Bom Conselho - PE (Véspera de ano - 2013) |
Por Zé Carlos
Em texto anterior disse que havia ido à redação da A Gazeta,
quase homônimo deste meu blog que cismo em manter para que Bom Conselho fique
informada, e que é jornal escrito da cidade sob a batuta do Luis Clério. Seria
uma visita rápida e nem aceitei o lauto café, pensando que iria sair logo. Como
se isto fosse possível.
Sempre que faço esta visita encontro outras pessoas lá e
desta vez não foi diferente. No início estava apenas o Naduca. Eu não sei a
idade do Naduca, mas, pelo tempo que o conheço, na mesma forma física, firme e
forte, eu diria apenas que ele tem mais de 50 anos, embora, ficasse com vontade
de perguntar sua receita para mantê-la. Foi um encontro fortuito e programado
ao mesmo tempo, por ser ele habitué do segundo mais famoso cafezinho da cidade.
O primeiro, dizem quem o frequentou era o da casa do Coronel Zezé. Eu penso
que, mesmo faltando um coronel, isto não é problema porque o Naduca tem uma
pinta danada de coronel. Talvez só falte o Tenente Raul, para ficar mais
parecido com o cafezinho do Coronel.
Conhecia mais a mãe do Naduca do que ele, e falamos a
respeito dela, Dona Júlia, que os maldosos acrescentavam um adjetivo (pimenta),
por ela ser uma mulher forte e destemida. Sofri várias vezes o seu ardor por
ter a minha bola penetrado em sua casa em muitas ocasiões. Ela sempre ameaçava,
se caísse outra vez ela não devolvia. Íamos jogar mais longe da casa dela, mas
depois tudo era esquecido, e lá vai outra vez a bola casa adentro, mas, ela
sempre devolvia.
Lembro outro episódio com Dona Júlia, e longe de sua casa,
quando tinha uns 5 ou 6 anos de idade, e morava ainda na Praça Lívio Machado,
de saudosa memória, e depois de vestir um terno de tropical, feito por Antônio
da Tupi, cuja alfaiataria era quase vizinha à minha casa. Depois de minha mãe
me vestir, eu, querendo ser um rapaz, fiz a proeza de calçar o sapato sozinho.
Achei um pouco desconfortável no início, mas, fui em direção à Igreja Matriz.
Até quando encontrei Dona Júlia no meio da praça e ela olhou para mim e disse:
“Meu filho, você tá muito bonitinho mas
calçou o sapato errado!”. Olhei para os meus pés e parecia um marreco com
os sapatos trocados. Corri para casa e depois de levar uma bronca da minha mãe
ela fez o certo. Como é bom relembrar, mesmo que seja de coisas do passado
distante, pois o passado próximo já custa a lembrar, em nossa idade.
Quando já tentava ir embora, vi que isto seria impossível,
pois chegou o Zé Tenório. Zé não precisaria nem falar, para que me lembrasse de
uma série de coisas. No entanto, quem disse que ele pode ficar sem falar? E
aí as lembranças vieram de montão. Hoje formamos quase uma família estendida
porque seu irmão é casado com uma irmã minha e tem dois filhos que têm Cordeiro
Tenório como sobrenome, mistura que ele disse produzir as maiores inteligências
de mundo. Tive que concordar já que minhas filhas são Tenório Cordeiro, e
também é uma boa mistura.
E são tantas as emoções ao relembrar dos meus tratamentos de
dente com ele, e dizer que ainda tinha obturações feitas por ele há mais de 50
anos. Sempre foi um grande profissional e um amigo. Foi um grande prazer
encontrá-lo e rememorar os acontecimentos de nossa infância e adolescência. E
mesmo da época já de adulto quando ele mencionou as virtudes oratórias do meu
tio Geraldo Cordeiro. Realmente, era um bom orador, embora, certas vezes,
parecesse o Professor Astromar, que falava palavras bonitas, era
aplaudidíssimo, mesmo que os ouvintes não entendessem nada. Conversaríamos mais
um dia ou dois sem esgotar os assuntos, mas, as viagens de turista que faço
hoje a minha terra não permitem. Quem sabe um dia?
Mesmo assim, terminei
ficando por lá, até o por do sol. Depois fui encontrar minha mulher que já
estava preocupada com meu sumiço. Talvez ela pensasse que eu teria me perdido
pelo caminho, e com razão. Bom Conselho cresceu tanto que já é possível me
perder dentro dela. Isto, se não houvesse outros encontros para nos orientar.
Mas, sempre encontramos alguém que nos orienta, de forma fortuita ou programada.
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