“O candidato El
Cid
Por Eliane
Cantanhêde
Ao ratificar
Lula para a Presidência da República, a Executiva Nacional do PT está cumprindo
uma formalidade, fazendo uma deferência para seu grande líder e acenando com um
“El Cid” para as eleições, até que a Justiça siga seu curso e decida não só o
destino do candidato Lula, mas também do cidadão Lula. A realidade e a ficção
andam juntas e, muitas vezes, a realidade supera a ficção.
El Cid,
cavaleiro espanhol, é um misto de personagem real e de ficção, ora endeusado
como herói, ora apontado como mercenário. Para compor a lenda, ele foi amarrado
a um cavalo depois de morto, com armadura e espada, para, de tão temido e
poderoso, afugentar os mouros e vencer a guerra “na moral”.
A guerra
fundamental de Lula e do PT agora não é eleitoral nem contra outros partidos e
candidatos, mas sim na Justiça, para evitar a prisão de Lula. Por 6 a 5, o
Supremo decidiu em 2016 que condenados em segunda instância, como ele, já podem
ser presos, mas ministros do próprio Supremo continuaram tomando decisões em
contrário e um dos seis votos vitoriosos pode mudar: o do ministro Gilmar
Mendes.
Afora a ironia
de Gilmar poder ser decisivo para evitar a prisão dele, o debate sobre prender
ou não prender El Cid, ops!, Lula, embala radicalismos. Antes mesmo do acórdão
do TRF-4 que aumentou a pena de Lula para 12 anos e 1 mês, a senadora Gleisi
Hoffmann avisava que, se prenderem Lula, “vai morrer gente”. Agora, o ministro
Marco Aurélio adverte que a prisão “poderá incendiar o País”.
Entre lágrimas
sinceras e um deboche calculado, Lula conclamou os petistas a não acatarem o
resultado do TRF-4: “Esse ser humano simpático que está falando com vocês não
tem nenhuma razão para respeitar a decisão”. Pois só se respeita decisão de
juízes que “se comportam como juízes, não como dirigentes de partidos
políticos”. Assim, liberou a sua tropa para atacar não mais Moro, a Lava Jato e
a imprensa, mas também os desembargadores João Pedro Gebran Neto, Leandro
Paulsen e Victor Laus – dois deles indicados no governo Dilma.
Lula, porém, dá
a sensação de que se diverte falando mais do que deve e sem nenhum compromisso
com os fatos. A opinião pública já está acostumada. O problema é quando a
presidente de um partido fala em “morrer gente” e um ministro do Supremo vê o
risco de uma decisão judicial “incendiar o País”.
Cansa a ameaça
de guerra, fogo, mortes, quando isso só ocorre nas nossas cidades pela
violência urbana, não por guerra política. Este é um país de centro, avesso a
radicalismos e assistiu, sem um tiro, uma gota de sangue, ao fim da ditadura, a
dois impeachments em 25 anos e à prisão de ministros, governadores e
presidentes de Poderes.
Se Dilma
sofresse um “golpe”, incendiariam o País. Se mudassem as regras de Dilma para a
(não) exploração do pré-sal, ocupariam as ruas e avenidas. Com a reforma do
ensino médio, invadiriam as escolas. Com a trabalhista, parariam tudo em greve
geral. Se o TRF-4 mantivesse a condenação de Lula, os sem-terra e os sem-teto
explodiriam Porto Alegre e a Avenida Paulista. E daí? Daí, nada.
Há um lado
profundamente triste no que Antonio Palocci chamou de “desmonte moral da mais
expressiva liderança popular que o País construiu”. Triste e merece reflexão
sobre o sistema que “desmonta moralmente” as pessoas, mesmo alguém com a
biografia vibrante de Lula, que saiu da intensa pobreza, governou o País num
momento de euforia e chegou a 80% de aprovação.
Mas o fato é
que as instituições funcionam, o combate à corrupção é inédito e, como citou
Moro, “não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima”. Lula
manterá uma candidatura El Cid para se defender ou para pôr fogo e atacar todas
essas conquistas do Brasil?”
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AGD
comenta:
O que
me despertou no texto acima foi a lembrança de El Cid. Gente da minha geração
jamais esquecerá o Charlton Heston, garbosamente desfilando no cavalo de El Cid
para vencer uma batalha contra os infiéis. Nada mais parecido com o Lula hoje,
ou pelo menos como o PT quer vê-lo.
Eu
hoje, com uma comparação mais correta, eu prefiro o ator, como Moisés, abrindo
o Mar Vermelho, mas, sendo tragado por ele, caso se quisesse compará-lo com o
Lula. Infelizmente, o Lula escolheu um péssimo papel, somente para não ir para
cadeia.
Ele
diz que não se importa com isto pois o Mandela, foi para a cadeia e saiu
presidente da África do Sul e louvado em prosa e verso pelo mundo. Só o Lula
mesmo para fazer uma comparação como esta. O Mandela deve estar se revirando no
túmulo até agora.
E o
Getúlio, também motivo de comparação, além de se revirar no túmulo, deve estar
chamando atenção de Brizola sobre o que o Sapo Barbudo está falando. E o
Antônio Conselheiro? Penso que a única semelhança entre os dois seria a barba,
e olhe lá.
Em
suma, o que se está vendo no Brasil é uma comédia trágica que passará, pelo
menos para mim, um eterno otimista.
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