“As celebridades
do STF
O Estado de S. Paulo
Ao custo anual
de R$ 374,6 mil para os cofres públicos, os ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) dispõem de um espaço especial na área de embarque do Aeroporto
Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, informa o jornal O Globo. Com
a nova benesse, os ministros da Suprema Corte não precisam se juntar aos demais
passageiros na hora de embarcar, como ocorria antes, quando contavam com uma
sala vip no aeroporto. Agora, o STF tem não apenas uma área reservada para seus
ministros, mas há um procedimento de embarque exclusivo. Acham melhor não se
misturar com o povo. Contato com o populacho, só por intermédio das ondas
esterelizadoras da televisão e do rádio oficiais.
Do espaço
alugado pelo STF, uma van leva o ministro até o local da aeronave, e o embarque
é feito por uma escada lateral no finger. O procedimento “está relacionado à
segurança dos ministros”, informou a assessoria do tribunal.
Certamente, há
outros meios de prover a segurança dos ministros no Aeroporto de Brasília que
não seja esse alijamento do contato com o público. Basta pensar que, se fosse
estritamente necessário para a segurança pessoal dos ministros, o Supremo teria
de providenciar uma mordomia semelhante em vários aeroportos do País.
Mais do que
segurança, esse afastamento do público assegura o lenitivo de não ter de lidar
com passageiros malcriados na fila de embarque. Os ministros ficam ainda
sujeitos, é verdade, a alguma provocação durante o voo, mas certamente deve
estar em estudo no STF alguma medida para eliminar esse risco residual. A
notoriedade alcançada pelos ministros da Suprema Corte tem o seu custo – e é o
contribuinte que está sendo chamado a pagar o preço.
A área especial
no Aeroporto de Brasília custa mais de R$ 30 mil por mês no orçamento do Poder
Judiciário. Dada a natureza do serviço, o valor não é exorbitante. Já se sabe
que oferecer tratamento de celebridade nunca é barato. O exorbitante é que o
STF se proponha a oferecer esse mimo aos seus ministros à custa do dinheiro da
população.
Em vez de
agregar novos serviços e novos custos ao orçamento do Judiciário, não faria mal
que o Supremo reavaliasse por que seus ministros se tornaram celebridades – e
nem sempre simpáticas e populares. Se o trabalho no STF confere aos ministros
tal notoriedade, a ponto de ser necessário protegê-los do contato com o
público, certamente há algo nesse trabalho que está desajustado.
A missão da
Justiça, especialmente do Supremo, é trazer paz aos conflitos e às demandas
sociais. As decisões do STF devem amainar os ânimos, e não exaltá-los. Não há
dúvida de que os julgamentos de uma corte constitucional podem desagradar a uma
parcela da população. Isso, no entanto, não transforma os ministros do Supremo
em protagonistas de reality shows.
Em países
desenvolvidos, os integrantes de uma corte constitucional são simplesmente
juízes. Podem circular pelas ruas, sem provocar maiores animosidades. E suas
prerrogativas e direitos já são muito generosos. Nos Estados Unidos, por
exemplo, apenas o presidente da Suprema Corte tem direito a motorista.
Para a segurança
dos ministros do STF é urgente rever as razões do protagonismo de integrantes
da Suprema Corte. E a responsabilidade por essa situação não é a cobertura
televisiva das sessões do STF, como às vezes se alega. Atualmente, há ministros
do STF que, mesmo com toda a exposição pública que traz a TV, não se
transformaram em estrelas públicas, já que atuam em consonância com o caráter
austero e colegial do tribunal.
E se os
ministros do STF precisam ter uma área especial no Aeroporto de Brasília, por
que os do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Tribunal Superior do Trabalho
(TST), do Superior Tribunal Militar (STM) e do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) também não devem ter? E ministros, deputados e senadores, e por aí vai. A
isonomia de tratamento aconselharia, assim, uma urgente ampliação dos
aeroportos. Os atuais são pequenos para comportar toda a gama de autoridades
que não podem estar junto do povo.”
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AGD
comenta:
Um
simples comentário para auxiliar na sensatez do editorial do Estadão acima transcrito.
Quando ele pergunta no final: “E
se os ministros do STF precisam ter uma área especial no Aeroporto de Brasília,
por que os do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Tribunal Superior do
Trabalho (TST), do Superior Tribunal Militar (STM) e do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) também não devem ter?”. Eu
complementaria a pergunta, com mais uma: “Por que não eu!”
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