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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Refletindo sobre o óbvio.




Por Carlos Sena. (*)


Vez por outra gosto de refletir sobre o óbvio. O óbvio que é morrer ou mesmo envelhecer – isso por conta das contradições que no nosso cotidiano se interpõem através das pessoa que conosco convivem mais de perto ou mais distante. Pensar sobre o óbvio é algo como não bastar dizer que “a cocada é de coco”, porque para muitos temos mesmo que dizer que “a cocada é de coco e o coco vem do coqueiro”... É o caso da morte. É o caso da velhice. Essas duas coisas mais cedo ou mais tarde nos pegam, “nos prendem nos aprisionam ou nos vitimiza com suas garras ferozes”... Como se não bastassem essas obviedades, muitos, do alto dos seus “sapatos altos”, das suas empáfias, esquecem que defecam (cagam), que fazem xixi (mijam) e outras coisas da escatalogia, e como se não bastasse, se julgam superiores aos demais e neles pisam, humilham praticam todo tipo de jogo sujo. Quando essas coisas acontecem no seio dos seres humanos mais simples tudo se torna trágico e sem sentido ético, imaginem quando esses seres são políticos – daquela cepa sem escrúpulos que até vendem suas próprias mães para se eleger e ter poderes públicos.

Pois é. Como dizia Millôr Fernandes: “É”! Millôr, como sempre, era genial no singular e plural na singularidade do humano puro, contente, feliz, apesar dos pesares da convivência de uma sociedade mais mesquinha do que madrinha. Por isso falar do óbvio me deleita. Porque nele a gente entra numa linha de desconforto que, sob certos ângulos de visão, nos servem para crescer por dentro. Explico: pra quer lutar por riqueza a custa, inclusive, de atividades de natureza duvidosa? Por que humilhar pessoas, puxar-lhes o tapete por conta de cargos? Por que ter conta bancária robusta se depois se gasta tudo que ganhou com médicos por que se perdeu a saúde? Certamente que dinheiro é bom e eu também gosto. Mas, gosto dele na linguagem de Victor Hugo: na medida certa dele! Segundo ele, um dia por ano a gente deveria por uma porção de dinheiro na mão e olhando pra ele dizer: “isso é meu”... Porque a gente passa muito tempo utilizando o dinheiro como se ele não fosse nosso, mas nós dele.

Travesseiro só é o melhor conselheiro se quem nele dorme o faz com a consciência tranquila de que não pisou em cima dos outros, nem, por conta de ficar rico, jogou toda ética na lata do lixo... A vida é mesmo uma roda gigante, mas que poucos poderosos têm essa noção: se um dia está sentado na cadeira de baixo, noutro estaremos na de cima, e vice-versa. O mundo gira, a roda gira. Caixão de defunto não tem gavetas e muitas vezes aquele que, a custa de sacrifícios honestos ou não, deixa fortunas que serão usufruídas por quem nunca fez forças pra isso. Só acredito num fato que bem poderia levar muita gente a ter um rei na barriga: 1. Se não morressem; 2. Se não cagassem.

Assim, diante deste pensar sem novidades, não me canso de não entender o porquê de tanto egoísmo no meio do mundo; o porquê de tanta gente falsa que finge de boazinha para defender seus interesses escusos. Afinal, o buraco que recebe o rico, recebe o pobre, recebe o homem e a mulher, os do movimento LGBT, enfim, todos... Bem que o mundo poderia mesmo ser mais solidário. Isso só se justifica na doutrina espírita: somos um planeta atrasado que só serve para expiação e provas. Ou não?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 24/10/2013

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