Por Carlos Sena (*)
Tem gente que só sabe postar
matéria contra o governo. Se fosse de outro partido que não o PT seria a mesma
coisa. Porque o mal não se resolve com mudança de partido, mas com uma profunda
Reforma Política.
Esse meu entendimento se finca em
coisas simples e práticas, tais como:
1. Quando um empresário investe milhões
para a campanha de um candidato, não é porque ele seja bonzinho e demonstre
sentimento pátrio com isso. Se o candidato for eleito, amanhã ou depois ele vai
buscar com juros o que investiu. De que forma? Tomando por exemplo um
empresário de supermercado ele vai buscar apoio do "seu" parlamentar
para, por exemplo, para não fazer cumprir as determinações da vigilância
sanitária, ou os 15 minutos da lei municipal que garante apenas esse tempo de
espera na fila. O supermercado é fechado, mas no outro dia ele fica aberto!
2. Quando o candidato é rico e
gasta seus milhões com sua eleição, também vai buscar esse custo de alguma
forma. Nomear parentes é uma; criar dificuldades pra vender facilidades é
outra; corrupção ativa e passiva e assim por diante.
3. Internamente os candidatos
fazem dobradinha financeira: um candidato a deputado estadual recebe dinheiro
de outro candidato a federal para pedir votos no seu reduto eleitoral.
Internamente, há outras negociatas para a maximização do caixa 2, até mesmo um
se passando por apoiar outra legenda só pra não dar na cara esses acordos.
4. Negociatas de candidaturas sem
chance - as chamadas nanicas, só pra servir de rodo para outro candidato.
Essa talvez seja a mais
importante etapa de uma reforma política. Mas, sozinha, cai no mesmo dilema que
nos encontramos agora, pois ela precisa de ser composta no viés do voto
distrital e da fidelidade partidária.
O voto distrital, porque
"amarra" os candidatos a um reduto eleitoral onde se imagina que o
postulante tenha serviços prestados ou, no mínimo, um bom relacionamento com a
comunidade. Depois de eleito, o "distrito" que o elegeu saberá cobrar
os compromissos assumidos na campanha, etc.
A fidelidade partidária, por sua vez, ajuda a definir a estrutura de
ideias que o partido defenderá. Evita, sobremaneira, os candidatos
oportunistas. Evita, acima de tudo, que os partidos virem "balaios de
gatos" abrigados via COLIGAÇÃO em determinadas siglas partidárias que não
as suas, mas servem para as negociatas. A inexistência de Fidelidade Partidária
leva os parlamentares a mudarem de partidos sempre que se sentirem com seus
interesses contrariados. Porque o que importa não é o partido, mas os jeitinhos
que foram dados para que a coligação acontecesse.
Quando a fidelidade partidária
existe, as negociadas dificilmente ocorrem. Porque os partidos são obrigados a
colocar pra fora os infiéis. É a fidelidade partidária quem consolida os
partidos, embora não esteja ela atrelada ao financiamento público de campanha.
Portanto, devemos lutar por uma
reforma completa: com financiamento público de campanha, com voto distrital e
com fidelidade partidária. Sem isso tudo fica como antes. E, como dissemos, o
voto noutros candidatos será apenas a "troca do sofá" porque o amante
será o mesmo e só contará com o inconveniente que é chifrar sem sentar no sofá.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 25/05/2014
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