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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Os papeis de Zé Dirceu e o papel de Lula





Por Zezinho de Caetés

Num texto que publiquei antes, eu falava em liberdade de expressão, relacionando-a aos Estados Unidos, e apenas tocando no problema quando relacionado ao Brasil. Continuei lendo a mídia, e encontro o texto abaixo, editorial do jornal o Estado de São Paulo do dia 21.08. 2012, cujo título, “Os papéis da Era Dirceu”, já mostram a relação com texto anterior que poderia muito bem se intitular “Os papéis da Era Wikileaks”. Então eu tive que parar e comentar.

Leiam o texto e eu volto lá embaixo com algumas observações tipo o “óbvio ululante”.

“A importância dos documentos publicados anteontem por este jornal sobre a atuação do então ministro da Casa Civil do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, de janeiro de 2003 a junho de 2005, consiste em que atestam a amplitude do seu envolvimento com assuntos e protagonistas partidários. Isso, sem falar no que revelam do poderio do “capitão do time”, como o chamava seu chefe, para além das atribuições inerentes ao cargo na coordenação da máquina administrativa e participação nas decisões estratégicas do governo.

E a importância desse percurso pelos bastidores da Era Dirceu no Palácio do Planalto ─ tornado possível graças à Lei de Acesso à Informação a que recorreu a repórter Alana Rizzo ─ consiste no fato de desembocar na corroboração dos indícios veementes de que o ex-presidente do PT, muito diferentemente do que alega, não se distanciou dos interesses do partido à sombra do governo. Tais interesses, como é notório, estão na gênese do mensalão, a esbórnia financeira que servia para aglutinar a heterogênea aliança partidária em torno do presidente Lula ─ a qual, por sua vez, se destinava a assegurar a perpetuação do poder petista.

A defesa do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, o primeiro entre os seus 35 pares para quem a Procuradoria-Geral da União pediu a condenação ao Supremo Tribunal Federal (STF) por um rosário de crimes, alega que não há nos autos “uma única testemunha que sustentasse a acusação” contra o réu, tido pelo Ministério Público como a figura central do “maior escândalo de corrupção do Brasil”. O processo, de fato, não conseguiu agregar contra Dirceu elementos consistentes que avalizassem os das conclusões da CPI dos Correios e do inquérito da Polícia Federal em que se baseou a inculpação dos mensaleiros.

No entanto, a papelada obtida pelo Estado ─ mensagens confidenciais, bilhetes e ofícios em profusão que, por lei, a sociedade brasileira conquistou o direito de conhecer ─ torna ainda mais nítida a evidência de que, do lugar privilegiado que ocupava, Dirceu exercia com desenvoltura ainda mais exacerbada do que de costume a função de embaixador plenipotenciário do PT na esfera federal da República. Quando, por exemplo, ele incumbe o seu chefe de gabinete, Marcelo Sereno, de dar andamento a um pedido do deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, futuro réu do mensalão, para empregar na Radiobrás dois de seus apadrinhados, ele está rigorosamente a serviço do que é adequado chamar “petismo de resultados”.

Nada que os companheiros já não soubessem ─ e não se tem em mente apenas aqueles que viriam a compor com ele o “núcleo político” do mensalão, o presidente da sigla, José Genoino, e o tesoureiro Delúbio Soares. Se assim não fosse, uma deputada estadual paulista não lhe pediria audiência para “consolidar a relação partidária com as ações governamentais, em especial assuntos relativos à atuação desta parlamentar na Baixada Santista”. Nem o presidente do PT sergipano pediria para falar-lhe da “apresentação dos indicados para os cargos federais no Estado” e “o que mais ocorrer” (sic). Dirceu operava do mais miúdo do varejo à grande política ─ “grande”, obviamente, não no sentido que deriva de termo grandeza.

Nem a presunção de inocência levada a alturas estratosféricas pode ser invocada para dissociar do mensalão quem obrava para receber, antes do seu então colega no Ministério da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, a transcrição de conversas interceptadas pela polícia. Desde a irrupção do escândalo, a questão nuclear não era se Dirceu tinha conhecimento ou, mais do que isso, comando da operação ilícita. Era se Lula mandava no jogo, deixando para Dirceu distribuir as cartas. Os documentos que dão a medida da envergadura do ministro confirmam paradoxalmente a sua subordinação hierárquica.

Autoridades costumam fazer, aqui ou ali, coisas com as quais não tomam o tempo de seus chefes. Mas o que Dirceu fazia ─ do que os documentos obtidos não deixam dúvida alguma ─ era demais para ficar à revelia de Lula. Ele nem sequer precisava ter dito que nada fez “sem antes consultar o presidente. Nada.””

A relação com o texto anterior é porque estes papeis só puderam vir à tona, devido a uma lei nova sobre informação que obriga órgãos públicos a divulgarem certos documentos. E vejam senhores, apenas uns simples bilhetes e garranchos de Zé Dirceu, podem contribuir para que ele seja inocentado pelos crimes do mensalão, mostrando que o culpado era o Lula.

Eu mesmo já disse que disto eu já sabia (aqui), e que é impossível que o meu conterrâneo, o Lula, possa tirar o “seu” da reta. Mas, vamos ao óbvio. Ele tirou. Ele conseguiu. E hoje, em pleno julgamento do colega, ele vem, com sua papada de porco pronto para matadouro, pedir voto aos brasileiros para eleger seus postes de plantão. E ainda mais, como vi em algumas propagandas petistas, usando a cura do seu câncer como motivo de campanha eleitoral.

Falamos antes dos limites para liberdade de expressão, e agora podemos falar da liberdade de se expressar sem nenhuma vergonha. É um vale tudo que chega às raias do absurdo do ponto de vista ético. Com esta atitude, ao usar uma doença tão feia para ligar seus postes, eu fico imaginando se o Lula soubesse escrever, o que conteria os bilhetes escritos por ele. É por isso que tentam restringir a publicação de documentos. E que Deus nos proteja.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O PRIMEIRO CABELO BRANCO A GENTE NUNCA ESQUECE





Por Carlos Sena (*)

De repente você se olha no espelho e... Um cabelo branco, sem te avisar, se mostra inteiro! Você se aproxima do espelho para vê-lo mais de perto como que não acreditando que seja verdade. Então você olha em volta da cabeleira e, “ufa” sai todo satisfeito porque talvez aquele fiozinho branco seja o que o povo costuma chamar de “sinal”. E é. Sinal de que o tempo escorre pelas nossas mãos e cedo ou tarde ele dá provas de que seus passos marcharam feito soldados no sete de setembro, no coco das nossas cabeças. De repente você novamente se olha no espelho e... Um discreto “pé de galinha” se delineia  lento por sobre os cantos dos seus olhos. Novamente você chega mais perto do espelho para ver se não se trata do que você está pensando, mas é exatamente o que você está imaginando. Rugas. Neófitas dobrinhas que talvez você prefira acreditar que seja falta de protetor solar, mas não são. São as pegadas do tempo que marcam nosso rosto como que não querendo nos perder de vista. E a nossa vista tão boa para, de longe, vermos as pessoas mais bonitas, não vê o que está na cara, literalmente. Então a gente começa a se render às evidencias do tempo, embora ele nem se incomode com o incômodo que possa nos proporcionar. Os seus mistérios nos deixam sem muitas alternativas – invade e fim as nossas cabeças, o nosso rosto, o nosso corpo e se faz morada. Lentamente ele se intromete em nossas entranhas e a gente tem que engolir calado seus ditames... Aos poucos a gente não vai mais gostando de “narciso” e narciso se alia facilmente a ele como se nos desafiasse. Tirar proveito disto é fundamental. Melhor encarar o lado bom que os cabelos brancos proporcionam. Afinal, quando a “prata” chega a cabeça o “ouro” já deve ter chegado ao bolso, ou não? Mas, se o bolso estiver liso, certamente o coração estará robusto de experiências que auxiliam dando força para que quando os demais cabelos brancos aparecerem, quando as outras dobrinhas do rosto se delinearem, estejamos fortes para suportar a pressão que o tempo faz.

Um dia, um jardineiro tentou desafiar uma rosa que desabrochava na sua varanda. Montou guarda junto dela, fez verdadeira vigília. Seu desejo era ver o momento exato em que a rosa em botão se abrisse. Deitou em sua rede e ficou mirando aquele botão de rosa bem de perto. Aguardava ele o momento exato em que aquele botão desabrochasse em sua em sua plenitude. De repente, num piscar de olhos, a rosa se abriu e o jardineiro não flagrou o momento único daquela rosa. A sabedoria da rosa é a mesma do primeiro cabelo branco, da primeira ruga em nosso rosto, mas não é a mesma que nossos desgostos que proporcionam, ou não?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 10/08/2012

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A liberdade de expressão e o dilema americano





Por Zezinho de Caetés

Enquanto me inteirava do julgamento do mensalão, suas idas e vindas, eu me atrasava na leitura da mídia e perdendo textos preciosos como aquele que transcrevo abaixo, lido no Blog do Noblat no dia 21.08.2012, tendo como título: “O verdadeiro ataque de Assange aos Estados Unidos”, de autoria do Joaquim Falcão.

Em princípio, o título me levou a pensar: ‘Ora, lá vem mais críticas aos pseudonímicos do Wikeleaks, o que me atinge diretamente por ter adotado o pseudônimo que uso para esconder a fealdade do meu nome de batismo.’ Não era sobre isto que o Joaquim, que poderia adotar o pseudônimo de Quincas, e seria mais lido, com ganho de causa para os leitores, iria escrever.  Ele falaria sobre um tema sempre presente aqui, que é a liberdade de expressão. Tema recentemente abordado pelo Zé Carlos, com um texto tão jocoso quanto importante sobre o processo judicial no Brasil e a questão do anonimato (aqui e aqui).

Já sabia que, em matéria de liberdade de expressão, os Estados Unidos da América, onde até inexistem decisões judiciais preventivas contra a liberdade de expressão, como enfatiza o autor transcrito, é um campeão. E hoje, eles vivem um dilema muito sério com as atitudes do chefe da organização Wikeleaks, o Julian Assange, que resolveu extrapolar os limites desta liberdade, publicando documentos sigilosos envolvendo a própria segurança nacional americana (embora se duvide que isto realmente ocorra pela discussão do que seja esta segurança).

Então, quem tem cabeça e gosta de se expressar deve meditar sobre o caso. Suponha que fôssemos tão adeptos da liberdade que proclamássemos ser ela um valor maior do que nossa própria vida. Pensando assim, quaisquer atos que da liberdade nos privassem, sem solução menos traumática, o suicídio seria nossa atitude racional como reação a eles. Do ponto de vista individual isto pode até ser justificável, apesar de, eu mesmo ficar procurando outra solução para o resto da vida.

O problema que se apresenta, é quando pensamos num país, num sociedade que envolve mais cabeças e sentimentos do que uma pessoa só. Os Estados Unidos embutiram em seus valores morais, políticos e sociais o que mais de nobre há nos conceitos de liberdade. E por isso passam pelo mesmo dilema de uma pessoa só, sem ser esta pessoa. E os princípios são feridos pelos que estão no poder, muitas vezes com as melhores da intenção. O aumento do terrorismo contra aquele país (lembram do 11 de setembro de 2001?) e mesmo o terrorismo interno (cinéfilos matando cidadãos ao contrário dos seus super-herois) leva a grande discussão de quanto seria prudente diminuir a liberdade de expressão, a partir de um governo.

Quando vemos aqui no Brasil alguns se sentirem atingidos por divulgação de fatos comprovados, culpando-se a mídia por denunciar adultérios e pequenos furtos dos políticos, e quer que se construa um marco para internet, que regulamente isto, vemos que o que está acontecendo nos Estados Unidos é muito mais importante.

Para isto, fiquem com o Quincas e sua sapiência no mundo jurídico. Eu vou tentar continuar lendo a mídia, mas, com um olho no julgamento do mensalão.

“Estamos ainda no primeiro ato: os Estados Unidos trazerem Assange a pulso para seu território. O segundo ato é processá-lo, e colocá-lo na cadeia. Os argumentos para processar não sabemos ainda.

A Suprema Corte só coloca limites à liberdade de informação no caso extremo de necessidade de segurança nacional. Lá inexiste decisão judicial preventiva contra a liberdade de informação. A divulgação dos documentos diplomáticos incomodou o governo. Mas não afetou a segurança nacional americana.

A saída, todos conhecem: aliança – USA, Inglaterra e Suécia – para silenciar Assange sob pretexto de controverso crime sexual.

Elegeram outro ringue para debater os limites da liberdade de informação. Elegeram as alianças políticas entre países soberanos. Esqueceram de combinar com Assange.

Inglaterra e Suécia usam de suas respectivas soberanias para processar Assange por crime sexual. E assim apoiar os Estados Unidos.

O Equador usa de sua soberania para lhe dar asilo político. E assim combater e se opor aos Estados Unidos. Nada mais. E tudo isto.

Neste cenário, perdem sentido ataques retóricos tipo achar estranho que Assange, que se pretende defensor da liberdade de comunicação, busque refúgio num governo contrário à liberdade de imprensa.

De fato, o presidente Rafael Correa ameaça e ataca a liberdade da imprensa equatariona. Mas, estranho é também o país que mais defende a liberdade de imprensa tentar limitá-la internacionalmente. Amor com amor se paga.

Perdem também sentido ataques pessoais a Assange do tipo: ele é filho de “padastro violento e mãe hippie, contestadora e nômade” (Álvaro Pereira) sugerindo patologia desviante.

Contraria a melhor tradição jornalística brasileira que sempre procura evitar ataques à vida íntima de pessoas públicas.

Está certo o Ministro Antônio Patriota quando defende o Equador contra as ameaças britânicas de invadir sua Embaixada em Londres.

Como qualquer país, o Equador tem o direito de usar sua soberania nos limites dos acordos internacionais. Conceder asilo político é um desses direitos. Melhor seria se Londres desse logo salvo conduto a Assange.

O governo de Obama tem o direito de lutar para limitar a liberdade de informação nas cortes judiciais, sem dissimulações. Mas se o fizer, corre o risco de explicitar ao mundo uma contradição entre seus ideais e sua prática.

O verdadeiro ataque de Assange aos Estados Unidos é este. Não é contra sua segurança nacional. É fazer uma pergunta tão incômoda quanto a que os americanos fizeram a si mesmos quando do debate sobre a publicação ou não dos documentos do Pentágono em 1971.

Quais os limites da liberdade de informação para o governo americano?”

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Um helicóptero suspeito...



Panfleto distribuído por helicóptero em Bom Conselho
 (Imagem do Agenda Garanhuns - Wagner Marques)


Por Zé Carlos

Desde este último fim de semana que nosso blog, a AGD, está tendo umas movimentações atípicas em termos de audiência, que chega a quase 1000 acessos por dia. A princípio não demos importância devido a ocorrência do mesmo fenômeno, outras vezes. No entanto, quando recebemos um e-mail do nosso (já ia escrever “saudoso” mas ele não morreu) querido Diretor Presidente, o qual é reproduzido abaixo, ficamos mais atento ao fato.

Para aqueles que só recentemente desembarcaram neste blog e nos blogs de Bom Conselho, o Diretor Presidente dirigiu o melhor blog que Bom Conselho já teve, o BLOG DA CIT, e que ainda hoje deixa muita gente com lágrimas no canto do olho quando dele ouve falar. Bom-conselhense da gema o DP, como os íntimos o chamam, produziu muitos textos de importância para nossa cidade mas teve que se recolher a um exílio quase voluntário, e vive vagando pelas ruas de nossa cidade e só apenas, de tempos em tempos nos dá o ar da graça de sua pena.

Vamos transcrever sua mensagem e depois voltamos para alguns comentários que achamos pertinentes.

Caro Zé Carlos,

Como você sabe, passo a maioria dos meus dias em Bom Conselho, embora tenha feito algumas viagens para sair um pouco da mesmice. Apesar de gostar de minha terra, ela muitas vezes cansa até a beleza da Claudia Cardinali. Bela lembrança.

Estamos nesta época de política e você também sabe que não aprecio muito o trabalho dos políticos porque, em grande parte das vezes, eles dizem que trabalham para o povo mas são eles que ficam ricos. Se você lembra esta é uma definição de Seu Salviano que continua ainda sendo meu conselheiro nesta área, e só em falar com ele já me basta. Por isso não me arrisco nos arrastões, que agora são muitos e cada vez mais motorizados.

Mas, o que me fez escrever-lhe desta vez foi um assunto para mim muito sério. Como todos que acompanharam a saga da CIT Ltda estão cientes de que tínhamos sede em Caldeirões dos Guedes (onde até recebemos a visita da atual prefeita, o que muito nos honrou) e chegamos até a possuir algums meio de divulgação que nos fizeram grande no mundo do entretenimento.

Um deles, o principal foi a aquisição de um helicóptero (se não for pedir demais procure uma foto em nossos arquivos desta máquina) que sempre se dirigia a Bom Conselho fazendo a festa de todos. E, eis o fato, neste fim de semana, apareceu um helicóptero azul, sobrevoando nossa cidade, e, dizem, quase acabando a feira, jogando panfletos que falavam mal de um dos nossos candidatos. Eu peguei um e ao lê-lo, se o que tem nele for verdade, Bom Conselho não merece. E o pior é que este mesmo candidato já vem sendo acusado de outras coisas.

Mas, você que viveu aqui sabe como é. Em política tudo é boato, até que o pau canta na cabeça do povo. Tudo se transforma em neblina espessa daquela que encontrávamos nos cafezais de Brejão, quando eles existiam. Por falar nesta cidade, foi de lá que dizem ter partido o helicóptero recheado de panfletos maldosos. E aí eu volto ao meu ponto.

Devo esclarecer que o nosso helicóptero (o da CIT), apesar da cor azul, nunca decolou de nenhum campo de futebol de Brejão nem nunca se envolveu em política. Isto digo, caro Zé Carlos, pois já há um bochicho nos pontos de fofocas da cidade que o helicóptero panfletário seria o nosso. Eu não sei, quando lhe passei o acervo/espólio da CIT se havia um recibo de depósito que comprovava sua venda, tendo sido o dinheiro usado em nossa mudança de sede.

Portanto, quero, veementemente, combater estes boatos que só denigrem o nome de nossa saudosa empresa, e também dizer que ela não foi leiloada, igual a CAMILA, e sim fechada, pois seu patrimônio já quase não existia, e não ficamos devendo direitos trabalhistas. Agora se alguém, daqueles que o compraram, com má intenção, o estão usando para panfletar em Bom Conselho, disto não temos culpa. Peço a você  que divulgue isto para livrar nosso nome de qualquer imputação danosa.

Do sempre seu,

Diretor Presidente”

Eu fiz questão de transcrever toda a mensagem, pois comungo com o sentimento do nosso DP, e divulgo o filme seguinte, para verificar se existe alguma semelhança entre o helicóptero da CIT com aquele que, segundo o Blog do Poeta, foi filmado levantando voo de um campo de futebol em Brejão (não temos este filme ainda) para ajudar nas investigações. Segundo o recibo de depósito do qual fala o DP, pode-se averiguar que o comprador era de Alagoas, mas, a cidade exata não é possível verificar.

De qualquer forma, esperamos o candidato que foi difamado pelos panfletos aéreos esteja isento de todas as acusações a ele imputados, pois, concordando com o DP, caso fossem verdadeiras Bom Conselho, não o mereceria. Para isto devemos encontrar o helicóptero suspeito, estamos, dentro de nossas possibilidades, dando nossa contribuição com a publicação do vídeo a seguir.


P.S.: O filme acima é um dos que foram feitos pela CIT Ltda, de seus passeios por Bom Conselho, e o colocamos devido ao meio usado que foi o helicóptero. Abaixo apresentamos outro filme em que, em passeios sobre a cidade, a CIT usava seu dirigível. Isto é feito, para que, se algum outro candidato quiser panfletar de dirigível, já podemos provar que não era o pertencente à empresa tão bem dirigida pelo Diretor Presidente.

JEITO DE PAI





Por Carlos Sena (*)

Não acho o dia dos pais insosso. Não há carne sem osso, não há filho sem pai, não há dor sem ai, nem se calam os gritos da alma. Dia dos pais não é mesmo insosso, repito. É que pai tem seu jeito e JEITO DE PAI não é visto a olhos nus. Há quem diga que JEITO DE PAI é jeito de homem como se homem não tivesse sensibilidade, amor, paixão. JEITO DE PAI é talvez o maior jeito que caminhe paralelo com o afeto sem ser ele, como o amor sem ser ele, com a paixão sem ela ser, mas sendo tudo isto junto. JEITO DE PAI vai além da imaginação – quando mais se imagina que o pai é distante, ele fica presente; quando mais se imagina que ele é frio, ele se supera em carinhos e cuidados pelo filho; quando mais se pensa que ele é subtraído pela mãe, ele se multiplica com ela e transformam os filhos em dádivas; quando mais se imagina que os pais são secos, durões, eles viram gelatina e choram pra valer  quando um filho adoece. Mas quando alguém tenta maltratar ou ferir uma cria sua, então ele se transforma em fera  feroz. Jeito de pai é meio largado. Parece que ele se encontra no filho bem calçado, bem vestido, bem nutrido, bem feliz. JEITO DE PAI não se encontra nele, mas em cada filho que lhe espera a noitinha só pra saber se ele vai ao futebol; só pra saber se ele vai buscar sua filhota na balada depois das dez. JEITO DE PAI não se encontra na cozinha, mas na fervura que o fogão não dispõe para ocasiões impares; não se encontra na decoração da casa, mas na casa que a alegria dos filhos decora, adorna, orna; não se encontra JEITO DE PAI na rotina socialmente estabelecida, porque ele está sempre ali, para o momento exato em que a vida surpreende os ritos e o santo vira  mito e a mentira precisa ser dilacerada… JEITO DE PAI é assim mesmo sem jeito. JEITO DE PAI, cada pai tem o seu. Se a mãe se mira em Nossa Senhora como aliada, pai conta com Deus em suas paradas. JEITO DE PAI segue o jeito de mãe: se a mãe coloca o filho pra dormir, o pai o conduz dormindo pra cama. No dia seguinte o filho fica na dúvida: quem mais me ama?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 10/08/2012

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A semana - Problemas para os candidatos a prefeito





Por Zé Carlos

Voltemos à semana anterior. Mais uma vez não houve tempo de comentar o filme da UOL sobre nossa vida política e social na semana que passou, no final da semana. Os meus preparativos para levar a AGD à terra do Tio Sam estão me tirando um pouco do tempo dedicado a rir de nós mesmos e dos outros. Também não sobra tempo para indignar-me.

O que me levou a um simples ar de riso foi a nudez do Príncipe Harry, do Reino Unido. Oh rapazinho enrolado! Talvez seja por ser o segundo na linha de sucessão do trono, logo depois dos príncipes Charles e William, o que quer dizer que nunca será rei, e jamais o povo inglês vai ter a satisfação de dizer: “O rei está nu!”. Eles tiveram tantas rainhas que o ditado da estória de Hans Christian Andersen, foi por lá esquecido.

Agora o que está mais em moda é o “kuduro”, aquela musiquinha chata que toca na novela, que virou jingle de candidaturas por todo país, e está servindo para os candidatos desfilarem pela avenida dizendo “oi, oi, oi” para os eleitores, sem mostrarem o “kumole”, isto é, o outro lado da coisa. Aproveitando, estou vendo a Avenida Brasil (digo a Lucinha Peixoto, que reapareceu ontem em seu blog, que só vejo esta novela, portanto, não me comprometa) e estou gostando pela criação de alguns personagens que nos levam a associá-los a outras coisas e pessoas. Por exemplo, a AGD, blog que eu administro, contando com o patrocínio de Jesus, Maria e José, todos nascidos no centro de Bom Conselho, muitas vezes, por ter sua editoria em outra cidade, parece o TUFÃO, personagem do Murilo Benício, pois, é o último a saber.

Vocês imaginem que passou um helicóptero em Bom Conselho, azul da cor da onda do mar, e distribuiu panfletos. Eu, que na década de 60 corri da Rua da Cadeia até o campo de futebol, defronte do nossa Boate Tio Patinhas, porque disseram que um avião destes havia pousado lá, me senti traído porque nenhum veículo de Bom Conselho noticiou o fato antes que o Wagner Marques, em seu excelente blog, AGENDA GARANHUNS, o fizesse. Gente, isto é notícia, e das boas, mesmo que o helicóptero viesse distribuindo balas (doces, para as crianças,  é claro!). Mais um vez, tivemos que ser “furados” pela mídia de nossa cidade vizinha.

Voltemos ao filme, embora não tenhamos saído da semana anterior. Nele, alguns repórteres de todo o país levaram os candidatos a prefeitos a viverem e conviverem com os problemas da cidade. Foi um horror, para eles. Fica a sugestão para Bom Conselho. Por exemplo, levar a candidata Judith Alapenha a atravessar a pinguela do Açude da Nação. Levar o candidato Dannilo Godoy a andar de helicóptero. Levar o Capitão Boanerges a fazer um boletim de ocorrência na delegacia da cidade. Ou, levar o Washington Azevedo a visitar algumas fazendas que ainda não se recuperaram da seca. Estes são apenas exemplos, pois estando eu longe, se lá estivesse o que faria mesmo era levar a todos a atravessar da Praça Pedro II até a Princesa do Norte, dia de sábado, pela manhã. O sobrevivente seria o ungido para sentar no Palácio do Coronel Zé Abílio.

Agora fiquem com o filme e riam, se puderem. Se não puderem, não chorem, indignem-se.

O Escuta Essa! desta semana viu e ouviu as campanhas para vereador e descobriu que o kuduro virou jingle de candidaturas de várias cidades do país. Mas não é só esse som que está rolando no horário eleitoral gratuito. Um ex-integrante de grupo de axé também decidiu concorrer a vereador. Já em Manaus, o jornal “A Crítica” colocou os candidatos à Prefeitura para enfrentar situações cotidianas como pegar ônibus, buscar água em locais sem saneamento básico e enfrentar o trânsito. Já o príncipe Harry enfrenta constrangimento ao aparecer nu em fotos divulgadas pela imprensa.”

sábado, 25 de agosto de 2012

A suprema avacalhação





Por Zezinho de Caetés

Como todos sabem, ou pelo menos os quem me leem, eu sou um aficionado dos julgamentos. Talvez minha grande frustração foi não ter enveredado pela carreira jurídica ao invés de me meter nas letras, nem sempre tão bonitas, que saem de minha pena. E, assim sendo, uma das minhas diversões é assistir ao julgamento do mensalão, com o mesmo afã que assisto aos filmes americanos de júri, como já escrevi antes (aqui).

E nesta última quinta-feira não foi diferente. Peguei minhas pipocas e me finquei em frente da TV Justiça vendo o voto do revisor do processo, o ministro Lewandowski, em continuação do dia anterior, e com a esperança de ver o João Paulo Cunha, sim, aquele cuja mulher foi sacar R$ 50.000,00 de um banco, doado pelo Marcos Valério, e aproveitou para pagar uma conta de TV a cabo, condenado, como no dia anterior ele o fizera com outros suspeitos da bandidagem mensaleira.

Eis que senão quando, me vejo diante de um antípoda do ministro dizendo que todos não passaram de inocentes úteis do PT, e que apenas praticaram o mal menor do Caixa 2, como havia cantado a bola o meu conterrâneo e chefe maior do petismo, o Lula. Eu fiquei pasmo e branco de tanta vergonha.

Pasmo porque soa para mim impossível que os fatos se embaralhem de tal forma em minha cabeça, ao ponto de não saber mais onde estou nem para onde vou, diante das verdades (ou como elas se apresentam) neste julgamento. Não é possível que ambos, o relator Barbosa e o revisor Lewandowski estejam ambos mentindo ou ambos dizendo a verdade. E não é pelo chamado “contraditório” que digo isto. Contraditório é uma coisa e exterminar a verdade fatual é outra. Dizer que não foi o Lee Oswald que matou o Kennedy é passável, mas, dizer que o presidente americano não morreu é uma temeridade histórica. Isto, que eu saiba só aconteceu com o Elvis Presley. E com vergonha pelo pode acontecer com nossa Suprema Corte.

Ninguém contesta que João Paulo embolsou R$ 50.000,00. Uns dizem que foi para pagar pesquisas e outros para fazer outra coisa. Mas, dizer que ele não embolsou é demais para minha cabeça. E o pior, para o Lewandowski (que Lucinha Peixoto chamou sabiamente de Levandowhisky (...onde está a Lucinha?)) é que em seu voto ele também absolveu os outros da farra. Foi uma guinada de 180°, ficando de costas para o relator do processo.

Eu penso até que, na casa do Lula abriu-se uma champanhe para comemorar aquele voto que me maluqueou e a muitos brasileiros. Eu mesmo, se champanha tivesse aberta eu a fecharia imediatamente. Até penso que os colegas do ministro, que já estão prontos para votar, tiveram a mesma sensação estranha que todos os brasileiros tiveram. Eu vi no Levandowhisky uma marionete, com um manipulador por trás, vestido de roupa preta, para não aparecer num fundo preto de velório, embora, num jogo da câmara deu para ver uma careca e um bigode quase brancos e uma papada de porco pronto para o matadouro, nos permitindo intuir de imediato quem seria ele. E a manipulação foi perfeita, não dando chances ao boneco Levandowhisky de pelo menos piscar por conta própria.

O que me resta, e ao Brasil, é esperar que os outros ministros não sucumbam também à manipulação e que mostrem ao país que nossa corte suprema, mesmo sendo a casa do contraditório, não vai se transforme na “casa da mãe Joana”, através de uma suprema avacalhação.

Para mim, este julgamento, além de um bom passatempo se tornou um problema que poderá afetar minha sanidade mental se não houver uma conclusão pelo menos razoável sobre os desvios de dinheiro que existiram e quem fez o que, realmente. Eu sei que até hoje não se sabe ao certo quem matou o John Kennedy. Uns dizem até que foi a CIA outros que foi o Lee Oswald. Mas, lá pelas terras americanas, já se acredita que houve um morto. O que está querendo se fazer aqui é provar que não houve ladrões e desviantes do dinheiro público. E passamos 7 anos discutindo isto. Realmente, estamos no limiar da suprema avacalhação federal.

Data venia, que Deus nos ajude.


P. S.: Quando já havia escrito o texto acima, encontrei no Blog do Nobla um texto do jornalista Sandro Vaia, que complementa o meu, ou vice-versa, e o transcrevo em seguida. O título do texto é: “Meu Deus! (ou quanta inocência!)”. Eu o transcrevo repetindo: Meu Deus!

“Meu Deus”, murmurou num canto da sala o homem da capa preta. Algum microfone registrou a exclamação, que ficou para sempre pairando no ar.

O que quer dizer esse “Meu Deus”? Que espécie de autoridade tem essa pessoa para julgar os atos de outras pessoas?

Esse “Meu Deus” foi claramente uma exclamação de desaprovação.O homem da capa preta estava claramente desaprovando a atitude de outro homem que também usa capa preta.

Como se sabe, em Justiça ninguém está obrigado a condenar ou a absolver alguém a não ser em obediência aos ditames de sua própria consciência e de suas convicções jurídicas.

O homem da capa preta, que é o revisor e o relator oficial do caso que recebeu o nome de guerra de “mensalão”, deu à sua exclamação de “Meu Deus”, a conotação de sua inconformidade jurídica com o critério de dois pesos e duas medidas que o sub-relator usou para um caso que tinha as mesmas características e para o qual ele deu duas decisões conflitantes.

Na véspera, o sub-relator condenou o ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, por ter privilegiado a empresa de publicidade SMP&B, de Marcos Valério, na assinatura de contrato usando dinheiro público.

No dia seguinte, o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, condenado pelo relator pelo mesmo motivo - ter privilegiado a agência de Marcos Valério em contrato envolvendo dinheiro público- foi absolvido pelo sub-relator.

O homem da capa preta não gostou do uso de dois pesos e duas medidas para casos semelhantes, e promete sair numa réplica em defesa do critério que aplicou em sua decisão.

O sub-relator não gostou da intervenção do homem da capa preta e quis fazer a sua tréplica. Foi preciso que o presidente do Supremo Tribunal Federal impusesse a sua autoridade e afirmasse a prevalência, no caso específico, da autoridade funcional do relator sobre a do revisor.

O suspense ficou pairando no ar e segunda-feira deveremos ter novos capítulos da batalha de togas. O presidente Carlos Ayres Brito vai ter que desdobrar-se para evitar mais arranhões na compostura da Suprema Corte.

O rigor que o revisor Lewandovski exibiu na quarta-feira ao condenar Pizzolato, Marcos Valério e seus sócios não era propriamente uma demonstração de zelo incondicional pelo dinheiro público.

Era apenas o prenúncio da demonstração daquilo que todos esperavam e que na verdade se confirmaria no dia seguinte.

Nessa batalha, mais do que crimes diferentes, há acusados de hierarquias diferentes: aos soldados rasos, a lei. Aos oficiais graduados, o espanto do homem da capa preta: Meu Deus!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Lei das Cotas e o Samba do Crioulo Doido





Por Zezinho de Caetés

Há algum tempo eu estou debruçado nesta Lei que, aprovada no Congresso, espera a sanção da presidenta, o que todos esperam que ela fará, sem cortes e que trata das cotas sociais e  raciais. Eu já li o texto e espero ainda voltar ao tema, depois. Minha abordagem aqui é apenas para apresentar um texto do Demétrio Magnoli que foi publicado no Estadão no último dia 16, com o título de “’Os amigos do povo’ contra o mérito

Igual a mim e igual a qualquer pessoa de bom senso neste país e que tenha passado pelos bancos de alguma universidade pública, como fiz eu, alguém pode ficar calado diante do absurdo de que a partir desta Lei, 50% das vagas abertas na universidade pública sejam dedicadas aos que tenham uma renda familiar de 1,5 salários mínimos. E aqui, vamos ser condescendentes ao extremo e pensar que nossas escolas públicas sejam as melhores do país e que agora todos com renda iguais ou abaixo deste limite sejam “gênios da raça”, com se diz, e possam entrar na universidade pelos seus próprios méritos (sem perguntar, então por que as cotas?), ainda teríamos algumas questões a levantar.

E aqueles que estudam em escola pública e que tiveram a “má sorte”  de ter uma renda familiar maior do que esta, como ficariam? Teriam ou não direito a competir com os sortudos  cujas famílias ganham menos do que a dele? E lhes dou o meu exemplo, embora um tanto do passado. Eu fui para a escola pública não porque meu pai não podia pagar uma escola privada, e sim porque a escola pública que eu consegui era melhor do que a escola privada (dar-me vontade de fazer trocadilho com privada, mas, deixa para lá).

Mas, o absurdo não termina aí,  comigo (apenas o exemplo) tendo que competir com os outros 50% apenas por ser mais bem aquinhoado. Deste privilegiado grupo de 50% pobres, serão incluídos metade que pertença aos negros, pardos e indígenas. Mais uma vez, eu, por ter a má sorte de ter nascido branco, serei penalizado. E eu não sou índio. E lá vai, hoje, um adolescente branco, que estudou em escola pública, concorrer com os negros, índios e pardos que cursaram um escola privado (pois, há muitos que pertencem a estes grupos na escola privada).

Enfim, o ingresso em nossas universidades públicas virará um verdadeiro samba do crioulo doido, de fazer inveja àquele que conhecemos. É por estas e outras que concordo com a Lucinha Peixoto (ela anda meio sumida, não é?) quando diz que a maior ofensa que ela poderia encarar, seria entrar na universidade por este sistema e correr o risco de alguém apontá-la na rua e dizer:

- Lá vai uma doutora cotista!

Ainda voltarei a este tema, mas, por enquanto fiquem com o texto do jornalista, e eu nem volto, pois irei procurar uma forma de ficar pobre e se possível me tornar pardo ou comprar um cocar de índio. Se a lei pega, dentro de duas gerações todos ganharemos um salário mínimo e pertenceremos a estas etnias. Há quem prefira...

“A assinatura da deputada Nice Lobão ─ campeã em faltas na Câmara e esposa do ministro Edison Lobão, protegido de José Sarney ─ no projeto de lei de cotas nas instituições federais de ensino superior e médio é um desses acasos repletos de significados. Por intermédio de Nice, a nova elite política petista se abraça às elites tradicionais numa santa aliança contra o princípio do mérito. Os aliados exibem o projeto como um reencontro do Brasil consigo mesmo. De um modo perverso, eles têm razão.

Nunca antes uma democracia aprovou lei similar. Nos EUA as políticas de preferências raciais jamais se cristalizaram em reservas de cotas numéricas. Índia e África do Sul reservaram parcelas pequenas das vagas universitárias a grupos populacionais específicos. O Brasil prepara-se para excluir 50% das vagas das instituições federais da concorrência geral, destinando-as a estudantes provenientes de escolas públicas.

O texto votado no Senado, ilustração acabada dos costumes políticos em voga, concilia pelo método da justaposição as demandas dos mais diversos “amigos do povo”. Metade das vagas reservadas contemplará jovens oriundos de famílias com renda não superior a 1,5 salário mínimo. Todas elas, em cada “curso e turno”, serão repartidas em subcotas raciais destinadas a “negros, pardos e indígenas” nas proporções de tais grupos na população do Estado em que se situa a instituição. Uma extravagância final abole os exames gerais, determinando que os cotistas sejam selecionados pelas notas obtidas em suas escolas de origem.

Gueto é o nome do jogo. Só haverá uma espécie viciada de concorrência entre “iguais”: alunos de escolas públicas concorrem entre si, mas não com alunos de escolas privadas. Jovens miseráveis não concorrem com jovens pobres. “Pardos” competem entre si, mas não com “brancos” ou “negros”, detentores de suas próprias cotas. Cada um no seu quadrado: todos têm um lugar ao sol ─ mas o sol que ilumina uns não é o mesmo que ilumina os outros. No fim do arco-íris, cada cotista portará o rótulo de representante de uma minoria oficialmente reconhecida. O “branco” se sentará ao lado do “negro”, do “pardo”, do “indígena”, do “pobre” e do “miserável” ─ e todos, separados, mas iguais, agradecerão a seus padrinhos políticos pela vaga concedida.

Nice Lobão é apenas um detalhe significativo. O projeto reflete um consenso de Estado. Nasce no Congresso, tem o apoio da presidente, que prometeu sancioná-lo, e a bênção prévia do STF, que atirou o princípio da igualdade dos cidadãos à lixeira das formalidades jurídicas ao declarar a constitucionalidade das cotas raciais. O Estado brasileiro desembaraça-se do princípio do mérito alegando que se trata de critério “elitista”. Na verdade, é o avesso disso: a meritocracia difundiu-se no pensamento ocidental com as Luzes, junto com o princípio da igualdade perante a lei, na hora do combate aos critérios aristocráticos de promoção escolar e preenchimento de cargos no serviço público. Naquele contexto, para suprimir a influência do “sangue azul” na constituição das burocracias públicas, nasceram os concursos baseados em exames.

O princípio do mérito não produz, magicamente, a igualdade de oportunidades, mas registra com eficiência as injustiças sociais. Os vestibulares e o Enem revelam as intoleráveis disparidades de qualidade entre escolas privadas e públicas. Entretanto, revelam também que em todos os Estados existem escolas públicas com desempenho similar ao das melhores escolas particulares. A constatação deveria ser o ponto de partida para uma revolução no ensino público destinada a equalizar por cima a qualidade da educação oferecida aos jovens. No lugar disso, a lei de cotas oculta o fracasso do ensino público, evitando o cotejo entre escolas públicas e privadas. Os “amigos do povo” asseguram, pela abolição do mérito, a continuidade do apartheid educacional brasileiro.

O ingresso em massa de cotistas terá impacto devastador nas universidades federais. Por motivos óbvios, elas estão condenadas a espelhar o nível médio das escolas públicas que fornecerão 50% de seus graduandos. Hoje quase todos os reitores das federais funcionam como meros despachantes do poder de turno. Mesmo assim, eles alertam para os efeitos do populismo sem freios. O Brasil queima a meta da excelência na pira de sacrifício dos interesses de curto prazo de sua elite política. Os “amigos do povo” convertem o ensino público superior em ferramenta de mistificação ideológica e fabricação de clientelas eleitorais.

No STF, durante o julgamento das cotas raciais, Marco Aurélio Mello pediu a “generalização” das políticas de cotas. A “lei Lobão” atende ao apelo do juiz que, como seus pares, fulminou o artigo 208 da Constituição, no qual está consagrado o princípio do mérito para o acesso ao ensino superior. Mas a virtual abolição do princípio surtirá efeitos em cascata na esfera do funcionalismo público, que interessa crucialmente à elite política. As próximas leis de cotas tratarão de desmoralizar os concursos públicos nos processos de contratação, nos diversos níveis de governo.

A meritocracia é o alicerce que sustenta as modernas burocracias estatais, traçando limites ao aparelhamento político da administração pública. Escandalosamente, a elite política brasileira reserva para si a prerrogativa de nomear os ocupantes de centenas de milhares de cargos de livre provimento, uma fonte inigualável de poder e corrupção. A ofensiva dos “amigos do povo” contra o princípio do mérito tem a finalidade indireta, mas estratégica, de perpetuar e estender o controle dos partidos sobre a administração pública.

O país do patrimonialismo, do clientelismo, dos amigos e dos favores moderniza sua própria tradição ao se desvencilhar de um efêmero flerte com o princípio do mérito. Nice Lobão é um retrato fiel da elite política remodelada pelo lulismo.”

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Resultado da enquete do mensalão e uma nova enquete





Por Zé Carlos

Disse antes, neste mesmo blog (aqui) que a AGD estava partindo para a América (Estados Unidos) proximamente. Como administrador, e hoje, devido aos desfalques na equipe por bons e justificáveis motivos, pousando de ditador liberal desta mídia, vou com a AGD, muito constrangido em deixar para trás duas coisas que eu acho extremamente importantes para o Brasil: As eleições e o julgamento do mensalão.

Estou indo para um país onde há os mesmos eventos mas com feições extremamente diferentes. As eleições e o mensalão se confundem, lá, no rio de dinheiro que corre a céu aberto em suas campanhas. Estive lendo a respeito das cifras que ambos os candidatos de lá arrecadam e nunca vi nenhuma denúncia como aquelas que geraram o mensalão daqui.

A questão de como financiar campanhas eleitorais em nossas democracias é um ponto crucial e deveria ser motivo de estudo por parte dos nossos parlamentares e cientistas políticos, perfis em que não me enquadro muito bem. Todos sabem que os candidatos tem que divulgar seus nomes, e que, com a profissionalização da política, o custo das campanhas termina tentando alguns a obter retornos a partir do erário. Dizem que o financiamento público evitaria isto. Outros dizem que o financiamento privado leva ao abuso do poder econômico. Para mim é só uma questão de optar entre uma sociedade cuja economia dar ênfase à atividade pública e outro onde o Estado deve imperar nas atividades produtivas. Infelizmente, vivemos numa economia dita mista, e, não sabendo o que queremos, aí aparecem os “mensalões”.

Na América parece que as pessoas não têm vergonha de pedir dinheiro, vendendo suas ideologias para empregá-las, quando eleitos, de dentro do setor público, em benefício da sociedade. Uma das coisas que gostaria de saber é sobre o grau de comprometimento com as ideias depois das eleições. Lá, porque aqui eu já sei que é muito pequeno. O cara ou a cara se elege para cuidar dos pobres e faz doações a Eike Batista, dizendo que isto é bom para o emprego. Como em ideologia cabe tudo, até para isto há justificativas.

Mas, voltemos à vaca fria das enquetes. Tempos atrás premidos pela novidade do julgamento do mensalão, perguntamos aos bom-conselhenses interessados, e, pelo número de votantes, foram muitos (91), quantos dos réus do mensalão seriam condenados. A grande maioria ou 60% dos votantes acharam que todos seriam condenados. Eu não direi que perderam todos pois não considero o caso daquele mensaleiro que foi colocado lá por engano, tire o mérito de quem votou assim.

Vejam abaixo o resultado:

Nenhum - 25 (27%)
1 (um) - 1 (1%)
2 (dois)  - 1 (1%)
3 (três) -  2 (2%)
4 (quatro)  - 0 (0%)
5 (cinco) -  0 (0%)
Mais de 5 (cinco) - 7 (7%)
 Todos -  55 (60%)

O segundo grupamento de eleitores em número (25), achou que nenhum deles seria condenado. Se este resultado refletisse os anseios do povo brasileiro e eles fossem atendidos pelo supremo, a condenação de todos seria uma catarse nacional. Mas, não podemos inferir que o voto seja um anseio e sim uma constatação, o que nos faria analisar o resultado como uma prova de quanto os ministros serão carrascos.

No entanto, como eu sei, toda análise de enquetes é complicada e aqui eu a deixo com os leitores.

Pensamos em outra enquete, e não é porque estamos indo para a América que proporemos uma para verificar se é o Mitt Romney ou Barack Obama que deveria ser o presidente americano. Meu coração ainda ficará em Bom Conselho, e meu cérebro em suas eleições. Portanto, estamos lançando a segunda rodada para aferição de quem os eleitores gostariam que sentassem, a partir do próximo ano, na cadeira principal do Palácio José Abílio.

A pergunta será:

“Se as eleições fossem hoje, em quem você votaria para prefeito de Bom Conselho?”

As alternativas são, como sempre em ordem alfabética e com os nomes conhecidos pelos eleitores:

Capitão Boanerges
Danillo Godoy
Judith Alapenha
Washington Azevedo
Branco
Nulo

Espero que a enquete desperte tanto o interesse do eleitorado como a anterior, mesmo com suas limitações na interpretação. Vocês tem 15 dias para votar. Então votem!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MEU PAI FOI DO "MENSALÃO".





Por Carlos Sena (*)

Do “mensalão” que a imprensa tanto fala e alardeia não sei de nada. E até sei. Sei que o que a notícia vaticina  trata de um bando de politicos ladrões que, mês a mês roubava a nação brasileira pra fazer caixa dois e pagar contas de campanha de seus partidos. Pois é. O MENSALÃO que eu conheço desde criança é diferente. Aprendi com meu pai. Meu pai era servidor público Estadual que para completar sua renda trabalhava feito um doido na sua marcenaria. Ele transformava madeira em altares das igrejas nas redondezas de Bom Conselho - Papacaça. Transformava toras de madeiras em mesas e cadeiras que serviam para as famílias se reunirem em volta em almoços e jantares QUE TANTO AJUDARAM NA TRANSMISSÃO DE VALORES ÉTICOS E MORAIS. Meu pai tinha esse ofício de transformar madeira – passou a vida inteira nesse mister e nunca se permitiu a ser CARA DE PAU. Esses que a imprensa noticia são os verdadeiros CARAS DE PAU, literalmente. Talvez mais pau do que cara. Meu pai não. A única coincidência é que ele tinha o seu MENSALÃO. Mas esse “mensalão” do meu pai só me dava orgulho. Diferente desse (mensalão) que aí está para ser julgada pelo Supremo Tribunal de Justiça que, se envolvesse gente simples como o meu pai, certamente seria chamado de roubo, ladroagem, rapinagem, gatunagem, e outros adjetivos. Como se trata apenas dos medalhões da politicagem, chama-lhes apenas de “MENSALÃO”, ou seja, COLARINHOS BRANCOS. Até nisto meu pai ERA diferente: seu colarinho era encardido de tanto SUOR por tanto trabalhar. Chegavam momentos em que minha mãe lavava uma das suas roupas à noite, para no dia seguinte ele está com ela lá, limpinha, embora com o colarinho encardido.

Como se vê, a vida continua tendo seus dois lados. A minha infância foi pródiga pelo lado do trabalho dos meus pais. Minha mãe não era “mensaleira”, digo não tinha salário mensal  – ela costurava para uma clientela boa mas, que não tinha renda financeira com frequência mensal. Meu pai sim. O seu ordenado (era assim que naquela época ele se referia ao seu salário), era até menor que o mínimo, mesmo sendo servidor do Estado de Pernambuco. Mas ele juntava seu pequeno ordenado de cada mês com o que minha mãe ganhava costurando pra fora e ainda contava com um dinheirinho da sua OFICINA DE MARCENARIA. Pronto. No final do mês ele tinha um MENSALÃO. Dava pra tudo. Tinha meses que a gente se apertava um pouco, mas no geral tudo fechava no final do mês. Eram nove filhos que foram criados graças a esse MENSALÃO. Mas havia algumas vantagens: eu e meus irmãos estudávamos em escola pública de primeira linha. Não havia planos de saúde como hoje e, portanto, o posto médico estadual era quem nos servia.

Atualmente, diante do MENSALÃO da república que o STJ quer julgar eu fico triste porque ele, certamente, surrupiou dinheiro que poderiam estar na saúde e na educação. O “mensalão” de meu pai – hoje tenho essa consciência, era como se fosse o milagre de Canaã. Minha mãe ajudava nesse milagre. A marcenaria ajudava nesse milagre. Quando já formado, ajudei concretizar esse “mensalão” , pois diferente de meu pai eu consegui ser FUNCIONÁRIO PUBLICO FEDERAL e, igual a ele, meu “mensalão” conseguiu lhe dar uma vida menos atribulada junto com minha mãe e meus  irmãos. Ele, meu pai,  já não está mais conosco neste plano da vida, mas certamente está super feliz, pois de certa maneira, ele já me dava lições de como viver a vida com um MENSALÃO decente, de cara limpa, fruto do meu trabalho. Diferente desses que irão ser julgados de caras sujas, de mãos sujas. Se eles, além da cara de pau, fossem de cara de madeira, meu pai jamais conseguiria, como bom marceneiro que foi,  fazer um altar de igreja, exceto se fosse pra rezar nos cus dos Judas ou colocá-los pra satanás rezar nas profundezas dos infernos.

P.S.: Meu pai se chamava JOSÉ BARROS DE SENA, ou simplesmente Zé Barros como era mais conhecido na cidade de Bom Conselho-PE.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 31/07/2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A semana - Falta de humor e a AGD na América


Dilmaquinista


Por Zé Carlos

O filme desta semana que passou, e que comentarei com atraso, perdoável apenas se for razoável um administrador de blog viajar ou realizar outras atividades que o afastem da rede mundial de computadores, não é um vídeo de humor. A não ser para aqueles que consideram que quando presidenta Dilma tente falar sério se travista daquele personagem do Zorra Total que a tenta imitar, a Dilmaquinista. Mas, não é o caso.

Já havia um cansaço pela exagerada prevenção contra o setor privado de uma economia que se diz capitalista, desde que elegeu o Fernando Collor e continuou a eleger todos aqueles que não se opunham à atividade privada neste país. O problema, a meu, é que o partido no poder, subiu a ele, a partir da quebra de um discurso no campo econômico, e, que sempre quis emendá-lo durante o seu reinado que continua até 2014, ou além. Daí tantas contradições.

Chegou a hora de “sairmos do armário” e assumir que estamos dentro de um mundo capitalista e este está em crise. A ideia de que  Dilma está gastando mal quando, ao invés de rejustar salários dos funcionários, tenta desonerar as empresas privadas ou investir em infraestrutura, é que é o verdadeiro humor, e não o ato da presidenta. Mas, o humor maior mesmo é a tendência daqueles que sempre criticaram o processo de privatização anterior tentarem, através de jogo de palavras caracterizar a tendência dos atos do governo brasileiro na semana que passou com não sendo também privatização. Aí o filme levaria a risadas se houvesse abordado o tema com mais desenvoltura, e seria mais hilário ainda, se mostrasse a ajuda que proporcionará o BNDES aos nosso empresariado. Nunca vi um dinheiro tão fácil.

Risada mesmo sei que todos darão, acompanhando os parlamentares da CPI do Cachoeira, que trouxeram uma pseudo implicada no caso e o relator perdeu seu tempo fazendo-lhes perguntas que, esperava ele, a implicaria e esclareceria um monte de crimes. Só que a mulher não era a que se procurava. Risos, mais risos e ninguém foi preso como deveria. Pelo menos que convocou aquela senhora que teve seus 15 minutos de fama.

Por motivos pessoais, o fato do qual mais ri foi a gafe do candidato a presidente dos Estados Unidos, do partido conservador, apresentando o futuro presidente americano, que na realidade era o vice. Eu não teria rido de nenhuma forma, se esta AGD não tivesse sido convidada para cobrir a eleição americana, nesta sua reta final. Então eu ri, porque entendi o que ele falou em inglês, coisa que nunca aprendi. Confesso que preferiria cobrir a eleições em Bom Conselho, mas, esta vida de blogueiro não nos promete nada, a não ser “sangue, suor e lágrimas”.

A partir do próximo mês a AGD estará nos Estados Unidos e fará o possível para continuar informando Bom Conselho sobre o que ocorre tanto lá quanto cá. Ainda não temos como prever o que mudará em nosso blog, mas, esperamos que aquilo que mudar seja para melhor, do ponto de vista dos nossos leitores. Continuem com a gente.

Enquanto isto, vejam o resumo do roteiro do filme abaixo, e logo em seguida o filme em si. Se não rirem, não se perturbem, eu também não ri muito, desta vez.

“O Escuta Essa! desta semana mostra dois destinos do dinheiro público federal. A presidente Dilma Rousseff anunciou um plano de investimento que deixou o empresário milionário Eike Batista empolgado. O anúncio ocorre no mesmo momento em que servidores públicos tentam negociar com o governo federal para encerrar uma greve que já se arrasta há semanas. Esta edição também destaca um dos raros depoimentos prestados na CPI do Cachoeira. A empresária Rosely Pantoja falou no Congresso e surpreendeu por aparentar não ter qualquer envolvimento com o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira.”

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

EU JÁ FUI NINGUÉM...





Por Carlos Sena (*)

A vida do interior não é só rica por conta da tranquilidade. Viver no interior tem das riquezas maiores: a construção das relações de vizinhança – coisa difícil de acontecer em nossos tempos, principalmente nas grandes cidades. Lembro que meu ritual de infância/adolescência lá na minha Bom Conselho de Papacaça era, basicamente, entrando e saindo nas casas dos nossos vizinhos. Duas dessas casas eu não posso jamais esquecer: a de Seu Adnísio Padilha e a de Dona Duquinha. Adnísio de Lourdes Miranda. Duquinha de Cabinéia (designação ao seu ex-marido que era cabo e se chamava Enéias). No interior era assim como ainda acho que seja hoje. As pessoas são tão pessoas que a gente as identifica pela relação. Daí Lourdes de Adnísio, Pretinha de Zé Barros, Duquinha de Cabinéia. Eu, Carlinhos, era sempre chamado de Carlinhos de Dona Pretinha e assim por diante. Esse era o clima no qual as nossas relações eram construídas e, desta forma, a gente normalmente adentrava na casa dos vizinhos sem maiores cerimônias. Na casa de Dona Lourdes de Adnísio eu tinha passagem livre. Era como se fosse um da família e ainda hoje nos sabemos assim e por isto eu sempre adentrava sem bater na porta. A campainha de lá se chamava “Branquina” – uma cadela esperta que sempre se encarregava de avisar que alguém estava entrando ou na porta querendo prosa. Já na casa de Duquinha de Cabinéia eu sempre batia. Duquinha era separada do Cabinéia e sua casa era um verdadeiro entra e sai de tanto filho que ela, coitada, já fechava a porta pra ver se controlava um pouco mais o fluxo de pessoas. Muitas das vezes, retornando tarde da noite da escola, batia em sua porta para prosear com Beta e Inês – duas das suas tantas filhas. Quando eu batia na porta, alguém, naturalmente vinha abrir. Abria o postigo (janelinha que fica acoplada à porta evitando que se lhe abra por completo) e dizia para alguém que perguntava “quem é?” – “Não é ninguém não, é Carlinho”! Eu entrava todo serelepe e já ia dizendo: “não é ninguém não sou eu”! Chegou a um ponto que quando eu batia na porta já incrementava gritando: “vem abrir a porta que não é ninguém não sou eu”!

Assim, fico pensando: como foi bom aquele tempo em que eu não era ninguém. Hoje, morando na cidade grande, o povo diz que eu “venci”, que sou gente. Quando eu passei no vestibular o povo dizia que eu ia ser doutor, mas eu nunca me convencera daquilo. Agora eu sei que eu estava certo. Como “doutor” que o povo diz que eu sou eu não me emociono, não guardo lembranças marcantes. Como “NIGUÉM”, SIM. Por isto volto sempre à terrinha vendo onde o doutor se perdeu de “NINGUÉM”. Guardo essas lembranças que se contradizem às que a gente tenta construir por aqui, na selva de pedra. Convivendo com gente metida a doutora, mas que não passam de medíocres personalidades que se estabelecem sem o “verniz” da competência, mas da influência que se alimenta da clientela de “amigos para sempre” entre aspas. Na minha terra mesmo a gente sendo NINGUÉM, parece ser tudo. Aqui, mesmo a gente sendo tudo querem nos reduzir a ninguém pela hipocrisia que nutre as relações interesseiras, clientelistas, burocráticas. O melhor é que aqui sou feliz do meu jeito, pela certeza de que um dia Já fui “ninguém”...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 28/07/2012

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

ACONTECIMENTOS CORRIQUEIROS





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Andar pelas ruas do Recife é saborear os acontecimentos corriqueiros da grande cidade por pessoas que se locomovem, seja nos ônibus, metrô ou de automóvel ou mesmo andando pelas ruas. São fatos que aparecem a sua frente que você não pode deixar de observar ou mesmo ignorar.

Milhares de pessoas se deslocam pelas ruas da cidade grande uns apressadamente outros devagarzinho, sem a mínima atenção do que ocorre ao seu lado. Dentro deste prisma, eu tomei conhecimento de algo que se torna presente nos grandes centros do País, o “conto do vigário” aplicado por “homens sabidos” enganando os “tolos”.

Pois é, aconteceu.

Fui a um estabelecimento bancário no Recife e lá encontro algumas pessoas que arrodeavam uma senhora idosa, já beirando seus setenta e cinco anos, sentada e soluçando. Não me dei conta do que estava acontecendo, pois a minha curiosidade falhou. Sentei-me na cadeira enquanto aguardava numero da minha senha ser anunciada no painel. Enquanto aguardava, uma senhora sentada ao meu lado comentava o fato que eu acabara de ver – aquela senhora ali choramingando – e falou: O senhor viu aquela senhora ali chorando?

Pois ela foi roubada inocentemente, é que se comenta.

 Olhou para mim e continuou –

 Disseram que ela retirou algum dinheiro aqui no Banco. Dizem que era uma quantia grande. Recebeu guardou na bolsa que levava a tiracolo. Saiu à rua. Neste instante um cidadão engravatado vestindo um terno azul alinhado e com um crachá no bolso do paletó lhe abordou. Era bem afeiçoado. Cabelos louros e barba bem conservada. De óculos escuros dando aquela “pinta” de gente “grande”.

Comenta-se, ainda, que esta senhora foi chamada com um “psiu” e com um grito de “minha senhora”. A mulher parou na calçada e este “cidadão” falou que o gerente da agencia bancaria estava solicitando a sua presença. Este mesmo “cidadão” acompanhou a senhora que vinha calma e o seu acompanhante ao lado. Ao chegar ao hall do Banco, ele falou – Senhora é aquele senhor que está lhe chamando, me dê a sua bolsa e passe pela porta enquanto a senhora vai lá eu atendo esta cliente. A mulher inocentemente, disse – Tome e me aguarde. Deu a bolsa e entrou no banco. Se dirigindo a pessoa que lhe havia indicado, esta pessoa ficou surpresa e disse-lhe que não a tinha chamada.  Quando saiu o cidadão tinha se evaporado. Procurou por todos os lados e, nada encontrava. Apavorou-se. Começou a chamar as pessoas e interrogar se tinham visto um rapaz, e dando suas características. Ninguém viu nada. Ai, ela caiu no pranto e disse “fui roubada em todas as minhas economias”. As pessoas se penalizaram daquela situação e outros diziam – bem feito!  Dar confiança a pessoa estranha é o que acontece. Duvido que um caso deste aconteça comigo, diziam às pessoas que estavam conversando.  Outros diziam - como uma senhora desta idade vem retirar dinheiro sem um acompanhante da família? Depois de contar tudo que sabia, esta senhora disse, olhando para mim com os seus olhos castanhos através de um óculo de grau – tá vendo eu não confio em ninguém! Eu não sei com quem estou lidando! Pego meu dinheiro da aposentadoria guardo bem guardado no sutiã e vou-me embora sem falar com ninguém. E, olhe antes de eu sair do banco, olho para um lado e para outro ver se estou sendo observada. Se caso eu desconfiar não saio do banco e comunico aos guardas. É assim que eu faço! Nunca fui roubada e nem vou ser. Tenho cuidado.

 A senha dela foi anunciada no painel – levantou-se e disse, até mais!

Eu ali sentado fiquei meditando sobre o que aconteceu com aquela pobre mulher. Perdera tudo. Nada lhe restava. Bolsa, documentos e outros apetrechos que as mulheres andam com eles na bolsa foram embora. Todo cuidado é pouco. Ai lembrei-me de papai em suas conversas na sala ou na mesa de refeição, dizia ele, “ai dos sabidos se não existissem os tolos”.

Estes e outros casos desta natureza acontecem diariamente nas grandes cidades, sem que haja solução, pois eles agem escolhendo a dedo as suas futuras vitimas. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DITO POPULAR.





Por Carlos Sena (*)

Geralmente, as pessoas carregam consigo um “dizer”, um “dito” popular ou erudito que servem como lema de vida; como distintivo de filosofia que representa   valores de vida, formas de pensar. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” – algo mais ou menos assim. Talvez um salmo bíblico; ou uma citação de grandes pensadores antigos como Platão ou mais recentes como Freud, Mário Quintana, Bauman, Sartre, etc.

Erudito ou popular, os ditados são sempre uma muleta salutar para os grandes oradores em suas proezas com as palavras. Jesus Cristo IMORTALIZOU as parábolas como forma de dizer ao mundo as verdades absolutas.  Foi perfeito e foi único na sua forma. Hoje nós seguimos um pouco do falar ensinado por Ele – meio parabólico – mas nós, às vezes, somos mais paranoicos, principalmente quando se quer filosofar com o sentir, com o saber e com o viver. Embora conhecendo palavreados elegantes, eruditos, gostamos muito do popular. Talvez pela fidelidade às nossas raízes simples de nordestino predestinado – no sentido popular, jamais no extraordinário que se utiliza com esse fim. No rol dos dizeres, gosto de falar sempre que “a vida é um ai que mal soa”. Simpatizo com aquele outro que diz “a vida é dura e ela mole pouco vale”... Ainda: “A vida é mágica”. “Rapadura é doce, mas não é mole”. “Sapo tem olho grande, mas, não sai do chão”. “Deus não deu asas às cobras”, etc.

Cada frase, cada dito, no geral se relaciona a determinados momentos de cada pessoa. Gosto, independente do momento, daquele que mencionei: “A VIDA É MÁGICA”... Não sei se tem autor, diante da sua singeleza gramatical e poética. Contudo, seu sentido se aglutina no geral da nossa vida e no particular do nosso sofrimento ou da nossa alegria. No sofrimento, pela certeza de que a vida é mágica em sua capacidade de nos dizer que tudo passa e que no dia seguinte o sol de novo vai raiar para nos iluminar sonhos, desejos, projetos de vida. A magia da vida é transformadora porque faz tudo sozinha à sua revelia como que nos chamando atenção e dizendo: “você não sabe nada da vida!”. Na alegria, a certeza de que a vida, sendo como é, mágica, nos permite parcimônia, simplicidade, vigília, preparo para que no dia seguinte se possa compreender o que essa magia poderá nos proporcionar.

Compreender que a vida é transformadora é não ser fatalista. É nunca desesperar diante das dificuldades e, acima de tudo, fazer a leitura correta das “peças que a vida nos prega” como que nos testando a capacidade de viver com resignação, mas com muita resiliência. Essa magia que a vida nos brinda com tanto talento exige de nós a perfeita tradução dos nossos quereres existenciais. Afinal, de mágica a vida só tem mesma é a sua capacidade mutacional. E ela transforma ao seu modo e do seu jeito e que nunca são como gostaríamos que fosse. Contudo, a transformação maior que a magia da vida nos presenteia é a evolução do nosso interior. Ter olhos pra ver a magia que a vida nos faz por dentro é, talvez, a maior proeza. A vida moderna, o consumo tão em moda, as vaidades humanas todas e tão abrangentes, podem “cegar” para a visão da existência dentro dos nossos conceitos e preconceitos; dentro dos nossos mitos e ritos; dentro dos nossos ternos e eternos entardeceres para que nossos amanheceres sejam todos expressos no orvalho das manhãs...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 25/07/2012

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Julgamento do Mensalão - O Vento Será Tua Herança



Cena do filme "O Vento Será Tua Herança"


Por Zezinho de Caetés

Uma das minhas diversões, nesta época mensaleira, é assistir ao julgamento da “organização criminosa” que achacava cofres públicos e privados há alguns anos atrás, segundo o Procurador Geral da República. Aliás, apesar do noticiário ter amainado nos últimos dias, pela repetição exagerada de argumentos por parte dos advogados de defesa dos réus (“todos são heróis, até prova em contrário”), ainda espero avidamente pelo começo da tarde, na TV Justiça.

Aquele ambiente solene da corte suprema me encanta. Eu penso porque, ao invés de me dedicar às letras neolatinas, eu não fui ser advogado. Hoje, quem sabe, estaria lá, com aquela beca preta nos ombros, embora, como assistente da acusação. Isto porque não creio na inocência de ninguém daquela turma.

No texto que transcrevo abaixo o jornalista Sandro Vaia (publicado no Blog do Noblat em 10.08.2012) chama o grupo de “O consórcio dos anjos”, relembrando e louvando os filmes americanos que apresentam advogados. Foi o que a gente aprendeu a ver no cinema. Eram empolgantes e inesquecíveis seus debates sobre muitos assuntos. Filme que tinha julgamento eu não perdia um sequer. E sentia falta, nos júris brasileiros daquela imponência argumentativa.

Um de que me lembro, e que me emocionou demais, chamava-se “O vento será tua herança”, do qual recordo a performance do Spencer Tracy, embora sem os detalhes. Em resumo, numa cidade marcada pela forte presença de comunidade religiosa, um professor foi preso por ensinar a Teoria da Evolução de Darwin. O caso foi para o tribunal, onde acontece uma série de inflamados debates ideológicos, que mexem com a localidade e com seus habitantes, e foi baseado em caso real ocorrido em 1925, lá nos Estados Unidos.

Velhos tempos onde ainda se discutia se o homem descenderia dos macacos ou não. Hoje, com o procedimento de certos humanos, já vimos filmes (O Planeta do Macacos, por exemplo) onde os macacos são presos por dizerem que descendiam de humanos. E o comportamento dos advogados de defesa no mensalão parece uma verdadeira macaquice, pela repetição dos argumentos.

No entanto, a partir do meio desta semana, teremos os votos dos senhores Ministros. Pelo que li em determinado blog, sobre as opiniões de um destes ministros sobre um jornalista (aqui), eu aguardo o seu voto já com os tampões de ouvido prontos, para quando ele começar com aquele linguajar de baixíssimo nível no jargão jurídico. Mas, quem sabe será bom para despertar alguns deles que cismaram em dormir em cena aberta.

Fiquem com o Sandro Vaia e com os anjos, e eu não volto vou sintonizar a TV Justiça, para mais um capítulo desta novela que se arrasta por 7 anos.

“Os filmes de advogado são mais divertidos na TV, principalmente porque os advogados norte-americanos são muito objetivos, nunca falam “data máxima vênia” e estão sempre atrás daquilo que o Garganta Profunda recomendava a Woodward e Bernstein: follow the money- sigam o dinheiro.

Como o direito anglo-saxônico escapou das complexas formulações da retórica latinória, não há perigo de ouvir, naqueles filmes, advogados dizendo que seus clientes foram a Portugal comer pastéis de Santa Clara ou pedir aos juízes que tenham piedade dos réus porque aquele julgamento pode significar “a bala de prata” para alguns e muita tristeza para suas famílias.

No quinto dia daquele que se afigurava como “o julgamento do século”, ao final do qual afinal saberemos porque querem proibir-nos de usar a palavra “mensalão”, paira sobre o assunto um tédio tão mortal que não só faz adormecer os venerandos juízes no aconchego de suas togas, como torna uma partida de handebol feminino entre Austrália e Nova Zelândia um modelo de eletrizante emoção.

Desde o dia em que o procurador Gurgel nos enterneceu com os baixos decibéis de seu interminável solilóquio, com toda a carga de acusações que lhe foi possível juntar, parece que estamos ouvindo uma interminável oração fúnebre. De novo, como nos filmes norte-americanos, onde os elogios fúnebres fazem parte dos rituais de despedida.

Os desolados amigos contam a outros desolados amigos como eram maravilhosas essas pessoas que tão prematuramente abandonaram o nosso convívio deixando para trás inesquecíveis lições de vida. Assim foram até agora os réus do mensalão.

Isso faz parte do ritual e ainda vai demorar um tempo, considerando o alentado número de acusados. Muitos cochilos ainda ressoarão na Egrégia Corte.

Ouviremos ainda muitas histórias de reputações ilibadas (salvo a de alguns poucos mequetrefes) de pessoas que nada mais fizeram do que dedicar-se ao bem comum, com a ajuda de generosos bancos que jamais pensaram em dedicar-se à mesquinha tarefa de cobrar empréstimos feitos com o único objetivo de ajudar os outros.

Para que serve o dinheiro senão para oferecê-lo a quem precisa ? Que banco seria tão estróina a ponto de pedir o dinheiro de volta?

Estes são os primeiros dias do julgamento do – com perdão da palavra, senhores censores - mensalão. Cada um dos 11 juizes do Supremo Tribunal Federal deve guardar no segredo das suas togas uma sentença já formada para cada um dos 38 acusados.

Lá pelo começo de setembro é bem possível que saibamos de que material são feitos os nossos anjos e para que espécie de País os nossos futuros campeões olímpicos vão procurar ganhar as suas medalhas.”

P. S.: Ontem, depois de já haver fechado este escrito, vi que colocaram o Lula com autor principal da trama mensaleira. Eu apenas pude dizer, por enquanto: EU JÁ SABIA!