Por Carlos Sena. (*)
Vez por outra gosto de refletir
sobre o óbvio. O óbvio que é morrer ou mesmo envelhecer – isso por conta das
contradições que no nosso cotidiano se interpõem através das pessoa que conosco
convivem mais de perto ou mais distante. Pensar sobre o óbvio é algo como não
bastar dizer que “a cocada é de coco”, porque para muitos temos mesmo que dizer
que “a cocada é de coco e o coco vem do coqueiro”... É o caso da morte. É o
caso da velhice. Essas duas coisas mais cedo ou mais tarde nos pegam, “nos
prendem nos aprisionam ou nos vitimiza com suas garras ferozes”... Como se não
bastassem essas obviedades, muitos, do alto dos seus “sapatos altos”, das suas
empáfias, esquecem que defecam (cagam), que fazem xixi (mijam) e outras coisas
da escatalogia, e como se não bastasse, se julgam superiores aos demais e neles
pisam, humilham praticam todo tipo de jogo sujo. Quando essas coisas acontecem
no seio dos seres humanos mais simples tudo se torna trágico e sem sentido
ético, imaginem quando esses seres são políticos – daquela cepa sem escrúpulos
que até vendem suas próprias mães para se eleger e ter poderes públicos.
Pois é. Como dizia Millôr
Fernandes: “É”! Millôr, como sempre, era genial no singular e plural na
singularidade do humano puro, contente, feliz, apesar dos pesares da
convivência de uma sociedade mais mesquinha do que madrinha. Por isso falar do
óbvio me deleita. Porque nele a gente entra numa linha de desconforto que, sob
certos ângulos de visão, nos servem para crescer por dentro. Explico: pra quer
lutar por riqueza a custa, inclusive, de atividades de natureza duvidosa? Por
que humilhar pessoas, puxar-lhes o tapete por conta de cargos? Por que ter
conta bancária robusta se depois se gasta tudo que ganhou com médicos por que
se perdeu a saúde? Certamente que dinheiro é bom e eu também gosto. Mas, gosto
dele na linguagem de Victor Hugo: na medida certa dele! Segundo ele, um dia por
ano a gente deveria por uma porção de dinheiro na mão e olhando pra ele dizer:
“isso é meu”... Porque a gente passa muito tempo utilizando o dinheiro como se
ele não fosse nosso, mas nós dele.
Travesseiro só é o melhor
conselheiro se quem nele dorme o faz com a consciência tranquila de que não
pisou em cima dos outros, nem, por conta de ficar rico, jogou toda ética na
lata do lixo... A vida é mesmo uma roda gigante, mas que poucos poderosos têm
essa noção: se um dia está sentado na cadeira de baixo, noutro estaremos na de
cima, e vice-versa. O mundo gira, a roda gira. Caixão de defunto não tem
gavetas e muitas vezes aquele que, a custa de sacrifícios honestos ou não,
deixa fortunas que serão usufruídas por quem nunca fez forças pra isso. Só
acredito num fato que bem poderia levar muita gente a ter um rei na barriga: 1.
Se não morressem; 2. Se não cagassem.
Assim, diante deste pensar sem
novidades, não me canso de não entender o porquê de tanto egoísmo no meio do
mundo; o porquê de tanta gente falsa que finge de boazinha para defender seus
interesses escusos. Afinal, o buraco que recebe o rico, recebe o pobre, recebe
o homem e a mulher, os do movimento LGBT, enfim, todos... Bem que o mundo
poderia mesmo ser mais solidário. Isso só se justifica na doutrina espírita: somos
um planeta atrasado que só serve para expiação e provas. Ou não?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 24/10/2013
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