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segunda-feira, 30 de junho de 2014

A semana - Políticos e jogadores mordem. Vamos morder de volta?




Por Zé Carlos

O filme de hoje, e penso até 13 de junho ou a qualquer momento em edição extraordinária se o Brasil cair fora da Copa, trata de Copa do Mundo e seus jocosos eventos. Política tornou-se um mero coadjuvante do Futebol. Entre um sofrimento e outro com nossa seleção, da qual Felipão não consegue se livrar de sua principal escalação: Neymar, Neymar, Neymar.... e assim por diante, o material para riso é ainda as convenções dos partidos para as próximas eleições. O resto são só mordidas e nada mais.

Óbvio que um único filme seria pequeno para cobrir tanta besteira que foi dita por este país afora pelos candidatos ungidos pelas agremiações partidárias. E o mais hilário é o esforço dos candidatos presidenciais em atacar uns aos outros, sem ferir os correligionários no nível regional. Eu nunca vi um balaio de gatos tão grande e tanta diversidade. Lula parece ter razão quando diz que a política no Brasil se reduz a “eles” e “nós”. O que isto significa de verdade ele não diz, e nem faz nenhum esforço para isto. Faz parte do jogo. Eu só sei que sou “eles”.

Eu já disse certa vez que nunca vi um partido tão “capitalista” quando o Partido Socialista do Eduardo Campos, e nunca vi um partido tão de “extrema-direita” quanto o PSOL. Os métodos de ação são os mesmos e hoje todos são black blocs. O importante é o poder com máscara ou sem máscara. Todos tentam agora imitar o Luiz Suárez, o mordedor do Uruguai, para comer toda a carne, tal qual vampiros, do nosso povo, que nem sente mais as mordidas anestesiado pela Copa do Mundo. Mordeu? Basta o Brasil ganhar que passa. Mesma que seja com prorrogação e pênaltis como contra o Chile no sábado, jogo que mudou a escalação da seleção. Agora é: Júlio César, Neymar, Neymar, Neymar .... e assim por diante.

E o episódio da mordida do jogador uruguaio no italiano foi um ponto fora da curva nesta semana, em termos de humorismo espontâneo (Só não foi mais hilário do que a decisão de deixar o Zé Dirceu trabalhar de bibliotecário num escritório de advogacia. Por que ele não trabalha com advogado?) E o filme abaixo mostra a mordida uruguaia e ainda outras mordidas no plano político. No fundo no fundo, quanto mais se aproximam as eleições mais somos mordidos. Minha sugestão é: “Vamos morder de volta em outubro!”. Pensei em lançar o plano “Mentira Zero”, mas vi que, se ele tivesse sucesso, faltariam candidatos. Então o jeito é morder de volta.

Um fato auspicioso (sempre quis usar esta expressão mas faz tempo que não existia um fato assim por estas plagas) foi que o José Sarney declarou que vai pendurar as chuteiras, que usa desde meados do século passado e deve terem pertencido ao Barbosa, aquele goleiro da seleção no “maracanazzo”, pois eu nunca vi um jogador que levasse tanto o Brasil a chorar por tão longo tempo. Antes tarde do que nunca. Dizem que ele agora se dedicará exclusivamente à literatura, fazendo uma revisão do seu livro “Marimbondos de Fogo”. A primeira revisão será do título que de agora em diante será: “Gafanhotos de Cinzas”.

Mas o que achei melhor do filme, e que me fez rolar de tanto rir, foi o Lula dizer que “criador e criatura podem viver em harmonia”. Pensei logo no criador do Frankenstein, que depois abominou sua criatura, e logo pensei, este Lula está apenas fazendo campanha, quando diz que agora vive em harmonia com sua criatura, a Dilma. E quer convencer o distinto público que adoraria ver a Dilma reeleita. Mas esta estória só continuará se sua criatura mostrar que pode chegar ao monte tão desejado pelo seu criador, o Planalto. A harmonia se desvanecerá assim que Dilma começar a realmente dar com os burros n’água nas pesquisas. Então não se iludam, tal qual o vampiro uruguaio, o Lula começará a morder a criatura pela frente, porque, pelas costas, ele já faz isto há tempos.

Bem, mas já estou me alongando, e não quero que os meus três leitores pensem que estou tentando mordê-los, nesta época de mordidas generalizadas. Sou de Bom Conselho, e bom-conselhense não morde nunca. Fiquem com o roteiro do filme feito pelos produtores do UOL, e vejam em seguida as mordidas que os brasileiros estão levando dos seus políticos. Vamos morder de volta?

“Na segunda semana de Copa do Mundo no Brasil, a eliminação da Espanha já é assunto quase esquecido e as piadas se concentraram na mordida dada pelo jogador uruguaio Luis Suárez no italiano Giorgio Chiellini. Suspenso por nove partidas, a agressão deixou Suárez fora da Copa e rendeu uma enxurrada de brincadeiras e comentários nas redes sociais. Inspirados no uruguaio, a presidente Dilma Rousseff e seu principal opositor, Aécio Neves, trataram de abocanhar aliados para as próximas eleições. Já a aposentadoria do senador José Sarney fez com que as atenções se voltassem para o cenário político, mas por pouco tempo, porque ainda tem muita Copa rolando.”


sábado, 28 de junho de 2014

A memória é uma vigarista




Por Nelson Rodrigues

 Amigos, Julinho começou a ser o meu personagem da semana a partir do momento em que o vaiaram. Foi, até, se me permitem a expressão, trágico. Insisto: trágico! Quem estava lá viu ou, por outra, ouviu. No instante em que o alto-falante do Maracanã anunciou Julinho em lugar de Garrincha, o estádio entupido foi uma vaia só.30 Menos eu. Eis a verdade: — eu não apupei, embora preferisse Garrincha. Parecia-me que o escrete sem o “seu” Mané era um mutilado. Na pior das hipóteses, eu achava que o Feola devia ter posto os dois: — Julinho na ponta-direita e Garrincha na esquerda. Mas um técnico tem razões que a razão desconhece. Puseram só Julinho e esqueceram o Garrincha. Verificou-se, então, o amargo e ululante desagrado da multidão. Naquele momento, ninguém se lembrou, no Maracanã e fora dele, de quem é Julinho na história do futebol brasileiro. Sim, amigos: — o homem andou pela Itália e quando voltou nós o olhamos, de alto a baixo, como se fosse um gringo qualquer, ou pior do que isso, como se fosse um perna de pau. Não há nada mais relapso do que a memória. Atrevo-me mesmo a dizer que a memória é uma vigarista, uma emérita falsificadora de fatos e de fi guras. Por exemplo: — ninguém se lembrava de que, no Mundial da Suíça, contra os húngaros, Julinho fi zera um carnaval medonho. De certa feita, driblara toda a defesa contrária para fi nalizar com uma bomba, e que bomba! O arqueiro nem viu por onde a bola entrou. Esse gol foi uma obra-prima e devia estar numa vitrine de turismo, para a admiração pateta dos visitantes. Pois bem: — ao ser anunciada a escalação de Julinho, a nossa memória apresentou-nos a imagem não autêntica, não fidedigna do craque, mas de um quase penetra do escrete.

Ao ouvir o apupo, eu fui um pouco oracular para mim mesmo. Imaginei o seguinte vaticínio: — “Julinho vai comer a bola!” Podia parecer uma piada e, no entanto, era uma grave profecia. Eis a verdade: — para o jogador de caráter uma vaia é um incentivo fabuloso, um afrodisíaco infalível. Imagino que Julinho há de ter entrado em campo crispado da cabeça aos sapatos ou, retifi co, às chuteiras. Nunca um craque foi tão só. Era um único contra duzentos mil. Mas, homem de brio indomável, Julinho aceitou a luta: — bateu-se contra a multidão que o cercava por todos os lados, disposta a crucificá-lo em outras vaias. Mas se nós tínhamos esquecido Julinho, Julinho não estava esquecido de si mesmo. Foi Julinho em cada um dos 45 minutos, foi sempre Julinho e só Julinho. Em inúmeras ocasiões, o que ele fez com o adversário foi pior que xingar a mãe. E o primeiro gol, ah, o primeiro gol! Ele o marcou contra os ingleses, sim, mas também contra os que o vaiaram. Enfiou a bola de uma maneira, por assim dizer, sádica.

Jamais houve um gol tão amorosamente sofrido como este. A partir da abertura da contagem, todo mundo passou a reconhecê-lo, todo mundo admitiu para si mesmo: — “Este é o Julinho!” E era.

Ele não parou mais. Aquela multidão se arremessara contra ele como um touro enfurecido. Pois bem: — ele agarra o touro à unha e lhe quebra os chifres. Então, aconteceu o milagre. O ex-touro brabo, já manso, tornou-se outro bicho. Sim, amigos: — do primeiro gol em diante, a multidão transformou-se na macaca de auditório de Julinho. Se ele apanhava a bola, os duzentos mil espectadores arreganhavam o riso enorme e já gozavam, por antecipação, o que o Julinho iria fazer. Vejam vocês as ironias da vida e do futebol: — de um momento para outro, o vaiado, o apupado, o quase cuspido transformava-se num triunfador. E, de fato, Julinho foi grande. Nos pés de Julinho a jogada se 78 enfeitava como um índio de carnaval. De certa feita, come um, dois, três, quatro e quase entra com bola e tudo. Imagino que, nesse momento, Lorde Nelson há de ter perguntado, lá do alto, para o mais próximo companheiro de eternidade: — “Quem é esse cara?” O “cara” era Julinho, sempre Julinho.

Assim é o brasileiro de brio. Deem-lhe uma boa vaia e ele sai por aí, fazendo milagres, aos borbotões. Amigos, cada jogada de Julinho foi exatamente isto: — um milagre de futebol.


Manchete Esportiva, 16/5/1959

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Clube não é boteco




 Por Nelson Rodrigues  

 Leio os jornais e observo o seguinte: — uma tendência universal para achar que os campeões do mundo devem aceitar, sim, o próprio leilão. É a fi losofia do toma lá da cá, da oferta maior, do lance mais alto. Se oferecem tanto a Vavá e tanto ao clube, o negócio deve ser fechado brutalmente e com a solidariedade e o estímulo da imprensa, do rádio e da televisão. Do contrário, argumenta a maioria dos meus confrades, seria prejudicar o craque e o clube.

É, como se vê, um raciocínio monstruoso, que coloca o problema em termos estritamente mercenários. Ora, as profissões e as pessoas dependem ou, antes, dependem sobretudo de valores gratuitos. Procurarei esclarecer: — a vergonha de uma senhora honesta. É um bem material, negociável, a vergonha de uma senhora honesta? Não, evidentemente. E, no entanto, por esse valor gratuito, ela estará disposta a morrer e matar. E assim o seu marido e os seus fi lhos. Não ocorreria a ninguém aconselhar a uma mulher casada que aceite uma boa oferta, em dinheiro, do primeiro pilantra. Ela estaria disposta a vender as joias, os talheres, as cadeiras, os lençóis, o diabo a quatro. Menos os seus valores incomerciáveis. Objetará alguém que eu estou misturando alhos com bugalhos. Nem tanto, amigos, nem tanto. Qualquer profissão há de ter um sentido ético 3 que a justifique e valorize. O futebol profissional exige dinheiro, mas não só dinheiro. Ele implica algo mais, ou seja: implica os tais valores gratuitos que conferem a um jogo, a uma pelada uma dimensão especialíssima. Um match representa algo mais que pontapés. Participam da luta dois clubes e todos os seus bens morais, afetivos, líricos, históricos. No Vasco, o mais importante é um valor gratuito: — a tradição.

Nunca um clube espanhol teria a desfaçatez de querer comprar a tradição vascaína. E por quê? Por causa de um puro e simples problema de vergonha. Do mesmo modo, nenhum clube se lembraria de vender um presidente, embora o presidente seja uma figura infinitamente menos essencial que um campeão do mundo. Eis o ponto nevrálgico da questão: — clube não é boteco para vender tudo. Ele possui coisas que não venderia nem por todo o ouro da Terra.

Dirá alguém que um campeão do mundo é um jogador como outro qualquer. Mentira. Por exemplo — o caso de Vavá. O Vasco está vendendo errado Vavá, está vendendo errado o Vavá do ano passado, o pré-Vavá, o Vavá anterior à Taça Jules Rimet. E há um profundo e irredutível abismo entre um e outro Vavás. São duas pessoas que não se conhecem, não se competem, nem se cumprimentam. O Vavá antigo não tinha a autoridade que conquistou, brava e furiosamente, na Suécia. Era desconsiderado pelos companheiros. Agora, não. Agora pode gritar em campo, pode vociferar e até a bola há de correr atrás dele, como uma cadelinha puxa-saco. E parece que o Vasco ainda não percebeu que tem, em casa, um Vavá, sim, mas transfigurado pelo Campeonato do Mundo.

Daí o equívoco grotesco: — o clube de São Januário trata Vavá como se este fosse o antigo, e não o atual Vavá. Eis a verdade: — os nossos clubes ainda não se acostumaram a ser campeões do mundo. Ainda não reajustaram os seus critérios. Mas eis onde eu queria chegar: — um Vavá, ou Orlando, ou Bellini pertence a esta categoria de valores que não se vende. Sua presença no Vasco é uma glória intransmissível. Poderão vociferar: — “E os milhões?” Eu continuarei argumentando que nós só vivemos e só morremos por valores gratuitos.

Há ainda um aspecto, que vem a ser o interesse do jogador. Acho também improcedente o raciocínio que se usa em relação a Vavá. Ninguém vive só de milhões materiais. E os milhões subjetivos? Só a língua da terra vale um milhão bem-contado. Vão tirar de Vavá o seu idioma e quem pagará por isso? As piadas, os palavrões, em outra língua, que graça podem ter? Alguém insistirá no argumento dos milhões. Não importa. Aqui, Vavá está feliz e realizado como um peixinho no seu aquário. Por outro lado, convém aceitar esta verdade recente — o campeão não é apenas um jogador de futebol. É um herói: nenhum clube, nenhum povo tem o direito de vender seus heróis. Nem o herói tem o direito de vender a si mesmo. Amigos, no dia em que deixarmos de prezar os valores gratuitos, vamos cair todos de quatro, todos.


 Jornal dos Sports, 26/7/1958

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Rafameia e Cabrueira na Lambusada




Por Carlos Sena (*)

Aproveito as terríveis atitudes da ""rafameia" saqueando o nosso comércio para incursionar noutro viés que, aparentemente, não tem nada a ver: A EDUCAÇÃO.  Alguém dúvida que o que vimos na TV é só questão de pobreza? Ou só de má índole? Não! Ou é tudo junto e misturado e com a falta de educação de lambujem. Não a educação doméstica, mas, também ela, porque a falta de educação formal - aquela em que os pais colocam os filhos numa boa escola e que junto com ela complementam o círculo educacional. Essa cabrueira que hoje saqueia é a mesma Rafameia que os pais botaram no mundo tal qual Deus criou batata. Pior, pois as batatas se escondem debaixo da terra e, depois de ceifadas nos servem de guloseimas. Eles, não. Nem nos presídios prestam, pois nossas cadeias não recuperam, só pioram e nossas escolas nem sempre colam, descolam. Dificilmente decolam algum aluno para o alto da cidadania. Falo, evidentemente, das escolas públicas, embora outras eu também coloque na privada.

Há uma teoria pedagógica que diz que se educa uma criança 30 anos antes do seu nascimento, no mínimo. Quem é educador sabe disso e, certamente entende que esses fuinhas, rafameia - verdadeiras cabrueiras sociais, talvez sejam vistas nesse prisma educacional: muitos não tem pais; muitos outros tem pais ausentes ou mesmo são filhos da "outra".

Entender esse movimento saqueador como sendo a resposta à falta de uma educação seria, não é mistério. Como também não é difícil entender que professor não dá voto. Se não dá voto, pra que pagar bem a ele? Mesmo porque gente estudada saberá pensar. E pensando não vai votar em gente escrota como esses que passaram a vida subestimando a educação como fonte da civilização. Os próprios policiais, sob certos modos de visão, também nem sabem a razão de ser polícia, com suas devidas exceções. Entra também a escola aí.

Portanto, comida na mesa não é tudo e decência  de valores é muito mais! Como perguntar continua não ofendendo, quem é que mais contribuí com valores sólidos dos cidadãos? Respondo: os pais e os professores! Mais estes do que aqueles, isto numa visão de 30 anos atrás. Porque hoje as famílias mais aquinhoadas podem colocar seus filhos em escola privada, enquanto as de de menor poder aquisitivo, na própria privada publica continuam.

Portanto, senhores governantes, educação não é pra fazer mídia na campanha eleitoral. Educação se faz lenta e gradualmente é com professores bem pagos e com escolas que tenham não só bons mestres, mas condições outras como banca, banheiro, água potável, material de estudo, livros, biblioteca, jornal, computador, etc. Mas, a grande maioria dos governantes pensa que tudo passa por um computador. Com puta e muita dor. Porque não há dor maior do que aquela cegueira que a ignorância proporciona. Os governantes de hoje estão colhendo o que não plantaram no passado ou não?

Enquanto isso a Rafameia segue na companhia da cabrueira cega, perdida na completa falta de educação doméstica e institucional. E, como se não bastasse, a impunidade toma conta qual uma pandemia aterrorizante.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 15/05/2014

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O escrete é nosso!




Por Nelson Rodrigues

Neste momento, o mundo todo está de olho no fabuloso escrete brasileiro. A toda hora e em toda a parte, há quem chegue e rosne ao nosso ouvido: — “Ofereceram tanto por fulano, tanto por cicrano, tanto por beltrano!” São os grandes clubes de fora, da Espanha, da Itália, da França, de não sei onde que acenam os seus milhões para os campeões do mundo. Mazzola já foi pescado. E há ofertas nababescas para Pelé, Vavá, Didi, Garrincha, etc. etc.

 E observa-se, então, o seguinte: — os clubes dos campeões, que deviam estar alarmados, não estão alarmados coisa nenhuma. Pelo contrário: — do lábio pende-lhes a baba elástica e bovina da cobiça. Não vejo nenhum clube disposto a lutar pela preservação de um Vavá, de um Pelé, de um Didi, de um Zito, de um Nilton Santos. Todos estão com água na boca e afl itos para embolsar os milhões dos passes. Ninguém se lembra de uma verdade tão transparente e tão óbvia: — os campeões do mundo deviam ser incompráveis.

O jornalista Mário Filho, com sua implacável lucidez, viu, melhor e antes do que ninguém, o grande problema do momento. Em suma: — ele faz um apelo no sentido de que se defenda, aqui, com unhas e dentes, a integridade do maior escrete que olhos mortais já contemplaram. E, de fato, amigos. O futebol brasileiro praticará um suicídio se permitir, por uma questão de cifras, que se desintegre a equipe que deslumbrou o mundo. Objetará alguém que é um negócio para qual quer clube vender um Vavá, ou um Garrincha, ou um Didi por uma quantia tremenda.

Ilusão! Um Garrincha, um Didi ou Vavá não tem preço. E se assim acontece com os craques individualmente, que dizer do escrete? Ora, a equipe que levantou a Taça Jules Rimet em 58 não é um conjunto qualquer. É um quadro que, segundo o testemunho dos críticos europeus, alcançou o nível mais alto do futebol, em qualquer tempo. Vejam bem: — não somos nós, jornalistas brasileiros, que escrevemos isso. Não. Os jornalistas brasileiros não queriam admitir que o Brasil tivesse o maior futebol do mundo. Vivíamos a admirar os húngaros, os ingleses, os tchecos, os russos. E só não admirávamos os gênios locais, que, todos os domingos, esfregavam a sua classe na nossa cara.

Foi preciso que jornais alemães, franceses, húngaros, tchecos, ingleses berrassem para nós: — “Vocês são os maiores.” Então, a nossa imprensa começa a admitir, embora o medo, embora relutante, que não somos tão pernas de pau. Mas como eu ia perguntando: — será o futebol brasileiro tão suicida ou, pior do que isso, tão idiota que desista do seu escrete por causa de uma meia dúzia de patacas? Amigos, nenhum país tem o direito de renunciar a um escrete como este.

Os clubes poderão usar o argumento de um lucro certo e imenso. Ao que eu respondi: — lucro apenas aparentemente, falso lucro. A venda de um campeão do mundo, qualquer que seja o seu preço, implica num prejuízo real e irrecuperável. E se os nossos clubes fossem menos obtusos, já teriam percebido que deviam chutar os milhões que o mundo oferecer pelos nossos supercraques. Mário Filho tem uma razão total: — cumpre ao futebol brasileiro não desistir do seu escrete. Permitir a dissolução da equipe não será um crime, porque é, antes de tudo, um suicídio.

Um Garrincha, ou Didi, ou Vavá ou qualquer campeão do mundo devia ser amarrado, solidamente, num pé de mesa, para que ninguém o arrancasse daqui.


Jornal dos Sports, 6/7/1958

terça-feira, 24 de junho de 2014

Rabo Preso, Língua Socada.




Por Carlos Sena (*)

Muitos imaginam que sou de tal ou de qual partido. Quem quiser continue imaginando, pois não digo, ou digo: o único partido que eu defendo é aquele que defender os menos favorecidos - nunca parecido com um ROBIN HOOD que tirava dos RICOS para dar aos pobres. Por coincidência ou por ironia para a burguesia, quem mudou o pais não foram os eruditos, nem os intelectuais, nem... Foi um pernambucano que se retirou da seca para não morrer de fome. E fez mais do que quem era Doutor e escritor e poliglota. Alguém até pode discordar no grosso, mas no varejo, todos no fundo sabem que essa é uma verdade. Tenho, pois, essa tendência de sempre lutar pelos fracos e oprimidos, como dizemos na galhofa, "pelos frascos e comprimidos". Toda essa prosa para dizer que o que se diz na mídia não merece o crédito que a mídia deseja, porque contra fatos não existem argumentos. Lembro: foi a Globo quem criou o mito do Caçador de Marajas, lembram? Pois bem, guardadas as devidas proporções, os descontentes porque não "mamam" há 12 anos nas tetas da nação estão com muita sede e querem depressa voltar ao pote. Essa mesma Globo, hoje, decidiu ir contra o governo, mas esquece de falar a verdade dos fatos. Até na novela das 7h ele joga uma mensagem subliminar no título: fica claro o número 40 do título. Aproveitem e vejam. Mas, isso é detalhe diante do que corre nos corredores da emissora e que se comprova na sua programação. Não há um só dia em que não se foque noticia negativa (independente de ser verdade ou não) que denigra o governo. Certamente que os governos erram. Como erraram os anteriores e errarão os que vierem. O problema não está no erro, pois a democracia não se constrói na bonança, mas na tempestade que as opiniões diferentes facultam em busca do bem comum. É essa a convivência que muitos não se acostumam, pois sempre foram donos do poder podre que marginalizava os menos favorecidos evitando que eles participassem dos bens de consumo, do acesso a universidade, das viagens aéreas, do salário mínimo decente, etc. Eu sei que muitos estão descontentes. Não entro no mérito. Mas há que se ter noção de certas coisas, independente do,apito partidário que se defenda, porque há emanadas que são piores domares o soneto. Para quem acha que essa "emenda" ta ruim (não é o meu caso), temos que não esquecer o seguinte: SEM REFORMA POLÍTICA o que é "ruim" pode piorar. Porque essa reforma perpassa, necessariamente por 1. tirar dos empresários o financiamento de campanha. 2. Instituir o Voto distrital. 3. Fidelidade Partidária. O que dói é que não são poucos os que, sequer sabem o que seja essa REFORMA POLÍTICA", mas falam, vociferam, denigrem, combatem o governo apenas no ouvi dizer, nas postagens do Facebook e nas ordens da Globo. Assim, sem reforma política pode ser que o que está ruim piore (repito, não é a minha opinião) e até que degringole a democracia que demoramos tanto a conquistar. Agora uma pergunta fatal: sabe quem não quer a reforma política? Eu respondo: a grande maioria dos deputados e senadores! E quem ignora que lá dentro tem muita gente com o rabo preso e com "mão de seda"? E quem duvida que no judiciário não haja gente igualmente presa pelo rabo? Afinal, "rabo preso, língua socada". Pois bem, essa não era a prosa que eu desejava ter neste final de noite. Mas, como que conduzido por uma "entidade espiritual" fui escrevendo, escrevendo, como que estivesse mandando para um endereço certo. Como quem sabe que "por falta um grito se perde uma boiada". Com todo respeito que uma pessoa civilizada tem que ter, reflitam.

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Ps. Se você é dos que discordam disso, embora saibam e entendam tudo acerca da reforma política, Paz e Bem. Esse é um direito nosso que vivemos num pais democrático.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 14/05/2014

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A semana - Copa e Política: Os favoritos estão indo embora...




Por Zé Carlos

Nossa charge política semanal, o filme do UOL abaixo apresentado, por pouco não virou uma charge esportiva, aliás, como tudo neste país neste mundo conturbado, pelo menos para a Brazuca (bola oficial da Copa). Como chutam a bichinha! Eu não sei se aguentarei até o dia 13 de julho, vendo quase 3 jogos por dia, apesar de gostar do velho esporte que, certa época, era bretão. Hoje, a seleção bretã  já está fazendo as malas para voltar ao país em que eu vi o Brasil perder a Copa de 1990, tomando Whisky nacional: A Inglaterra. Enfim, quase tudo de tristeza e alegria vem, nesta época, do futebol.

E então, acabou a política? Que nada. Ela é que nos faz rir e a qual recorremos quando o Brasil empata com o México ou quando a Argentina consegue fazer um gol já na fase de prorrogação para ganhar, injustamente, do Irã. Que pena! Quando vejo isto tento passar logo para o noticiário político. E aí o riso sai aos borbotões, e esqueço até a contusão do Hulk. Penso que isto aconteceu com os produtores do filme do UOL, também. Eles passam das brincadeiras dos estrangeiros em nossa terra já no fim do filme, e mostram o abaixamento do nível da campanha para presidente, o que é visível. Desde que o Lula falou que a Dilma não gostava de chuchu, e foi desmentido efusivamente pelos outros candidatos, a campanha vai de proa para o fundo do poço da baixaria, pornográfica ou não.

Lá em Bom Conselho, dizíamos que “era o roto falando do esfarrapado”, quando ouvíamos alguém como a Dilma ao criticar o Alckmim pela falta d’água em São Paulo, sem prestar atenção na crise da “luz” que estourará logo depois das eleições no país como um todo. Considerando as duas situações poderíamos dizer que o Brasil se tornou um país que “de dia falta água e de noite falta luz....”? E o Aécio fala de um tsunami que chegará brevemente. Será para mitigar a falta d’água em São Paulo? Espero que não seja de água salgada. E, enquanto isto, o Eduardo diz que cansou de viver com “as raposas que tanto roubaram o Brasil”, tirando, é claro, o presidente Lula, que é um santo. Me engana que eu gosto! Aliás, o Eduardo tem o apoio de todos os partidos políticos do Brasil, de A a Z, se considerarmos as coligações regionais. Parece que para o PSB todos os partidos são iguais, e só mudam de endereço. Eu não quero nem pensar na situação de Bom Conselho, porque tenho ânsias de riso.

Lembro que, quando criança, já gostando de observar a atividade política, ficava ao pé dos palanques ouvindo os oradores para aperfeiçoar o português. No caso, falando ao contrário deles. Hoje, se lá estivesse iria aos palanques para ouvir os políticos xingando um ao outro, e ao mesmo tempo abraçados com os mesmos candidatos. Penso que os eleitores vão ficar confusos, mas morrerão de rir quando tiverem que esperar terminar um comício de um grupo para entrar o outro que apoia o mesmo candidato. Ora, mas deixemos de ser programáticos e sejamos pragmáticos. Vamos rir da situação.

Bem, todos sabem que tenho um trabalho danado de ficar atualizando nossa página Deu nos Blogs (link logo aí à sua esquerda) para mostrar o que se passa pelo Brasil e pelo mundo aos bom-conselhenses (junto com Notícias, é a página mais lida do blog). É neste trabalho prazeroso que começo a rir, e, quase sempre o que leio no fim de semana, não está no filme que comento. Mas, não é proibido eu dizer aos meus poucos leitores com o que rio mais para que eles também se alegrem. Neste fim de semana quase morri de rir com o discurso da Dilma na convenção do PT, na qual foi lançada, oficialmente (porque extra-oficialmente o Lula a lançou em 2002, mais ou menos), quando ela falou que: “É com crescimento que serão gerados os empregos necessários para as atuais e as novas gerações. É com crescimento, associado a fortes programas sociais, que venceremos a desigualdade de renda e do desenvolvimento regional.” Ao pensar no crescimento que houve no governo Dilma, não aguentei e rolei pelo chão rindo feito uma hiena no cio. E noutras passagens me parecia que o discurso que ela estava lendo foi o mesmo escrito para a campanha de Lula em 2006, depois que ele renegou o que estava na Carta aos Brasileiros.

Eu não sei porque ao chegar a este ponto me lembrei da seleção espanhola. Dizem que sua eliminação precoce foi fruto de uma revolta contra a abdicação do Juan Carlos, seu ex-rei, que perdeu a majestade quando começou a matar os elefantes africanos. No caso do PT, o partido começou a perder a majestade quando a adquiriu, isto é, assumiu o poder, e o quer para sempre. E já que a Dilma nem o Lula abdicaram, a proposta mais sensata, me parece,  é “abdicá-los”. Se não pudermos fazê-lo vamos continuar rindo, se isto não for proibido por lei brevemente, afinal de contas, nem umas palmadinhas nos filhos pode-se mais dar.

Nossa, já me alonguei demais e nem toquei em pontos essenciais para o riso. Mesmo assim não posso deixar de comentar o que andaram boatando por aí sobre o empate do Brasil com o México, no qual o Neymar não repetiu a sua boa performance. Dizem que ele não dormiu bem na noite anterior. Sofreu uma pressão psicológica terrível ao tentar decidir qual o gesto que faria para a Bruna Marquesine ao fazer um gol. O do coraçãozinho ou uma cara de ódio com ciúme de suas cenas picantes na novela. Vamos ver se contra Camarões ele se decide logo e dorme bem.

Fiquem agora com o resumo do roteiro feitos pelos produtores do filme e o vejam logo abaixo, na esperança de que, na próxima semana, ele já mostre o gesto do Neymar, seja ele qual for, no jogo contra Camarões, hoje.

“Vista com desconfiança, a Copa do Mundo no Brasil veio com tudo: goleadas inesperadas, viradas e mais viradas, zebras históricas, alemães dançando com índios, holandeses tomando o Pelourinho, bárbaros ingleses em Manaus, chilenos perdidos, argentinos invadindo Copacabana. Se o Mundial empolga, o debate eleitoral é puro tédio: petistas, tucanos e até Eduardo Campos (PSB) decidiram subir o tom e acabaram baixando de vez o nível da campanha.”


sábado, 21 de junho de 2014

Casa de ferreiro, espeto de pau




Por Zezinho de Caetés

Deixem-me confessar que sempre gostei de futebol, e mais ainda de jogos da Copa do Mundo. Consequência: Meu tempo de escrever ficou inversamente proporcional à dedicação em ver os jogos. Por isso fico mais do que atrasado nas minhas leituras, mas, um craque em interpretar cada partida do Brasil e de outros países. Conclusões intuitivas até agora, depois da primeira rodada desta fase que elimina os que aqui vieram fazer turismo: Alemanha e Holanda estão na frente outra vez. Ora, julgar-me-ão um impatriota ao dizer isto. Da mesma forma se tornou impatriota para o PT qualquer verdade que seja dita sobre a economia brasileira e a queda da Dilma.

Falei em Dilma? Então falei em futebol. Hoje é muito difícil esquecer a gerenta presidenta quando se fala de Copa. Depois dos xingamentos que ela recebeu (transformados pelo Zé Carlos em: “Oi Dilma, vá comer chuchu!”, com muita propriedade vejam aqui) no Itaquerão, ela jamais será esquecida. Mesmo depois de muitos anos, talvez quando o Brasil voltar a sediar uma Copa, em 2074, esta partida será lembrada como aquela em que ela realmente “comeu chuchu”, por ter se escondido do povo, e teve uma indigestão tão grande que desistiu de ir ao jogo com sua colega, Angela Merkel, ver a Alemanha dar um baile maior do que o da Ilha Fiscal em Portugal. Foi também medo da alemã tentar fazer qualquer comparação com o Brasil. Sua indigestão seria ainda muito maior.

Imaginem se ela tivesse ido a Fortaleza ver o bisonho Brasil empatar com o México. Certamente, a torcida a levaria à loucura mandando ela comer gerimum com leite. Isto se não passassem à tentativa de homicídio mandando-a  comer manga com leite, que, segundo minha mãe, espanhola de boa cepa, dizia que esta combinação “falta um grau prá veneno”.

Eu só fico imaginando hoje, a partir deste jogo, o que será de nossa gerenta presidenta comparecendo à final da Copa, com o Brasil fora dela. Não, ela não seria louca a este ponto. O povo a mandaria comer chuchu com algo que amarga e fede “qui nem jiló”. Deus a livre e nos livre também deste cardápio.

Abaixo, para não perder o hábito, eu transcrevo um texto que foi intitulado “Pornografia e Política”, do Ruy Fabiano (Blog do Noblat – 14/06/2014). Ele comenta o episódio do jogo de estreia da Copa e sua relação com a gerenta presidenta, de uma forma muito apropriada. E vai a um ponto que, para quem conhece Lula, desde criancinha, sabe muito bem, que ele sempre foi o maior boquirroto do Brasil, e quando fala a pornografia abunda. Também, como contar a história da sua iniciação sexual lá por Caetés, numa entrevista, sem apelar para pornografia? Agora, se perguntarem quem foi o culpado ele dirá que foi a cabra, ou que não sabia que não se deveria fazer isto com um ruminante. Neste caso, “casa de ferreiro, espeto de pau”, como dizíamos lá em nossa querida Caetés.

As reações lulopetistas aos xingamentos dirigidos à gerenta presidenta são de um hipocrisia ululante, lembrando o nosso Nelson Rodrigues hoje revivido em algumas crônicas nesta AGD. E como dizia este nobre escritor, o campo de futebol é o templo da xingação, é o lugar onde se vaia até minuto de silêncio. Embora, seja verdade também que há aplausos para aqueles que os merecem. E a pergunta que fica é a seguinte: “Nossa gerenta presidenta está merecendo aplausos ou uma boa sopa de chuchu?”.

Fiquem com o texto do Ruy Fabiano que eu vou ver outro jogo da Copa. Para ser justo com Neymar, que “quase” jogou bem no 0 x 0 contra o México, o Messi não aguentará, também, levar a Argentina nas costas.

“A novidade da vaia dada no Itaquerão à presidente Dilma foi o seu teor ofensivo, de baixíssimo calão. Sempre se vaiou tudo num estádio de futebol, mas apenas ao juiz estavam reservados os palavrões mais cabeludos. Dilma foi brindada com a novidade, que Lula, com toda razão, classificou de “falta de educação”.

O estranho, no entanto, é que tal puxão de orelha tenha partido de alguém que, no cargo de presidente da República, quebrou todos os protocolos verbais, chamando seus adversários de “babacas”, proferindo com a maior naturalidade e frequência as expressões mais chulas – como “merda”, “tira a bunda da cadeira” - e reclamando do falso moralismo de quem o criticava.

O presidente da República, seja ele quem for, tem, por força do cargo, papel de referência perante o público. Se ele pode dizer palavrões do alto dos palanques, todos se sentem com o mesmo direito. É ele quem, mais que qualquer outro, estabelece os limites verbais e comportamentais que o público há de seguir.

Deve-se ao PT, aliás, a quebra de todos os limites protocolares na política. Pornografia verbal é sua manifestação menos ofensiva. Quando deriva para atos – e atos com dinheiro público -, eis sua forma mais abjeta e deplorável.

A privatização dos bens públicos, por exemplo. Quando Lula mudou a lei da telefonia e permitiu que seu filho intermediasse a bilionária fusão da Telemar (Oi) com a Brasil Telecom, praticou um ato moral? Antes, a Telemar, da qual o BNDES era sócia, já havia injetado R$ 5 milhões numa empresa de fundo de quintal de Lulinha, a Gamecorp. Isso, sim, é pornografia.

E a Petrobras, que a Polícia Federal diz estar infiltrada por uma “organização criminosa”? E o Mensalão? Lula chamou repetidas vezes José Dirceu de “capitão do time”. Trancafiado na Papuda, seu capitão deixou de ser alguém de sua confiança, como disse em recente entrevista em Portugal. Só faltou dizer quem nem o conhecia. Pode haver algo mais pornográfico?

Na campanha eleitoral passada, no cargo de presidente da República, burlava a lei e debochava das multas do TSE, perguntando à multidão quem lhe ajudaria a pagá-las.

No Mensalão, uma pornografia institucional, produziu algumas amoralidades. Disse que fora traído, sem mencionar por quê ou por quem. Disse que o PT errara e tinha que pedir desculpas ao povo brasileiro. Depois – e desde então -, disse que o Mensalão jamais existiu, que havia sido uma tentativa de golpe contra ele e o PT.

Tentou induzir o ministro Gilmar Mendes a adiar o julgamento, ameaçando denunciar supostas – e devidamente desmentidas - mordomias que teria recebido por parte do bicheiro Cachoeira.

Reclamou da “infidelidade” de Joaquim Barbosa, dizendo que o nomeara por ser negro e não um jurista competente. Racismo pornográfico, jamais reclamado pelo movimento negro. Sigamos.

Ao receber a faixa presidencial de FHC, disse, com emoção: “Fernando, aqui você tem um amigo”. No dia seguinte, passou a atribuir ao “amigo” todas as mazelas do país, debitando-lhe uma suposta “herança maldita”. Quando se viu ameaçado de impeachment, ao tempo do Mensalão, correu ao “amigo” para pedir auxílio, que estranhamente recebeu.

E a Rosemary Noronha? Tratava-se de “uma amiga íntima”, sem qualificações técnicas. Mesmo assim, ganhou cargo de primeira na República. Lula, além de levá-la clandestinamente nas viagens internacionais a que a primeira dama Marisa não comparecia, criou um escritório da Presidência da República em São Paulo - que não existia antes e deixou de existir depois de exposto o escândalo - e a brindou com a chefia.

De lá, como se sabe, ela passou a influir na nomeação de figuras carimbadas para os mais altos postos da República – figuras que hoje estão aos cuidados da Polícia Federal.

Rosemary perdeu status e regalias, mas tem a defendê-la um dos mais caros escritórios de advocacia de São Paulo (remunerado não se sabe como). Mais pornográfico é saber que o caso está envolto em um manto de silêncio.

Mil vezes menos escandaloso é o grito ofensivo da multidão no estádio, cuja construção se deve a Lula, que, por cautela, ausentou-se de sua inauguração. Bertolt Brecht perguntava, com sarcasmo: “O que é um assalto a banco diante do próprio banco?”


A pergunta cabe perfeitamente no caso presente. Não aprovo a conduta da multidão do Itaquerão, mas quem sou eu para lhe dar lições de moral? Transfiro a tarefa a Lula, o grande pedagogo das multidões, que as acostumou ao convívio constante com palavrões e atos políticos pornográficos.”

sexta-feira, 20 de junho de 2014

É chato ser brasileiro!




Por Nelson Rodrigues

Dizem que o Brasil tem analfabetos de mais. E, no entanto, vejam vocês: — a vitória final, no Campeonato do Mundo, operou o milagre. Se analfabetos existiam, sumiram-se na vertigem do triunfo. A partir do momento em que o rei Gustavo, da Suécia, veio apertar as mãos dos Pelés, dos Didis, todo mundo, aqui, sofreu uma alfabetização súbita. Sujeitos que não sabiam se gato se escreve com “x” ou não iam ler a vitória no jornal. Sucedeu essa coisa sublime: — analfabetos natos e hereditários devoravam vespertinos, matutinos, revistas, e liam tudo com uma ativa, uma devoradora curiosidade, que ia do “lance a lance” da partida até os anúncios de missa. Amigos, nunca se leu e, digo mais, nunca se releu tanto no Brasil.

E a quem devemos tanto? Ao escrete, amigos, ao escrete, que, hoje, é o meu personagem da semana, múltiplo personagem. Personagem meu, do Brasil e do mundo. Graças aos 22 jogadores, que formaram a maior equipe de futebol da Terra, em todos os tempos, graças a esses jogadores, dizia eu, o Brasil descobriu-se a si mesmo. Os simples, os bobos, os tapados hão de querer sufocar a vitória nos seus limites estritamente esportivos: Ilusão! Os 5 x 2, lá fora, contra tudo e contra todos, são um maravilhoso triunfo vital de todos nós e de cada um de nós. Do presidente da República ao apanhador de papel, do ministro do Supremo ao pé-rapado, todos, aqui, percebem o seguinte: — é chato ser brasileiro!

Já ninguém tem mais vergonha de sua condição nacional. E as moças na rua, as datilógrafas, as comerciárias, as colegiais andam, pelas calçadas, com um charme de Joana d’Arc. O povo já não se julga mais um vira-latas. Sim, amigos: — o brasileiro tem de si mesmo uma nova imagem. Ele já se vê na generosa totalidade de suas imensas virtudes pessoais e humanas.

Vejam como tudo mudou. A vitória passará a influir em todas as nossas relações com o mundo. Eu pergunto: — que éramos nós? Uns humildes. O brasileiro fazia-me lembrar aquele personagem de Dickens que vivia batendo no peito: — “Eu sou humilde! Eu sou o sujeito mais humilde do mundo!” Ele vivia desfraldando essa humildade e a esfregando na cara de todo mundo. E se alguém punha em dúvida a humildade, eis o Fulano esbravejante e querendo partir caras. Assim era o brasileiro. Servil com a namorada, com a mulher, com os credores. Mal comparando, um são Francisco de Assis de camisola e alpercatas.

Mas vem a deslumbrante vitória do escrete, e o brasileiro já trata a namorada, a mulher, os credores de outra maneira; reage diante do mundo com um potente, um irresistível élan vital. E vou mais além: — diziam, de nós, que éramos a flor de três raças tristes. A partir do título mundial, começamos a achar que a nossa tristeza é uma piada fracassada. Afirmava-se também que éramos feios. Mentira! Ou, pelo menos, o triunfo embelezou-nos. Na pior das hipóteses, somos uns ex-buchos.

E a quem devemos tanto? Ao meu personagem da semana. Ninguém aqui admitia que fôssemos “os maiores” do futebol. Rilhando os dentes de humildade, o brasileiro já não se considerava o melhor nem de cuspe a distância. E o escrete vem e dá um banho de bola, um show de futebol, um baile imortal na Suécia. Como se isso não bastasse, ainda se permite o luxo de vencer de goleada a última peleja. Foi uma lavagem total.

Outra característica da jornada: — o brasileiro sempre se achou um cafajeste irremediável e invejava o inglês. Hoje, com a nossa impecabilíssima linha disciplinar no Mundial, verificamos o seguinte: — o verdadeiro inglês, o único inglês, é o brasileiro. Um Didi, lá fora, observou uma calma, uma polidez, um equilíbrio que fariam morrer de inveja o major Anthony Eden. Amigos, na Suécia quem levou pontapé, do pescoço para cima, fomos nós. E, ainda por cima, roubaram a gente, bifaram os nossos gols, a nossa camisa. Mas tudo inútil, porque o Brasil apresentou o maior escrete do universo, segundo os mais exigentes críticos do mundo. Por fim, a lição do meu personagem. Ele ensinou que o brasileiro é, sim, quer queiram quer não, “o maior”.


Manchete Esportiva, Edição da Epopeia Brasileira, Edição Especial, 5/7/1958 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

MAMÃE, DO QUE MAIS ME LEMBRO?




Por Carlos Sena (*)

Do que mais me lembro de mamãe? Digo isso porque mãe a gente nunca esquece, mesmo marmanjões, donos das nossas verdades, mãe a gente não esquece. Porque nossas verdades nos foram intrometidas, sob muitos ângulos de visão por ela, a mãe. Poderemos, pois, dizer que mãe é tudo? Tudo e muito mais, eu asseguro e garanto que não se trata de Édipo mal resolvido. Porque mãe é mãe e pronto. Pena que muitos só sentem isso depois que ela vira estrela. Sim, vira estrela, ou purpurina, se quiserem um pouco de descontração. Por isso, tenho dificuldade de dizer domares mais me lembro quando falo de mamãe, da minha mãe, lá na terrinha costurando pra fora para nos manter na escola. Éramos, eu é meus irmãos, limpinhos, como se diz na gíria. Pobres mas limpinhos. Mas (olha o mas aí) do que mais me lembro, ou "do que nunca me esqueço de mamãe" eram as austeras formas de nos ensinar o beabá da vida sem muito "psicológismo" nem "pedagogismo". Ela era assim mesma, como a maioria das mães daquela época: escreveu tinha que ler. Ajoelhou tinha que rezar. Nada de chegar em casa com objetos dos outros que logo ela ia tomar satisfação com as pessoas que eu dissesse ter me dado aquilo. Puxões de orelhas? Nem conto. Surras e chineladas, sem desconto nem pirangagem! Nesse quesito mamãe não economizava. Só não gostava quando eu chegava em casa chorando que ela, em vez de ir saber quem me bateu, batia muito mais, só pela dúvida de que eu estivesse mentindo. Quando ela nos olhava de viés, a gente de fininho ia saindo. Hoje as mães gritam, os filhos gritam também e se a mãe der bobeira apanha.

Hoje, crescidos e criados, temos a vida limpa; não temos recalques nem vivemos tomando antidepressivos por conta das surras e das chineladas e dos puxões de orelhas que mamãe nos dava. Hoje, certamente, o conselho tutelar queria se meter. Porque criação de mãe moderna é outro papo. Mas mamãe bateu e eu nem sinto dor. Nem meus irmãos. Até agradecemos. Nem dor física nem moral, porque a nossa geração não era de açúcar nem de papel crepom. Por isso, lembro de tudo como um detalhe. Porque a minha geração não tem história de drogas, nem de violência, nem de falta de respeito aos mais velhos. Porque nossos pais não eram permissivos e nossas mães, embora mordendo e assoprando, nos criaram para o mundo... Assim, mamãe jamais irá dizer pra si mesma "onde foi que eu errei"?

Talvez se a maioria das mães de hoje tivessem coragem para criar seios filhos com austeridade e com limites, a geração Neném não estivesse aí aos alvoroços jogando vasos sanitários na cabeça do zoto e matando gente a esmo. Ah, geração neném é aquela dos que nem trabalham nem estudam, nem respeitam professores, nem faixa de pedestre, nem fila, nem...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 10/05/2014

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética




Por Nelson Rodrigues

Hoje, vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda a parte, há quem esbraveje: — “O Brasil não vai nem se classificar!” E, aqui, eu pergunto: — não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?

 Eis a verdade, amigos: — desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: — menos a dor de cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo passou em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: — “extraiu” de nós o título como se fosse um dente.

E, hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: — é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que nos trava é o seguinte: — o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: — se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas, e sessenta milhões de brasileiros iam acabar no hospício.

Mas vejamos: — o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu poderia responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade: — eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: — sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto jogadores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante enxertado do Flamengo. Pois bem: — não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.

A pura, a santa verdade é a seguinte: — qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: — temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: — “O que vem a ser isso?” Eu explico.

Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50,  éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: — e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: — porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos.

Eu vos digo: — o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender lá na Suécia. Uma vez que ele se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota. Insisto: — para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.


Manchete Esportiva, 31/5/1958

terça-feira, 17 de junho de 2014

Carnaval da Saudade.




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


No carnaval deste ano de 2014 resolvi curtir em casa. O barulho do carnaval cheio de axé, sem o carnaval de clubes já não me atraem. O carnaval dos nossos dias é somente uma “manada” de gente acompanhando ao alguns loucos em cima de um caminhão gritando e cobrando rios de dinheiro por apresentação “mixuruca” O barulho ensurdecedor leva a loucura a um bocado de loucos. O que mais se vê? Nada! O que se vê nos atuais carnavais de Olinda é a violência. Roubos, assaltos, prostituição, drogas, que levam as famílias se distanciarem do foco da folia. Aqueles que se ariscam correm o risco de sofrer alguma agressão. Vale a pena a ir para algum lugar? “Boa romaria faz que em sua casa esta em paz” dizia o meu velho pai quando eu saia para brincar o carnaval em tempo atrás. Mas nem tudo esta perdido. Alguns foliões ainda ousam manter alguma tradição de um carnaval sadio, com o frevo na rua, como o Bloco da Saudade entre outros, por abnegação dos foliões que curtiram um carnaval de ouro em tempos passados. As bandas e as orquestras se aposentaram pela imposição dos diretores de clubes do Recife e do interior. As manhãs de sol em clubes não existem mais. O sábado que era tradicionalmente de ZÉ PEREIRA passou a ser do GALO DA MADRUGADA, que não tem mais nada de MADRUGADA, passou a ser o “FRANGO DA MANHÔ, pois este bloco somente sai por volta da onze horas manhã, deixando a sua característica de antigamente, quando o Galo passava por volta das seis horas da manhã e nós já estávamos aposto na calçada do Bar Savoy na Avenida Guararapes, saboreando a orquestra que entoava vários frevos alegrando os foliões. Os passistas com suas fantasias de pierrô, colombina, marinheiros eram protegidos por uma corda em volta por homens de bonés de marinheiros. Paravam em frente ao prédio do Diário de Pernambuco na Pracinha, ponto central e parada obrigatória do Galo. Era um carnaval que brincávamos o tempo todo dentro de uma paz e alegria.   Havia sim alguma discursão e brigas na população, mas não a violência que impera no tempo atual. Em Olinda passou ser o carnaval dos arrastões e agressões. As ladeiras entupidas por marginais que vão roubar e desacatar as pessoas. E a policia? Fazem muita coisa, no entanto, não pode estar em todo lugar para coibir estes desatinos. E assim o carnaval  nos deixa em casa, pois se sairmos não sabemos se voltamos ilesos. A molecada faz de tudo pelas ruas , urinam, defecam, praticam atos obscenos.  Sinto saudades dos carnavais de outrora, com fantasias simples, pierrô, colombina, marinheiro, pirata, acompanhado do frevo, jogando serpentinas e confetes coloridos, colorindo os cabelos das pessoas que assistiam os desfiles. À noite, sempre o baile nos clubes da cidade com orquestra de frevos animando as pessoas, com os foliões arrodeando o salão com lança perfume e toalhas no pescoço para enxugar o suor seu e de sua acompanhante, namorada, noiva ou esposa. Como brinquei em vários lugares, lembro primeiramente dos primeiros passos em minha querida cidade de Bom Conselho, no desfile do BLOCO AMIGO DA ONÇA, a criançada saia pelas ruas acompanhadas pelos pais e o estandarte na frente à figura do “Amigo da Onça” tão presente na pagina da revista O Cruzeiro; em Garanhuns, pela manhã saímos no mela-mela, visitando as residências doa amigos tomando licores, batidas e cervejas, à noite nos salões da AGA, SETE DE SETEMBRO, UNIÃO E NO SPORT, a escolher; No Recife, o ponto de concentração era o bar Savoy, na calçada vendo os blocos passarem, pela manhã, à tarde os matine e a noite nos clubes Atlético, América, Banorte, Internacional, Português e nos salões do meu querido clube SPORT CLUBE DO RECIFE.  AS musicas eram sonoramente cantadas pelos foliões - Olhem a cabeleira do Zezé..., Você pensa que cachaça é agua...., Os teus cabelos não negam....., Vem cá seu guarda bote este moço pra fora, que está com pó de mico no bolso...., Oh jardineira porque estas tão tristes...., Mamãe eu quero, Mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...Quem sabe, sabe, conhece bem como é gosto gostar de alguém...A lua é dos namorados.... Índio quer apito índio, me dá um dinheiro aí... Daqui não saio daqui ninguém me tira... Menina vai, com jeito vai...o teu cabelo não nega, mulata... E assim passeio o carnaval curtindo esta musicas de outrora. Vale a pena você recordar e cantar quando estiver tomando banho...

segunda-feira, 16 de junho de 2014

A semana - Ô Dilma, vá comer chuchu!




Por Zé Carlos

Revivendo esta semana eu comecei a rir mesmo antes de ver o filme do UOL. Quem não riu com a primeira vitória do Brasil na Copa do Mundo? Poder-se-ia dizer que tudo foi Copa durante a semana. Uma charge política para ela deverá ser “um arrazo”. Enquanto esperamos não houve como não sorrir. Só quem não sorriria seria o técnico espanhol. Que chocolate, holandês!

E o mais hilário aconteceu na abertura da Copa do Mundo, no já chamado Itaquerão, construído para o Coríntians, quase que em homenagem ao Lula, num torneio que, a ele só tem acesso a “elite branca” de São Paulo, como o ex-presidente mesmo diz. Pois não é que este povo mal educado xingou e vaiou a presidente Dilma durante quase toda a cerimônia de abertura! Foi uma coisa horrível, todos irmanados, na mesma emoção e gritando: “Ô, Dilma, vá comer chuchu!”.

Mas, a presidente reagiu à altura, embora não na hora. Deixou para, em Recife em mais uma inauguração de algo que já foi inaugurado 20 vezes e será mais 30 até outubro, ou numa formatura de mais alunos do grande impulso educacional que o PT deu ao Brasil, para ensinar ao Brasil como “nós pega os peixes”, e colocar todos na universidade, mesmo que sejam analfabetos, ela foi incisiva: “Isto não me intimidará, pois não gosto de chuchu desde que o Alckmin virou um!”. Ah, se eu estivesse lá. Seria riso para todos os lados.

No entanto, quem mais se doeu com a sugestão da “elite branca” de São Paulo à sua pupila presidencial foi o Lula. Não tive tempo de ver o vídeo todo de sua fala, mas, pelo que ele disse, deveria estar espumando, mais do que cachorro doido. Será que ele já comeu chuchu? Como sempre ele diz que quem mandou a Dilma comer chuchu “foram eles, e nós (o Lula e corriola) temos que reagir”. O que me espanta nisto tudo é não saber quando o Lula será considerado da “elite” que ele tanto critica. Lula é branco, rico, tem 280 títulos de doutor, usa ternos do Armani, frequenta o Sírio-Libanês, come do bom e do melhor, mente quando quer e é aplaudido, etc. etc. etc., e ainda diz que a “elite” é “eles”. Só rindo mesmo.

Pasmem, ele chegou a dizer em seu discurso, depois de dizer que quem mandou a Dilma comer chuchu eram uns moleques, que a única que tinha cara de pobre na partida inaugural da Copa do Mundo era ela. Eu não observei muito, mas, será que ela não teve tempo de fazer o seu caro penteado, e estava parecendo pobre? Imaginem se as “elites” a tivessem chamado de feia e gorda! A reação deveria ser imediata, e eu me preocuparia com a integridade física do Joseph Blatter. Enfim, foi uma semana alegre prá chuchu. E agora tem outras coisas no  filme ainda para comentar. Dou uma pausa, pedindo ao garçom para tirar o chuchu da salada.

Lendo um editorial do Estadão descobri uma metáfora para este nosso Brasil do Pai dos Pobres e da Mãe do PAC, que merece ser compartilhada com meus poucos leitores (com a Copa não sei nem se os tenho): O Brasil, “assemelha-se mais a uma casa onde o pai e a mãe endoideceram, tiveram-se por ricos e gastaram o que tinham e o que não tinham, contando bonitas e ilusórias histórias aos filhos, que vão descobrindo aos poucos que a festa acaba, que não há mais dinheiro para o almoço e que o mundo é mais complexo do que aquilo que estavam habituados a ouvir em casa.” Completando-a, quando os filhos descobriram mandaram os pais comer chuchu! Quem engana o povo merece comer chuchu mesmo.

Ri muito, quando um membro da “elite branca”, não sei de onde, tirou o filho de um protesto, no qual ele atuava a caráter, isto é, vestido com aquela fantasia de black bloc, dizendo que ele só poderia fazer isto quando ganhasse seu próprio dinheiro. Pensei até que ele estava falando com Joseph Blatter, que levou nosso dinheiro, usou e abusou de nossa hospitalidade e vai deixar ainda a Arena de Manaus para os índios cuidarem. É, tem pai que é cego!

Por último, tivemos o Joaquim Barbosa (sempre ele, nos fazendo ri no bom sentido) usando de suas prerrogativas para expulsar um advogado do STF. Pelo menos o Lula não pode acusar a “elite branca” pelo ocorrido, a não ser que queira entrar em atrito com a OAB, porque ele diz que nomeou o Joaquim para Suprema Corte porque ele era negro. Toda esta confusão entre as cores das “elites” me deixa confuso, e como sempre, rir ainda é o melhor remédio. A alternativa é comer chuchu, e confesso, nunca gostei da leguminosa.

Fiquem com o resumo do roteiro do filme do UOL, e riam com a esperança de que, pela importância que foi dada nesta semana ao chuchu, não tenhamos agora a “inflação do chuchu” para infernizar mais na nossa vida.

“A torcida brasileira vaiou e xingou a presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo no estádio de Itaquera, em São Paulo. Dilma vibrou com a vitória de 3 a 1 do Brasil sobre a Croácia e disse que não vai se atemorizar nem se abater com os xingamentos.

Também no dia da abertura da Copa, houve manifestações contra o Mundial em algumas capitais. Em São Paulo, jornalistas estrangeiros se feriram quando a Polícia Militar reprimiu um protesto no Tatuapé, na zona leste.

E o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, se irritou nesta semana com o advogado Luiz Fernando Pacheco, defensor do ex-deputado José Genoino, e o expulsou do plenário. O advogado queria que os ministros do Supremo analisassem um pedido para o petista voltar à prisão domiciliar.”


sábado, 14 de junho de 2014

Ainda o Padrão Brasil




Por Zezinho de Caetés

Os meus poucos leitores devem achar que eu estou como um sambinha de uma nota só quando leram o título deste texto. Afinal de contas escrevi sobre o Padrão Brasil de Qualidade (PBQ) faz menos de uma semana. Mas, quem manda os bons jornalistas e escritores deste país “só pensarem naquilo”. O tema é reincidente e continuará assim até que o PT, partido que trouxe este padrão para o Brasil seja alijado de vez do poder, e o Lula, meu conterrâneo tenha voltado para Caetés, onde a cadeira número 13 de nossa Academia Caeteense de Letras, que ele não ajudou a fundar, está à sua espera.

Hoje comento um escrito da Ruth de Aquino (Revista Época, 03/06/2014) que tem como título: “Salve, salve, o padrão Brasil”, onde ela coloca a seguinte questão, tão importante quanto o Hexa na copa: “Devemos nos conformar? Ou podemos almejar outro padrão além daquele que orgulha a Dilma?”. Como é sabido, a nossa gerenta presidenta andou por aí dizendo que se orgulha do padrão Brasil, porque este ficará sempre conosco. Ah que saudade do nosso complexo de vira-latas. Pelo menos, com ele, poderíamos ter esperança de mudar um dia, com a ajuda de um bom analista. Mas, agora resolvemos deixar de ser vira-lata, não deixando de ter o complexo e sim dizendo que não somos vira-latas.

Isto acontece desde que Lula resolveu, na conversa (e todos sabem que camelô na conversa vende algodão por veludo, porque neste mundo tem bobo prá tudo), dizer que o Brasil mudara e que agora iria prá frente mesmo. Na sua lábia, os pobres tiveram vez e agora são classe média. Sendo inteligente como ele é, descobriu que para fazer isto seria preciso que os ricos se tornassem mais ricos e abriu a torneira do BNDES. Foi um espanto. Conseguiu fugir da cadeia na época do mensalão, se reelegeu e ainda elegeu um poste para seu substituto, e este foi o seu único erro, e que agora se mostra fatal.

Depois de quase quatro anos de poste apagado, as pesquisas revelam que o brasileiro quer mudanças, ou seja, quer pelo menos uma réstia de luz. O que fazer então? Lula já havia descoberto isto e orientou o poste: Mentir é o melhor remédio. E o Brasil passou a ser uma grande mentira, sendo que, para isto, tenta-se “fazer o diabo” para que a verdade não venha à tona. E até tenta-se se criar um Padrão Brasileiro de Qualidade que não se sustenta, porque a criação não tem nada a ver com a realidade.

Qualquer pesquisa honesta mostrará que hoje o que mais preocupa o brasileiro não é só a impossibilidade de chegar a um estádio, mas, a inflação que assalta seu bolso a cada visita ao supermercado. Na birosca onde almoço alguns vezes, o galeto que comia por R$ 12,00 há um ano, agora está valendo R$ 33,00. Sazonalidade, diz o Mantega, porque nunca comeu numa birosca. Resultado? Os classes média do PT agora estão voltando a serem pobres e mostram seu descontentamento nas pesquisas.

E agora, pasmem, já sabendo que no próximo outubro as urnas serão sua herança maldita, a gerenta presidenta, usa o Decreto 8.243, cujo objetivo principal é acabar com a Democracia Representativa, atingindo o coração de nossa Constituição. Não posso dizer aqui que o regime político em que vivemos é um  exemplo de perfeição, mas, é o único na história que foi compatível com a liberdade individual de empreender. O Decreto cria a figura de conselhos que representariam os cidadãos junto aos órgãos públicos, igualzinho ao que faz o MST, o MTST e outros que tentam atingir os princípios basilares de nossa sociedade, sendo legitimado com a desculpa que representam melhor o povo do que nossos representantes legais, distribuídos por todos nossos parlamentos, aproveitando-se da desonradez  de alguns dos nossos representantes. Ou seja, tenta-se jogar fora o bebê, junto com a água do banho, apenas porque alguns bebês fizeram cocô.

Já estou me estendendo demais, mas, não posso parar sem antes citar o Estadão, como o faz o Sandro Vaia em texto a respeito:

"O Decreto nº 8.243 é um conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa parecer, numa leitura desatenta, uma resposta aos difusos anseios da rua. Na verdade é puro oportunismo para colocar em prática as velhas pretensões do PT a respeito do que membros desse partido entendam que seja uma democracia".

Este é o ponto, e o jornalista que comento quase sempre, mas não hoje, vai além  e cita o Ives Gandra Martins, que pela sua expertise, não compra algodão por veludo:

"Quando eles falam de participação da sociedade, todos nós sabemos que essas comissões serão de grupos articulados, como os movimentos dos Sem Terra e dos Sem Teto que têm mentalidade favorável à Cuba, à Venezuela".

O único objetivo é tentar “alijar o Congresso” que, se não sair do seu marasmo, continuará nele para sempre, conclui.

Fiquem com a Ruth, que comenta mais o PBQ, e em outubro, não esqueçam, tentem mandá-lo para a PQP. Chega de enganação!

“Deixa que digam, que pensem, que falem. Você comemorará cada gol brasileiro na Copa, se emocionará a cada vitória, sofrerá se nossos craques pisarem na bola, vai gritar e até chorar. Isso não significa que, fora do estádio ou do sofá, você precise parar de criticar o péssimo planejamento deste Mundial, a inadmissível quebra de promessas para a população, a aparente roubalheira nas obras superfaturadas e o inferno dos serviços públicos. O Brasil tem abusado de nossa cordialidade, nossa paciência e nosso otimismo, ano após ano.

Na semana passada, foi comovente o esforço do governo e das autoridades para derreter o coração canarinho e evitar protestos durante a Copa. A reação nacionalista a “acusações” de estrangeiros foi uma tentativa patética de transformar críticos em traidores da pátria. A presidente Dilma Rousseff afirmou, com orgulho cara-pálida, que os aeroportos do Brasil não são “padrão Fifa” mas “padrão Brasil”. Lindo. A gente sabe que padrão é esse quando precisa ir ao banheiro, pegar uma escada rolante ou aguardar a chegada das malas.

O secretário de Turismo do Rio de Janeiro e homem de confiança do prefeito Eduardo Paes, Antônio Pedro Figueira de Mello, disse que “o Rio não é a Suíça”, ao se referir às longas filas que os turistas terão de enfrentar na cidade. Antônio Pedro também reconheceu que o Rio não se preparou para receber deficientes porque, na Copa do Mundo, “não há tanto esse público”. Depois pediu desculpas pela bola fora.

Talvez por o Rio não ser a Suíça, o Exército tenha sido convocado para dar segurança aos turistas nas praias, nas ruas, no Maracanã. As duas polícias, PM e Civil, não dariam conta. Sabe como é, esse é nosso padrão. No padrão Brasil, professores manifestantes cercam o ônibus da Seleção, em protesto contra baixos salários. Mas não torcem contra a Seleção. Torcem por um Brasil à altura de nossa Seleção, por uma Educação à altura de nosso futebol. Deu para entender ou precisa desenhar?

Tudo se encaixa no padrão Brasil. Na capital, Brasília, índio flecha PM, arcos enfrentam a cavalaria. Nos arredores de estádios da Copa, em diversas cidades, há cenários lastimáveis. Lixo entulha a favela que fica a 300 metros do Maracanã, como mostrou o jornal O Globo. Comunidades junto aos novíssimos estádios convivem com água de poço, esgoto a céu aberto, zona de prostituição baixa, luz de vela, invasões de sem-teto. Digamos que na África também é assim. Mas a gente espera mais do Brasil.

Esperávamos que o governo de Dilma e Lula cumprisse uma promessa para estimular o ecoturismo no Brasil. Foi anunciado há quatro anos que o governo federal investiria R$ 668 milhões na infraestrutura de 23 parques federais. Eram os “Parques da Copa”, uma parceria dos ministérios do Turismo e do Meio Ambiente. Do total de R$ 668 milhões, quanto foi investido? Apenas R$ 1 milhão. Mas, sabe, esse é o padrão Brasil. É para se orgulhar?

Não é só o governo federal. Segundo o jornal Valor Econômico, Dilma colocou à disposição de governadores e prefeitos R$ 12,4 bilhões para obras de mobilidade urbana, ônibus e metrôs. Só R$ 479 milhões foram sacados por Estados e municípios. É muita incompetência. Devemos nos conformar? Ou podemos almejar um outro padrão? Agora, o governo pede ao povo que se comporte. Os gringos não podem falar mal do país do sol, da alegria, da cachaça, do Carnaval e do futebol.

Nessa reta final antes da Copa, apareceu até uma “miss” padrão Brasil. É a filha do ex-todo-poderoso da CBF Ricardo Teixeira e neta de João Havelange, ex-comandante da Fifa. Joana Teixeira Havelange tem 37 anos, é do Comitê Organizador Local da Copa e publicou um texto em apoio ao Mundial, “até porque o que tinha que ser gasto, roubado, já foi”. Joana tem linhagem. Seu pai renunciou em meio a denúncias de corrupção depois de 23 anos à frente da CBF. Joana é formada em administração e ganha cerca de R$ 80 mil por mês, ou R$ 100 mil, incluindo extras e bônus, segundo dizem. Joana é ou não a cara do padrão Brasil?

Nem os mais céticos imaginavam que, a poucos dias da Copa, o país ainda estivesse nessa correria para maquiar os equipamentos essenciais. O cenário mais pessimista previa um legado maior para a população. Infelizmente, a ficha ainda não caiu para os governantes. As autoridades não fizeram mea-culpa de nada. Só se preocupam com o vexame e com “o que os outros vão dizer” se os brasileiros lavarem a roupa suja diante dos convidados. É muita cara de pau.

Vamos, sim, torcer para que o Brasil seja hexacampeão. Vamos torcer também para que, fora do gramado, o Brasil honre suas cores e sua gente. E mude de padrão.”

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P.S: Como informação e boa opinião nunca são coisas demais, quando reina a liberdade de expressão, já hoje, alguns dias depois de terminar a matéria acima, e ao tentar mandá-la para a AGD, encontrei outro texto da mesma jornalista acima, a Ruth de Aquino (Título: “Não atendo emergência” – 06/06/2014 – Revista Época), no qual ela apresenta mais uma faceta do Padrão Brasil de Qualidade. Se tiverem disposição para aguentar mais vergonha com nossos serviços continuem lendo:

“É possível que se conte nos dedos de uma mão o número de países em que um paciente morre do coração em frente a um Instituto Nacional de Cardiologia (INC), sem receber socorro de nenhum médico ou enfermeiro do hospital. O INC está em greve, como muita gente nesta fase de amistosos pré-Copa das Copas.

A omissão de atendimento imediato a Luiz Cláudio Marigo, de 63 anos, é falta para cartão vermelho. Marigo, fotógrafo premiado de Natureza, embarcou num ônibus, no Rio de Janeiro. Começou a passar mal pouco depois. O motorista, Amarildo Gomes, desviou seu percurso por estar perto do INC, em Laranjeiras, único hospital público no Rio que faz transplantes de coração em crianças e adultos, referência em ensino e pesquisa.

O ônibus foi estacionado em frente ao hospital, e Marigo, deitado no chão do veículo, com dores no peito. Amarildo e passageiros estavam solidários com o drama do anônimo. Ele não levava documentos, apenas uma bolsa com chaves, moedas e R$ 42. Não sabiam que era um homem das florestas. Naquele momento, o povo do ônibus acreditava que poderia salvá-lo. Qualquer um sabe que os primeiros minutos após um infarto são cruciais.

Começava ali uma história padrão Brasil. Seguranças do hospital disseram que o INC não atende emergência e que seria melhor chamar os bombeiros ou uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Assim agiu o motorista Amarildo, mas a contragosto: “Achei um absurdo, um pouco-caso com a vida humana”. Quando uma ambulância chegou ao hospital levando outro paciente, o paramédico prestou os primeiros socorros. Mais tarde, chegaram os bombeiros.

Mesmo em greve, havia no hospital um leito, alguns médicos e plantonistas na Unidade Coronariana. O sargento dos bombeiros Alves afirmou: “Se viesse um médico na hora, já era muita coisa. Isso aí é omissão de socorro”.

Dá dor no coração. Nem falo do Juramento de Hipócrates. Nele, um médico formando jura, por todos os deuses e deusas, aliviar o sofrimento humano. Quantas vezes ouvimos num avião o comandante pedir ajuda: “Se houver um médico neste voo, favor atender um passageiro que está passando mal”. Já pensou o médico se omitir por achar que ganha pouco, ou que não é função dele trabalhar de graça? Já pensou ele dizer: “Não atendo emergência”?

O hospital tem sua versão. A nota do INC diz, e é verdade, que o hospital não tem emergência aberta ao público geral. E daí? A direção diz que o INC nunca fez primeiro atendimento e que sua especialidade são procedimentos de alta complexidade. Sim, e quando se trata de um caso de vida ou morte na frente do hospital?

A diretora do INC, Cynthia Magalhães, afirmou: “Não houve omissão de socorro e não houve erro (...). Nenhum membro da equipe médica foi notificado de que havia um paciente passando mal dentro de um ônibus (...), e sim um paciente passando mal na rua”. Então, médico não sai para socorrer na rua? Cynthia disse que os seguranças do hospital não entenderam a gravidade do caso. Como poderiam? Quem entende de gravidade é médico.

“O que houve foi uma omissão de socorro generalizada, uma falta de integração na rede”, disse Lúcia Pádua, diretora do Sindsprev, ao elogiar o INC como uma “ilha de excelência”. O que não pode, afirmou Lúcia, é “o paciente chegar a um hospital e ser recepcionado por seguranças”. Apela-se a quem? Ao Bom-Senso Medicina Clube?

Então, quem faz a triagem na porta de hospitais, públicos e privados, não são profissionais de Saúde. São seguranças, vigilantes. Na  semana passada, um vídeo na recepção de um hospital mostrou seguranças arrastando pelo chão, para fora do hospital, um paciente em cadeira de rodas. Acompanhantes levaram socos e gravatas. O paciente estava sem documentos e “agressivo”, disse Geraldo Medeiros, diretor do Hospital de Trauma de Campina Grande, na Paraíba. Entendi. O hospital deixa os pacientes com trauma.

A morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, que trabalhou diversas vezes para ÉPOCA, expõe nossa vulnerabilidade à humilhação, à frieza e à incompetência das recepções hospitalares. Entre no site http://www.lcmarigo.com.br e perceba como era talentoso: “A conservação da biodiversidade depende do conhecimento e do amor. O papel dos fotógrafos de Natureza é despertar a consciência do homem para a incrível riqueza da vida na Terra, sua beleza e valor espiritual. (…) Espero que meu trabalho transmita a mesma alegria e emoção que sinto nos ambientes selvagens e que minhas fotografias não se transformem apenas em mais um documento do passado”.


Se depender do filho dele, Vítor Marigo, que processa União e hospital, sua vontade será respeitada: “Queremos conseguir uma indenização para abrir uma fundação. O importante é manter viva a obra de meu pai”. Porque “selvagem” é a vida aqui fora.”