Papai Noel (Praça Pedro II - Bom Conselho) |
Por Zé Carlos
Quase sempre, quando vou a Bom Conselho, fico com estórias
para contar. Desta vez não foi diferente. Lá passei dois dias e vi este ano
novo nascer, sem fazer nenhuma promessa. Nem mesmo de fazer regime, pois
cheguei em forma do ano passado.
Logo quando chego e ultrapasso o portal da cidade,
influência do sul sobre nossas plagas, eu começo a observar. Desta vez, bem
antes, mesmo antes de ver a serra de Santa Terezinha, vítima de desmatamento, e
do bueiro da Perdigão, eu já vinha com uma ideia em mente: Ir à Praça Pedro II
e verificar se já haviam arranjado outra roupa para o Papai Noel, que foi,
segundo alguns, surrupiado de sua rubra vestimenta.
No entanto, observei
bem que a entrada da cidade continua sem buracos e tudo continuava a mesma
coisa até o centro, apenas dando por falta das palmeiras que existiam na saída
da ponte do Colégio, na bifurcação das ruas Joaquim Nabuco e Siqueira Campos,
para dar lugar a um novo posto de gasolina. Alguns dirão que é o progresso. Eu
apenas diria “progresso”. Só tenho medo de que a moda pegue e abatam as
palmeiras da entrada do Colégio N. S. do Bom Conselho, as quais vi nascer,
antes de ver morrer aquelas existentes na Praça Pedro II.
Com as dificuldades normais de estacionamento, outro símbolo
de “progresso”, desci pelo oitão do eterno Cine Brasília, onde agora é um
mistura de banco com igreja, e estacionei na Travessa 13 de Maio, de onde parti
logo, a pé, para o centro, com o objetivo de olhar o que sobrou do bom
velhinho. Confesso que não foi fácil atravessar da casa onde convivi com Ivan
Crespo (que nos deixou recentemente) e vi Dona Fifita na janela, para a Praça. Eram tantos os carros, motos e
até carroças que temi pela minha integridade física. Porém, com muito jeito e
atenção eu cheguei ao meu destino: a casa do Papai Noel.
Confesso que tive uma grande decepção, pelo que esperava
ver, mas tive também uma alegria com o que vi, o bom velhinho todo bem
vestidinho e sentado em seu trono, talvez descansando do assédio natalino de
que é vítima todos os anos. Comecei a pensar se não fora mentira a estória do
roubo da roupa, ou se, não sendo, houve um surto de eficiência e cobriram logo
as partes desnudas do Noel, que me parecia bem fisicamente.
Tirei umas fotos dele, dentro da casinha e fui me informar a
respeito do roubo. Soube que, não houve roubo da roupa, e sim, surrupiaram a
cabeça do velhinho do polo norte. A cabeça que estava lá era nova e fora
colocada pela sua criadora, que teve medo de que, tendo o Papai Noel perdido a
cabeça, ele cometesse alguma atrocidade com os visitantes e fosse pego pelos
carros do Pacto pela Vida, do nosso governo.
Diante desta nova versão, eu fiquei pensando nas possíveis
consequências do protegido pelo Estatuto do Idoso, quando perdeu a cabeça. Será
que ele se tornaria o mau velhinho? Será que ele vestiria azul, doravante? Ou
será que ele não usaria mais trenó e passaria a usar esquis como o Schumacer?
Será que teria sido ele que empurrou o campeão de Fórmula 1 lá nos Alpes? São
muitas as possibilidades de atitudes más que passam em minha cabeça, numa fase
de maldade noelina. Pior de tudo seria que ele continuasse sem cabeça e votasse
errado nas próximas eleições.
Como tudo em Bom Conselho gira em torno de política, desde o
duelo entre Padre Alfredo e o Coronel Zezé, no outro dia fui lá na casa do
Papai Noel outra vez, e lá estava um funcionário da prefeitura, a quem
perguntei sobre o roubo da roupa e a perda da cabeça do bom idoso. Me
surpreendi quando ele disse que não houve roubo nem perda nenhuma, tudo isto
era intriga da oposição. Calei e fui em frente, sem ver o Papai Noel desnudo.
No mais, a decoração da Praça e da cidade me agradou
bastante, principalmente à noite, com exceção daquele palco enorme no oitão da
Igreja Matriz. Não vi parques de diversão por lá, o que talvez seja bom para os
adultos e ruim para as crianças. Será que foi por isso que o Papai Noel perdeu
à cabeça? Sei lá! No outro dia encontrei um Parque de diversões lá na Avenida
Novo e vi um garotinho com uma cabeça de Papai Noel debaixo do braço. Será que
teriam sido as crianças que o fizeram perder a cabeça? Pior teria sido se ele tivesse
ficado nu e sem cabeça. Poderiam confundi-lo com a Mula Sem Cabeça que habitava
a calçada da Igreja nos meus tempos de criança.
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