas nas praias, nas ruas, no Maracanã. As duas polícias,
PM e Civil, não dariam conta. Sabe como é, esse é nosso padrão. No padrão
Brasil, professores manifestantes cercam o ônibus da Seleção, em protesto
contra baixos salários. Mas não torcem contra a Seleção. Torcem por um Brasil à
altura de nossa Seleção, por uma Educação à altura de nosso futebol. Deu para
entender ou precisa desenhar?
Tudo se encaixa no padrão Brasil. Na capital, Brasília, índio flecha
PM, arcos enfrentam a cavalaria. Nos arredores de estádios da Copa, em diversas
cidades, há cenários lastimáveis. Lixo entulha a favela que fica a 300 metros
do Maracanã, como mostrou o jornal O Globo. Comunidades junto aos novíssimos
estádios convivem com água de poço, esgoto a céu aberto, zona de prostituição
baixa, luz de vela, invasões de sem-teto. Digamos que na África também é assim.
Mas a gente espera mais do Brasil.
Esperávamos que o governo de Dilma e Lula cumprisse uma promessa para
estimular o ecoturismo no Brasil. Foi anunciado há quatro anos que o governo
federal investiria R$ 668 milhões na infraestrutura de 23 parques federais.
Eram os “Parques da Copa”, uma parceria dos ministérios do Turismo e do Meio
Ambiente. Do total de R$ 668 milhões, quanto foi investido? Apenas R$ 1 milhão.
Mas, sabe, esse é o padrão Brasil. É para se orgulhar?
Não é só o governo federal. Segundo o jornal Valor Econômico, Dilma
colocou à disposição de governadores e prefeitos R$ 12,4 bilhões para obras de
mobilidade urbana, ônibus e metrôs. Só R$ 479 milhões foram sacados por Estados
e municípios. É muita incompetência. Devemos nos conformar? Ou podemos almejar
um outro padrão? Agora, o governo pede ao povo que se comporte. Os gringos não
podem falar mal do país do sol, da alegria, da cachaça, do Carnaval e do
futebol.
Nessa reta final antes da Copa, apareceu até uma “miss” padrão Brasil.
É a filha do ex-todo-poderoso da CBF Ricardo Teixeira e neta de João Havelange,
ex-comandante da Fifa. Joana Teixeira Havelange tem 37 anos, é do Comitê
Organizador Local da Copa e publicou um texto em apoio ao Mundial, “até porque
o que tinha que ser gasto, roubado, já foi”. Joana tem linhagem. Seu pai
renunciou em meio a denúncias de corrupção depois de 23 anos à frente da CBF.
Joana é formada em administração e ganha cerca de R$ 80 mil por mês, ou R$ 100
mil, incluindo extras e bônus, segundo dizem. Joana é ou não a cara do padrão
Brasil?
Nem os mais céticos imaginavam que, a poucos dias da Copa, o país ainda
estivesse nessa correria para maquiar os equipamentos essenciais. O cenário
mais pessimista previa um legado maior para a população. Infelizmente, a ficha
ainda não caiu para os governantes. As autoridades não fizeram mea-culpa de
nada. Só se preocupam com o vexame e com “o que os outros vão dizer” se os
brasileiros lavarem a roupa suja diante dos convidados. É muita cara de pau.
Vamos, sim, torcer para que o Brasil seja hexacampeão. Vamos torcer
também para que, fora do gramado, o Brasil honre suas cores e sua gente. E mude
de padrão.”
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P.S: Como informação e boa opinião nunca são coisas demais,
quando reina a liberdade de expressão, já hoje, alguns dias depois de terminar
a matéria acima, e ao tentar mandá-la para a AGD, encontrei outro texto da
mesma jornalista acima, a Ruth de Aquino (Título: “Não atendo emergência” – 06/06/2014 – Revista Época), no qual ela
apresenta mais uma faceta do Padrão Brasil de Qualidade. Se tiverem disposição
para aguentar mais vergonha com nossos serviços continuem lendo:
“É possível que se conte nos dedos de uma mão o número de países em que
um paciente morre do coração em frente a um Instituto Nacional de Cardiologia
(INC), sem receber socorro de nenhum médico ou enfermeiro do hospital. O INC
está em greve, como muita gente nesta fase de amistosos pré-Copa das Copas.
A omissão de atendimento imediato a Luiz Cláudio Marigo, de 63 anos, é
falta para cartão vermelho. Marigo, fotógrafo premiado de Natureza, embarcou
num ônibus, no Rio de Janeiro. Começou a passar mal pouco depois. O motorista,
Amarildo Gomes, desviou seu percurso por estar perto do INC, em Laranjeiras,
único hospital público no Rio que faz transplantes de coração em crianças e
adultos, referência em ensino e pesquisa.
O ônibus foi estacionado em frente ao hospital, e Marigo, deitado no
chão do veículo, com dores no peito. Amarildo e passageiros estavam solidários
com o drama do anônimo. Ele não levava documentos, apenas uma bolsa com chaves,
moedas e R$ 42. Não sabiam que era um homem das florestas. Naquele momento, o
povo do ônibus acreditava que poderia salvá-lo. Qualquer um sabe que os
primeiros minutos após um infarto são cruciais.
Começava ali uma história padrão Brasil. Seguranças do hospital
disseram que o INC não atende emergência e que seria melhor chamar os bombeiros
ou uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Assim
agiu o motorista Amarildo, mas a contragosto: “Achei um absurdo, um pouco-caso
com a vida humana”. Quando uma ambulância chegou ao hospital levando outro
paciente, o paramédico prestou os primeiros socorros. Mais tarde, chegaram os
bombeiros.
Mesmo em greve, havia no hospital um leito, alguns médicos e
plantonistas na Unidade Coronariana. O sargento dos bombeiros Alves afirmou:
“Se viesse um médico na hora, já era muita coisa. Isso aí é omissão de
socorro”.
Dá dor no coração. Nem falo do Juramento de Hipócrates. Nele, um médico
formando jura, por todos os deuses e deusas, aliviar o sofrimento humano.
Quantas vezes ouvimos num avião o comandante pedir ajuda: “Se houver um médico
neste voo, favor atender um passageiro que está passando mal”. Já pensou o
médico se omitir por achar que ganha pouco, ou que não é função dele trabalhar
de graça? Já pensou ele dizer: “Não atendo emergência”?
O hospital tem sua versão. A nota do INC diz, e é verdade, que o
hospital não tem emergência aberta ao público geral. E daí? A direção diz que o
INC nunca fez primeiro atendimento e que sua especialidade são procedimentos de
alta complexidade. Sim, e quando se trata de um caso de vida ou morte na frente
do hospital?
A diretora do INC, Cynthia Magalhães, afirmou: “Não houve omissão de
socorro e não houve erro (...). Nenhum membro da equipe médica foi notificado
de que havia um paciente passando mal dentro de um ônibus (...), e sim um
paciente passando mal na rua”. Então, médico não sai para socorrer na rua?
Cynthia disse que os seguranças do hospital não entenderam a gravidade do caso.
Como poderiam? Quem entende de gravidade é médico.
“O que houve foi uma omissão de socorro generalizada, uma falta de
integração na rede”, disse Lúcia Pádua, diretora do Sindsprev, ao elogiar o INC
como uma “ilha de excelência”. O que não pode, afirmou Lúcia, é “o paciente
chegar a um hospital e ser recepcionado por seguranças”. Apela-se a quem? Ao
Bom-Senso Medicina Clube?
Então, quem faz a triagem na porta de hospitais, públicos e privados,
não são profissionais de Saúde. São seguranças, vigilantes. Na semana passada, um vídeo na recepção de um
hospital mostrou seguranças arrastando pelo chão, para fora do hospital, um
paciente em cadeira de rodas. Acompanhantes levaram socos e gravatas. O
paciente estava sem documentos e “agressivo”, disse Geraldo Medeiros, diretor
do Hospital de Trauma de Campina Grande, na Paraíba. Entendi. O hospital deixa
os pacientes com trauma.
A morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, que trabalhou diversas vezes
para ÉPOCA, expõe nossa vulnerabilidade à humilhação, à frieza e à
incompetência das recepções hospitalares. Entre no site
http://www.lcmarigo.com.br e perceba como era talentoso: “A conservação da
biodiversidade depende do conhecimento e do amor. O papel dos fotógrafos de
Natureza é despertar a consciência do homem para a incrível riqueza da vida na
Terra, sua beleza e valor espiritual. (…) Espero que meu trabalho transmita a
mesma alegria e emoção que sinto nos ambientes selvagens e que minhas
fotografias não se transformem apenas em mais um documento do passado”.
Se depender do filho dele, Vítor Marigo, que processa União e hospital,
sua vontade será respeitada: “Queremos conseguir uma indenização para abrir uma
fundação. O importante é manter viva a obra de meu pai”. Porque “selvagem” é a
vida aqui fora.”