Por José Antonio Taveira Belo /
Zetinho
Toda cidadezinha tem um habitante
folclórico que é conhecido em toda região. Neste caso aqui, todos conheciam
Nicolau, conhecido por seu Neco. Um homem franzino, pouco mais de um metro e
cinquenta, calvo e barba bigode fininho na cara rosada, olhos esverdeados e
boca pequena, esse era o tipo. Tinha predileção pelo jogo. Jogava carteado, o
bozó e roleta num pequeno casino por trás do cinema em uma sala reservada.
Tinha um pequeno negócio no final da Rua do Sossego, vendendo feijão, milho,
farinha e açúcar em grosso, nada de venda a varejo dava mais trabalho, pois a
cada momento chegaria um freguês, me dê um quilo de feijão, ou de açúcar, ou de
milho. O dinheiro apurado muitas das vezes deixava no jogo. Era solteiro. Tinha
em vista, mas nunca declarado a ninguém uma loirinha, pequena tanto quanto ele,
olhos fascinantes de um castanho claro e boca pequena. Tinha tudo que ele
desejava para casar, pois, beirava os quarentas anos. A donzela todos os dias
ia para a Matriz de São Bartolomeu, com a sua amiga Marinha, rezava o terço,
assistia a missa, era filha de Maria e gozava do apreço do Padre Eurípedes.
Depois da reza ia passear na Praça Pedro II dando duas voltas sentando-se
depois em banco junto a um canteiro de dálias vermelhas. Ali conversava
animadamente com as companheiras, enquanto Seu Neco observava de longe sem ter
a coragem de lhe falar namoro. Ele, já tinha a visto olhar para ele, mas desviava
o seu olhar desconfiado. E a desconfiança era pela sua estatura pequena. Era
bem conceituado na sociedade, frequentava as danças de final de semana no clube
“Cisne” aonde todos iam às noites de sábado. Em uma noite de danças, no clube,
apareceu um ratinho correndo entre as mesas, todos correram principalmente às
senhoras e mocinhas, trepando nas cadeiras enquanto o ratinho corria pelo canto
das paredes. Seu Neco para mostrar serviço corria atrás do bichinho, e todos
gritavam “Seu Neco a catita foi por ali”, “Seu Neco lá está debaixo das caixas
de cervejas” olhe “Seu Neco debaixo da mesa de Dona Carolina” uma velhota
solteirona enfeitada com brincos de ouro e um colar com a medalha da Nossa
Senhora de Fatima cravejada de brilhante. Olhava para os lados, sem localizar e
de um momento para outro deu sorte e a catita raspou seus pés e com um chute
golpeou o bichinho e depois esmagou com uma pisada e ai denominaram ele como
Neco Catita. Ele não gostou deste
apelido, mas ficou calado em sua mesa sendo parabenizado pelo feito. Nesta
noite lá sentada junto aos seis pais, Lucinha a sua predileta. Olhava de vez em
quando e ela no seu lugar olhava para o seu lado. Esforçou-se e a foi tirar
para dançar. Era a oportunidade, mesmo que levasse um “corte” não teria problema.
E foi. Deu sorte ela levantou-se devagarinho, sob os olhares de seus pais e no
meio do salão um bolero ecoou com um canto “Beija-me muito” ele abraçado
naquele pequeno corpo sonhava, com o seu perfume que vinha da sua face e
cabelos. As mãos macias eram apertadas, de vez um sussurro que o leva a sonhar
naquele momento não desejava que a música terminasse. Levou a mesa agradeceu e
sentou-se no seu lugar tomando uma cerveja. Fechava os olhas a cada instante,
parecia sonhar, mas era uma realidade. Pensou – Não tive a coragem de perguntar
se poderia conversar com ela no dia seguinte. Que falha! Mas pensou, no outro
dia ia passar um filme no cine Boa Vista, um filme que todos não perdiam. Ficou
de longe, já com o ingresso na mão esperando que ela chegasse e assim poderia
ficar junto dela para assistir o filme e ai tinha a oportunidade, que faltou no
baile, de lhe falar sobre outro encontro. E assim aconteceu. Sentado junto dela
o coração batia descompassado. Olhou para ela e começou a conversar antes do
filme começar. Perguntou nervoso depois se poderia se encontrar com ela em sua
casa. Esperou a resposta, ansioso, e recebeu um sim. Quase foi impulsionado da
cadeira pela alegria e surpresa. Assistiu ao filme olhando mais para ela do que
as cenas que se desenrolava na tela. No dia seguinte, fechou o comercio, tomou
um banho e logo às seis e meia foi para a Matriz, onde celebrava a novena e
logo que ela chegou foi ao seu encontro e ao termino levou a sua casa. Seus
pais estavam à porta esperando-a e Seu Neco Catita, falou que desejaria, com
boas intenções, namorar a sua filha frequentando a sua casa. O que foi bem
aceito pelo Seu Honório e Dona Filomena. As suas andanças pelo cassino
terminaram, se dedicou a ouvir as reclamações da comunidade; Começou entrar na
política, nas reuniões da câmara e resolveu disputar a Prefeitura no pleito que
ia acontecer brevemente, mais ou menos um ano para eleição. - SOU PEQUENO MAIS
SOU GRANDE NAS AÇÕES – CATITA este foi à faixa colocada na porta do seu
armazém. Logo, logo, foi encontrando apoio da comunidade e assim seguiu em
frente filiado a um partido pequeno o PPL – Partido Popular Livre. No dia da
eleição saiu pelas ruas visitando as zonas eleitorais e sendo bastante
cumprimentado. Após apuração o seu CATITA tornou-se o Prefeito da cidade. Tomou
posse sob os aplausos d população que cercaram o prédio da Câmara Municipal de
Sertãozinho.