Em manutenção!!!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Ainda os encontros em Bom Conselho


Bom Conselho - PE (Véspera de ano - 2013)


Por Zé Carlos

Em texto anterior disse que havia ido à redação da A Gazeta, quase homônimo deste meu blog que cismo em manter para que Bom Conselho fique informada, e que é jornal escrito da cidade sob a batuta do Luis Clério. Seria uma visita rápida e nem aceitei o lauto café, pensando que iria sair logo. Como se isto fosse possível.

Sempre que faço esta visita encontro outras pessoas lá e desta vez não foi diferente. No início estava apenas o Naduca. Eu não sei a idade do Naduca, mas, pelo tempo que o conheço, na mesma forma física, firme e forte, eu diria apenas que ele tem mais de 50 anos, embora, ficasse com vontade de perguntar sua receita para mantê-la. Foi um encontro fortuito e programado ao mesmo tempo, por ser ele habitué do segundo mais famoso cafezinho da cidade. O primeiro, dizem quem o frequentou era o da casa do Coronel Zezé. Eu penso que, mesmo faltando um coronel, isto não é problema porque o Naduca tem uma pinta danada de coronel. Talvez só falte o Tenente Raul, para ficar mais parecido com o cafezinho do Coronel.

Conhecia mais a mãe do Naduca do que ele, e falamos a respeito dela, Dona Júlia, que os maldosos acrescentavam um adjetivo (pimenta), por ela ser uma mulher forte e destemida. Sofri várias vezes o seu ardor por ter a minha bola penetrado em sua casa em muitas ocasiões. Ela sempre ameaçava, se caísse outra vez ela não devolvia. Íamos jogar mais longe da casa dela, mas depois tudo era esquecido, e lá vai outra vez a bola casa adentro, mas, ela sempre devolvia.

Lembro outro episódio com Dona Júlia, e longe de sua casa, quando tinha uns 5 ou 6 anos de idade, e morava ainda na Praça Lívio Machado, de saudosa memória, e depois de vestir um terno de tropical, feito por Antônio da Tupi, cuja alfaiataria era quase vizinha à minha casa. Depois de minha mãe me vestir, eu, querendo ser um rapaz, fiz a proeza de calçar o sapato sozinho. Achei um pouco desconfortável no início, mas, fui em direção à Igreja Matriz. Até quando encontrei Dona Júlia no meio da praça e ela olhou para mim e disse: “Meu filho, você tá muito bonitinho mas calçou o sapato errado!”. Olhei para os meus pés e parecia um marreco com os sapatos trocados. Corri para casa e depois de levar uma bronca da minha mãe ela fez o certo. Como é bom relembrar, mesmo que seja de coisas do passado distante, pois o passado próximo já custa a lembrar, em nossa idade.

Quando já tentava ir embora, vi que isto seria impossível, pois chegou o Zé Tenório. Zé não precisaria nem falar, para que me lembrasse de uma série de coisas. No entanto, quem disse que ele pode ficar sem falar? E aí as lembranças vieram de montão. Hoje formamos quase uma família estendida porque seu irmão é casado com uma irmã minha e tem dois filhos que têm Cordeiro Tenório como sobrenome, mistura que ele disse produzir as maiores inteligências de mundo. Tive que concordar já que minhas filhas são Tenório Cordeiro, e também é uma boa mistura.

E são tantas as emoções ao relembrar dos meus tratamentos de dente com ele, e dizer que ainda tinha obturações feitas por ele há mais de 50 anos. Sempre foi um grande profissional e um amigo. Foi um grande prazer encontrá-lo e rememorar os acontecimentos de nossa infância e adolescência. E mesmo da época já de adulto quando ele mencionou as virtudes oratórias do meu tio Geraldo Cordeiro. Realmente, era um bom orador, embora, certas vezes, parecesse o Professor Astromar, que falava palavras bonitas, era aplaudidíssimo, mesmo que os ouvintes não entendessem nada. Conversaríamos mais um dia ou dois sem esgotar os assuntos, mas, as viagens de turista que faço hoje a minha terra não permitem. Quem sabe um dia?

 Mesmo assim, terminei ficando por lá, até o por do sol. Depois fui encontrar minha mulher que já estava preocupada com meu sumiço. Talvez ela pensasse que eu teria me perdido pelo caminho, e com razão. Bom Conselho cresceu tanto que já é possível me perder dentro dela. Isto, se não houvesse outros encontros para nos orientar. Mas, sempre encontramos  alguém que nos orienta, de forma fortuita ou programada.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

UM CONTO DE NATAL DIFERENTE.




Por Carlos Sena (*)

Joel passou a noite de natal dormindo num banco de praça. Ele era um rapaz tímido que Residia na bela cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. De vida pacata, limitava-se a estudar a noite e trabalhar durante o dia como coletor de maçãs numa imensa plantação nos arredores. Certa manhã, quando estava em plena colheita, um grupo de turistas adentra na fazenda – prática bastante conhecida no sul para que os turistas conheçam as plantações e todos os cuidados que se devem ter no cultivo das maçãs. Foi aí que Joel foi surpreendido com os olhares insinuantes de Jéssica. Linda moça. Olhos azuis, loira, alta e elegante, a moça se aproximou de Joel e lhe deu “bom dia”. O rapaz até pensou que nem fosse pra ele. Chegou a olhar pra trás, tamanha foi a surpresa de ver aquela moça linda lhe cumprimentando.  Não bastando o cumprimento, Jéssica chegou perto de Joel e apertou sua mão olhando fundo dentro dos seus também lindos olhos verdes. Joel era daquele tipo meio grego muito comum naquelas regiões. As “maçãs” do rosto eram proeminentes e seus lábios vermelhos que até se poderia pensar que era algum tipo de maquiagem.

No final da visita, Jéssica não se fez de rogada. Chegou perto de Joel e lhes deu um papel com o nome do hotel em que se encontrava, bem como um numero de telefone celular e o dia em que ia embora da cidade. Joel ficou sem entender, pois, certamente, como moço simples, não tinha consciência de que era possuidor de tanta beleza. Beleza que foi capaz de deixar a moça completamente apaixonada. No dia seguinte, surpresa: Jéssica nem esperou pela possível “visita” de Joel, simplesmente apareceu de novo lá na plantação de maçãs em que o rapaz trabalhava. Ele corou. Desconcertou-se diante da moça, principalmente porque não tinha a consciência de que se tratava de uma paixão, mesmo um simples namoro. Algo como a princesa que se apaixona pelo plebeu. De tanto insistir, Jéssica consegue a duras penas que Joel fosse ao seu encontro na pracinha da cidade que ficava perto da igreja matriz. Joel era simples, mas não era burro. Logo se entregou àquela aventura que entrara na sua vida como um “presente de natal”. Desse encontro, Jéssica se desvencilhou da excursão e ficou com Joel em plena lua de mel. Faltava menos que uma semana para o natal e os dois se prometeram passar juntos. Ele prometeu a Jéssica que iria lhe mostrar o natal luz de Gramado que o Brasil inteiro admira e quer ver. Viveram dias tão intensos que Joel muitas vezes perdia o sono e se tocava para saber se aquilo que estava vivendo não era um sonho. Aproximando-se o natal, Joel se sentiu na obrigação de levar a sua “princesa” para a ceia de natal em sua humilde residência. Conversou com seus pais e irmãos e todos ficaram sem saber o que fazer, pois moravam no sítio em casa humilde e sem conforto. Mas, Joel, quis cumprir o prometido. Pediu um adiantamento de dinheiro ao seu patrão na fazenda e fez uma boa feira. Mandou dar uma pintura na casa, comprou uma TV de Led e até uma mesa nova ele adquiriu à prestação. Por outro lado, Jéssica, diante do convite do seu “amor dos olhos verdes” – assim era como ela o chamava, ficou entusiasmada para conhecer a família do seu amor. Foi com ele e comprou diversos presentes de natal para a família de Joel que, por sua vez, estava preocupado com a recepção que seus familiares dariam a sua “princesa”. Naquele ano, o natal coincidiu com uma sexta-feira, ou seja, um feriadão estava para acontecer e de forma esplendorosa na vida do jovem e pobretão rapaz.

Na quinta-feira, antevéspera de natal, os dois jantaram num chique restaurante gaúcho, regado a um bom vinho e com direito a luz de velas e tudo mais. Foi no restaurante, jantando, que combinaram a hora de ir apanhar Jéssica no hotel rumo ao sítio de Joel: 18 horas! Joel alugou um táxi para conduzir sua namorada até a casa de seus pais, onde residia num sitio a 20 km de Gramado. Antes de tudo, ligou para os seus pais e procurou saber se tava tudo em ordem para a ceia de natal. A primeira ceia de sua vida tão cheia de simbolismos e romantismos para o jovem, apaixonado e belo rapaz. Joel não sabia o que o destino ainda lhe reservara: no horário combinado com a namorada, chegou de táxi e foi ligar para o quarto de Jéssica. No balcão, o atendente do hotel lhe entregou um bilhete com os seguintes dizeres: feliz natal! Não me queira mal, mas tive que partir. Você é um rapaz muito belo, mas eu não pude seguir além de tudo que vivemos tão intensamente. Não sou do seu plano espiritual e, embora sabendo que você não acredita, eu vim em missão especial e tenho que voltar... Quem sabe no outro lado da eternidade a gente não volta a se encontrar. Após a leitura do bilhete, Joel dispensou o taxi e se sentou no banco da pracinha que os dois se encontraram no primeiro dia. Atordoado, Joel não sabia o que fazer. Também não atendia às chamadas do celular feitas por seus familiares preocupados com a demora. Joel ficou ali, naquele banco solitário. Consigo apenas os pensamentos e as tentativas de compreender aquele bilhete tão carregado de mensagens complexas de cunho espiritual. Já perto da meia noite, um mendigo chegou perto do banco em que, sozinho, Joel conversava consigo mesmo. “Boa noite, meu jovem”! Joel olhou de soslaio para o mendigo, mas, nada respondeu. Fique calmo, disse o mendigo. Você parece preocupado, mas não se esqueça de que tudo tem um sentido na vida, como também, tudo tem seu tempo. Lembra-se da passagem bíblica que diz “há tempo de plantar e de colher”? Pois é, meu jovem. Hoje, véspera de natal, você está sendo convidado a plantar. Depois, se o plantio for bem feito, você colherá fartamente para saciar sua fome e sede de sabedoria. Eu já vou. Como você ios vê, esse é meu destino: chegar sempre na hora certa perto das pessoas desesperadas, decepcionadas com a vida. Joel, que estava cabisbaixo, decidiu olhar em volta e... O mendigo havia sumido e um rastro de luz ficou em seu caminho feito fumaça... Ali mesmo, no banco da praça, Joel adormeceu e amanheceu. Acordou com o gari varrendo a praça. Saiu por ali sem saber direito para onde ia. No seu celular inúmeras chamadas dos seus familiares que estavam também, sem dormir, por não saberem o que acontecera com Joel. Seguiu o jovem rapaz cabisbaixo, “chutando lata” rumo ao sítio onde morava. Seus familiares ficaram boquiabertos sem saber o que dizer diante do acontecido. Como se tratava de pessoas católicas, logo se esboçou raciocínios tipo: coisa de satanás, do demo. Vamos mandar rezar uma missa. Pode ser uma alma penada!

O tempo passou e depois daquela noite a vida de Joel não era a mesma. A saudade de Jéssica era dolorida. Seu corpo mais parecia ter levado uma surra. Meses depois, ele ainda se assustava com as ligações do celular, pois imaginava que a qualquer momento Jéssica iria lhe ligar. Passados cinco anos, ele foi aprovado num concurso publico para a cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Lá conseguiu se desvencilhar um pouco mais daquela grande decepção. Decepção? Ele já conseguia ter dúvidas acerca do ocorrido e tinha condições de compreender as possibilidades de ter sido mesmo uma “coisa do outro mundo” em plena noite de natal. Já cursando faculdade de Gastronomia – ramo que gostava muito – conheceu várias outras garotas. Nenhuma, contudo, lhe teria mexido tanto quanto Jéssica. Certa noite teve um sonho sintomático: um anjo lhe chamado para conhecer um centro espírita que ficava ali, pertinho do seu trabalho. Contudo, não deu muita importância ao sonho. Imaginou que fosse ainda o seu inconsciente querendo se libertar do trauma vivido em Gramado. Recorrente, o sonho voltou a lhe “perturbar” por várias outras noites. Finalmente, passando pela calçada o centro espírita de Bento, recebeu um folheto do centro espírita contendo todas as programações: dia de estudo bíblico; dia de doutrinamento, reunião pública, consultas, água fluidificada, etc. Conversando acerca disso com uma colega de trabalho a mesma lhe disse que frequentava aquele centro e que se ele topasse ela iria com ele a uma reunião. Duas semanas depois, Joel estava lá, com sua amiga assistindo a sua primeira reunião doutrinária Cardecista. Saiu encantado e sentiu, durante a reunião, um “peso” muito forte em suas pálpebras. Sonolento, Joel ficou  meio “grogue” e, em segundos, viu em sua tela mental a imagem de Jéssica. Suou frio. Seu semblante ficou extremamente transfigurado – misto de medo com desconfiança daquilo tudo que lhe era tão novo.

Em casa, ficou pensativo. Dormiu pouco diante da imagem de Jéssica que, rapidamente, povoou sua tela mental. No dia seguinte conversou muito acerca da doutrina e do que havia sentido no centro espírita. Gradativamente a doutrina espírita foi se infiltrando na vida de Joel. Ele foi se imiscuindo nas programações e, belo dia, foi convidado  pelos mentores da casa para participar das reuniões doutrinárias. A partir de então, descobriu que aquele era seu caminho, pois só através da doutrina espírita havia encontrado explicação para uma série de coisas da sua vida, inclusive acerca daquele malfadado natal.

Conhecido nas redondezas, pelas comunidades espiritistas, Joel, aos poucos, se notabiliza como orador espírita dos melhores.

Certa feita, numa seção mediúnica, ele consegue através do mentor espiritual Emanuel, que era o patrono do centro, uma “conexão” com espíritos amigos que lhe conduziram para uma “viagem” a outro plano. Nessa “viagem” Joel, finalmente, consegue a explicação para aquele triste natal que quase o fez perder o juízo. Conseguiu, entrementes, compreender que Jéssica em outras vidas teria sido ele mesmo que, numa véspera de natal, teria deixado sua namorada num quarto de hotel a espera dele em pleno natal.  Portando, não foi difícil para Joel entender que estava “pagando” com a mesma moeda. Teve a certeza de que ele, em outras vidas, abandonou uma jovem moça bonita que ficou a sua espera numa véspera de natal. Pior: a moça que na outra encarnação esperou por “Joel” suicidara-se! Isso se converteu num débito muito alto a ser pago em outras encarnações...

Quando a cessão mediúnica terminou Joel, cansado, extasiado, deitou em sua cama solitária e dormiu profundamente. No dia seguinte, leve, sentiu que seu “ciclo” de vida tinha se completado. A partir daquele dia, sua vida seguia mais definida. Completou seu curso universitário e foi passar o natal, cinco anos depois, com sua família lá no sítio em Gramado. Levou consigo sua nova namorada Aline. No jantar de natal, noivou diante da família e deixou marcado o casamento para o natal do ano seguinte...

Ps.: Qualquer semelhança com a realidade não será mera coincidência.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 12/12/2013


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A ministra boquirrota e o palanque em Davos




Por Zezinho de Caetés

O texto que transcrevo a seguir, do jornalista Sandro Vaia (“Elementar, minha cara Watson” – Blog do Noblat – 24/01/2014) aborda alguns eventos que ocorreram partindo das bocas do governo, lembrando do detetive inglês Sherlock Holmes, que era muito conhecido pelo seu “faro” em solucionar os casos policiais a ele indicados. No caso, ele apresenta a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, como personagem principal.

Para ser franco, eu nunca vi uma pessoa tão boquirrota quanto esta ministra. E o pior de tudo é que, quase sempre, está errada sobre o que fala. Logo no início do governo a Dilma demitiu uma porção de ministro por fazerem “malfeitos”. Apesar de que todos continuem fazendo a mesma coisa de onde estão, a presidenta levou a fama de “faxineira” que tanto fez manter sua popularidade. Eu perguntaria, se andar falando asneiras em nome dos Direitos Humanos não é um grande malfeito.

Somente pelos casos citados pelo jornalista, não era nem preciso a ministra ser demitida, e sim deveria pedir demissão, que deveria ser aceita imediatamente. Imaginem um país defender os Direitos Humanos a partir de inverdades e boquirrotice deslavada. Seria um escândalo se não estivéssemos no Brasil governado pelo PT, que poderia significar o Partido da Treta (palavreado para iludir, enganar, segundo o Houaiss).

Fugindo um pouco do assunto do texto, mas ficando com as tretas petistas, vocês viram a participação da Dilma em Davos? Meu Deus que vexame para o mundo e vergonha para o Brasil. Eu nunca vi tantas tentativas juntas para iludir e enganar o gringos do olhos azuis, como dizia Lula, ainda o papa dos petistas. Dizer que a inflação está controlada no Brasil é quase uma ato de insanidade ou de alguém que nunca foi a um supermercado ou a uma feira livre. Brevemente teremos manifestações dos bolsistas familiares para aumentar o ganho, e, neste ano eleitoral, é bem possível que seus ganhos aumentem. Se isto acontecer, fatalmente, a Maria do Rosário vai incriminar quem pelas manifestações? Talvez o FHC.

Além disso, a presidenta tentou convencer os gringos que a situação fiscal do governo era ótima, quando todos já sabiam de sua “contabilidade criativa”, mudando o nome dos gastos para justificar a gastança. Como neste mundo tem bobo para tudo, mas, nem todos são bobos, o que restará é a desconfiança dos investidores estrangeiros de forma mais acentuada. Certamente, a presidenta fez apenas o que faz quase todos os dias aqui dentro do Brasil mesmo: armou o palanque em Davos.

Será que a ministra dos Direitos Humanos não verá neste palanque um estupro da verdade? É difícil. Sua boquirrotice só funciona a favor.

Fiquem com o Sandro Vaia, sobre os delírios da ministra, que eu vou no supermercado, quem sabe, estocar alimentos como já fiz antes do Plano Real, o verdadeiro distribuidor de renda neste país, que a inflação ameaça comer.

“A secretária dos Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, é uma personagem bastante peculiar. Como aquele neurótico Sherlock Holmes contemporâneo da série de TV “Elementary”, chega sempre alguns quilômetros antes dos fatos, deduz e decreta suas verdades antes que as provas as confirmem.

Com uma diferença: esse Sherlock moderno, antipático e arrogante, acerta quase sempre as suas deduções, por mais rocambolescas que sejam, e a ministra dificilmente dá uma dentro.

A primeira vez foi quando houve uma corrida a bancos no interior do Nordeste num final de semana porque alguém teria espalhado o boato de que o Bolsa Família ia acabar, e as pessoas tentaram se precaver fazendo saques em massa.

Antes de saber o que tinha acontecido, a ministra Sherlock sacou de sua lupa, examinou e, através do Twitter, deixou de lado o bom senso e as boas regras da concordância, e decretou : ”Boatos sobre o fim do bolsa família deve (sic) ser coisa da central de notícias da oposição”.

Quando a Caixa Econômica Federal informou que tudo havia sido provocado por um erro de seu próprio sistema operacional, a ministra Sherlock saiu de fininho e não reconheceu nem ao seu caro Watson - no caso da série moderna, a sua cara Watson, já que o sábio doutor virou mulher - que tinha cometido uma gafe elementar.

Agora a ministra saiu correndo na frente dos fatos novamente.

Todo mundo conhece a história: um jovem chamado Kaíque Augusto, homossexual de 17 anos, foi encontrado morto nos baixos de um viaduto no centro de São Paulo, e alguém viu no caso, antes que a polícia se manifestasse oficialmente, um bárbaro crime de ódio homofóbico.

Que militantes de uma causa saiam a clamar vingança antes de certificar-se do que de fato aconteceu, é até compreensível. Afinal, sao militantes. Alguns deles vivem para isso e outros tiram disso seu sustento político-eleitoral.

Que uma autoridade pública de nível ministerial se dispa de sua responsabilidade moral e da liturgia do cargo para vestir a camisa de seu time, como se o governo fosse uma arquibancada pessoal, é simplesmente inconcebível.

Ao saber das primeiras suspeitas da família, que falava em assassinato, e das primeiras manifestações indignadas da militância, Maria do Rosário nao se deu ao luxo de usar a prudência e assinou, sem nenhuma cautela, uma nota manifestando solidariedade à família de Kaíque, “assassinado brutalmente no último sábado”.

Nenhuma dúvida, nenhuma vacilação, nem sequer o benefício da suspeita: a certeza absoluta do crime hediondo. E para espicaçar um pouco o governo de um adversário político, a informação de que a Secretaria “está acompanhando o caso junto às autoridades estaduais, no intuito de garantir a apuração rigorosa do caso e evitar a impunidade”.

Uns dias depois a família reconheceu que, como suspeitava a polícia, Kaíque havia cometido suicídio.


Desculpas da secretária Sherlock ? Nem pensar. Jogo político. Elementar, minha cara Watson.”

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

LOJA SURREAL DE NATAL




Por Carlos Sena (*)


Fico pensando numa loja surreal que pudesse vender presentes de natal fora da lógica materialista. Loja dos sonhos? Talvez. Loja dos amores? Poderia ser. Cantinho do afeto? De repente... Independente, o que minha loja poderia, de fato, vender? Vender? Ou ofertar? Se fossem beijos, teriam que ser dados. A variação seria se nas faces, na boca, ou noutro lugar. Mas se fossem ilusões? Como minha "loja" venderia ilusões? Em que papel eu teria que "embrulhar"? Mas, em sendo ilusões como, de fato, eu iria encontrá-las pra por na minha loja? Um quarto escuro com lâmpadas azuis e um mágico do bem lá dentro tecendo sonhos? Ou uma vovó igualzinha a dos nossos tempos de infância contando histórias como as de Pedro Malazart? Ou uma projeção do filme remasterizado de Marcelino Pão e Vinho?

Ah, mas minha loja surreal de natal teria que vender aromas! Talvez fosse esse o presente mais difícil de vender... Como selecionar os aromas associados a um grande amor? Ou a um momento especial de infância ou mesmo da juventude? Um cheiro de terra molhada! Esse é um cheirinho que nos remete aos tempos de criança quando a gente corria na chuva sem medo de resfriado como se o destino estivesse ali, paradinho em nossa frente!

Ah, mas como seria difícil sortir minha loja  de coisas que se não vendem, que se vão vêem, que se não falam, mas que só se sentem? E que, mesmo esse sentimento se evapora para se unir aos céus sob forma de de halo divino? Na minha loja teriam que ter incensos, anjos dependurados por sobre céus estrelados; saletas azuis, lilás, espelhos translúcidos a refletir diversos "eus" dos clientes... Sets retrôs para que cada pessoa ao entrar na minha loja se identifique por entre fotos e perfumes e jogos de luzes qual máquina de sonhos... Musicas incidentais! Essas não poderiam deixar de tocar. Músicas de Kitaro, Madre Deus, Enia e correlatos desfilariam em todos os ambientes... Em cada canto de sala um console contendo licor dos deuses, um vinho tinto seco. Pasteis de Belém! Esses teriam que ter nessa loja dos sonhos de natal...

O difícil seria colocar minha loja no mesmo local das outras, ou nos shopping centers. Afinal, loja de sonhos de natal em que dinheiro não serve, teria que ser no alto de uma serra. Já sei: no alto de uma ermida como a de SANTA TEREZINHA lá na minha terra. Na noite de natal um sino solitário tocaria lá de cima compassadamente as baladas da AVE MARIA. E assim, do alto da ermida, um facho de luz invadiria a cidade e, vagarosamente, adentraria casas, sítios, fazendas, conventos! E a música inaudível aos ouvidos penetraria nas almas dos homens de boa vontade... Até que ninguém mais precisasse dar presentes caros alimentando o capitalismo sem coração... Um frasco cheio de cheiro de terra molhada é o que lhes dou de preGENTE de natal.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em  10/12/2013

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A semana - Sucessão, Dilma Gata e a "vaquinha do PT"




Por Zé Carlos

Esta semana tenho um tempinho para comentar o filme do UOL, e começar a próxima rindo, esperando que o mesmo aconteça com meus 5 leitores. E já não posso sustentar o riso desde a primeira fala dele, na qual o Fernando Henrique começa elogiando a Dilma por ela ser uma leitora contumaz, certamente, como pensam os autores do filme, para alfinetar o Lula, que não era muito chegado à prática da leitura, talvez porque tentou ler apenas o Paulo Coelho.

Eu tento não discriminar entre aqueles que gostam de ler e os que não gostam, ou não podem. Mesmo porque meus pais eram analfabetos e talvez por isso eu não os apoiaria se eles quisessem ser presidente da repúlblica. Concordo até com minha mãe quando era perguntada por que não costumava votar e ela sempre respondia que preferia não ser responsável pelos roubos e assaltos aos cofres públicos. Ou seja, ela não era informada para algumas coisas, já para outras....  Minha mãe era mais sábia do que Lula, dentro deste ponto de vista, e muito mais do que alguns analfabetos funcionais que hoje grassam por este país afora. E enquanto existir pelo menos uma pessoa analfabeta no Brasil, o nosso riso tem que ser contido.

Porém, já tenho muitos anos de estrada e sei que, no meu período de vida útil, será difícil rir sem nenhuma contenção. Então, como disse a Marta Suplicy certa vez: “Relaxemos e gozemos!” (que é a frase com a qual ela entrará na História), durante o que nos resta de vida. E o filme se detém, quase todo, na sucessão presidencial, o que nos leva a dar boas risadas.

A declaração de FHC de que preferia Aécio, mas não se incomodaria que o eleito fosse o Eduardo Campos, pode ser traduzida como: “Tudo menos o PT”, ronda a cabeça de muita gente, inclusive a minha. Mesmo como um político aristotélico, eu considero que na última década andamos em círculos, e já estamos chegando ao ponto em que temos que começar tudo de novo.

Não está no filme, mas, num país onde a presidente fala num continente (Europa – Suiça - Davos) que precisa de investimentos, e no outro continente (América – Cuba – Havana) investe a fundo perdido, pois se sabe que Cuba não paga nem promessa a santo, é difícil se dizer que não estamos malucos, ou pelo menos, o que me fez rir muito com o filme, devemos confiar muito na Dilma Gata. Eu nem sei se o videogame apresentado já existe de verdade, e esteja a venda, mas, o trecho que os produtores do UOL apresentam parece o horário gratuito do PT, ou mesmo um pronunciamento da Dilma, não a Gata, a outra.

Se ainda não cansaram de rir com as proezas da Dilma Gata, ou mesmo com as declarações dos outros candidatos, que não passam também de gatos, embora já escaldados por mais de 10 anos, continuem rindo com a “vaquinha virtual do mensalão”, onde se comenta sobre o site criado pelo José Genuíno para pagar as multas que foram determinadas pelo STF. O riso vem por conta da notícia de que a ideia deu tão certo que agora os petistas querem sites para todos os outros, do partido, envolvidos. Se a moda pega, voltaremos à época das esmolas que minha mãe dava aos esmoleres de Bom Conselho toda sexta-feira. Eu lembro muito bem, que toda sexta-feira, ouvia a seguinte frase várias vezes ao dia, lá em casa:

- Uma esmolinha pelo amor de Deus!

E lá ia eu, de um depósito de farinha que minha mãe já colocava de prontidão, retirar e dar a cada um, uma xícara. Não era algo de que se pudesse rir.

Atualmente, não é mais só na sexta-feira que se pedem esmolas, nem pelo mesmo motivo, mas, é risível pela possível frase que poderíamos ouvir:

- Uma esmolinha pelo amor de Lula!

Só nos resta responder como minha mãe, quando acabava a farinha:

- Perdoe! Passe na próxima sexta!

Não sei se ela, sabendo quem são os mensaleiros, seria tão educada ao ponto de pedir perdão. Com a sua sinceridade talvez dissesse:

- Tenha vergonha na cara! Vá trabalhar!

Da mesmo forma como os esmoleres de Bom Conselho, que ficavam zangados mesmo com o pedido de perdão, o Zé Dirceu talvez dissesse:

- Estou doido para trabalhar num hotel, que é minha especialidade, mas, não deixam....

E fiquem com o resumo do roteiro dos produtores do filme, e riam, porque a vida continua risonha apesar de não quererem a Copa do Mundo, mas, isto deverá ser assunto para o próximo filme.

“A presidente petista Dilma Rousseff virou heroína dos videogames derrotando alienígenas e gangsters, mas na vida real tem que bater Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) nas eleições de outubro. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que “dá para conversar” com Dilma “porque ela lê”, dando uma alfinetada em Lula. Mas FHC disse que prefere ver Aécio ou Campos no Palácio do Planalto a partir de 2015. Já os mensaleiros estão adotando a vaquinha virtual depois do sucesso de José Genoino em arrecadar o que deve pagar em multas.”


sábado, 25 de janeiro de 2014

Ouvir e Escutar




Por Carlos Sena (*)

Do que me dizem, ouço. Minha escuta será sempre seletiva e, por isso, do que me dizem só ouço. Porque ouvir é próprio dos que tem ouvidos, mas escutar vai, além disso, e requer de  nós processo de confiabilidade e perspicácia no sentir. Porque há quem diga sem sentir e há, certamente os que sentem, mas não nos dizem. No jogo da sedução, muitos são os que falam, prometem e juram amor eterno  nos ouvidos dos amantes, mas não se garantem dessa fala a posteriori. 

Emprenhar pelos ouvidos é complexo, mas há quem disso se nutra por absoluta falta de segurança própria. Prefiro emprestar os ouvidos a uma boa música, ou até mesmo a uma boa “cantada” sob o abajur lilás... Nas questões do sexo, o tato fala mais alto do que as palavras e estas, quando proferidas nem sempre nos dão garantias para nossos exagerados modos de criar ilusões... Senão não seriam ilusões!

No trajeto existencial a escuta nos garante mais do que a oitiva. Porque muitos são os que dizem “Senhor, Senhor, mas poucos entrarão  no reino dos céus”...  Assim tem sido os jogos que os humanos gostam de executar muito mais do que o futebol. No futebol se bate na bola com os pés, mas nas relações se batem nas pessoas com as palavras nem sempre acalentadoras. Nos estádios as torcidas uivam, vociferam, brigam, matam. No final do espetáculo, as luzes se apagam e o silencio das arquibancadas fala sem palavra como que a dizer: os dois tempos do jogo não são como os tempos da vida. Porque a vida só tem um tempo e os homens é que inventaram de dividi-la em infância, adolescência, maturidade, velhice ou terceira idade ou boa idade...  Escutar a vida é melhor do que simplesmente ouvi-la. Suas lições estão por todos os lados e só não aprende quem não quer... A grande contradição é que nós, no geral, queremos aprender coisas eternas dentro de uma vida passageira. Muitos vivem nos dizendo isso, mas escutar acerca só se a alma, de fato, não for pequena para valer a galinha toda, não só a pena.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 08/12/2013

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

"ESTE CORNO SOU EU!"




Por Jose Antônio Taveira  Belo / Zetinho


O Bar TOME DUAS E PAGUE UMA no final da Rua Duas Moedas, da pequena cidade Jubazinha era o lugar preferido dos homens daquele lugar. Todos os dias aportavam vários moradores para tomar uma pinga com um caldinho delicioso feito por Dona Nana. Aos sábados, a rabada, a mão de vaca com pirão e arroz não chegava para os frequentadores. Aos domingos uma galinhada no capricho era vendida para algumas famílias. Seu Villela dono do bar era um português vindo de Lisboa, que se firmou ali naquele fim de mundo, dizia as pessoas. Era um homem alto, de um bigode de fazer inveja a qualquer homem e riso fácil. Sempre de avental branco e um lápis por trás da orelha era auxiliado por Caolho, um branquelo sarara das brenhas do sitio. Os frequentadores eram homens dali da comunidade, Seu Tonho, Seu Chico, Abelardo, Doidinho, Jacaré todos se entendiam. Mas, de repente o Seu Osvaldo, gaiato, desbocado falava palavrões e tirava brincadeiras de mau gosto. Era homem cheio de gíria. Tomava duas pingas e começava contar estórias do Rio de Janeiro, de onde veio. Eram estórias mirabolantes, que chateavam os demais, falando alto e não deixando ninguém se expressar. Num sábado à tarde, começou com gracejo com o Jacaré, chamando de corno, mesmo na brincadeira Jacaré não gostou e revidou jogando-lhe uma garrafa de cerveja na sua cabeça. Foi aquele Deus nos acuda. Morava na mesma rua e começaram a se estranhar. Evitava ir ao Bar do seu Villela, para não o encontrar. Certo dia, Jacaré estava sentado num banco quando foi agredido pelo Seu Osvaldo com uma paulada nas costelas e se engalfinhando em plena rua. Dai para frente começaram a criar um ódio desesperado. As suas duas mulheres se entendiam bem, como os seus filhos de menores de idade, não se importavam com o acontecido. Seu Osvaldo, então adoeceu. Uma doença incurável que o fazia ficar sempre deitado. Não frequentava mais o bar TOME DUAS E PAGUE UMA, pois não podia beber, pois o medico o proibira; os dias iam passando e cada dia piorava. No bar era o que se falava, pois, o Seu Osvaldo era conhecido na cidade devido às brincadeiras de mau gosto e de seus palavrões. Era desbocado e cínico. O Jacaré que morava na mesma rua era indiferente com o estado de saúde do Seu Osvaldo. Sempre dizia – Quero que morra este desgraçado! Vá prá o inferno! Não merece viver, pois, por onde anda sempre trás confusão. Assim, alguns meses se passaram e o Seu Osvaldo desfiava a cada dia, apesar dos cuidados de Dona Filo, que dia e noite estava ao seu lado. Numa certa manhã, de agosto, o vento forte levantava poeira e as folhas secas do pé de jambo, corriam soltas pela rua. A meninada corria pelos sítios a procura de mangas e goiaba. O riacho de agua corrente era o atrativo dos meninos que se banhavam, apesar das reclamações dos seus pais. O Seu Osvaldo já debilitado expressou vontade a sua mulher de fazer as pazes com o Jacaré. Aquela desavença lhe incomodava e ele queria voltar às boas com o seu desafeto. Recebia visita durante o dia de alguns companheiros que lhe trazia solidariedade e estimulo de melhora. Deus vai lhe curar, diziam. Amém! Dizia seu Osvaldo com um sorriso amarelo. A mulher foi sua emissária para trazer o Jacaré até a sua residência. “Jacaré recebeu o convite desconfiado. Quem confia num “safado”, mas ao mesmo tempo raciocinou ‘Ele doente do jeito que estar não vai durar muito” e ao mesmo tempo já se passaram algum tempo e ele quer falar comigo não custa nada. E, assim numa tarde chegou Jacaré a residência do Seu Osvaldo. Encontrou-o em uma espreguiçadeira de lona listrada de vermelho e branco na sala de camisa branca aberto no peito devido o calor que fazia. Sentou-se em um tamborete a sua frente e com um sorriso disse, aqui estou! Seu Osvaldo se endireitou e disse – que bom que você atendeu o meu chamado. Tirou um lenço branco do bolso da camisa enxugou a testa e disse – peço perdão pelo acontecido. Aquelas brincadeiras que eu dizia somente me trouxeram problemas. Sei que errei e a gente deve consertar o erro, pois, continuar no erro e burrice. Jacaré olhava aquele homem magro e frágil que outrora era forte e sadio. Ali estava de aspecto de morte. Pensou será que é verdade que ele pede perdão de coração, ou somente porque esta com os dias contados? Ficou na dúvida. Mas mesmo assim disse – Tá legal! Vamos acabar com esta intriga que não vai levar a lugar nenhum. De minha parte já esqueci todo acontecimento. Daqui prá frente sejamos amigos, disse. Seu Osvaldo com os olhos marejados deu-lhe a mão e não brincadeira olhando – disse - este “Corno” sou eu!” riu. Pouco tempo depois seu Osvaldo foi acompanhado por uma legião de amigos a sua morada definitiva – o Cemitério de Santo Alonso. 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A semana - Vamos fazer um "rolezinho"?




Por Zé Carlos

Por motivos particulares e mais prazerosos, só hoje comento o vídeo da semana do UOL, que tenta nos explicar o fenômeno mais recorrente deste período que são os chamados “rolezinhos”, uma horda de jovens que tenta se divertir invadindo os shoppings, e o que conseguem, na maioria das vezes, é tumultuar estes espaços, que eram ainda o último refúgio da classe média nas grandes cidades.

Confesso que não ri muito com o vídeo a não ser com o histrionismo de alguns dos comentaristas que nele aportam. E se “não dá para rir, dá para chorar” como dizia a canção. O “rolezinho”, para mim, nada mas é do que uma manifestação da juventude moderna que vive plugada nas redes sociais, que hoje é quase toda sua fonte de informação. Em minha época, o mais próximo que vi deste fenômeno, eram as brigas entre facções infantis e adolescentes, que se programavam, em menor número, é verdade, para invadir as ruas das facções rivais.

Tudo isto era uma influência, quase direta do cinema e das revistas em quadrinhos que nos ensinavam até nas posições de lutas. Quando se brigava, isto era feito com os punhos, como o Rocky Lane, o Zorro ou o Roy Rogers, que nos eram passados pela mídia da época. Por acaso hoje, alguém vê um menino lutar com os punhos? Hoje é tudo Karatê, Kung Fu e MMA.

Lembro ainda, na Praça Pedro II, o ajuntamento de colegas meus escalando q                uem iria brigar com o Melckzedec quando ele viesse de Garanhuns. Eu nunca entrava na lista porque nunca fui muito de lutar com o corpo. Participava das reuniões mais usando a cabeça, para pensar e não para dar cabeçadas. E quando o Melck chegava aconteciam os rolezinhos, que nem sempre tinha sucesso. Não tínhamos shoppings, como ainda não temos. Tudo era influência da mídia de nossa época.

Hoje a mídia é outra e nem sei se em Bom Conselho, entre os jovens, acontecem as brigas como aconteciam na minha infância e parte da adolescência. Nem sei se já houve rolezinho no Supermercado Bom Conselho. Só espero que isto não seja tomado como um sinal de progresso e que nosso município tente imitar São Paulo. Melhor que venham só os Shoppings Center.

No entanto, o importante do filme desta semana não é nem o humor, e sim a possível reflexão da influência da internet e redes sociais sobre nossa juventude. Pelo que vi, fora do filme, sobre os rolezinhos, eles não passariam de uma brincadeira, sem maiores consequências, se não fosse a exploração política deles. Mas, o que fazer? Neste ano de eleição, nada escapa da política. Só espero que os jovens também se interessem pelos aspectos políticos dos seus atos. Como? Quem sabe fazendo rolezinhos também nas bibliotecas?

Fiquem com o resumo dos produtores do filme, e depois vejam o que aconteceu, com as ações do rolezeiros e rolezeiras.

“Hordas de adolescentes tomando shoppings virou caso de polícia e tema de política, com governo federal, governadores e prefeitos preocupados que seja o começo de uma nova onda de mobilizações. O movimento migrou de São Paulo para outras cidades do Brasil, e gerou muita polêmica com a repressão da polícia e as medidas judiciais dos shopping centers.”


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O país do "rolezinho" burocrático




Por Zezinho de Caetés

Meu último texto foi sobre o relativismo moral que impera neste país, cujo destino está nas mãos do PT. E eu já disse, que igual à saúva, ou o Brasil “acaba” com o PT ou o PT acaba com o Brasil. O “acaba” entre aspas é apenas para enfatizar que não estou pregando que a cabeça do meu conterrâneo Lula, chefe da gangue, seja pendurada em algum lugar, e sim, que democraticamente a cortemos em outubro deste ano.

Hoje, transcrevo abaixo um texto que saiu ontem no O Globo, do José Casado, com o título “Para tudo e para todos”. Ele toca num assunto que é pior para o Brasil do que o relativismo moral: A burocracia.

Eu ainda lembro, que nos governos militares, existiu um Ministério da Desburocratização. Eu não sei que fim deram a ele, depois que o Hélio Beltrão, tentou diminuir a papelada que ronda nosso serviço público, desde que Pedro Álvares Cabral aportou neste país. Eu não vou citar casos aqui, porque o texto cita vários, desta chaga que impede nosso desenvolvimento, principalmente, quando se tem um Estado inchado e que, pela ideologia petista, cada vez mais se assenhora de nossa já combalida economia.

E, quem for até o fim desta postagem verá que os casos citados sempre são relacionados com a intervenção dos governos em nossa vida. E cada dia piora tudo. Até para estacionar um carro numa vaga para idoso não é suficiente que eu mostre meus documentos. Eu tive que ir a um órgão público para tirar outro documento que atesta que eu sou idoso e tenho que exibi-lo em local visível, no carro. Juro que tenho vontade de não cumprir e provar minha idade com os meus cabelos brancos, ou pintados, ou mesmo com minha careca, pois não tenho dinheiro para implantar 10.818 fios de cabelo como fez o Renan, nosso terceiro na linha de sucessão do trono. Mas, me contenho e cumpro a lei, mesmo arreliado com ela.

Meditem sobre o mundo de regulamentos que surgem todos os dias e ainda temos que conviver com o princípio de que a ninguém é dado o “prazer” de não conhecer as leis e normas. Talvez chegará um tempo que teremos que ter, permanentemente, um advogado a tiracolo, ou talvez, um aparelho eletrônico qualquer, destes que surgem todos os dias para saber se há normas para impedir que se durma mais de 8 horas por dia, ou como decretou o Lula, vulgo O Barba, que todo brasileiro deveria ter 3 refeições por dia. Perdeu o voto daqueles que jejuam e os faquires, mas, lançou outra norma a ser seguida.  Sentiu-se mal quando soube que muitos dos brasileiros, pertencentes ao Bolsa Família, ao invés de usar a verba que foi concedida para cumprir a norma, está sendo usada agora para fazer “rolezinho” nos shoppings.

Mas, fiquem com texto do Casado e sigam mais uma norma, para não morrermos na inação  com a papelada: PT nunca mais! Eu estou de saída para jogar no bicho. Sonhei com o Dirceu. Vai dar cachorro na cabeça e receberei o dinheiro sem burocracia.

“Quando ronca, o motor do caminhão ecoa trovoada. É só lembrança — esperança de sertanejo. São 8.558 “pipeiros” contratados pelo governo para levar água a 1.087 lugarejos, onde a caatinga estende-se “de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas”— como descreveu o alagoano Graciliano Ramos 76 anos atrás. A vida continua na seca.

Nos últimos três meses, os “pipeiros” desapareceram de algumas áreas do sertão cearense. A Assembleia Legislativa recebeu relatos de quatro dezenas de casos e identificou a origem do problema: os contratados não prestaram contas ao governo. Seguiu-se um “rigoroso inquérito administrativo”. Até acabar, não sai pagamento. Muito menos “pipa”.

Faz tempo que as últimas arribações sumiram do céu azul. Na vida em tempo de seca braba, fartura só de sede. E de burocracia.

Mais abaixo, em Natal (RN), o governo anuncia a devolução de verbas federais (R$ 10 milhões, com juros). O dinheiro não foi investido, como previsto, em segurança pública estadual “devido a fatores burocráticos".

Dois mil quilômetros ao sul, em Araçatuba (SP), a prefeitura conseguiu terminar a reforma de um Restaurante Popular, capaz de servir até 300 pratos de comida por dia. A obra custou R$ 1 milhão. Atravessou longos 28 meses, na cadência de falências de fornecedores, mudanças no projeto e licitações refeitas. Está pronto, mas continuará fechado. Até a liberação federal.

Ao leste, na margem esquerda do Porto de Santos (SP), um terminal de cargas químicas e petróleo vai completar 28 anos de inatividade, entregue ao mato, por causa de um embrulho burocrático. E pouco além, no Porto de São Francisco do Sul (SC), um terminal de soja de US$ 200 milhões está há sete anos “em tramitação”. Do outro lado, navios só atracam depois da entrega de uma montanha de papéis, com cerca de 190 itens sobre a carga. Levam-se 13 dias para exportar um contêiner, quando nos países concorrentes não passa de 48 horas.

Em Ijuí (RS) se desfez o mistério de uma doação de 12 toneladas de roupas da Bélgica que jamais chegou a uma instituição de caridade local. Passaram os últimos cinco anos estocadas, por mera burocracia.

No último 5 de dezembro chegou ao Aeroporto de Viracopos (SP) um pacote enviado pela Universidade de Harvard, dos Estados Unidos. Continha células-tronco para uma pesquisa do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Durante 13 dias funcionários da transportadora alternaram-se na reposição de gelo seco na tentativa de mantê-las vivas, enquanto burocratas fiscalizavam documentos da carga num guichê federal.

Há 47 anos, por decreto da ditadura, aboliu-se a exigência de reconhecimento de firma em documentos. Agora, 17 mil dias depois a Receita Federal anuncia em portaria que, em oito semanas, vai cumprir essa regra da boa-fé nas relações com os contribuintes. Com uma exceção, ressalva: “Nos casos em que a lei determine.”


Regulamentos não faltam. Foram editados 4,7 milhões desde a Constituição de 1988, calcula o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. São 524 novos por dia. Na eleição presidencial de outubro o país deverá somar 5 milhões de leis e normas, para tudo e para todos. É um caso de suicídio nacional por asfixia burocrática.”

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Memória de Natal




Por Carlos Sena (*)

Faz dois anos que um morador de rua, em plena Avenida Boa Viagem, no Recife, foi roubado em seu único bem: um radinho de pilha que custa dez reais no camelô. Quando ele se acordou e sentiu que seu precioso bem havia sido roubado olhou pra mim e vociferou: “meu Deus roubaram meu radinho de pilha” e sem que eu dissesse nada ele saiu correndo a esmo. Mais na frente encontrou uma guarnição da policia e lhes disse do ocorrido. Por sorte, os policiais encontraram os larápios, recuperaram o radinho de pilha e o morador de rua, contente, voltou gritando “meu rádio foi achado, meu rádio foi achado”! Depois do ocorrido eu segui minha caminhada no calçadão remoendo os meus valore​s diante do que representava um simples radinho de pilha. E remeti a Dom Helder quando sempre dizia: “Não há pobre que não tenha algo a dar, nem rico que não tenha algo a receber”... Aquele rádio era mais importante para o morador de rua do que uma televisão LCD e de Led. Ele se ligava ao mundo via rádio. Certamente ouvia seu time de futebol jogar e, com certeza, devia curtir uma musica do seu tempo relembrando amores do passado. Afinal, nas ruas, quem sabe ele não se perdeu procurando seu grande amor? Por não achar, decidiu lá permanecer! Talvez pela certeza de que “a esperança é a única que morre”... Desde aquele dia, no natal, lembro-me daquele morador de rua, cuja imagem não me sai da lembrança.

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(*) Publicado no Recanto de Letras  em 04/12/2013

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Encontros fortuitos e programados em Bom Conselho


Farmácia Crespo


Por Zé Carlos

Quando vou a Bom Conselho tenho sempre encontros programados e fortuitos. Num dos programados, estive com Luis Clério para agradecer-lhe pela publicação de alguns dos meus textos e pelo apoio que ele me deu em nosso Mural, quanto ao processo, em que me tornaram réu pela primeira vez aos 65 anos. Mas, mesmo lá, no encontro programado, tive encontros fortuitos, como por exemplo com Zé Tenório e com o Naduca, sendo que destes eu não falarei agora.

Trato aqui de um encontro fortuito que me deu muita alegria. Estava eu no restaurante do Hotel Raízes, junto com pessoas de minha família, quando se aproximou alguém e se passou o seguinte diálogo, que me deixou um pouco envergonhado pela minha falha na memória:

- Lembra de mim?!

- Sinceramente, não!

- Do Rio de Janeiro.

- Ainda continuo sem me lembrar.

- Dentista!

- Não consigo lembrar, ainda.

Foi aí que minha mulher disse: Marco Presideu?! Ao vê-lo confirmar a pergunta, eu vi quanto estava velho, com reflexos contundentes na memória. Marco Presideu, que todos em Bom Conselho, de minha geração, conheceram (se não, conheceram seu pai, João Presideu), estava ali em minha frente, e eu passei batido em sua identificação.

Historio um pouco para mostrar como me senti naquele momento de falha na memória. Marco foi meu colega no Ginásio São Geraldo e com várias afinidades comigo. Por exemplo, nos desfiles de 7 de setembro eu, ele e Elion Borges sempre ficávamos na ultima fileira do pelotão masculino, pela nossa altura pouco desenvolvida. E não pensem que era por deficiência e sim pela nossa pouca idade. Jogamos bola juntos e até pensava que ele teria concluído o Curso Ginasial comigo, o que ele disse não ser verdade, pois antes da conclusão ele foi estudar em outro lugar.

Mas, não ficam por aí as minhas lembranças, que se relacionam com o Marco, a quem tanto tive o prazer de reencontrar. Estávamos juntos, quando fui eu, pela primeira vez, uma espécie de réu, quando fomos chamados à secretaria e ficamos frente à frente com seu Waldemar Gomes, o diretor e bom disciplinador do nosso querido Ginásio São Geraldo. Foi uma experiência terrível para mim, porque da mesma forma que hoje, não me sentia culpado pela acusação, que não me lembro qual era. Havia mais alguns alunos com a gente, mas só me lembro do Marco e do Damuriez, que foi o único a pagar com as mãos vermelhas, pela acusação que nos fazia o grande mestre. Enquanto, seu Waldemar dizia: “Agora vou matar tudo de bolo!”, o pessoal se ajoelhava e chorava pedindo clemência. Só sei que o Damuriez sozinho é que serviu de exemplo, e após o sétimo contato da palmatória com sua mão, ele começou a chorar, e o suplicante foi atendido. Quase me borrei de medo, pois ainda sentia nas mãos os bolos que levei na minha escola anterior, de Dona Lourdes Cardoso (outro encontro fortuito foi com Maria, sua filha, mas este também fica para depois).

Como foi bom lembrar disso naquela conversa rápida, onde éramos turistas em nossa própria terra.

Lembrei até dos “assustados” que eram feitos em sua casa, os quais eu ficava olhando da janela para as moças, que minha timidez renitente me impedia de abordar.

Tempos depois, quando morei no Rio de Janeiro, encontrei o Marco outra vez, já morando lá e instalado profissionalmente, ganhando seu pão, honestamente, da boca do povo, de cuja expertise me aproveitei para tratar alguns dentes e conversar sobre nossa terra. Boas e humoradas estórias de sua clínica popular me divertiram, pelo inusitado, como por exemplo, o dia, contou ele, em que extraiu o dente errado de uma moça, e ela nem notou, entre outros “causos”.

Fui ao seu casamento na Tijuca, e lembramos isto. Foi na Igreja de São Sebastião, na qual hoje não saberia lá chegar, mas, me marcou a lembrança de sua mãe, Dona Suzana, com um esvoaçante vestido vermelho. Tive o prazer de saber que, atualmente, ela mora no Recife e vende saúde. Já eu não consigo vender este produto, pois só dar para o gasto, algumas vezes eu já compro nas casas do ramo, as farmácias.

Enfim, foi um dos encontros fortuitos, nesta ida a nossa terra natal, que mais me deram alegria. É uma pena que hoje as festas de final de ano estão se esvaziando dos de minha geração. A grande maioria prefere o Encontro dos Bom-conselhenses, que acontece no meio de janeiro, em datas que não me permitem viajar. Mas, apenas desejo que todos os participantes do encontro tenham encontros fortuitos, ou programados, tão alegres como o que tive.

Para terminar, eu gostaria de ter tido um encontro programado, que não pude ter. Passei, como sempre o fiz, na Farmácia Crespo, e não encontrei Ivan por lá. Tirei uma foto de sua cadeira e do seu retrato, com a qual ilustro esta postagem. Senti saudades do gordo.

sábado, 18 de janeiro de 2014

O relativismo moral que nos assola




Por Zezinho de Caetés

A relação entre política e moralidade é muito complexa. Ou pelo menos era, antes do PT assumir as rédeas do poder no Brasil e cavalgar no espírito de ditadores que diziam: “Aos amigos, tudo; aos inimigos, os rigores da lei”, e eu acrescentaria, “aos amigos, as benesses do poder, principalmente”.

Lembro ainda da última convenção do PT, onde compareceram nossa presidenta e o meu conterrâneo Lula para dar respaldo à critica ao STF, no caso do mensalão, só não chamando o Joaquim Barbosa de “mestre de açúcar”. Triste episódio para um país que pretende fazer crescer nele o regime democrático, com as instituições funcionando de acordo com sua Constituição, que o PT só aprovou porque não havia jeito. No campo político formal não há moralidade sem seguir as leis do país. Pode-se até ser contra elas, e se lutar para que outras surjam, e para isto somos chamados de tempos em tempos a nos manifestar. Para a turma que está no poder atualmente a moralidade vem junto com a adesão ao seu grupo, o resto é imoral, e eles tentam  provar que é ilegal.

Vejam abaixo no texto transcrito do Blog do Noblat, do último dia 11/01/2014, do jornalista Ruy Fabiano, que resume o que vem em seu título: “Ideologia e moralidade”, que mostra um resumo do relativismo moral que impera em nossa política.

Observem o que o Zé Dirceu fez com o Ibsen Pinheiro, e o que ele diz agora, graças a Deus, direto do presídio da Papuda, sobre a punição dos seus crimes. E o pior é que a memória dos brasileiros é muito fraca. Esquecem tudo quando ouvem um orador histriônico a soltar asneiras e mentiras pela boca.

Vejam o que disse Lula em seu discurso de posse, no trecho colhido do livro A Década Perdida, do Marco A. Villa, e que recomendo sua leitura, servindo para mostrar que recordar é viver ou reviver para pegar os mentirosos:

“... ser honesto é mais do que apenas não roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos.

O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos da vida pública.”

E nesta época, até eu acreditava no meu conterrâneo, e me afastei depois do que ele fez em seu governo, tanto em relação à eficiência no emprego dos recursos públicos quanto à moralidade no trato da coisa pública. O mais chocante foram suas reações diante da ação dos bandidos do mensalão, do qual é muito difícil dizer que ele não era o chefe, sem contar a “plêiade” de obras inacabadas, como por exemplo, a transposição do Rio São Francisco, e o emperrado PAC, cuja mãe foi eleita para nada fazer, e agora quer ser reeleita.

Não dar mais para acreditar. E a grande maioria dos aliados, pelo menos aqueles que tem um mínimo de zelo no trato da coisa pública, estão abandonando o barco, com é o caso do governador de Pernambuco. E quem sai, ou discorda do petismo desvairado, torna-se imediatamente mau e imoral. Já os que ficam, como Zé Dirceu, Delúbio, Genoíno, são ainda os esteios morais da nação, mesmo condenados e presos. Só resta mesmo apelar para o relativismo moral, e usar os pouco informados das mazelas, para se manter no poder. Até quando, oh Deus?!

Fiquem com o Ruy Fabiano, que resume muito bem tudo isto, e meditem sobre o texto. Quem sabe vocês resolvam colocar a moralidade em seu devido lugar, no próximo ano, fazendo o tiro sair pela culatra outra vez?

“Há momentos na história em que o espírito de uma nação – mais especificamente de sua classe letrada – se revela por inteiro.

É o que ocorre no episódio do Mensalão. Inicialmente, não se esperava que dele nada resultasse, o que, por si só, já revela algo de substantivo a respeito de nossa cultura.

Dentro dela, não é comum – para não dizer que é inédito - que pessoas influentes paguem por seus crimes. A maioria da opinião pública, pois, estava cética em relação ao destino dos mensaleiros. Seriam inocentados e, em breve, estariam de volta.

Deu-se, porém, o contrário: foram presos. Na reação à prisão, sustentada por amplos setores da intelectualidade e do meio artístico, tem-se um retrato da moralidade do país.

A hostilidade nas redes sociais e nos jornais a Joaquim Barbosa deixa claro que, acima da moral, está a ideologia. Ou por outra, sem ideologia - de esquerda, claro - não há moral.

“Aos amigos, tudo; aos inimigos, os rigores da lei”, sustentava Getúlio Vargas. A solidariedade a José Genoíno, em face de sua enfermidade, não se estendeu a outro condenado, mais enfermo que ele, Roberto Jefferson, que padece de um câncer irreversível.

Está mais enfermo, mas não é da turma. Não merece compaixão. Criou-se, no Mensalão, a figura esdrúxula do delito ideológico. O roubo de esquerda é legítimo; o de direita, não.

Tal distorção já vigora há tempos em relação aos direitos humanos: um preso político em Cuba merece o que recebe; num regime militar de direita, não.

Um torturado sob Pinochet mobiliza inúmeras comissões de direitos humanos; um sob Fidel Castro provoca silêncio e compreensão.

A Comissão da Verdade investiga crimes de meio século atrás, mas só os cometidos contra a esquerda. Só eles merecem o rótulo de abomináveis. Os que ela cometeu – e cometeu diversos, devidamente comprovados – passam como fatalidades.

E é esse mesmo pessoal – que conta a História pelo viés ideológico - que acusa o Supremo Tribunal Federal de ter feito julgamento político no Mensalão.

O processo levou sete anos para chegar ao plenário. Os autos formavam montanhas de papel, mais de 50 mil páginas. Só a leitura do relatório consumiu dois dias.

Cada acusado teve sua devida defesa - e até embargos infringentes, não previstos na lei, foram aceitos. Não houve qualquer cerceamento ao devido processo legal.

Mais da metade dos ministros, inclusive o relator, foi nomeada na gestão do PT. Se tentativa houve de politizar o julgamento, foi da parte favorável aos mensaleiros, com manobras protelatórias, que resultaram inúteis.

Na execução da pena, os sentenciados exibiram de público o seu injustificado protesto, brandindo punhos cerrados, com críticas ferozes ao Judiciário. Reclamaram das condições carcerárias, mesmo já tendo o governador de Brasília, Agnelo Queiroz, providenciado com antecedência a construção de anexos mais confortáveis para receber os companheiros.

O governador, num gesto inédito – já que é um agente do Estado e os sentenciados delinquiram contra o Estado -, deu-se ao desplante de visitá-los na prisão, ao lado de parlamentares, furando a fila de familiares de outros presos, que aguardavam desde a madrugada autorização para ingressar no presídio.

A OAB, ausente durante todo o julgamento, só se manifestou para endossar as críticas dos mensaleiros e reclamar da suposta severidade do presidente do STF. Presos comuns – como os de Pedrinha, no Maranhão – não causam qualquer consternação, nem à OAB, nem aos grupos de direitos humanos.

Não têm grife ideológica. São vítimas contemporâneas, que vivem em regime de terror. Podem ter suas aflições interrompidas já, mediante intervenção desses grupos que se proclamam humanitários, mas, à exceção de vozes isoladas e impotentes, não sensibilizam os ativistas dos direitos humanos ideológicos.

Não faltam vozes, à esquerda, reclamando do moralismo que condenou os mensaleiros. Mas essas mesmas vozes fizeram carreira política com discursos moralistas, frequentemente falsos.

O já falecido senador Humberto Lucena foi cassado por imprimir um calendário na gráfica do Senado. O deputado Ibsen Pinheiro foi cassado graças a um falso extrato bancário, que o mostrava milionário. O extrato foi entregue por José Dirceu à redação de uma revista semanal, que o publicou como verdadeiro. Dez anos depois, desfez-se a farsa, mas já era tarde.

O ex-ministro Eduardo Jorge, do PSDB, foi execrado publicamente como corrupto numa manobra do PT com um procurador da República, Luiz Francisco de Souza, que saiu de cena depois que o partido assumiu a Presidência da República.

O PT hoje prova do veneno que serviu à política brasileira. Nos 23 anos que precederam sua chegada ao poder, pôs em cena a famosa recomendação de Lênin aos militantes comunistas: “Acuse-os do que você faz”.


O tiro um dia sairia pela culatra. Saiu.”

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

BECO DO VEADO (RECIFE-PE)




Por Carlos Sena (*)

Cada cidade tem seu vuco-vuco. Explico: vuco-vuco é como a gente chama no Recife o comércio popular. Na mesma lógica da Rua 25 de março em São Paulo, no Recife temos a Rua Direita, Rua do Rangel, das Calçadas, de Santa Rita. Tem o Pátio de São Pedro que se liga a todo esse movimento popular através do Beco do Veado. Por falar nisso, em passando por lá, tive a curiosidade de saber o nome do Beco do Veado. Queria ver se era nome ou era invenção do povo e, de fato, o nome conhecido é Beco do Veado Branco. Encafifei. Por que Branco se o nome do beco não é beco, mas Travessa de São Pedro? Coisas do povo que consolida seus costumes muito mais no que ele é do que o que as autoridades querem que seja. Beco do Veado é o nome e pronto. A surpresa, como disse, é ser Veado Branco! Fato é que quem conhece Recife e tem com essa terra alguma intimidade, sabe onde fica o Beco do Veado. Para quem não  lembrar  eu refresco a memória: ele fica entre a Dantas Barreto e a Rua Direita, fazendo “baldeação” com o Pátio São Pedro. Sendo prático: fica entre o “cu e o rabo”  com todas as suas adjacências. Nesse pedacinho de viela tudo acontece. É como se fosse um pedacinho da feira de Caruaru com um detalhe a mais: todos os amoladores de alicate de unha ficam lá, no Beco do Veado. O porquê do Veado e de ser Veado Branco  eu não consigo entender, exceto porque segundo as línguas ferinas nos tempos idos a galera cor de rosa se encontrava, preferencialmente, no Pátio São Pedro que faz a conexão ente Rua Direita e Dantas Barreto. Ou não? Penso mesmo que é um foco de resistência importante do Voco-Vuco que em períodos natalinos fica um frege de tanta gente comprando bugigangas, quinquilharias e tudo mais por entre frutas, verduras e chineses por todos os lados. Passar pelo Beco do Veado é como passar pelo Beco da Dedada em Olinda nos dias de carnaval. Só que em Olinda você leva dedada no fiofó e leva na esportiva, pois afinal é carnaval. No Beco do Veado, não. Lá quem conseguir passar com a carteira, certamente comemora como se fosse carnaval. Exagero do prosista, mas é bom ter cuidado... Coisas que só o Recife tem.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 01/12/2013

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O Açude da Nação, outra vez...



Futuro Açude da Nação - Bom Conselho


Por Zé Carlos

Aqui na AGD, eu mesmo já falei no Açude da Nação, igual a outros tantos bom-conselhenses, que, de uma forma ou de outra tiveram contato com nossa maior reserva d’água, que hoje está quase no centro da cidade. Por exemplo, em 8/2/2011, querendo reavivar minha admiração pela eficiência do setor privado, quando comparado com o setor público, eu escrevia:

“A adoção de praças e outros equipamentos públicos pela iniciativa privada. Ou seja, sendo viável, o setor privado é mais eficiente na manutenção do que o setor público. Se a Brasil Food tivesse se comprometido a manter o Açude da Nação, ele já estaria refeito, e com suas “praias”, para as quais um dia, corri para ver (e o Diretor Presidente atrás), Marluze, Vanda e Salete, desfilar com seus maiôs, ainda não tão curtos quanto os de hoje, porém, mais atraentes. Ah! Que saudade!” (aqui)

Durante a campanha política tentei, mesmo de longe influenciar de uma maneira mais neutra possível, o embate entre os candidatos, eu escrevia em 27/8/2012:

Fica a sugestão para Bom Conselho. Por exemplo, levar a candidata Judith Alapenha a atravessar a pinguela do Açude da Nação. Levar o candidato Dannilo Godoy a andar de helicóptero. Levar o Capitão Boanerges a fazer um boletim de ocorrência na delegacia da cidade. Ou, levar o Washington Azevedo a visitar algumas fazendas que ainda não se recuperaram da seca. Estes são apenas exemplos,  estando eu longe. Se lá estivesse o que faria mesmo era levar todos a atravessar da Praça Pedro II até a Princesa do Norte, dia de sábado, pela manhã. O sobrevivente seria o ungido para sentar no Palácio do Coronel Zé Abílio.”  (aqui)

E mesmo fora do país, ainda lembrei do nosso açude. Em 17/9/2012 eu falava do seu fatídico estouro durante uma boa chuvarada. Escrevi:

“O Aeroporto de Miami talvez seja maior do que o Açude da Nação, antes de estourar. Tem até trem dentro dele, e lá fomos nós.” (aqui)



São só lembranças para voltar a escrever sobre o açude sem me repetir muito. Dizem quando a idade vai chegando a gente começa a se repetir porque a memória nos falha. Isto é verdade em alguns casos, mas, eu lembro bem dele antes do estouro. E quis verificar se agora, depois da notícia que tive de que o novo açude, depois do estouro, fora inaugurado no final do ano passado, se ele me trazia ainda muitas recordações ou se minha memória estava mesmo ruim.

Estando eu no Hotel Raízes, onde me hospedo quando compareço a nossa terra, e sendo este bem perto do Açude da Nação, resolvi ir olhar em que resultou o esforço, ainda do setor público, para restaurar um dos nossos pontos turísticos e de grande valor econômico e social para os bom-conselhenses. Fui então, juntar o útil ao agradável, fazer minha caminhada pelo paredão do açude, o que fiz muitas vezes no passado.

Chegando lá, vi que a notícia da inauguração, tinha sido apenas para “inglês ver”. Pelo que vi, mesmo não sendo inglês, o término das obras ainda se arrastarão ano novo a dentro, justificando minha posição quanto à iniciativa privada na sua reconstrução. Pelo que observei agora, temos uma obra de porte, de concreto e muito sólida, pronta para aguentar outras enchentes do Riacho Papacacinha, mas está incompleta. Até quando? Não me foi informado.



Segundo uma das pessoas com quem conversei, lá mesmo na beira do açude, não será tão cedo, porque se abrirem a barragem (que antes era uma pinguela) pequena que permite os pedestres atravessarem, a água se espalharia e não permitiria tirar os 70 carros pipas diários, para abastecer os lugares ainda castigados pela seca. Ou seja, até a inauguração do Açude da Nação pode ficar refém da seca, que nos assolou ano passado e, dizem os meteorologistas nos assolará ainda este ano.


Eu fiquei triste, mesmo sem entender bem por que demora tanto a volta de nossa antiga praia. Então resolvi atravessá-lo tirar algumas fotos, talvez para compará-las com outras que tirarei já neste ano de 2014. E ainda, ao voltar para hotel, encontrei um amigo e lhe contei minha façanha: “Acabei de atravessar o Açude da Nação!” E fiquei mais triste ainda quando ele me perguntou: “A nado?”, e não pude responder-lhe afirmativamente. Quem sabe na próxima ida a Bom Conselho eu poderei? Já estou treinando para isto.