Por José Antonio
Taveira Belo /Zetinho
Domingo. Dia 18 de agosto. Ano - 2013. O dia amanheceu
chuvoso em toda Região Metropolitana do Recife. As goteiras caiam
compassadamente deixando aquele barulho preguiçoso. A temperatura baixou ocasionando
o uso da camisa em casa. Portas e janelas fechadas. A vitrola soava baixinho musica
instrumental das décadas de 70. O telefone toca interrompendo o silencio do
ambiente. Atendo. Engano. A rua deserta
e poucos carros circulando somente os ônibus, por obrigação circulam com poucos
passageiros. Como é intermitente a chuva, não nos deixa locomover para os
nossos passeios dominicais. Para passar o tempo, vou até o quarto (deposito)
cercado de livros, revistas, jornais (coleção do jornal A GAZETA de Bom
Conselho, minha querida terra) que tanto prezo, pois neles estão a historia da
nossa terra, principalmente os acontecimentos dos últimos vinte dois anos de
existência. Começo a remexer nos objetos que há tempo não mexia. Encontro uma caixa pequena e bem cuidada com
uns “santinhos” que a minha Tia Irmã Maria Dionísia, freira da Congregação das
Damas Cristãs. São centenas deles endereçado a minha querida mãe NEDI, de quem
era a sua conselheira. Os “Santinhos” eram enviados de várias cidades por onde
ela passou nos anos de religiosa, Campina Grande, Nazaré da Mata, Vitoria de
Santo Antão e a última de Garanhuns, durante os seus 75 anos de vida religiosa,
comemorado no Colégio Santa Sofia. Cataloguei por data desde década de 40,
expressando a maioria o desejo de feliz aniversário, feliz páscoa, feliz Natal
e Ano Novo, em outros comunicando a sua chegada em conventos para onde fora
transferida. O “santinho” do Sétimo
Centenário Nossa Senhora do Carmo – 1951 – continha a seguinte mensagem - “Salve!
Salve! Felicidades. Parabéns. Deseja-te tua irmã que muito te estima.
Religiosa. Irmã, Maria Dionísia. 21.5.1952. Em 27.12.1952 enviou o “santinho”
– Jesus Ressuscitado – com os
dizeres – Querida e boa irmã, Nedi envio-te os meus sinceros agradecimentos por
tanta gentileza me felicitando, pela passagem do meu natalício. Nossa Senhora
te recompense, aproveito para dizer-te, que no dia 29 deste, irei para Campina
Grande. Tua irmã religiosa – Irmã Maria Dionísia”.
Esta pratica benéfica e muito usada pelos Padres e Religiosas
em tempos passados em distribuir junto à população os “santinhos” foi abolida
nos tempos de hoje. Lembro-me dos “santinhos” que recebia, quando criança na
Rua do Caborje pelo Padre Alfredo. Outros eram adquiridos na loja de Gabriel e
Antonio Vieira Belo cada um com uma mensagem. Lembro-me, ainda que de posse
destes “santinhos” fazíamos um altar na sala de visita, das nossas casas, usando
caixa de sapatos, forrada com uma pequena toalha branca, dado pela minha mãe, e
em cima colocava o “santinho” adornado por flores silvestre colhidas no quintal
da casa de minha avó, Ana e de minha tia Carlinda. Diante daquele pequeno altar
fazíamos a oração do Terço e das novenas. Era uma brincadeira sadia das
crianças daquele tempo. Padre Alfredo era mestre nesta distribuição, não podia
ver alguém que colocava a mão no bolso e tirava um santinho entregando e
abençoando enquanto tomava a benção, beijando-lhe a mão e ele expressando em
sua fala mansa – Deus te abençoe! - Quando visitava as famílias normalmente ao
sair deixava como lembrança um “santinho” da Sagrada Família – Maria, Jesus e
José - também podia ser do Coração de Jesus, São Sebastião, Santo Antonio, Nossa
Senhora da Graças, Nossa Senhora do Bom Conselho, São Francisco Xavier ou
Assis, Santa Terezinha do Menino Jesus, Santa Maria Goretti e assim por diante,
não deixava nenhuma casa sem esta lembrança. Quanta alegria demonstrava aqueles
que recebiam a “santinho”, principalmente as crianças que corriam a casa para
mostrar a sua mãe – Olhe mãe, o que Padre Alfredo me deu!
Os tempos mudaram? Sim. Poucos religiosos, neste tempo de
hoje, mantém esta tradição. Hoje tudo é diferente. Não existe mais aquela
dedicação dos antigos Padres e Religiosas e Religiosos. Hoje as crianças se
dedicam a jogos eletrônicos, a filmes incompatíveis com a sua idade. Os pais já
não levam e nem incentiva os pequenos a ida a Igreja, preferem os
Shoppings. É verdade que o divertimento
é necessário para uma vida melhor das crianças tais como, passeios, praias,
parques de diversão, teatro infantil e muitas outras atividades que elevam a civilidade
desde tenra idade. Mas tem-se que plantar nos corações das crianças e dos
jovens a religiosidade, pois é dela que vem a nossa formação social e cristã.
Não podemos descuidar desta tarefa, pois faz parte da nossa vida e nós pais,
avos somos os responsáveis pelo futuro dos nossos filhos e netos.
Seria de bom alvitre,
que estas lembranças – distribuição dos SANTINHOS - junto à meninada deveriam
ser retomadas, a fim de criar a religiosidade nas crianças. As crianças neste
tempo moderno já não ligam para isto, com a ajuda dos pais e dos avós. Isto é
arcaico. É do tempo dos meus avós. Mas o que fazer? Conscientizar os
responsáveis por estas criançada e jovens para um melhor condicionamento de
vida, pois assim poderemos plantar a PAZ no coração da humanidade.