Por Zezinho de Caetés
Volto hoje ao episódio que está marcando nossa República,
como o Encontro Fatal, entre três
cidadãos brasileiros de importância política reconhecida, mas, cuja importância
moral e talvez política vá para o ralo quando se pesquisar a fundo quem está
dizendo a verdade. Eu ainda continua acreditando na versão da Revista Veja.
Desta vez eu transcreverei uma entrevista dada pelo Ministro
Gilmar Mendes ao Estadão, na última terça-feira (29), e que reforça minha
crença na versão da revista. Não tivemos um só pio do meu conterrâneo Lula, e
só grunhidos (“nada vi, nada sei”) do
Nelson Jobim, pois não considero aquela nota do Instituto Lula, dizendo que ele
estaria indignado, e que não conversaram sobre o mensalão, como sendo o próprio
Lula falando. No final das contas, há precedentes bastantes para ele vir a público
e declarar que “nada sabia” daquela
nota, e não seria a primeira vez.
Eu não transcreverei a entrevista dizendo que é apenas para
que os meus poucos leitores decidam por si mesmos. Isto está implícito, mas, eu
acredito no Gilmar Mendes, mesmo que não o considere um santo. Muitas coisas
foram inventadas e urdidas sobre ele, inclusive no caso do Daniel Dantas que
também não se revelou ser o diabo que parecia ser, mas, isto é assunto para
outro texto. Eu acredito nele, apesar de achar que ele errou em ir a um
encontro e demorar tanto tempo para cair a ficha sobre o que se tratava.
Agora resta aos cidadãos de bem deste país e que tenham
notícias desta conversa, que abram seus arquivos mentais e falem sobre ele,
pois assim fazendo estarão prestando um grande serviço à democracia ao estado
de direito neste país. Leiam a entrevista e meditem:
Estado: Na conversa no escritório de Jobim, o ex-presidente Lula foi
taxativo ou falou veladamente?
Ministro Gilmar
Mendes: Em relação à CPMI ele foi taxativo e também quando falou da viagem a
Berlim. Três ou quatro vezes ele disse: 'Eu tenho o controle da CPMI'. Eu fui
me fazendo de desentendido. Percebi o intuito dele quando ele disse: 'Você tem
que se preocupar com a CPMI'. Eu disse a ele que não tenho nada com o
Demóstenes. 'Vá fundo na CPMI', eu disse a ele. Eu disse que não tenho que ter
proteção. Ai ele levou um susto, tanto que fez um movimento corporal mais
brusco. Mas em seguida veio com a pergunta. 'E Berlim? E essa história?'
Como o sr. respondeu?
Eu disse a ele:
'Presidente, o senhor está desinformado. Eu vou a Berlim frequentemente. Desde
1979 que vivo indo à Alemanha. Estudei lá, fiz doutorado, fiz mestrado. Vou a
Berlim como você vai a São Bernardo do Campo. Contei ao presidente que na
viagem a Praga fui recebido pelo embaixador, ex-chefe do cerimonial dele. E em
Berlim fui recebido pelo embaixador Everton Vargas, designado por ele (Lula). O
almoço (com o embaixador) estava na agenda, ninguém foi fazer turismo oculto.
E sobre o mensalão?
Repassamos vários
assuntos, falamos de nomeação de ministros, da PEC da bengala e a falta de
interlocução hoje com o STF. Aí ele falou do mensalão. Eu defendi um julgamento
eminentemente técnico, fiz uma defesa nesse sentido. Ele falou: 'Não é bom
agora porque vai pegar o clima eleitoral.'
Quem puxou o assunto sobre o mensalão?
Ele (Lula).
Como o sr. reagiu?
A conversa prosseguiu
normalmente, depois é que percebi o intuito dele (Lula). Eu disse a ele que não
seria possível o adiamento (do julgamento), por causa da repercussão e a
possibilidade de que dois ministros que receberam a denúncia (contra os réus do
mensalão) não mais poderiam participar (por causa da aposentadoria de ambos).
Eu disse que (os ministros) são experientes e seria positivo que participassem
(do julgamento). Estão fazendo uma grande confusão a partir de premissas
evidentemente falsas. Eles construíram a ideia de que podiam melar o julgamento
do mensalão trazendo uma crise para o Poder Judiciário. Achavam que podiam
evitar o julgamento e passaram então a alimentar essa história com informações
distorcidas.
Quais informações?
Eles subsidiaram isso
com uma série de informações falsas. Hoje você tem um roteiro da viagem que fiz
a Berlim dizendo que teria sido paga pelo Cachoeira, uma viagem para um
encontro com o Demóstenes. Posso assegurar, e disso tenho provas documentais,
que parte da viagem foi paga diretamente pelo Supremo e o restante por mim.
Exibo a quem quiser os comprovantes das despesas que tive. Minha filha faz
doutorado na Alemanha, vou lá toda hora. Vou à Europa quatro vezes por ano,
participo da Comissão de Veneza (Comissão Europeia para a Democracia), faço os
trajetos mais diversos e tenho convites. Em abril (de 2011) eu tinha a viagem a
Granada e aí decidi ir a Praga, que eu não conhecia e, depois, segui para
Berlim.
Quanto tempo durou a conversa?
Uma hora meia, duas
horas.
O ex-presidente citou o nome do ex-ministro José Dirceu?
Falou sim, que às
vezes batia desespero no Zé Dirceu.
Jobim nega que no
encontro tenha sido abordado o mensalão.
Não vou ficar
discutindo com ele. Evidente que a conversa houve, e com detalhes.
Lula também nega o
teor da conversa e diz que se sente indignado.
Não vou emitir juízo
sobre a nota dele, mas não recuo um passo. Minha visão, hoje, olhando todo esse
conjunto é que o estão sobrecarregando pela responsabilidade política e tudo o
mais. Acho que é isso. Esquecem que ele é um homem convalescente. Não sou que
estou sob pressão, acho que quem está sob pressão é o presidente Lula.
O sr. está assustado?
Essas coisas não me
intimidam, evidente que não me intimidam. Você lembra da história do Gilmar de
Mello Mendes? A situação é muito similar. Sabe-se que uma notícia é falsa, não
obstante divulga-se essa notícia para criar esse estado de pânico. A minha
surpresa foi quando ouvi isso da boca do presidente Lula. E, depois, ao saber,
de jornalistas que o próprio presidente Lula estava se incumbindo de divulgar essa
fantasia de que Cachoeira pagou minhas despesas. Ele está muito mal
assessorado, mal informado. Está dando vazão a informações falsas.
Quem está abastecendo o ex-presidente Lula?
Eu imagino que esse
grupo de pretensos investigadores de CPI e coisa do tipo. Fala-se até que o
Paulo Lacerda o está assessorando.
O sr. suspeita que Paulo Lacerda está por trás desses vazamentos que
citam o sr.?
O que se noticia é que
hoje ele está prestando assessoria ao PT. Eu já tinha recebido notícia de que
Paulo Lacerda tinha como missão me destruir. Ele fez muito mal a esse País,
instalando um Estado policial e é bom que fique distante. Realmente ele não
respeitou as regras mínimas do Estado de Direito.
Na conversa com o ex-presidente foi citado o nome de Lacerda?
Sim. O Jobim perguntou
ao Lula, 'e aí, e o Lacerda?' O Lula respondeu: 'Está chegando, está voltando'.
Agora a ficha caiu para mim. Recebi notícias confirmando que (Lacerda) está
prestando serviços ao PT na CPMI. Eu não sei, mas isso não tem a menor
relevância. Que (Lacerda) tenha boa sorte, mas que não venha com bisbilhotagem
e nem reinstalar concepções do Estado policialesco.
O sr. teme Paulo Lacerda?
Imagina, imagina,
imagina. Veja que os embates vêm de 2007 quando o Tarso (Genro) era ministro
(da Justiça) e ele (Lacerda) chefe da PF. Foi aí que houve aquela divulgação
sobre o Gilmar de Mello Mendes (homônimo do ministro, citado em uma operação da
PF) e todas as encenações em torno dessas ações continuaram. E nós reagindo às
várias operações. No CNJ estabelecemos limites, os juízes passaram a
fundamentar e a comunicar o CNJ as decisões de escutas telefônicas. Aprovamos a
súmula das algemas. Meu papel foi institucional, em prol do Estado de Direito
do País. A polícia, naquele período, tinha virado poder nas mãos de Lacerda não
tenho nenhum arrependimento de ter enfrentado aquela situação. Desde que essa
coisa começou temos sido, minha família e eu, alvos dessas constantes
plantações.
O que mais se falou de Lacerda no escritório de Jobim?
Ao longo do tempo a
conversa me causou muito incômodo. É sintomático, só hoje me faz sentido. O
Jobim perguntou (a Lula) sobre Paulo Lacerda. 'Ele está voltando de Portugal',
respondeu o presidente. 'Está por aí'. Eu digo que naquele momento não atribuí
maior importância, mas a ficha caiu aos poucos. Dizem que (Lacerda) Está
assessorando o PT. Eu tive uma informação, em 2011, que o Paulo Lacerda queria
me pegar.
Por que o sr. não representou à Procuradoria Geral?
Não se tratava de
representar. Na própria conversa (com Lula) eu demorei a perceber qual era o
intuito. Percebi que havia algo errado, tanto que saí de lá (do escritório de
Jobim), estava atrasado para um encontro com o senador Agripino, e logo disse a
ele: 'Senador, passei por uma situação absolutamente atípica há pouco, diante
de um homem ainda visivelmente doente. No dia seguinte comentei com o
Sigmaringa Seixas o absurdo de uma situação daquela. Alguns jornalistas vieram
me dizer que o próprio ex-presidente era a fonte de informação. Eu comecei a
contar sobre aquela conversa (com Lula) para os jornalistas que diziam sobre
comentários na CPMI. Veja o grau de desinformação. Depois que duas jornalistas
falaram que a fonte era o próprio presidente, que ele estava difundindo essa
versão, eu entendi todo o contexto da conversa.
O encontro com Lula no escritório de Jobim foi casual?
Eu tive vários
contatos (com Lula), inclusive falei com ele em São Bernardo, quando voltou
para casa. Chegamos até a pré agendar um encontro pessoal em São Paulo, mas aí
ele foi hospitalizado novamente. O Jobim propôs me ligou um dia e disse: 'O
Lula está aqui, não quer falar com ele?'. Para mim era uma oportunidade de
revê-lo, de abraça-lo e, claro, colocar a conversa em dia. Óbvio que ele (Lula)
continua um ator político importante.
O sr. demorou para revelar essa conversa com Lula. Por que?
Falei para as pessoas.
Eu não tinha intuito de divulgar isso publicamente. A revista (Veja) veio me
procurar e eu confirmei. Eu tratei de fazer interlocutores, inclusive do
governo, saberem que havia algo de indevido. Olha, desde março isso vem sendo
alimentado. Estamos vivendo de novo uma situação de descontrole. Por isso foi
bom o vazamento de todo o inquérito porque evitou que esses estelionatários
ficassem aí de posse de informações privilegiadas. Mas é claro que há uma
bagunça no sistema, um quadro ridículo. A Procuradoria, a polícia e a Justiça
têm que ordenar. Não é razoável que o cidadão que nada tem com a investigação
fique se defendendo a partir de futricas divulgadas por esses estelionatários.
Que futrica?
Por exemplo, minha
mulher celebrou aniversário. Enviamos convites públicos, (a revista) Caras
estava lá, todos os convidados registrados fotograficamente. Saiu na imprensa.
Aí aparecem pessoas, supostamente do grupo do Cachoeira, dizendo que Demóstenes
iria faltar a um encontro porque teria que ir ao jantar do aniversário de minha
mulher. O que isso mostra? Mostra o quadro surreal que estamos vivendo.
Que outra futrica o sr. pode citar?
Veja outra linha de
idiotice. Eu seria responsável pelo retardo do Gurgel (Roberto Gurgel,
procurador geral da República) em tomar medidas (com relação à Operação Monte
Carlo, da PF). Isso está listado entre as bobagens. Outra linha que está no
roteiro dessa investigação é o meu suposto envolvimento com o Jairo Martins,
depois surpreendido nessa operação trabalhando com Cachoeira. Sei que (Jairo) é
um desses antigos funcionários da Abin que tem uma firma de arapongagem. Eu não
o conheço. Ele e ninguém da equipe dele trabalhou para o Supremo, pelo menos no
nosso período. O caso da Celg (concessionária de energia elétrica de Goiás),
uma decisão técnica tomada no processo vira tema de intrigas porque aparece
numa conversa entre Demóstenes e Cachoeira. Alguém minimamente alfabetizado em
Direito não faria um escarcéu em torno disso.
Como foi o encontro com Demóstenes na Europa?
O Demóstenes estava em
Praga e nós nos encontramos lá. Fomos até Berlim. Não fizemos um passeio
turístico oculto. Fomos recebidos pelos embaixadores em Praga e em Berlim. Uma
viagem semioficial com toda a transparência e aí começam a fazer intrigas em torno
disso, sobre o nosso relacionamento. Saímos lá publicamente, reitero, fomos
recebidos pelo embaixador Everton Vargas em Berlim. O embaixador em Praga é o
ex-chefe do cerimonial do presidente Lula. Aí a gente fica com esses
investigadores, esses arapongas. Eles não precisavam disso, não precisavam
fazer intrigas. Bastava telegrafar para a Embaixada via Itamaraty, que saberiam
do trajeto que fiz.
A viagem à Berlim foi mesmo paga pelo sr.?
Eu viajo a toda hora,
pago minhas despesas. Eu tenho o hábito de pagar as minhas despesas. Eu não
vivo de subsídios sindicais. Eu tenho um livro que vendeu quase 100 mil
exemplares. Só de direitos autorais eu poderia dar a volta ao mundo se
quisesse. Não precisaria fazer uma viagem a Berlim paga por terceiros ou por
sindicato.
O sr. está decepcionado com Demóstenes?
Nós tínhamos contatos.
Eu fui o presidente do Supremo, ele (Demóstenes) era muito produtivo, foi o
relator de quase todos os nossos projetos, era o presidente da Comissão de
Constituição e Justiça, um importante articulador para as questões do
Judiciário.