“Ciro e o tempo
POR MÍRIAM
LEITÃO
Ciro Gomes
chega à terceira disputa presidencial confirmando certos defeitos e algumas
qualidades. Continua sendo um atirador a esmo, como mostrou nos últimos dias
quando mirou em um vereador de primeira legislatura. O tempo não conteve seu
temperamento. Ele tem se preparado para o cargo e pode mostrar bons trunfos
como gestor, mas suas ideias econômicas permanecem com muitos equívocos.
No Ceará, Ciro
e depois seu irmão Cid, como governadores, fizeram uma revolução na educação e,
curiosamente, ele tem falado pouco disso. Hoje são inúmeras as cidades
cearenses que constam entre as mais bem avaliadas nos anos iniciais e finais do
ensino médio. Em Sobral, onde ele foi prefeito, há várias escolas com as
melhores avaliações. Esse bom desempenho se espalhou pelo estado. No
excruciante problema da educação, há um caminho que passa pelo Ceará no
fundamental, como há um caminho que passa por Pernambuco no ensino médio. Sei
de visitar escolas nos dois estados.
Na economia, o
ex-ministro da Fazenda continua confuso e com propostas mal explicadas. A ideia
que ele defende de estabelecer um teto para o gasto com a dívida é a mais
perigosa das que já defendeu nesta campanha. Segundo ele, seria um mecanismo
parecido com o que existe nos Estados Unidos. Lá quando bate no teto, como se
viu, ou o Congresso o eleva ou o governo fecha as portas. Mas o que espanta é
ele não ter entendido ainda o que é ser emissor da moeda mais desejada do
mundo, e da dívida que mais atrai investidores, e ser um país que sequer tem
grau de investimento. Ao mesmo tempo que diz que sabe que a dívida é a poupança
dos brasileiros, Ciro aproveita as entrevistas para defender a ideia, fácil e
errada, de que os juros da dívida pública são pagos apenas aos banqueiros. Foi
exatamente desse erro que o PT fugiu quando quis se tornar viável em 2002.
Tantos anos depois, Ciro comete o mesmo equívoco. Limite para pagamento do
serviço da dívida pode ser o primeiro passo para um calote.
Na Previdência,
ele não nega o déficit, mas quase. Usa números para o rombo que não fazem
sentido algum. Aliás, Ciro e números são seres que estão sempre em desencontro.
Ele os confunde e mistura, mas fala com uma convicção que quem não entende
acredita, quem entende se cansa se for discutir um por um.
Há muito tempo
ele propõe como solução fazer uma reforma na Previdência que a leve do regime
de repartição para o de capitalização. Desta vez, ele já demonstra entender que
há “dificuldades monstruosas” para essa transição. Mas seu modelo ainda não
ficou de pé.
A sua proposta
de política de preços para a Petrobras repete, sem dizer, a mesma prática do
governo Dilma. Ele quer que a estatal receba apenas a seguinte quantia: “quanto
custa produzir um litro de gasolina, mais a remuneração do investimento, mais a
depreciação, mais o lucro em linha com os competidores estrangeiros.” Ou seja,
Ciro está propondo aquilo que critica, controle de preços. Quem dirá quanto é
cada parcela do preço? O governo?
São inúmeras as
confusões que ele tem feito, mas o que é espantoso é o fato de o tempo não ter
dado a ele nem um pouco de temperança. O ataque ao vereador Fernando Holiday —
a quem chamou de “capitãozinho do mato” e do qual disse que “a pior coisa é um
negro que é usado para estigmatizar” — foi absolutamente gratuito. A jornalista
da Jovem Pan até alertou que ele falava aquilo “sem ninguém ter perguntado”.
Como ele é ex-prefeito, ex-governador, ex-ministro da Fazenda, ex-ministro da
Integração, candidato à Presidência pela terceira vez, o que o faz atirar
gratuitamente em um iniciante na política e nestes termos?
Há analistas
que consideram que Ciro nunca teve tantas condições, como agora, de disputar de
forma competitiva a Presidência da República. Outros acham que ele não mudou e
continuará sendo o seu maior adversário. Nesta pré-campanha ele tem confirmado
a segunda visão. Cid Gomes, cuja principal função é apagar os incêndios do
irmão mais velho, disse que o Brasil quer alguém assim “franco e sincero”. É
uma versão. A verdade é que a maturidade chegou em vão para Ciro Gomes.”
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