Por José Antonio Taveira Belo /
Zetinho
Seu Ulisses morava na ponta de
rua da cidadezinha Mandacaru. Sua casa pequena dava para o sitio que dali
tirava o seu sustento. No seu pequeno sitio por trás de casa tinha duas
vaquinhas, dois porcos baê, galinhas que cuidava com muito carinho. O leite
tirado das vacas vendia aos vizinhos, fregueses certos. Os porcos no chiqueiro
prontos para a venda aos açougueiros. As
galinhas e os ovos que colhiam diariamente eram vendidos na porta de casa ou nos
dias de feira. Tinha plantação de macaxeira, batata doce, jerimum, inhame, além
dos canteiros de coentro, alface, quiabo, chuchu, pimentão, maxixe que colocava
a venda em sua barraca na feira dos sábados. No sitio tinha pés de manga rosa e
espada, manguito, caju, abacate, pinha, laranja, tudo este frutos faziam parte
com a venda para o seu sustento. Casado
com dona Juína, mulher de fibra, nordestina, trabalhadora no mato, mãos
calejadas ajudava seu marido na lida do dia a dia. Viviam em perfeita harmonia. Do casamento
vieram dois filhos o Julinho, e Jacinta. Apesar da pobreza os filhos sempre
andavam bem vestidos quando ia à missa no domingo na Igreja São Cristóvão do
Padre Bernardino, um capuchinho vindo do estrangeiro. Fala meio enrolada e
sorriso aberto entre a grande barba já grisalha. Julinho um menino afeiçoado,
cabelos loiro olhos azuis enquanto a Juvina demonstrava beleza com os cabelos
compridos aloirado, com laço de fita azul, olhos azuis. Bem pequenos brincavam, sempre no quintal e
ali sempre havia muitas lagartixas, calango e cobras, pois o matagal do sitio
oferecia estes repteis. Brincando certo dia, Seu Ulisses ficou apavorado com
Julinho com uma cobra de duas cabeças, enrolada na mão e colocando uma das
cabeças na boca. O grito foi forte e o menino somente de dez anos começou a
rir. Soltou a cobra que se escondeu debaixo do pote de barro onde a agua era
colocada para beber, na cozinha. Dona Juína ficou apavorada e por muito tempo
os meninos brincavam na sala e não no quintal da pequena casa. A notícia se espalhou com este acontecimento,
em toda vizinhança contada pelo pai. Julinho mais de uma vez foi encontrado
brincando com cobras no quintal de sua casa fugindo dos olhares da sua mãe. Os
colegas começaram chamar “Julinho engole cobra” e o apelido pegou na rua e na
escola, Para onde ia o pessoal mostrava lá vai o menino “engole cobra”.
Cresceu, tornou-se um rapaz estudioso, mas nunca deixou de gostar de serpentes,
de vez em quando no decorrer dos anos apanhou cobras no sitio do pai, quando ia
colher frutos. Corria pelo mato e quando alcançava dava um bote, ao invés da
cobra, e com a mão direita sustentava a cabeça e com a esquerda o rabo,
imobilizava e olhava para ela e depois soltava. Estudou na escola levando este
apelido, ficando conhecido na cidade por este apelido que incomodava o seu pai
e a sua mãe, o seu filho era conhecido “Julinho engole cobra” as brincadeiras
se tornaram frequentes inclusive as brincadeiras de mau gosto. Não havia
reação, pois, dizia ele com o tempo esquecia. Foi na cidade grande que
despertou para a venda de produtos medicinais do mato. Ficou entusiasmado com o
vendedor com um microfone no pescoço oferecendo a uma multidão que o cercara,
os seus remédios caseiros, folhas de mato espalhado em uma lona no pátio de uma
igreja, comum sagui no ombro. Um dia sentado no alpendre, viu uma cascavel
passar roçando os seus pés. Não se incomodou. Pensou vou vender medicamentos do
mato para todos os males, picada de cobra, de caranguejeira, escorpião, de
cachorro doido, impaludismo e os males do corpo. E assim foi até uma cidade
vizinha e comprou vários tubos de pomadas, rezinas, em pequenos frascos.
Apanhou uma cobra levando para o centro da feira em uma maleta amarela e listra
pretas para dar maior visibilidade ao povo.. Ali, estirou uma lona, espalharam
os matos, açafrão, aroeira, boldo, alcachofra, alecrim, chá preto, alfazema,
arruda, cordão de frade, erva doce, capim santo, colônia, sabugueiro, erva
cidreira, matruz, quebra pedra, romã, gengibre e tantos outros e pomadas para
dor nas costas, para ferida braba, para inchaço nos pernas e pés, dor de
cabeça, defluxos, falta de ar, tosse braba, sarampo, catapora, espinhela caída,
e abriu uma maleta onde a cobra descansava toda enrolada ignorando os curiosos
que ali estavam. Fazia seu trabalho duas vezes por semana e a noite
estudava. Estudou bastante para ter
conhecimento do que vendia para explicar os medicamentos, o espanto foram
grandes, os feirantes matutos arrodeou o local onde Julinho oferecia os seus
produtos, informando sobre aqueles medicamentos atuava na cura dos males que
atacavam o povo. Assim se fez durante muito tempo. Seguiu para a cidade grande
com o mesmo intuito de vender nas feiras e mercados públicos os seus remédios.
Deu-se bem na venda destes produtos principalmente para os mais pobres que o
cercavam, querendo mexer na cobra que já estava domesticada e cansada, onde
muita gente passava a mão nela enrolada nos pescoço de Julinho. Não se
descuidou da vida, começou a estudar, passou no vestibular de biologia e
começou a pesquisar a vida deste repteis. Foi contratado depois de muita
dedicação no estágio, pela fundação do Butantã e ali se tornou um grande
pesquisador de cobras sua preferência.
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