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sábado, 14 de junho de 2014

Ainda o Padrão Brasil




Por Zezinho de Caetés

Os meus poucos leitores devem achar que eu estou como um sambinha de uma nota só quando leram o título deste texto. Afinal de contas escrevi sobre o Padrão Brasil de Qualidade (PBQ) faz menos de uma semana. Mas, quem manda os bons jornalistas e escritores deste país “só pensarem naquilo”. O tema é reincidente e continuará assim até que o PT, partido que trouxe este padrão para o Brasil seja alijado de vez do poder, e o Lula, meu conterrâneo tenha voltado para Caetés, onde a cadeira número 13 de nossa Academia Caeteense de Letras, que ele não ajudou a fundar, está à sua espera.

Hoje comento um escrito da Ruth de Aquino (Revista Época, 03/06/2014) que tem como título: “Salve, salve, o padrão Brasil”, onde ela coloca a seguinte questão, tão importante quanto o Hexa na copa: “Devemos nos conformar? Ou podemos almejar outro padrão além daquele que orgulha a Dilma?”. Como é sabido, a nossa gerenta presidenta andou por aí dizendo que se orgulha do padrão Brasil, porque este ficará sempre conosco. Ah que saudade do nosso complexo de vira-latas. Pelo menos, com ele, poderíamos ter esperança de mudar um dia, com a ajuda de um bom analista. Mas, agora resolvemos deixar de ser vira-lata, não deixando de ter o complexo e sim dizendo que não somos vira-latas.

Isto acontece desde que Lula resolveu, na conversa (e todos sabem que camelô na conversa vende algodão por veludo, porque neste mundo tem bobo prá tudo), dizer que o Brasil mudara e que agora iria prá frente mesmo. Na sua lábia, os pobres tiveram vez e agora são classe média. Sendo inteligente como ele é, descobriu que para fazer isto seria preciso que os ricos se tornassem mais ricos e abriu a torneira do BNDES. Foi um espanto. Conseguiu fugir da cadeia na época do mensalão, se reelegeu e ainda elegeu um poste para seu substituto, e este foi o seu único erro, e que agora se mostra fatal.

Depois de quase quatro anos de poste apagado, as pesquisas revelam que o brasileiro quer mudanças, ou seja, quer pelo menos uma réstia de luz. O que fazer então? Lula já havia descoberto isto e orientou o poste: Mentir é o melhor remédio. E o Brasil passou a ser uma grande mentira, sendo que, para isto, tenta-se “fazer o diabo” para que a verdade não venha à tona. E até tenta-se se criar um Padrão Brasileiro de Qualidade que não se sustenta, porque a criação não tem nada a ver com a realidade.

Qualquer pesquisa honesta mostrará que hoje o que mais preocupa o brasileiro não é só a impossibilidade de chegar a um estádio, mas, a inflação que assalta seu bolso a cada visita ao supermercado. Na birosca onde almoço alguns vezes, o galeto que comia por R$ 12,00 há um ano, agora está valendo R$ 33,00. Sazonalidade, diz o Mantega, porque nunca comeu numa birosca. Resultado? Os classes média do PT agora estão voltando a serem pobres e mostram seu descontentamento nas pesquisas.

E agora, pasmem, já sabendo que no próximo outubro as urnas serão sua herança maldita, a gerenta presidenta, usa o Decreto 8.243, cujo objetivo principal é acabar com a Democracia Representativa, atingindo o coração de nossa Constituição. Não posso dizer aqui que o regime político em que vivemos é um  exemplo de perfeição, mas, é o único na história que foi compatível com a liberdade individual de empreender. O Decreto cria a figura de conselhos que representariam os cidadãos junto aos órgãos públicos, igualzinho ao que faz o MST, o MTST e outros que tentam atingir os princípios basilares de nossa sociedade, sendo legitimado com a desculpa que representam melhor o povo do que nossos representantes legais, distribuídos por todos nossos parlamentos, aproveitando-se da desonradez  de alguns dos nossos representantes. Ou seja, tenta-se jogar fora o bebê, junto com a água do banho, apenas porque alguns bebês fizeram cocô.

Já estou me estendendo demais, mas, não posso parar sem antes citar o Estadão, como o faz o Sandro Vaia em texto a respeito:

"O Decreto nº 8.243 é um conjunto de barbaridades jurídicas, ainda que possa parecer, numa leitura desatenta, uma resposta aos difusos anseios da rua. Na verdade é puro oportunismo para colocar em prática as velhas pretensões do PT a respeito do que membros desse partido entendam que seja uma democracia".

Este é o ponto, e o jornalista que comento quase sempre, mas não hoje, vai além  e cita o Ives Gandra Martins, que pela sua expertise, não compra algodão por veludo:

"Quando eles falam de participação da sociedade, todos nós sabemos que essas comissões serão de grupos articulados, como os movimentos dos Sem Terra e dos Sem Teto que têm mentalidade favorável à Cuba, à Venezuela".

O único objetivo é tentar “alijar o Congresso” que, se não sair do seu marasmo, continuará nele para sempre, conclui.

Fiquem com a Ruth, que comenta mais o PBQ, e em outubro, não esqueçam, tentem mandá-lo para a PQP. Chega de enganação!

“Deixa que digam, que pensem, que falem. Você comemorará cada gol brasileiro na Copa, se emocionará a cada vitória, sofrerá se nossos craques pisarem na bola, vai gritar e até chorar. Isso não significa que, fora do estádio ou do sofá, você precise parar de criticar o péssimo planejamento deste Mundial, a inadmissível quebra de promessas para a população, a aparente roubalheira nas obras superfaturadas e o inferno dos serviços públicos. O Brasil tem abusado de nossa cordialidade, nossa paciência e nosso otimismo, ano após ano.

Na semana passada, foi comovente o esforço do governo e das autoridades para derreter o coração canarinho e evitar protestos durante a Copa. A reação nacionalista a “acusações” de estrangeiros foi uma tentativa patética de transformar críticos em traidores da pátria. A presidente Dilma Rousseff afirmou, com orgulho cara-pálida, que os aeroportos do Brasil não são “padrão Fifa” mas “padrão Brasil”. Lindo. A gente sabe que padrão é esse quando precisa ir ao banheiro, pegar uma escada rolante ou aguardar a chegada das malas.

O secretário de Turismo do Rio de Janeiro e homem de confiança do prefeito Eduardo Paes, Antônio Pedro Figueira de Mello, disse que “o Rio não é a Suíça”, ao se referir às longas filas que os turistas terão de enfrentar na cidade. Antônio Pedro também reconheceu que o Rio não se preparou para receber deficientes porque, na Copa do Mundo, “não há tanto esse público”. Depois pediu desculpas pela bola fora.

Talvez por o Rio não ser a Suíça, o Exército tenha sido convocado para dar segurança aos turistas nas praias, nas ruas, no Maracanã. As duas polícias, PM e Civil, não dariam conta. Sabe como é, esse é nosso padrão. No padrão Brasil, professores manifestantes cercam o ônibus da Seleção, em protesto contra baixos salários. Mas não torcem contra a Seleção. Torcem por um Brasil à altura de nossa Seleção, por uma Educação à altura de nosso futebol. Deu para entender ou precisa desenhar?

Tudo se encaixa no padrão Brasil. Na capital, Brasília, índio flecha PM, arcos enfrentam a cavalaria. Nos arredores de estádios da Copa, em diversas cidades, há cenários lastimáveis. Lixo entulha a favela que fica a 300 metros do Maracanã, como mostrou o jornal O Globo. Comunidades junto aos novíssimos estádios convivem com água de poço, esgoto a céu aberto, zona de prostituição baixa, luz de vela, invasões de sem-teto. Digamos que na África também é assim. Mas a gente espera mais do Brasil.

Esperávamos que o governo de Dilma e Lula cumprisse uma promessa para estimular o ecoturismo no Brasil. Foi anunciado há quatro anos que o governo federal investiria R$ 668 milhões na infraestrutura de 23 parques federais. Eram os “Parques da Copa”, uma parceria dos ministérios do Turismo e do Meio Ambiente. Do total de R$ 668 milhões, quanto foi investido? Apenas R$ 1 milhão. Mas, sabe, esse é o padrão Brasil. É para se orgulhar?

Não é só o governo federal. Segundo o jornal Valor Econômico, Dilma colocou à disposição de governadores e prefeitos R$ 12,4 bilhões para obras de mobilidade urbana, ônibus e metrôs. Só R$ 479 milhões foram sacados por Estados e municípios. É muita incompetência. Devemos nos conformar? Ou podemos almejar um outro padrão? Agora, o governo pede ao povo que se comporte. Os gringos não podem falar mal do país do sol, da alegria, da cachaça, do Carnaval e do futebol.

Nessa reta final antes da Copa, apareceu até uma “miss” padrão Brasil. É a filha do ex-todo-poderoso da CBF Ricardo Teixeira e neta de João Havelange, ex-comandante da Fifa. Joana Teixeira Havelange tem 37 anos, é do Comitê Organizador Local da Copa e publicou um texto em apoio ao Mundial, “até porque o que tinha que ser gasto, roubado, já foi”. Joana tem linhagem. Seu pai renunciou em meio a denúncias de corrupção depois de 23 anos à frente da CBF. Joana é formada em administração e ganha cerca de R$ 80 mil por mês, ou R$ 100 mil, incluindo extras e bônus, segundo dizem. Joana é ou não a cara do padrão Brasil?

Nem os mais céticos imaginavam que, a poucos dias da Copa, o país ainda estivesse nessa correria para maquiar os equipamentos essenciais. O cenário mais pessimista previa um legado maior para a população. Infelizmente, a ficha ainda não caiu para os governantes. As autoridades não fizeram mea-culpa de nada. Só se preocupam com o vexame e com “o que os outros vão dizer” se os brasileiros lavarem a roupa suja diante dos convidados. É muita cara de pau.

Vamos, sim, torcer para que o Brasil seja hexacampeão. Vamos torcer também para que, fora do gramado, o Brasil honre suas cores e sua gente. E mude de padrão.”

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P.S: Como informação e boa opinião nunca são coisas demais, quando reina a liberdade de expressão, já hoje, alguns dias depois de terminar a matéria acima, e ao tentar mandá-la para a AGD, encontrei outro texto da mesma jornalista acima, a Ruth de Aquino (Título: “Não atendo emergência” – 06/06/2014 – Revista Época), no qual ela apresenta mais uma faceta do Padrão Brasil de Qualidade. Se tiverem disposição para aguentar mais vergonha com nossos serviços continuem lendo:

“É possível que se conte nos dedos de uma mão o número de países em que um paciente morre do coração em frente a um Instituto Nacional de Cardiologia (INC), sem receber socorro de nenhum médico ou enfermeiro do hospital. O INC está em greve, como muita gente nesta fase de amistosos pré-Copa das Copas.

A omissão de atendimento imediato a Luiz Cláudio Marigo, de 63 anos, é falta para cartão vermelho. Marigo, fotógrafo premiado de Natureza, embarcou num ônibus, no Rio de Janeiro. Começou a passar mal pouco depois. O motorista, Amarildo Gomes, desviou seu percurso por estar perto do INC, em Laranjeiras, único hospital público no Rio que faz transplantes de coração em crianças e adultos, referência em ensino e pesquisa.

O ônibus foi estacionado em frente ao hospital, e Marigo, deitado no chão do veículo, com dores no peito. Amarildo e passageiros estavam solidários com o drama do anônimo. Ele não levava documentos, apenas uma bolsa com chaves, moedas e R$ 42. Não sabiam que era um homem das florestas. Naquele momento, o povo do ônibus acreditava que poderia salvá-lo. Qualquer um sabe que os primeiros minutos após um infarto são cruciais.

Começava ali uma história padrão Brasil. Seguranças do hospital disseram que o INC não atende emergência e que seria melhor chamar os bombeiros ou uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Assim agiu o motorista Amarildo, mas a contragosto: “Achei um absurdo, um pouco-caso com a vida humana”. Quando uma ambulância chegou ao hospital levando outro paciente, o paramédico prestou os primeiros socorros. Mais tarde, chegaram os bombeiros.

Mesmo em greve, havia no hospital um leito, alguns médicos e plantonistas na Unidade Coronariana. O sargento dos bombeiros Alves afirmou: “Se viesse um médico na hora, já era muita coisa. Isso aí é omissão de socorro”.

Dá dor no coração. Nem falo do Juramento de Hipócrates. Nele, um médico formando jura, por todos os deuses e deusas, aliviar o sofrimento humano. Quantas vezes ouvimos num avião o comandante pedir ajuda: “Se houver um médico neste voo, favor atender um passageiro que está passando mal”. Já pensou o médico se omitir por achar que ganha pouco, ou que não é função dele trabalhar de graça? Já pensou ele dizer: “Não atendo emergência”?

O hospital tem sua versão. A nota do INC diz, e é verdade, que o hospital não tem emergência aberta ao público geral. E daí? A direção diz que o INC nunca fez primeiro atendimento e que sua especialidade são procedimentos de alta complexidade. Sim, e quando se trata de um caso de vida ou morte na frente do hospital?

A diretora do INC, Cynthia Magalhães, afirmou: “Não houve omissão de socorro e não houve erro (...). Nenhum membro da equipe médica foi notificado de que havia um paciente passando mal dentro de um ônibus (...), e sim um paciente passando mal na rua”. Então, médico não sai para socorrer na rua? Cynthia disse que os seguranças do hospital não entenderam a gravidade do caso. Como poderiam? Quem entende de gravidade é médico.

“O que houve foi uma omissão de socorro generalizada, uma falta de integração na rede”, disse Lúcia Pádua, diretora do Sindsprev, ao elogiar o INC como uma “ilha de excelência”. O que não pode, afirmou Lúcia, é “o paciente chegar a um hospital e ser recepcionado por seguranças”. Apela-se a quem? Ao Bom-Senso Medicina Clube?

Então, quem faz a triagem na porta de hospitais, públicos e privados, não são profissionais de Saúde. São seguranças, vigilantes. Na  semana passada, um vídeo na recepção de um hospital mostrou seguranças arrastando pelo chão, para fora do hospital, um paciente em cadeira de rodas. Acompanhantes levaram socos e gravatas. O paciente estava sem documentos e “agressivo”, disse Geraldo Medeiros, diretor do Hospital de Trauma de Campina Grande, na Paraíba. Entendi. O hospital deixa os pacientes com trauma.

A morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, que trabalhou diversas vezes para ÉPOCA, expõe nossa vulnerabilidade à humilhação, à frieza e à incompetência das recepções hospitalares. Entre no site http://www.lcmarigo.com.br e perceba como era talentoso: “A conservação da biodiversidade depende do conhecimento e do amor. O papel dos fotógrafos de Natureza é despertar a consciência do homem para a incrível riqueza da vida na Terra, sua beleza e valor espiritual. (…) Espero que meu trabalho transmita a mesma alegria e emoção que sinto nos ambientes selvagens e que minhas fotografias não se transformem apenas em mais um documento do passado”.


Se depender do filho dele, Vítor Marigo, que processa União e hospital, sua vontade será respeitada: “Queremos conseguir uma indenização para abrir uma fundação. O importante é manter viva a obra de meu pai”. Porque “selvagem” é a vida aqui fora.”

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