Por Zezinho de Caetés
A relação entre política e moralidade é muito complexa. Ou
pelo menos era, antes do PT assumir as rédeas do poder no Brasil e cavalgar no
espírito de ditadores que diziam: “Aos
amigos, tudo; aos inimigos, os rigores da lei”, e eu acrescentaria, “aos amigos, as benesses do poder,
principalmente”.
Lembro ainda da última convenção do PT, onde compareceram
nossa presidenta e o meu conterrâneo Lula para dar respaldo à critica ao STF,
no caso do mensalão, só não chamando o Joaquim Barbosa de “mestre de açúcar”. Triste episódio para um país que pretende fazer
crescer nele o regime democrático, com as instituições funcionando de acordo
com sua Constituição, que o PT só aprovou porque não havia jeito. No campo político
formal não há moralidade sem seguir as leis do país. Pode-se até ser contra
elas, e se lutar para que outras surjam, e para isto somos chamados de tempos
em tempos a nos manifestar. Para a turma que está no poder atualmente a
moralidade vem junto com a adesão ao seu grupo, o resto é imoral, e eles tentam
provar que é ilegal.
Vejam abaixo no texto transcrito do Blog do Noblat, do
último dia 11/01/2014, do jornalista Ruy Fabiano, que resume o que vem em seu
título: “Ideologia e moralidade”, que
mostra um resumo do relativismo moral que impera em nossa política.
Observem o que o Zé Dirceu fez com o Ibsen Pinheiro, e o que
ele diz agora, graças a Deus, direto do presídio da Papuda, sobre a punição dos
seus crimes. E o pior é que a memória dos brasileiros é muito fraca. Esquecem
tudo quando ouvem um orador histriônico a soltar asneiras e mentiras pela boca.
Vejam o que disse Lula em seu discurso de posse, no trecho
colhido do livro A Década Perdida, do Marco A. Villa, e que recomendo sua
leitura, servindo para mostrar que recordar é viver ou reviver para pegar os
mentirosos:
“... ser honesto é
mais do que apenas não roubar. É também aplicar com eficiência e transparência,
sem desperdícios, os recursos públicos.
O combate à corrupção
e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e
permanentes do meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a
verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos da vida pública.”
E nesta época, até eu acreditava no meu conterrâneo, e me
afastei depois do que ele fez em seu governo, tanto em relação à eficiência no
emprego dos recursos públicos quanto à moralidade no trato da coisa pública. O
mais chocante foram suas reações diante da ação dos bandidos do mensalão, do
qual é muito difícil dizer que ele não era o chefe, sem contar a “plêiade” de obras inacabadas, como por
exemplo, a transposição do Rio São Francisco, e o emperrado PAC, cuja mãe foi
eleita para nada fazer, e agora quer ser reeleita.
Não dar mais para acreditar. E a grande maioria dos aliados,
pelo menos aqueles que tem um mínimo de zelo no trato da coisa pública, estão
abandonando o barco, com é o caso do governador de Pernambuco. E quem sai, ou
discorda do petismo desvairado, torna-se imediatamente mau e imoral. Já os que
ficam, como Zé Dirceu, Delúbio, Genoíno, são ainda os esteios morais da nação,
mesmo condenados e presos. Só resta mesmo apelar para o relativismo moral, e
usar os pouco informados das mazelas, para se manter no poder. Até quando, oh
Deus?!
Fiquem com o Ruy Fabiano, que resume muito bem tudo isto, e meditem
sobre o texto. Quem sabe vocês resolvam colocar a moralidade em seu devido
lugar, no próximo ano, fazendo o tiro sair pela culatra outra vez?
“Há momentos na história em que o espírito de uma nação – mais
especificamente de sua classe letrada – se revela por inteiro.
É o que ocorre no episódio do Mensalão. Inicialmente, não se esperava
que dele nada resultasse, o que, por si só, já revela algo de substantivo a
respeito de nossa cultura.
Dentro dela, não é comum – para não dizer que é inédito - que pessoas
influentes paguem por seus crimes. A maioria da opinião pública, pois, estava
cética em relação ao destino dos mensaleiros. Seriam inocentados e, em breve,
estariam de volta.
Deu-se, porém, o contrário: foram presos. Na reação à prisão,
sustentada por amplos setores da intelectualidade e do meio artístico, tem-se
um retrato da moralidade do país.
A hostilidade nas redes sociais e nos jornais a Joaquim Barbosa deixa
claro que, acima da moral, está a ideologia. Ou por outra, sem ideologia - de
esquerda, claro - não há moral.
“Aos amigos, tudo; aos inimigos, os rigores da lei”, sustentava Getúlio
Vargas. A solidariedade a José Genoíno, em face de sua enfermidade, não se
estendeu a outro condenado, mais enfermo que ele, Roberto Jefferson, que padece
de um câncer irreversível.
Está mais enfermo, mas não é da turma. Não merece compaixão. Criou-se,
no Mensalão, a figura esdrúxula do delito ideológico. O roubo de esquerda é
legítimo; o de direita, não.
Tal distorção já vigora há tempos em relação aos direitos humanos: um
preso político em Cuba merece o que recebe; num regime militar de direita, não.
Um torturado sob Pinochet mobiliza inúmeras comissões de direitos
humanos; um sob Fidel Castro provoca silêncio e compreensão.
A Comissão da Verdade investiga crimes de meio século atrás, mas só os
cometidos contra a esquerda. Só eles merecem o rótulo de abomináveis. Os que
ela cometeu – e cometeu diversos, devidamente comprovados – passam como
fatalidades.
E é esse mesmo pessoal – que conta a História pelo viés ideológico -
que acusa o Supremo Tribunal Federal de ter feito julgamento político no
Mensalão.
O processo levou sete anos para chegar ao plenário. Os autos formavam
montanhas de papel, mais de 50 mil páginas. Só a leitura do relatório consumiu
dois dias.
Cada acusado teve sua devida defesa - e até embargos infringentes, não
previstos na lei, foram aceitos. Não houve qualquer cerceamento ao devido
processo legal.
Mais da metade dos ministros, inclusive o relator, foi nomeada na
gestão do PT. Se tentativa houve de politizar o julgamento, foi da parte
favorável aos mensaleiros, com manobras protelatórias, que resultaram inúteis.
Na execução da pena, os sentenciados exibiram de público o seu
injustificado protesto, brandindo punhos cerrados, com críticas ferozes ao
Judiciário. Reclamaram das condições carcerárias, mesmo já tendo o governador
de Brasília, Agnelo Queiroz, providenciado com antecedência a construção de
anexos mais confortáveis para receber os companheiros.
O governador, num gesto inédito – já que é um agente do Estado e os
sentenciados delinquiram contra o Estado -, deu-se ao desplante de visitá-los
na prisão, ao lado de parlamentares, furando a fila de familiares de outros
presos, que aguardavam desde a madrugada autorização para ingressar no
presídio.
A OAB, ausente durante todo o julgamento, só se manifestou para
endossar as críticas dos mensaleiros e reclamar da suposta severidade do
presidente do STF. Presos comuns – como os de Pedrinha, no Maranhão – não
causam qualquer consternação, nem à OAB, nem aos grupos de direitos humanos.
Não têm grife ideológica. São vítimas contemporâneas, que vivem em
regime de terror. Podem ter suas aflições interrompidas já, mediante
intervenção desses grupos que se proclamam humanitários, mas, à exceção de
vozes isoladas e impotentes, não sensibilizam os ativistas dos direitos humanos
ideológicos.
Não faltam vozes, à esquerda, reclamando do moralismo que condenou os
mensaleiros. Mas essas mesmas vozes fizeram carreira política com discursos
moralistas, frequentemente falsos.
O já falecido senador Humberto Lucena foi cassado por imprimir um
calendário na gráfica do Senado. O deputado Ibsen Pinheiro foi cassado graças a
um falso extrato bancário, que o mostrava milionário. O extrato foi entregue
por José Dirceu à redação de uma revista semanal, que o publicou como
verdadeiro. Dez anos depois, desfez-se a farsa, mas já era tarde.
O ex-ministro Eduardo Jorge, do PSDB, foi execrado publicamente como
corrupto numa manobra do PT com um procurador da República, Luiz Francisco de
Souza, que saiu de cena depois que o partido assumiu a Presidência da
República.
O PT hoje prova do veneno que serviu à política brasileira. Nos 23 anos
que precederam sua chegada ao poder, pôs em cena a famosa recomendação de Lênin
aos militantes comunistas: “Acuse-os do que você faz”.
O tiro um dia sairia pela culatra. Saiu.”