Por Zezinho de Caetés
Pensei até em criar o meu próprio blog. Depois do julgamento
do mensalão, com os resultados que agradou a todos aqueles que querem viver
numa repúlblica democrática e num estado de direito, para quem acompanha o tema
uma forma de comemoração é a escrita. Entretanto, eu fico refém dos eflúvios
editoriais da AGD (que reconheço justos) para que meus textos, ou mesmo aqueles
que gostaria de divulgar, sejam divulgados. Minha outra alternativa que é o
Mural da AGD é limitante quanto ao tamanho dos escritos e é pouco útil nestas
horas de comemoração cívica.
De qualquer forma estou enviando um texto do Marco Antonia
Villa, do O Globo de 23/10/2012, com o título “A condenação do PT”, junto com este simples nariz de cera,
esperando que seja publicado, antes mesmo de prenderem o Zé Dirceu, e minha
campanha de CADEIA JÁ, perca todo o sentido.
Leiam o texto e observem com a precisão de um bom escritor e
historiador, da qual eu estou ainda longe e me considero aprendiz, a real
história do PT. Eu diria que o PT foi pego de calças curtas ou de cuecas
(cheias de dinheiro) e isto explica todo o esforço de seus dirigentes em adiar
o julgamento e tentar aliciar membros do STF, como foi feito pelo meu
conterrâneo Lula. Este deveria vir a público e se declarar o chefe supremo da
organização criminosa, se não quiser passar à história como um grande idiota.
Minha terra já pediu desculpas demais por ele ter nascido lá. Como dizia a
Lucinha Peixoto: “Poupe-nos de mais este
vexame”. Dê-me pelo menos o prazer de não ter vergonha de ter nascido e o
conhecido na infância e de um dia, por sua influência quase ter entrado para a
organização criminosa, digo, PT. Dê-me a oportunidade de defender sua entrada
na Academia Caeteense de Letras, pelo menos por sua coragem, já que os
discursos que escreveram para você, não seriam suficientes para lá entrar.
O Brasil agora pode ter esperança de que o projeto de “macrodelinquência governamental” ainda
em curso, poderá ter um fim. Mas, para que a esperança seja maior, a justiça
brasileira não deve deixar solto o núcleo político da organização criminosa. A
forma como o Zé Dirceu vem se comportando mostra que ele deve ser preso
preventivamente, não por ser possível destruir as provas dos seus crimes, mas
porque suas palavras podem enganar os incautos e os não informados. Tenho
certeza que nos rincões do Brasil vai aparecer alguém dizendo que a prisão de
Dirceu vai acabar com o programa do Bolsa Família, como foi feito durante as
campanhas eleitorais. E isto, nós, que somos pelo estado democrático de direito
não podemos deixar jamais.
Por isso lanço a campanha CADEIA JÁ, para que esta corja que foi condenada não consiga, com
suas artimanhas, fazer o povo brasileiro acreditar em suas mentiras outra vez.
Fiquem com o texto do Villas, que mostra com letras mais belas do que as minhas,
um pequeno retrato da situação.
“O julgamento do mensalão atingiu duramente o Partido dos
Trabalhadores. As revelações acabaram por enterrar definitivamente o figurino
construído ao longo de décadas de um partido ético, republicano e defensor dos
mais pobres.
Agora é possível entender as razões da sua liderança de tentar, por
todos os meios, impedir a realização do julgamento. Não queriam a publicização
das práticas criminosas, das reuniões clandestinas, algumas delas ocorridas no
interior do próprio Palácio do Planalto, caso único na história brasileira.
Muito distante das pesquisas acadêmicas — instrumentalizadas por
petistas — e, portanto, mais próximos da realidade, os ministros do STF
acertaram na mosca ao definir a liderança petista, em 2005, como uma
sofisticada organização criminosa e que, no entender do ministro Joaquim
Barbosa, tinha como chefe José Dirceu, ex-presidente do PT e ministro da Casa
Civil de Lula.
Segundo o ministro Celso de Mello: “Este processo criminal revela a
face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a
cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder.” E concluiu:
“É macrodelinquência governamental.” O presidente Ayres Brito foi direto: “É
continuísmo governamental. É golpe.”
O julgamento do mensalão desnudou o PT, daí o ódio dos seus fanáticos
militantes com a Suprema Corte e, principalmente, contra o que eles consideram
os “ministros traidores”, isto é, aqueles que julgaram segundo os autos do
processo e não de acordo com as determinações emanadas da direção partidária.
Como estão acostumados a lotear as funções públicas, até hoje não
entenderam o significado da existência de três poderes independentes e, mais
ainda, o que é ser ministro do STF.
Para eles, especialmente Lula, ministro da Suprema Corte é cargo de
confiança, como os milhares criados pelo partido desde 2003. Daí que já
começaram a fazer campanha para que os próximos nomeados, a começar do
substituto de Ayres Brito, sejam somente aqueles de absoluta confiança do PT,
uma espécie de ministro companheiro. E assim, sucessivamente, até conseguirem
ter um STF absolutamente sob controle partidário.
A recepção da liderança às condenações demonstra como os petistas têm
uma enorme dificuldade de conviver com a democracia.
Primeiramente, logo após a eclosão do escândalo, Lula pediu desculpas
em pronunciamento por rede nacional. No final do governo mudou de opinião: iria
investigar o que aconteceu, sem explicar como e com quais instrumentos, pois
seria um ex-presidente.
Em 2011 apresentou uma terceira explicação: tudo era uma farsa, não
tinha existido o mensalão. Agora apresentou uma quarta versão: disse que foi
absolvido pelas urnas — um ato falho, registre-se, pois não eram um dos réus do
processo. Ao associar uma simples eleição com um julgamento demonstrou mais uma
vez o seu desconhecimento do funcionamento das instituições — registre-se que,
em todas estas versões, Lula sempre contou com o beneplácito dos intelectuais
chapas-brancas para ecoar sua fala.
As lideranças condenadas pelo STF insistem em dizer que o partido tem
que manter seu projeto estratégico. Qual? O socialismo foi abandonado e faz
muito tempo. A retórica anticapitalista é reservada para os bate-papos
nostálgicos de suas velhas lideranças, assim como fazem parte do passado o uso
das indefectíveis bolsas de couro, as sandálias, as roupas desalinhadas e a
barba por fazer.
A única revolução petista foi na aparência das suas lideranças. O look
guevarista foi abandonado. Ficou reservado somente à base partidária. A
direção, como eles próprios diriam em 1980, “se aburguesou”. Vestem roupas
caras, fizeram plásticas, aplicam botox a três por quatro. Só frequentam
restaurantes caros e a cachaça foi substituída pelo uísque e o vinho, sempre
importados, claro.
O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e
reacionária — é de se perpetuar no poder. Para isso precisa contar com uma
sociedade civil amorfa, invertebrada. Não é acidental que passaram a falar em
controle social da imprensa e... do Judiciário. Sabem que a imprensa e o
Judiciário acabaram se tornando, mesmo sem o querer, nos maiores obstáculos à
ditadura de novo tipo que almejam criar, dada ausência de uma oposição
político-partidária.
A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É
uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e
oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado.
O PT acabou virando o instrumento de uma burguesia predatória, que
sobrevive graças às benesses do Estado. De uma burguesia corrupta que, no
fundo, odeia o capitalismo e a concorrência. E que encontrou no partido —
depois de um século de desencontros, namorando os militares e setores políticos
ultraconservadores — o melhor instrumento para a manutenção e expansão dos seus
interesses. Não deram nenhum passo atrás na defesa dos seus interesses de
classe. Ficaram onde sempre estiveram. Quem se movimentou em direção a eles foi
o PT.
Vivemos uma quadra muito difícil. Remar contra a corrente não é tarefa
das mais fáceis. As hordas governistas estão sempre prontas para calar seus
adversários.
Mas as decisões do STF dão um alento, uma esperança, de que é possível
imaginar uma república em que os valores predominantes não sejam o da
malandragem e da corrupção, onde o desrespeito à coisa pública é uma espécie de
lema governamental e a mala recheada de dinheiro roubado do Erário tenha se
transformado em símbolo nacional.”