“Infortúnios
políticos
POR JOSÉ ANTONIO
SEGATTO
Há momentos em
que a História parece repetir-se, reavivando vestígios e elementos do passado.
Muitas das ações e proposições histórico-políticas, incluídas as extemporâneas,
insistem em sobreviver, em prosseguir influenciando e direcionando a
intervenção de organizações, movimentos, protagonistas. Karl Marx, ao analisar
o fardo de determinadas ideologias e práxis pretéritas no presente, lembrou
certa feita que, em muitos casos e ocasiões, “a tradição de (...) gerações mortas
oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”; e posteriormente completou, ao
advertir que “somos atormentados pelos vivos e, também, pelos mortos”.
Uma amostra
indicativa desse fenômeno pode ser situada na conduta do Partido dos
Trabalhadores (PT) na atual conjuntura. Suas ações e retórica apresentam
aproximação e mesmo equivalência às do Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos
anos 1948-54. Em 1945, no bojo do processo de democratização, o PCB conquistou
a legalidade e transformou-se num partido de massas e de caráter
nacional-popular. Chegou a ter 200 mil filiados, adquiriu um porcentual
eleitoral significativo, criou uma imprensa com diversos jornais e revistas,
conquistou o apoio de extensos setores do proletariado urbano, das camadas
médias e da intelectualidade. Fez-se presente na luta pela democracia com uma
política de “união nacional, dentro da lei e da ordem, para a consolidação
democrática”, assentada num “regime republicano progressista e popular”, como a
definiu seu então venerável líder, Luís Carlos Prestes.
O período de
legalidade foi, no entanto, curto – os reflexos da guerra fria, juntamente com
as pressões de forças conservadoras, acarretaram a ilegalização do PCB (1947).
Clandestino e perseguido, isolou-se e adotou uma política sectária, de
confrontação e desdém pela liberal-democracia. Enformado por um marxismo
dogmático e vulgar, retomou o projeto nacional-libertador com apelo
insurrecional. Com uma retórica estridente e intolerante, passou a insultar os
adversários chamando-os de “agentes do imperialismo” e/ou “do latifúndio”,
“direita fascista”, “traidores do povo”, “vendilhões da pátria”, “escribas da
imprensa reacionária”, “lacaios da burguesia”, além de outros termos
desabonadores. Essa política começou a ser superada em meados dos anos 1950,
quando iniciou um processo renovador – sob os influxos da desestalinização da
URSS (1956) – que o levaria a valorizar a democracia, a ação política
institucional e a via pacífica para o socialismo.
Fundado na luta
contra a ditadura, o PT, por sua vez, foi constituído por segmentos sociais
diversos. Generosamente amparado pela mídia, sua política se fundamentou,
inicialmente, num radicalismo liberal (contra o Estado), no corporativismo de
resultados e no exclusivismo partidário (rejeição de alianças e autoafirmação).
Na passagem dos anos 80 para os 90, experimentou metamorfose significativa:
incorporou concepções nacional- desenvolvimentistas de base estatal, absorveu
contingentes consideráveis de membros da burocracia pública, acomodou-se às
vantagens do sindicalismo corporativo, passou a flertar com setores insignes do
empresariado, aproximou-se do castrismo e, posteriormente, do bolivarianismo e
encetou um projeto de poder. A seguir, alçado ao poder central, governou com um
consórcio de partidos fisiológicos e patrimonialistas, por meio da partilha do
aparato estatal e de seus proveitos, da cooptação de entidades e movimentos e
de políticas públicas clientelistas – sua identidade de esquerda e seu
protagonismo impetuoso foram substituídos pelo pragmatismo e pelas
conveniências políticas momentâneas.
No momento em
que esse arranjo de poder entrou em crise e o PT foi dele excluído, seus
dirigentes e militantes, adjuntos e satélites passaram a vituperar os coligados
de véspera. Consternados com a destituição do mando, com a autuação de líderes
acusados de mercadejar e/ou se apropriar de fundos públicos, com a corrosão de
sua credibilidade e com a redução de sua capacidade mobilizatória, reanimaram
seu peculiar instinto de animosidade contra os valores, normas e instituições
democráticas. Seu vezo persecutório foi extremado com ataques à Justiça
(facciosa, a serviço do imperialismo), à imprensa (burguesa, monopolista), ao
Congresso (golpista), aos liberal-democratas (neoliberais, direitistas), etc.
Com oratória ruidosa, desferiram impropérios de todo tipo contam os que ousaram
e ousam não pensar como eles. Para os petistas, esses atos se justificam, pois
estamos vivenciando um verdadeiro estado de exceção. A condenação e a prisão de
seu “grande líder” – convertido em redentor – haveriam, disseram petistas, de
provocar uma comoção inédita no País, com resultados imprevisíveis, que poderia
até despertar ímpetos sediciosos em devotos e/ou correligionários e em
movimentos populares que, com seus “exércitos” de sem-terra e sem-teto,
incendiariam o Brasil.
Essa conduta
política rebelde e intolerante parece não ter encontrado ressonância na
sociedade – indicativo disso foi a considerável perda de votos e de
representação nas eleições municipais de 2016. É também nítido o decréscimo de
seu poder mobilizador e de sua faculdade de persuasão político-ideológica, além
de ter reduzidas sua inserção e sua influência na sociedade civil e política.
Guardadas as
devidas diferenças de época histórica e as particularidades político-
ideológicas, bem como de formação e composição de cada um dos partidos em foco,
fato é que o PT parece reencarnar muito dos fundamentos da práxis comunista e
de sua cultura política, absorvendo concepções e práticas, palavras de ordem e
gritos de guerra remotos. Mas se essa política já havia evidenciado seu
anacronismo há cerca de sete décadas, sua exumação e concretização no presente
é um mero simulacro de um passado infausto.”
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AGD comenta:
Só tenho um comentário relevante, além de
elogiar a precisão do texto acima quanto as atitudes petistas recentes: “PT,
saudações!”.
Para completar a obra de comparação com o
nosso Partido Comunista, que hoje tem de tudo, menos comunistas, só falta o TSE
declarar o PT impróprio para um Democracia séria, na qual o Brasil sonha em se
tornar. Motivos não lhe faltam.
Com seus dirigentes, inclusive o “poderoso
chefão”, o Lula, no centro da ladroeira e da corrupção, e agora preso, não dá
para pensar que este partido continue a disputar cargos em quaisquer dos
poderes da República, se quisermos manter a Lei, pelo menos um pouco.
Penso eu, que, hoje, comparar os petistas
com comunistas é até um pouco descabido pelo que existe hoje de comunismo no
mundo.
A não ser na Coreia do Norte, não se pode
falar mais de comunismo. Mesmo assim, “o menino nuclear”, cujo nome não sei nem
escrever, está procurando, por todos os meios, achegar-se do capitalismo do seu
vizinho do Sul. E acabou o comunismo no mundo. Este pesadelo de minha geração,
que os pobres cubanos tentam manter, pelo menos até que morram os Castros.
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