“O resgate da
confiança
Por José Renato
Nalini
Na visão de
Sérgio Abranches e de outros pensadores atuais, as três angústias que afligem o
homem contemporâneo são a destruição do meio ambiente, a falência da democracia
representativa e as ameaças da 4.ª Revolução Industrial. Todas graves e
urgentes. Todas capazes de acabar com a vida no planeta. Pelo menos a vida como
acreditamos que ela seja ou deva ser. Só que uma delas tem um encontro marcado
com a nacionalidade: as eleições de 2018, para este triste país chamado Brasil.
A política
partidária desgastou-se de tal forma que atingiu deterioração inimaginável.
Hoje, quem tem coragem de se dizer político parece estar assinando um atestado
de corrupto. Generalizou-se o que todos os partidos fizeram, enlameando-se ao
confundir o público e o privado, apoderando-se de dinheiro do povo e
aprofundando a iníqua desigualdade social, que se agravou nos últimos anos.
Ninguém saiu ileso. Respingou a dúvida em desfavor dos poucos honestos que
ainda são encontrados nos quadros eleitorais.
Como devolver à
população a esperança de que a política partidária continue a ser a fórmula
adequada para estabelecer um convívio solidário? Não é fácil, mas não
impossível.
Para isso é
preciso ter coragem. Muita coragem, o que não é apanágio de tantos. Enfrentar
os temas polêmicos. Com firmeza e sem receio de ser politicamente incorreto.
Ninguém mais suporta a tergiversação. As pessoas têm nojo do populismo.
Principalmente do populismo brega, da mediocridade, do aproveitamento vulgar de
tudo o que possa parecer simpático ao eleitor e é utilizado por quem nunca se
preocupou com os temas nevrálgicos, mas quer agora aparentar sensibilidade.
Coragem para
dizer a verdade. Destemor para ser franco.
Mas mentir é
mais fácil. Omitir-se também é uma tática em voga. Ficar na platitude, repetir
chavões, dizer o que o auditório quer ouvir. Variar o discurso conforme a
plateia.
Não dá mais para
esse jogo. Haverá saída?
O caminho só
pode ser o que não se espera dos camaleões. Expor-se. Ousar. Ser audaz. Dizer a
que veio. Fazer escolhas. Definir-se. Não se iludir com a espera da unanimidade.
É melhor o não com clareza do que o talvez ambíguo. Não há partido
incorruptível. Toda instituição humana é suscetível de acolher seres humanos
com fissura de caráter. Mas condenar o adversário e ocultar as faltas dos
parceiros é ignominioso. Impõe-se pedir perdão pela cegueira, por haver-se
entregado a praxes hoje inadmissíveis. Aceitar o erro da omissão ou da
imprudência de ter navegado nas águas turvas da quase ilicitude. Uma postura de
dolo eventual: aceitar o risco de se expor. Conviver cercado de pessoas que não
mereciam confiança. Tudo em nome de coalizões nefastas.
Mas a população
séria quer muito mais.
Assumir o
compromisso de reduzir drasticamente o número de partidos. Uma República de 40
partidos é uma falácia democrática. Acabar com o Fundo Partidário: que o
partido seja sustentado por seus filiados. Interromper a sanha irresponsável da
criação de mais entidades federativas. Frear o crescimento desenfreado da
máquina pública.
Contar a verdade
sobre a Previdência, que mais dia, menos dia - e isso está mais próximo do que
se imagina - deixará de honrar proventos e pensões. Pois o Brasil real não cabe
no PIB. Muito delírio, muita mentira, muita pretensão desancorada de encarar um
quadro tétrico: a recessão brava, a estagnação, o desemprego crescente. Não se
previu o tsunami da modernidade e nossa indústria perdeu o rumo da inovação. A
educação não foi levada a sério por todos os responsáveis, não só pelo governo.
Até porque o timing do governo é o da próxima eleição, incapaz de imaginar o
que deva ser uma geração adiante da sua.
A população que
não está pronta para a mutação estrutural que ciência e tecnologia trouxeram -
e já alteraram o que se acreditava estável e permanente - é a mais penalizada.
Ainda acredita em diplomas, em cursos universitários de profissões que serão
descartadas. E já o são, sem que grande parte dos interessados o perceba.
O próximo
presidente, o próximo Congresso, os Legislativos estaduais não terão condições
de resolver a tragédia nacional. Mas poderão mostrar que o Brasil tem jeito. E
esse jeito não se pode afastar da verdade. Nunca houve uma conjunção de fatores
adversos tão sérios e comprometedores. Atraso tecnológico, paralisação da
produtividade, violência em ascensão na mesma proporção do desânimo e
desesperança.
Quem teve
condições procurou abrigo no Primeiro Mundo, num êxodo inverso ao das correntes
migratórias que tanto desenvolvimento trouxeram para o Brasil pós-abolição.
Uma
responsabilidade enorme recai sobre os próximos governantes. Não se espere que
em quatro anos haja reversão do caos. Mas a sinalização de que gente séria
assumiu o leme já seria suficiente para conquistar quem não pode sair do Brasil
e gostaria de encontrar estabilidade, paz e condições de viver dignamente neste
chão em que nasceu. Conscientizem-se disso e abandonem a obsoleta e necrosada
fórmula de fazer política. Chega de discurso. Chega de promessas vãs.
Sem isso, nas
próximas eleições o espaço estará aberto para a aventura. Para o inesperado e
para o temerário. Não se deve correr esse risco. Pode ser a derradeira
oportunidade de se garantir o sonho de nação desenvolvida. De se cumprir a
promessa do constituinte de 1988, ao acenar com uma pátria justa, fraterna e
solidária.
Sem que se
admita a falência da democracia representativa neste Brasil que já não crê em
nenhum mandatário, sem que as máscaras sejam arrancadas e permaneça
exclusivamente o ser humano em cotejo com a sua vontade de encarar a verdade,
não haverá futuro decente no horizonte.
O grande eleitor
de 2018 será o medo. E o medo não é bom conselheiro.
Não paguemos
para ver.”
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AGD
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