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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

JULIO ENGOLE COBRA!




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


Seu Ulisses morava na ponta de rua da cidadezinha Mandacaru. Sua casa pequena dava para o sitio que dali tirava o seu sustento. No seu pequeno sitio por trás de casa tinha duas vaquinhas, dois porcos baê, galinhas que cuidava com muito carinho. O leite tirado das vacas vendia aos vizinhos, fregueses certos. Os porcos no chiqueiro prontos para a venda aos açougueiros.  As galinhas e os ovos que colhiam diariamente eram vendidos na porta de casa ou nos dias de feira. Tinha plantação de macaxeira, batata doce, jerimum, inhame, além dos canteiros de coentro, alface, quiabo, chuchu, pimentão, maxixe que colocava a venda em sua barraca na feira dos sábados. No sitio tinha pés de manga rosa e espada, manguito, caju, abacate, pinha, laranja, tudo este frutos faziam parte com a venda para o seu sustento.   Casado com dona Juína, mulher de fibra, nordestina, trabalhadora no mato, mãos calejadas ajudava seu marido na lida do dia a dia.  Viviam em perfeita harmonia. Do casamento vieram dois filhos o Julinho, e Jacinta. Apesar da pobreza os filhos sempre andavam bem vestidos quando ia à missa no domingo na Igreja São Cristóvão do Padre Bernardino, um capuchinho vindo do estrangeiro. Fala meio enrolada e sorriso aberto entre a grande barba já grisalha. Julinho um menino afeiçoado, cabelos loiro olhos azuis enquanto a Juvina demonstrava beleza com os cabelos compridos aloirado, com laço de fita azul, olhos azuis.  Bem pequenos brincavam, sempre no quintal e ali sempre havia muitas lagartixas, calango e cobras, pois o matagal do sitio oferecia estes repteis. Brincando certo dia, Seu Ulisses ficou apavorado com Julinho com uma cobra de duas cabeças, enrolada na mão e colocando uma das cabeças na boca. O grito foi forte e o menino somente de dez anos começou a rir. Soltou a cobra que se escondeu debaixo do pote de barro onde a agua era colocada para beber, na cozinha. Dona Juína ficou apavorada e por muito tempo os meninos brincavam na sala e não no quintal da pequena casa.  A notícia se espalhou com este acontecimento, em toda vizinhança contada pelo pai. Julinho mais de uma vez foi encontrado brincando com cobras no quintal de sua casa fugindo dos olhares da sua mãe. Os colegas começaram chamar “Julinho engole cobra” e o apelido pegou na rua e na escola, Para onde ia o pessoal mostrava lá vai o menino “engole cobra”. Cresceu, tornou-se um rapaz estudioso, mas nunca deixou de gostar de serpentes, de vez em quando no decorrer dos anos apanhou cobras no sitio do pai, quando ia colher frutos. Corria pelo mato e quando alcançava dava um bote, ao invés da cobra, e com a mão direita sustentava a cabeça e com a esquerda o rabo, imobilizava e olhava para ela e depois soltava. Estudou na escola levando este apelido, ficando conhecido na cidade por este apelido que incomodava o seu pai e a sua mãe, o seu filho era conhecido “Julinho engole cobra” as brincadeiras se tornaram frequentes inclusive as brincadeiras de mau gosto. Não havia reação, pois, dizia ele com o tempo esquecia. Foi na cidade grande que despertou para a venda de produtos medicinais do mato. Ficou entusiasmado com o vendedor com um microfone no pescoço oferecendo a uma multidão que o cercara, os seus remédios caseiros, folhas de mato espalhado em uma lona no pátio de uma igreja, comum sagui no ombro. Um dia sentado no alpendre, viu uma cascavel passar roçando os seus pés. Não se incomodou. Pensou vou vender medicamentos do mato para todos os males, picada de cobra, de caranguejeira, escorpião, de cachorro doido, impaludismo e os males do corpo. E assim foi até uma cidade vizinha e comprou vários tubos de pomadas, rezinas, em pequenos frascos. Apanhou uma cobra levando para o centro da feira em uma maleta amarela e listra pretas para dar maior visibilidade ao povo.. Ali, estirou uma lona, espalharam os matos, açafrão, aroeira, boldo, alcachofra, alecrim, chá preto, alfazema, arruda, cordão de frade, erva doce, capim santo, colônia, sabugueiro, erva cidreira, matruz, quebra pedra, romã, gengibre e tantos outros e pomadas para dor nas costas, para ferida braba, para inchaço nos pernas e pés, dor de cabeça, defluxos, falta de ar, tosse braba, sarampo, catapora, espinhela caída, e abriu uma maleta onde a cobra descansava toda enrolada ignorando os curiosos que ali estavam. Fazia seu trabalho duas vezes por semana e a noite estudava.  Estudou bastante para ter conhecimento do que vendia para explicar os medicamentos, o espanto foram grandes, os feirantes matutos arrodeou o local onde Julinho oferecia os seus produtos, informando sobre aqueles medicamentos atuava na cura dos males que atacavam o povo. Assim se fez durante muito tempo. Seguiu para a cidade grande com o mesmo intuito de vender nas feiras e mercados públicos os seus remédios. Deu-se bem na venda destes produtos principalmente para os mais pobres que o cercavam, querendo mexer na cobra que já estava domesticada e cansada, onde muita gente passava a mão nela enrolada nos pescoço de Julinho. Não se descuidou da vida, começou a estudar, passou no vestibular de biologia e começou a pesquisar a vida deste repteis. Foi contratado depois de muita dedicação no estágio, pela fundação do Butantã e ali se tornou um grande pesquisador de cobras sua preferência.   

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