Por Carlos Sena (*)
Nosso país é cheio de modas.
Modas corretas e outras apenas em função do politicamente nem sempre corretas.
De repente a onda a favor ou contra os gays está dando uma trégua e entra em
cena a cena ANIMAL: súbitos, jovens se insurgem contra os animais que servem de
pesquisas em institutos que trabalham com autorização oficial e soltam os
cachorros, literalmente. Soltam os cachorros, mas eles ficaram abandonados e
com fome e sem dono. Porque os jovens cheios de ideais libertários não trazem
consigo uma ação completa, ou seja, nada fazem para dar aos cachorros aquilo
que eles acham que estava faltando no cativeiro deles... Será que esse povo não
está tão-somente querendo os quinze minutos de fama? Pode ser que sim ou que
não. Pelo sim, por que não fazem com todos os animais, inclusive com as cobras?
Por que não entram no Butantã e soltam todas as cobras? Por que não invadem as
ruas das grandes cidades e não ficam no lugar dos burros de carroça? Pode ser
que sim pode ser que não. Pelo sim e pelo não, melhor que fossem eles, os
jovens idealistas, soltarem do “cativeiro” os humanos que sofrem nas urgências
e emergências das grandes cidades. Pelo sim e pelo não, por que não fazem
movimentos para os governos cuidarem dos menores abandonados? Porque nosso país
tem menino sem dono nas ruas, mas se alguém pegar uma galinha, um porco, um pato,
um bode, logo aparece dono e chama a polícia, mas gente não. Gente é abandonada
e até vale menos que um cachorro. Será que foi por isso que fizeram aquela
musica “troque seu cachorro por uma criança pobre”?
Lógico que o mundo ideal é aquele
em que tudo esteja “DE ACORDO”. Só que isso leva séculos de civilização e nós,
certamente não alcançaremos isso. Lógico que devemos defender a ecologia e com
ela todos os animais. Claro que não se pode tolerar os maus tratos com os
“totós”, com os felinos, enfim, com os animais no geral. Só que mesmo pra isso,
só os animais que suscitam carinho e satisfazem carências dos humanos é que são
defendidos peremptoriamente. É feito filho adotivo que todo mundo só quer o
mais bonito e de olhos claros. Por que não defendem os ratos? As pulgas? As
cigarras? As cobras? Se for para defender o ecossistema tem-se que defender sem
discriminar. Os argumentos são vários. Pessoas do contra e a favor logo
aparecem, mas não se foca a questão de que os humanos são o centro do universo;
são a espécie suprema na face da terra. E isso é tão correto que até dizem
sermos a imagem e semelhança de Deus! Será que os cachorros também são?
Pois bem: que defendamos os
bichos e as bichas. Mas que priorizemos os humanos e se para essa priorização
for preciso utilizar bichos como cobaias, pois que se utilizem. No dia em que
se for provado que isso não mais precisa então a questão estaria resolvida, ou
não? O pior de tudo isso é que esses jovens que a TV mostra defendendo coisas
que talvez eles nem saibam o porquê, são os mesmos que não respeitam os mais
velhos, são os mesmos que furam filas, são os mesmos que cobrem os rostos para
fazer baderna nos centros urbanos. Há exceções, claro. Mas, não é delas que
estamos falando, mas daqueles que, por terem medo de não assumir o que fazem
escondem a cara. E agora Cazuza, como ficaria o seu “Brasil, mostra tua cara”?
Se teus jovens menos mostram e mais escondem suas caras para poder arruaçar e
badernar em nome do que eles dizem ser politicamente correto?
Pode ser que eu precise melhorar
meu entendimento acerca. Mas, tenho certeza que iguais a mim muitos pensam
identicamente. Porque é muito bom se arvorar de moderno, de libertador, de
defensor da ecologia, sem sequer respeitar o próximo que com ele convive no dia
a dia... Ou não? Na verdade, esse povo precisava ler a fábula de Malba Tahan. O
Google pode refrescar a memoria de quem se interessar. Enquanto isso, tem gente
com vida de cachorro e cachorro recebendo vida de gente... Gente com fome pelas
ruas e cachorros com vida de gente nas residências chiques, pudoradas e nunca
nuas.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 26/10/2013
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