“O ano das dúvidas
POR MERVAL PEREIRA
A diferença técnica entre a
eleição deste ano e a de 1989 é que a de agora será “casada”, isto é, estarão
em jogo, além da presidência da República, todos os governos estaduais, 2/3 do
Senado, e a totalidade da Câmara. Em 1989, disputava-se apenas a presidência da
República, numa eleição “solteira”, o que dava mais força às individualidades
dos candidatos do que ao esquema partidário que os apoiava.
Há ainda uma diferença
fundamental, como destacou o cientista político Bolivar Lamounier em entrevista
à edição brasileira do El País: a mediocridade dos candidatos à vista. Na
eleição que acabou elegendo Collor à presidência, praticamente todas as grandes
lideranças políticas do país estavam na disputa.
Collor acabou derrotando todos
eles, numa disputa entre o populismo de direita que representava e o populismo
de esquerda com Brizola e Lula, que acabou indo para o segundo turno. Hoje,
pelas pesquisas de opinião, continuam polarizando a disputa presidencial os
populismo de esquerda, na figura do ex-presidente Lula, e o de direita com o
deputado federal Jair Bolsonaro.
O momento de decadência moral e
crise econômica que vivemos é propício a candidatos populistas e radicais, e,
além de não termos material humano, é por isso que está difícil surgir um
candidato centrista que empolgue o eleitorado. O último exemplo que tivemos de
um presidente eleito sem ser populista e derrotando um populista foi Fernando
Henrique Cardoso, que venceu Lula duas vezes no primeiro turno.
Mas o que o transformou em um
candidato vencedor não foi seu estilo de fazer política, mas o Plano Real, que
acabou com a hiperinflação e deu ao eleitor brasileiro de todas as classes o
alívio no bolso e o orgulho de ser brasileiro diante do fato de que o Real
passou a valer mais do que o dólar. Nada mais popular do que permitir ao povo
ter uma melhoria imediata de vida e uma moeda valorizada. Não foi à toa que o
povo abanava cédulas de Real nos comícios, festejando aquele identificado como
seu criador.
Uma melhoria de vida tão imediata geralmente
acontece com medidas populistas, como o Bolsa Família que alavancou o lulismo.
Também o Plano Cruzado permitiu que o então grupo político do presidente Sarney
vencesse as eleições em 1986 na maioria dos Estados brasileiros, quando o PMDB
elegeu quase todos os governadores, a maioria dos senadores e 260 deputados
(53,3% da Câmara na época).
Ao contrário do Plano Real, que
cuidou também do equilíbrio fiscal, tanto que criou a Lei de Responsabilidade
Fiscal em 2000, o Cruzado explodiu logo depois da vitória na eleição, pois o
governo Sarney não quis fazer os ajustes necessários, mas impopulares.
Há um comentário registrado na
história de que, num país tão desigual quanto o Brasil, Getúlio sempre vencerá
o Brigadeiro, referência às duas derrotas que Eduardo Gomes sofreu, uma para
Dutra, candidato de Getúlio, e outra para o próprio Getúlio.
Um dos desafios do presidente
Michel Temer será chegar à eleição deste ano sem ser o grande alvo de todos os
candidatos, como aconteceu com Sarney em 1989. Ele joga tudo na melhora da
economia, com as pessoas sentindo o efeito no bolso, o desemprego menor, para ter
um candidato que defenda o governo.
Alguns dizem até que ele mesmo
pode ser o candidato, o que é muito mais difícil. Nada indica que a melhoria da
economia, prevista pelos analistas, seja tão forte que transforme o governo
impopular de Temer num ativo eleitoral capaz de neutralizar a ânsia da
população por um presidente “salvador da pátria”, que Lula e Bolsonaro hoje
representam, por razões distintas.
O ex-presidente promete a volta
dos bons tempos de prosperidade, que nem foram tão prósperos assim mas, diante
do crescimento medíocre dos governos anteriores do PSDB e da catástrofe que foi
o governo Dilma, parecem uma miragem. Mas, como toda miragem, esta promessa de
“volta para o futuro” é apenas uma retórica populista.
Já Bolsonaro, populista de direita,
promete resolver a questão da segurança pública, uma praga de nossos tempos, se
apresenta como um raro político não envolvido na Lava Jato. E alimenta a volta
dos militares ao poder, desta vez através do voto popular, como se essa fosse a
solução para nossos males.
O mais grave de tudo é que, a
essa altura, não sabe quem será mesmo candidato à presidência. Dia 24 começa a
se definir a situação de Lula, o PT provavelmente, depois de uma batalha
jurídica, terá que indicar outro candidato ou, menos provável, apoiar alguém já
lançado, como Ciro Gomes do PDT. As pesquisas mostram que, com a saída de Lula,
quem ganha mais é Marina Silva e o próprio Bolsonaro.
Geraldo Alckmin terá que mostrar
força nas pesquisas, com o risco de ser superado dentro do próprio partido por
incapacidade eleitoral. Não é à toa que Luciano Huck parece querer voltar ao
páreo. Até abril o cenário pode mudar, com a entrada de nomes como o do
ministro do Supremo aposentado Joaquim Barbosa ou outro qualquer.”
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AGD Comenta:
Sem querer me estender neste
início de ano, só posso dizer que seria o fundo do poço um segundo turno entre
o Lula e o Bolsonaro. Chega de populismo!
E qual é o problema do populismo?
Ora, ele foi a grande chaga dos governos no Brasil. Isso é gerado pelo baixo
grau de informação dos eleitores. Imaginem que, aqui, até analfabeto vota, além
do voto ser obrigatório.
Voltamos ao ponto da necessidade
de uma reforma política séria para melhorar nossa gestão pública, além de
diminuir o tamanho do Estado. Seria pedir demais a Deus neste início de ano?
Teremos um feliz Ano Novo?
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