Farmácia Crespo |
Por Zé Carlos
Quando vou a Bom Conselho tenho sempre encontros programados
e fortuitos. Num dos programados, estive com Luis Clério para agradecer-lhe
pela publicação de alguns dos meus textos e pelo apoio que ele me deu em nosso
Mural, quanto ao processo, em que me tornaram réu pela primeira vez aos 65
anos. Mas, mesmo lá, no encontro programado, tive encontros fortuitos, como por
exemplo com Zé Tenório e com o Naduca, sendo que destes eu não falarei agora.
Trato aqui de um encontro fortuito que me deu muita alegria.
Estava eu no restaurante do Hotel Raízes, junto com pessoas de minha família,
quando se aproximou alguém e se passou o seguinte diálogo, que me deixou um
pouco envergonhado pela minha falha na memória:
- Lembra de mim?!
- Sinceramente, não!
- Do Rio de Janeiro.
- Ainda continuo sem
me lembrar.
- Dentista!
- Não consigo lembrar,
ainda.
Foi aí que minha mulher disse: Marco Presideu?! Ao vê-lo confirmar a pergunta, eu vi quanto estava
velho, com reflexos contundentes na memória. Marco Presideu, que todos em Bom
Conselho, de minha geração, conheceram (se não, conheceram seu pai, João
Presideu), estava ali em minha frente, e eu passei batido em sua identificação.
Historio um pouco para mostrar como me senti naquele momento
de falha na memória. Marco foi meu colega no Ginásio São Geraldo e com várias
afinidades comigo. Por exemplo, nos desfiles de 7 de setembro eu, ele e Elion
Borges sempre ficávamos na ultima fileira do pelotão masculino, pela nossa
altura pouco desenvolvida. E não pensem que era por deficiência e sim pela
nossa pouca idade. Jogamos bola juntos e até pensava que ele teria concluído o
Curso Ginasial comigo, o que ele disse não ser verdade, pois antes da conclusão
ele foi estudar em outro lugar.
Mas, não ficam por aí as minhas lembranças, que se relacionam
com o Marco, a quem tanto tive o prazer de reencontrar. Estávamos juntos,
quando fui eu, pela primeira vez, uma espécie de réu, quando fomos chamados à
secretaria e ficamos frente à frente com seu Waldemar Gomes, o diretor e bom disciplinador
do nosso querido Ginásio São Geraldo. Foi uma experiência terrível para mim,
porque da mesma forma que hoje, não me sentia culpado pela acusação, que não me
lembro qual era. Havia mais alguns alunos com a gente, mas só me lembro do
Marco e do Damuriez, que foi o único a pagar com as mãos vermelhas, pela
acusação que nos fazia o grande mestre. Enquanto, seu Waldemar dizia: “Agora vou matar tudo de bolo!”, o
pessoal se ajoelhava e chorava pedindo clemência. Só sei que o Damuriez sozinho
é que serviu de exemplo, e após o sétimo contato da palmatória com sua mão, ele
começou a chorar, e o suplicante foi atendido. Quase me borrei de medo, pois
ainda sentia nas mãos os bolos que levei na minha escola anterior, de Dona
Lourdes Cardoso (outro encontro fortuito foi com Maria, sua filha, mas este
também fica para depois).
Como foi bom lembrar disso naquela conversa rápida, onde
éramos turistas em nossa própria terra.
Lembrei até dos “assustados”
que eram feitos em sua casa, os quais eu ficava olhando da janela para as
moças, que minha timidez renitente me impedia de abordar.
Tempos depois, quando morei no Rio de Janeiro, encontrei o
Marco outra vez, já morando lá e instalado profissionalmente, ganhando seu pão,
honestamente, da boca do povo, de cuja expertise me aproveitei para tratar
alguns dentes e conversar sobre nossa terra. Boas e humoradas estórias de sua
clínica popular me divertiram, pelo inusitado, como por exemplo, o dia, contou
ele, em que extraiu o dente errado de uma moça, e ela nem notou, entre outros “causos”.
Fui ao seu casamento na Tijuca, e lembramos isto. Foi na
Igreja de São Sebastião, na qual hoje não saberia lá chegar, mas, me marcou a
lembrança de sua mãe, Dona Suzana, com um esvoaçante vestido vermelho. Tive o
prazer de saber que, atualmente, ela mora no Recife e vende saúde. Já eu não
consigo vender este produto, pois só dar para o gasto, algumas vezes eu já
compro nas casas do ramo, as farmácias.
Enfim, foi um dos encontros fortuitos, nesta ida a nossa
terra natal, que mais me deram alegria. É uma pena que hoje as festas de final
de ano estão se esvaziando dos de minha geração. A grande maioria prefere o
Encontro dos Bom-conselhenses, que acontece no meio de janeiro, em datas que
não me permitem viajar. Mas, apenas desejo que todos os participantes do
encontro tenham encontros fortuitos, ou programados, tão alegres como o que
tive.
Para terminar, eu gostaria de ter tido um encontro
programado, que não pude ter. Passei, como sempre o fiz, na Farmácia Crespo, e
não encontrei Ivan por lá. Tirei uma foto de sua cadeira e do seu retrato, com
a qual ilustro esta postagem. Senti saudades do gordo.
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