Por Zezinho de Caetés
Depois de ver tantos debates televisivos e propagandas
eleitorais, nesta eleição para presidente, encontrei um texto do Ruy Fabiano
(18/10/2014 – Blog do Noblat) chamado: “A
ignorância ativa”. Eu o reproduzo abaixo para melhor julgamento dos
leitores do que está se passando no Brasil, não é de agora.
Todos sabem que já tive até simpatias pelo PT, em seu
início, quando ele começou a ser contra a ditadura militar, mesmo que depois se
soubesse que o seu fundador, o Lula, segundo o Tuma Jr. em seu livro “Assassinato de Reputações”, disse que
ele era um informante do regime militar. Lembram do “Barba”? Este partido era o que pregava a volta à democracia e a
defesa da moralidade, e por causa disso ele cresceu sem, por um tempo, se
envolver com pessoas como a Dilma que pregavam a ditadura do proletariado como
norma para o Brasil. Enganou muita gente, inclusive eu, embora, não por muito
tempo. Já fui um louco ao ponto de votar no “Barba”.
Porém, a enganação veio mesmo à tona em 2002 com a assunção
dele, o PT, ao poder com o Lula. Depois de colar toda a política econômica do
FHC, que vinha dando certo e que trouxe o Brasil para um patamar respeitável em termos
econômicos, em relação ao que se passava no governo do cruzado Sarney e do confiscador
de poupança, o Collor, o Lula sentiu que poderia continuar no poder “peronia seculum seculorum”, e partiu
para o mensalão com tudo, para não ter dúvida. Ele descobriu que a defesa dos
pobres era o grande filão de votos, e como o Fome Zero não havia dado certo,
ele partiu para colar também as ideias lançadas do governo anterior no campo
social e criou o Bolsa Família. Com isto, saiu elegendo postes por este Brasil
afora, e chegamos onde estamos, com todos eles com luzes apagadas e quase
caindo.
Mas, convém relembrar o que foi feito por este partido, que
hoje quer ainda permanecer no poder e, tenho certeza, o Lula ainda pisaria no
pescoço de D. Lindu, como dizia Brizola, para que isto acontecesse. E isto é o
que faz o texto abaixo do Ruy Fabiano, com o qual eu lhes deixo por aqui.
Espero que ele os ajude a votar no domingo e os livre para ignorância ativa.
“A predominância do eleitor jovem, que hoje se inicia aos 16 anos – e
se dispõe a uma militância veemente -, favorece a criação de um ambiente
eleitoral de mistificação e descompromisso com os fatos históricos, na base do
“se assim não foi, pior para os fatos”.
O jovem, vítima de um ensino cada vez mais precário e ideológico,
sensível à atmosfera de protesto, embarca facilmente em slogans do tipo “o
Brasil quebrou três vezes no governo FHC” ou “o PSDB governou para os ricos”.
Nenhuma dessas afirmações encontra respaldo nos registros da história recente.
Mas quantos jovens se empenham em ir aos jornais da época avaliar o
contexto do que lhes é dito hoje e examinar a conjuntura que precedeu os
acontecimentos que lhes são expostos como verdades inapeláveis?
Predomina então a máxima de Goebbels, o ministro da propaganda de
Hitler: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. É pena, mas é
verdade.
Um eleitor de 16 anos tinha apenas quatro anos ao tempo em que FHC
passou a faixa presidencial a Lula. Um de 25 anos tinha 13. Nenhum testemunhou
o país da hiperinflação e muito menos o da transição do governo militar para a
democracia.
Não avalia, portanto, o impacto da recusa do PT em apoiar Tancredo
Neves, tendo, inclusive, expulsado três parlamentares seus que optaram em
elegê-lo no colégio eleitoral. Desconhece também a surpresa que causou a
resistência do partido em assinar a Constituição de 1988 e todo o empenho
posterior em barrar iniciativas tendentes a firmar a democracia.
O partido mostrou sempre grande eficácia predatória. Teve, portanto,
importante participação no impeachment de Fernando Collor (hoje seu aliado),
mas se recusou a apoiar o vice Itamar Franco, que recebia o governo em
condições delicadas, com a inflação em descontrole. Também expulsou a deputada
Luiza Erundina, que aceitou ser ministra de Itamar.
Na sequência, veio o Plano Real, com Fernando Henrique Cardoso no
Ministério da Fazenda. Todo o país aderiu – exceto, claro, o PT. E se opôs a
todas as medidas que vieram a sanear a economia: a Lei de Responsabilidade
Fiscal (entrou contra ela no Supremo Tribunal Federal), o tripé macroeconômico
e tudo o mais que propiciaria, a partir de 2003, que Lula recebesse um país bem
melhor que o que fora entregue a seu antecessor.
O Plano Real permitiu, com o controle da inflação, que beirava os mil
por cento ao ano, que novos empregos fossem criados e que houvesse efetiva
distribuição de renda. Mas os desníveis sociais históricos exigiam algo mais.
Foram criados os programas de transferência de renda: o Bolsa Escola
(vinculado à escolarização dos filhos das famílias beneficiárias), o Vale Gás,
o Bolsa Alimentação, o Vale Transporte.
Para que esses programas fossem implementados, impunha-se um trabalho
prévio de cadastramento junto às prefeituras, quase seis mil, trabalho
concluído a tempo de alcançar 5 milhões de beneficiários. Lula, que havia
criticado aqueles programas, alegando que deixariam o brasileiro preguiçoso (há
um vídeo dele no Youtube, com essas palavras), assumiu e os suspendeu. Pôs em
cena o Fome Zero, que não funcionou.
Decidiu então, já que não dispunha de nenhuma outra fórmula, rever os
programas assistenciais do antecessor, concebidos pela socióloga Ruth Cardoso,
que comandava o Rede de Solidariedade. Era um programa tucano e, talvez por
isso, não lhe tenha sido fácil voltar atrás. Mas voltou, o que lhe é meritório.
Foi ainda um tucano, o governador de Goiás, Marcone Perillo, quem lhe sugeriu
que unificasse aqueles programas num só. Surgiu então o Bolsa Família, em cujo
texto há menção aos programas anteriores que o compunham e que ali se
unificavam. Mudou-se a tabuleta, mas manteve-se o conteúdo.
O passo seguinte foi sua expansão. Os cadastros já estavam prontos e o
modus operandi já era conhecido. Se o sucessor de FHC tivesse sido um tucano –
e não é despropositado supô-lo -, essa expansão poderia ter sido ainda mais
rápida, já que não teria havido o intervalo experimental do Fome Zero.
Que fez então o PT? Primeiro, apropriou-se da ideia. Pôs em cena a
propaganda e passou a acusar o autor da proposta de seu inimigo. Tornou-a arma
eleitoral. Como FHC jamais usara aqueles programas como instrumento eleitoral,
poucos sabiam de sua autoria e passaram a chancelar o que o PT dizia a esse
respeito.
Até mesmo agora, no debate da Band, Dilma negou veementemente o DNA do
Bolsa Família. Aécio leu o texto da lei e ela passou então a proclamar a escala
em que o PT a aplicou. Só o conhecimento histórico do que se passou dirime
dúvidas e retira o tom militante do imbróglio. Mas quantos, que não viveram
esses acontecimentos, fazem isso?
Quando então se trata de corrupção, tema em que o PT se especializou –
na oposição como denuncista; no governo, como praticante -, a confusão é ainda
maior. E obriga o adversário a se postar na defensiva, o que, em política, é
sempre ruim. Inverte-se o ônus da prova: passa a ser do acusado.
Dilma diz que o PSDB jogava a sujeira debaixo do tapete. Há doze anos,
o PT é o guardião do tapete. Por que não o levanta e limpa a sujeira? São
questões elementares que, no entanto, não ocorrem a um jovem militante.
Tem-se, ao contrário, uma atmosfera hipnótica, que permite que o
partido que tem neste momento sua cúpula na cadeia, que estuprou a Petrobras e
jamais explicou o assassinato do prefeito de Santo André – e cujo elenco de
escândalos não cabe num artigo –, acuse o oponente de corrupto. O próprio Lula,
notório cultor do alambique, dá-se ao luxo de chamar seu adversário de bebum.
Não admira, pois, a propagação nas redes sociais de um coro de
descontentes, a repetir com a autoridade de cientistas políticos frases e
acusações concebidas por marqueteiros bem-remunerados, gigolôs da bílis alheia.
Pior que a desinformação dos que não têm escolaridade é a dos que têm – e não
estudam.
Goethe estava certo: nada mais perigoso e nefasto que a ignorância
ativa. Os debates, lamentavelmente, dirigem-se a essa plateia – e são
analisados por ela.”