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sábado, 18 de janeiro de 2014

O relativismo moral que nos assola




Por Zezinho de Caetés

A relação entre política e moralidade é muito complexa. Ou pelo menos era, antes do PT assumir as rédeas do poder no Brasil e cavalgar no espírito de ditadores que diziam: “Aos amigos, tudo; aos inimigos, os rigores da lei”, e eu acrescentaria, “aos amigos, as benesses do poder, principalmente”.

Lembro ainda da última convenção do PT, onde compareceram nossa presidenta e o meu conterrâneo Lula para dar respaldo à critica ao STF, no caso do mensalão, só não chamando o Joaquim Barbosa de “mestre de açúcar”. Triste episódio para um país que pretende fazer crescer nele o regime democrático, com as instituições funcionando de acordo com sua Constituição, que o PT só aprovou porque não havia jeito. No campo político formal não há moralidade sem seguir as leis do país. Pode-se até ser contra elas, e se lutar para que outras surjam, e para isto somos chamados de tempos em tempos a nos manifestar. Para a turma que está no poder atualmente a moralidade vem junto com a adesão ao seu grupo, o resto é imoral, e eles tentam  provar que é ilegal.

Vejam abaixo no texto transcrito do Blog do Noblat, do último dia 11/01/2014, do jornalista Ruy Fabiano, que resume o que vem em seu título: “Ideologia e moralidade”, que mostra um resumo do relativismo moral que impera em nossa política.

Observem o que o Zé Dirceu fez com o Ibsen Pinheiro, e o que ele diz agora, graças a Deus, direto do presídio da Papuda, sobre a punição dos seus crimes. E o pior é que a memória dos brasileiros é muito fraca. Esquecem tudo quando ouvem um orador histriônico a soltar asneiras e mentiras pela boca.

Vejam o que disse Lula em seu discurso de posse, no trecho colhido do livro A Década Perdida, do Marco A. Villa, e que recomendo sua leitura, servindo para mostrar que recordar é viver ou reviver para pegar os mentirosos:

“... ser honesto é mais do que apenas não roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos.

O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos da vida pública.”

E nesta época, até eu acreditava no meu conterrâneo, e me afastei depois do que ele fez em seu governo, tanto em relação à eficiência no emprego dos recursos públicos quanto à moralidade no trato da coisa pública. O mais chocante foram suas reações diante da ação dos bandidos do mensalão, do qual é muito difícil dizer que ele não era o chefe, sem contar a “plêiade” de obras inacabadas, como por exemplo, a transposição do Rio São Francisco, e o emperrado PAC, cuja mãe foi eleita para nada fazer, e agora quer ser reeleita.

Não dar mais para acreditar. E a grande maioria dos aliados, pelo menos aqueles que tem um mínimo de zelo no trato da coisa pública, estão abandonando o barco, com é o caso do governador de Pernambuco. E quem sai, ou discorda do petismo desvairado, torna-se imediatamente mau e imoral. Já os que ficam, como Zé Dirceu, Delúbio, Genoíno, são ainda os esteios morais da nação, mesmo condenados e presos. Só resta mesmo apelar para o relativismo moral, e usar os pouco informados das mazelas, para se manter no poder. Até quando, oh Deus?!

Fiquem com o Ruy Fabiano, que resume muito bem tudo isto, e meditem sobre o texto. Quem sabe vocês resolvam colocar a moralidade em seu devido lugar, no próximo ano, fazendo o tiro sair pela culatra outra vez?

“Há momentos na história em que o espírito de uma nação – mais especificamente de sua classe letrada – se revela por inteiro.

É o que ocorre no episódio do Mensalão. Inicialmente, não se esperava que dele nada resultasse, o que, por si só, já revela algo de substantivo a respeito de nossa cultura.

Dentro dela, não é comum – para não dizer que é inédito - que pessoas influentes paguem por seus crimes. A maioria da opinião pública, pois, estava cética em relação ao destino dos mensaleiros. Seriam inocentados e, em breve, estariam de volta.

Deu-se, porém, o contrário: foram presos. Na reação à prisão, sustentada por amplos setores da intelectualidade e do meio artístico, tem-se um retrato da moralidade do país.

A hostilidade nas redes sociais e nos jornais a Joaquim Barbosa deixa claro que, acima da moral, está a ideologia. Ou por outra, sem ideologia - de esquerda, claro - não há moral.

“Aos amigos, tudo; aos inimigos, os rigores da lei”, sustentava Getúlio Vargas. A solidariedade a José Genoíno, em face de sua enfermidade, não se estendeu a outro condenado, mais enfermo que ele, Roberto Jefferson, que padece de um câncer irreversível.

Está mais enfermo, mas não é da turma. Não merece compaixão. Criou-se, no Mensalão, a figura esdrúxula do delito ideológico. O roubo de esquerda é legítimo; o de direita, não.

Tal distorção já vigora há tempos em relação aos direitos humanos: um preso político em Cuba merece o que recebe; num regime militar de direita, não.

Um torturado sob Pinochet mobiliza inúmeras comissões de direitos humanos; um sob Fidel Castro provoca silêncio e compreensão.

A Comissão da Verdade investiga crimes de meio século atrás, mas só os cometidos contra a esquerda. Só eles merecem o rótulo de abomináveis. Os que ela cometeu – e cometeu diversos, devidamente comprovados – passam como fatalidades.

E é esse mesmo pessoal – que conta a História pelo viés ideológico - que acusa o Supremo Tribunal Federal de ter feito julgamento político no Mensalão.

O processo levou sete anos para chegar ao plenário. Os autos formavam montanhas de papel, mais de 50 mil páginas. Só a leitura do relatório consumiu dois dias.

Cada acusado teve sua devida defesa - e até embargos infringentes, não previstos na lei, foram aceitos. Não houve qualquer cerceamento ao devido processo legal.

Mais da metade dos ministros, inclusive o relator, foi nomeada na gestão do PT. Se tentativa houve de politizar o julgamento, foi da parte favorável aos mensaleiros, com manobras protelatórias, que resultaram inúteis.

Na execução da pena, os sentenciados exibiram de público o seu injustificado protesto, brandindo punhos cerrados, com críticas ferozes ao Judiciário. Reclamaram das condições carcerárias, mesmo já tendo o governador de Brasília, Agnelo Queiroz, providenciado com antecedência a construção de anexos mais confortáveis para receber os companheiros.

O governador, num gesto inédito – já que é um agente do Estado e os sentenciados delinquiram contra o Estado -, deu-se ao desplante de visitá-los na prisão, ao lado de parlamentares, furando a fila de familiares de outros presos, que aguardavam desde a madrugada autorização para ingressar no presídio.

A OAB, ausente durante todo o julgamento, só se manifestou para endossar as críticas dos mensaleiros e reclamar da suposta severidade do presidente do STF. Presos comuns – como os de Pedrinha, no Maranhão – não causam qualquer consternação, nem à OAB, nem aos grupos de direitos humanos.

Não têm grife ideológica. São vítimas contemporâneas, que vivem em regime de terror. Podem ter suas aflições interrompidas já, mediante intervenção desses grupos que se proclamam humanitários, mas, à exceção de vozes isoladas e impotentes, não sensibilizam os ativistas dos direitos humanos ideológicos.

Não faltam vozes, à esquerda, reclamando do moralismo que condenou os mensaleiros. Mas essas mesmas vozes fizeram carreira política com discursos moralistas, frequentemente falsos.

O já falecido senador Humberto Lucena foi cassado por imprimir um calendário na gráfica do Senado. O deputado Ibsen Pinheiro foi cassado graças a um falso extrato bancário, que o mostrava milionário. O extrato foi entregue por José Dirceu à redação de uma revista semanal, que o publicou como verdadeiro. Dez anos depois, desfez-se a farsa, mas já era tarde.

O ex-ministro Eduardo Jorge, do PSDB, foi execrado publicamente como corrupto numa manobra do PT com um procurador da República, Luiz Francisco de Souza, que saiu de cena depois que o partido assumiu a Presidência da República.

O PT hoje prova do veneno que serviu à política brasileira. Nos 23 anos que precederam sua chegada ao poder, pôs em cena a famosa recomendação de Lênin aos militantes comunistas: “Acuse-os do que você faz”.


O tiro um dia sairia pela culatra. Saiu.”

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