Por Carlos Sena (*)
Faz dois anos que um morador de
rua, em plena Avenida Boa Viagem, no Recife, foi roubado em seu único bem: um
radinho de pilha que custa dez reais no camelô. Quando ele se acordou e sentiu
que seu precioso bem havia sido roubado olhou pra mim e vociferou: “meu Deus
roubaram meu radinho de pilha” e sem que eu dissesse nada ele saiu correndo a
esmo. Mais na frente encontrou uma guarnição da policia e lhes disse do
ocorrido. Por sorte, os policiais encontraram os larápios, recuperaram o
radinho de pilha e o morador de rua, contente, voltou gritando “meu rádio foi
achado, meu rádio foi achado”! Depois do ocorrido eu segui minha caminhada no
calçadão remoendo os meus valores diante do que representava um simples
radinho de pilha. E remeti a Dom Helder quando sempre dizia: “Não há pobre que
não tenha algo a dar, nem rico que não tenha algo a receber”... Aquele rádio
era mais importante para o morador de rua do que uma televisão LCD e de Led.
Ele se ligava ao mundo via rádio. Certamente ouvia seu time de futebol jogar e,
com certeza, devia curtir uma musica do seu tempo relembrando amores do
passado. Afinal, nas ruas, quem sabe ele não se perdeu procurando seu grande
amor? Por não achar, decidiu lá permanecer! Talvez pela certeza de que “a
esperança é a única que morre”... Desde aquele dia, no natal, lembro-me daquele
morador de rua, cuja imagem não me sai da lembrança.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 04/12/2013
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