Por Zezinho de Caetés
Para aqueles que pensam que, no Brasil, futebol não tem nada
com política, falar de futebol agora já cansa. Mas, para quem, como eu, pensa
que tem tudo a ver, a coisa é diferente. Da última vez que escrevi sobre a “Copa das Copas” (entre aspas mesmo, para
mostrar que a expressão hoje tem apenas o significado figurativo que a Dilma
tenta dar) ainda estava em ebulição. Tal qual um profeta, previ que se a
gerenta presidenta comparecesse ao Maracanã iria ser xingada e vaiada. Não deu
outra. A “elite branca” atacou de
novo, e, queira Deus ataque em outubro na urna. Só sinto as urnas modernas não
usarem papéis para escrever neles as letrinhas mágicas mais usadas nos estádios
atualmente: VNTC.
A partir de agora, no entanto, é normal que se esmaeçam os
escritos sobre futebol e cresçam os que falam de política. Para não perder o
hábito encontrei um texto, que abaixo transcrevo de um grande escritor
latino-americano, o Mário Vargas Llosa, que aborda as duas coisas de uma forma
genial (site do El País em 12/07/2014), e que ele intitulou de: “A máscara do gigante”. Não é preciso
concordar com ele em tudo, se concordamos no essencial: Foi o Lula quem levou
este país à situação de descalabro econômico e moral em que o país se encontra,
e que respingaram por todos os setores, inclusive o futebol. Portanto, não é
uma novidade que hoje, estejamos dando vivas à Alemanha e chorando pela humilhação
que ela nos proporcionou dentro do campo. E nem pensemos fora do campo, porque
poderíamos ter um enfarto do miocárdio.
Arriscando cair aqui durinho pelas falhas do velho coração
tenho que pensar. Num país onde uma presidenta está tentando ser reeleita
apenas por aumentar o número de pobres dependentes do Bolsa Família, não pode
ganhar da Alemanha, e, se ganhou do Chile foi graças à sorte que temos por
acreditarmos que Deus é brasileiro. Eu mesmo já duvido disto, pois sei se a
Dilma ganhar as eleições, Deus já está com o processo pronto para se
naturalizar alemão. No Brasil de hoje a classe média ganha menos do que o
salário mínimo, e o lulopetismo se jacta de ter mudado o Brasil e o livrado da
miséria. Enganação tem um limite, que os próprios bolsistas familiares já estão
descobrindo. Quando eles vão com suas bolsinhas ao mercado já veem que elas não
valem mais no fim do mês quanto valiam no início.
Para quem leu um livro todo de economia na vida, e isto,
tenho certeza não se aplica a Lula nem a Dilma, sabe que não há escapatória
para determinadas leis. Sem crescimento e aumento de produtividade, qualquer
ganho extra por parte de um grupo será comido cedo ou tarde pela inflação. Nós,
já de uma certa idade, que alcançamos o Plano Cruzado, sabemos disto.
Precisamos avisar aos nossos filhos e netos do que éramos, antes do Plano Real,
ao qual o PT foi contra, e que nos livrou deste grande mal, e que hoje está
sendo vilmente solapado por este governo.
As coisas estão mudando tão rapidamente que agora estou
usando o sistema de PS (Post Scriptum) para desdizer ou afirmar o que disse
antes (agradeço ao Zé Carlos por publicar). Estou escrevendo antes de qualquer
pesquisa eleitoral ser conhecida. Com a força das minhas profetizações eu digo:
A gerenta presidenta vai cair, embora não saiba se outros vão subir. Espero que
antes de outubro ela chegue ao chão e que venha o Lula, para talvez dar uma
palavrinha sobre os resultados de sua “Copa
das Copas”. Pelo jeito ele vai dizer que não sabia ou, como é do seu
feitio, vai dizer que dos gols da Alemanha, 6 foram em posição de impedimento e
que somos campeões morais. Mas, o povo já sabe que imoralidade tem um limite.
Fiquem com o Vargas Llosa, que mostra muito melhor do que eu
em que se transformou nosso gigante pela própria natureza, impávido colosso,
corroído e mal tratado pelo PT.
“Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente
à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu
tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez
menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha
juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras
apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma
pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas
para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.
Nada funcionava bem; havia algo forçado, artificial e antinatural nesse
esforço, que se traduzia em um rendimento sem graça de toda a equipe, incluído
o de sua estrela máxima, Neymar. Todos os jogadores pareciam sob rédeas. O
velho estilo – o de um Pelé, Sócrates, Garrincha, Tostão, Zico – seduzia porque
estimulava o brilho e a criatividade de cada um, e disso resultava que a equipe
brasileira, além de fazer gols, brindava um espetáculo soberbo, no qual o
futebol transcendia a si mesmo e se transformava em arte: coreografia, dança,
circo, balé.
Os críticos esportivos despejaram impropérios contra Luiz Felipe
Scolari, o treinador brasileiro, a quem responsabilizaram pela humilhante
derrota, por ter imposto à seleção brasileira uma metodologia de jogo de
conjunto que traía sua rica tradição e a privava do brilhantismo e iniciativa
que antes eram inseparáveis de sua eficácia, transformando seus jogadores em
meras peças de uma estratégia, quase em autômatos.
Contudo, eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas,
talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum
tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida
por uma realidade profunda.
Tudo nasce com o governo de Luis Inácio 'Lula' da Silva (2003-2010),
que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o
desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido
e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas
que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por
toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse
período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se
estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula
de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger
e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do
mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao
lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas,
as sementes da catástrofe.
A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma
miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro.
Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde
produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que
um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos
programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos
que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais)
à prisão e ao banco dos réus.
As alianças mercantilistas entre Governo e empresas privadas
enriqueceram um bom número de funcionários públicos e empresários, mas criaram
um sistema tão endiabradamente burocrático que incentivava a corrupção e foi
desestimulando o investimento. Por outro lado, o Estado embarcou muitas vezes
em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os gastos empreendidos
tendo como propósito a Copa do Mundo de futebol são um formidável exemplo.
O governo brasileiro disse que não havia dinheiro público nos 13
bilhões que investiria na Copa do Mundo. Era mentira. O BNDES (Banco Brasileiro
de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou quase todas as empresas que
receberam os contratos para obras de infraestrutura e, todas elas, subsidiavam
o Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder. (Calcula-se que para cada
dólar doado tenham obtido entre 15 e 30 em contratos).
As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e
fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam
necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que
a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser
cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que
o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões
publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às
ruas e mexesse com todo o Brasil.
As cifras que os órgãos internacionais, como o Banco Mundial, dão na
atualidade sobre o futuro imediato do país são bastante alarmantes. Para este
ano, calcula-se que a economia crescerá apenas 1,5%, uma queda de meio ponto em
relação aos dois últimos anos, nos quais somente roçou os 2%. As perspectivas
de investimento privado são muito escassas, pela desconfiança que surgiu ante o
que se acreditava ser um modelo original e resultou ser nada mais do que uma
perigosa aliança de populismo com mercantilismo, e pela teia burocrática e
intervencionista que asfixia a atividade empresarial e propaga as práticas
mafiosas.
Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de
maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao
mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a
insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as
pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará
governando inspirada nas realizações e logros de Lula.
Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e
mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo
brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a
Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um
país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois
com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando
tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas
políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento. É verdade que o Brasil
tinha sido um gigante que começava a despertar nos anos em que governou
Fernando Henrique Cardoso, que pôs suas finanças em ordem, deu firmeza à sua
moeda e estabeleceu as bases de uma verdadeira democracia e uma genuína
economia de mercado. Mas seus sucessores, em lugar de perseverar e aprofundar
aquelas reformas, as foram desnaturalizando e fazendo o país retornar às velhas
práticas daninhas.
Não só os brasileiros foram vítimas da miragem fabricada por Lula da
Silva, também o restante dos latino-americanos. Por que a política externa do
Brasil em todos esses anos tem sido de cumplicidade e apoio descarado à
política venezuelana do comandante Chávez e de Nicolás Maduro, e de uma
vergonhosa “neutralidade” perante Cuba, negando toda forma de apoio nos
organismos internacionais aos corajosos dissidentes que em ambos os países
lutam por recuperar a democracia e a liberdade. Ao mesmo tempo, os governos
populistas de Evo Morales na Bolívia, do comandante Ortega na Nicarágua e de
Correa no Equador – as mais imperfeitas formas de governos representativos em
toda a América Latina – tiveram no Brasil seu mais ativo protetor.
Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual
Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção
Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é
ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à
verdade.”