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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Nem inferno, nem céu





“Nem inferno, nem céu

Por Eliane Cantanhêde

O presidente Michel Temer deu uma cambalhota. Deixou de ser o presidente mais impopular desde a redemocratização, sem horizonte e carregando nas costas o defunto da reforma da Previdência, para passar a ser o presidente que interveio no Rio de Janeiro, deflagrou uma guerra à violência e passou até, vejam só, a ser considerado candidato a um novo mandato.

Nem ao inferno, nem ao céu. Temer enfrentou uma pedreira desde o impeachment de Dilma, com a pecha de golpista e as denúncias de Rodrigo Janot, e sacou a arma que sabe manejar bem: a negociação com partidos e políticos, chegando a excrescências como nomear, e desnomear, Cristiane Brasil, sob intenso tiroteio da mídia e com o Ministério do Trabalho vago. Nem por isso era o diabo.

Mas também não vai virar santo – ou candidato –, de uma hora para outra, só com a intervenção na segurança. Apenas ganha fôlego, possivelmente alguns pontos nas pesquisas e discurso para enfrentar os áridos meses até a eleição e a passagem de cargo, com os holofotes nos candidatos, não num governo nos seus estertores.

Antes da intervenção, Temer só entrava mal na mídia. Com a intervenção, entra na boa e ganhando colunas, notinhas e análises sobre uma possível candidatura. Na eleição, tende a sair das manchetes, minguar, tendo de fugir de denúncias e dos malfeitos de companheiros do PMDB e de assessores no governo. Portanto, das páginas policiais.

O que dizer do encaminhamento de Gustavo Perrella como futuro ministro dos Esportes? Não é aquele famoso pela apreensão de um helicóptero da família com cocaína no Espírito Santo? Agora, Temer não tem mais a desculpa de ter de ceder tudo, anéis e dedos, por três ou quatro votinhos a mais para a Previdência. Livre, ele pode escolher melhor, certo? Sua própria equipe acreditava nisso.

E Henrique Meirelles? Presidente do Banco Central de Lula, ileso no desastre Dilma e ministro da Fazenda de Temer, ele só deixou o primeiro time do BankBoston e voltou ao Brasil com uma única ideia fixa: ser presidente da República. Faltou combinar com os adversários. E com ele próprio, sua falta de jeito e de talento para a política.

Além disso, Meirelles pode capitalizar os avanços positivos na economia, com previsão de crescimento acima dos 3% em 2018, inflação e juros historicamente baixos e balança comercial animada, mas... a pior herança de Dilma foi a cratera fiscal e isso continua sem solução. E teve azar. Sem ter quem lançá-lo, ele decidiu lançar-se. No mesmo dia, a agência Fitch rebaixou a nota do Brasil pela falta da reforma da Previdência e de perspectivas de sair do atoleiro fiscal.

É assim que o governo que não tinha nenhum candidato passou subitamente a ter dois, mas nenhum deles é capaz de convencer de que tem as condições de decolagem, voo seguro e pouso garantido. Tudo pode mudar, mas a expectativa é de que se gaste muita tinta e gogó com as candidaturas Temer e Meirelles para nada. Assim como se gasta com as de Lula, ficha suja, e Jair Bolsonaro, aquele que faz que vai, mas não vai.

Além deles, João Doria não deu para o gasto, Luciano Huck roeu a corda, ninguém mais fala em Rodrigo Maia, Marina Silva faz campanha escondida, Ciro Gomes ainda não foi assimilado pelo PT, Álvaro Dias é regional. Enquanto o centro e a direita vão de voo de galinha em voo de galinha e a esquerda está imobilizada pelo fator Lula, Geraldo Alckmin vê a Lava Jato avançando pelas searas do PSDB justamente no ano eleitoral. Ele tem as condições objetivas e trabalha com afinco para consolidá-las, aguardando pacientemente o apoio do Planalto. Mas precisa sobreviver e garantir as condições subjetivas: Alckmin precisa alavancar Alckmin.”

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

MAROCA XEREM!





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

A chuva fina cobria a cidade de Santo Inácio. Dona Maroca, morava numa casinha no final da Rua Leão Coroado. Acordava com o galo a cantar na madrugada indo diretamente para o fogão pregado na parede a lenha. Duas bocas já fumegavam quando ela colocava duas panelas grandes para cozinhar o xerem feito em casa pisado no pilão no terraço. Ela aprontava seu café por volta das quatro horas da manhã, pão dormido e bolacha seca. Ia se arrumar no pequeno quarto onde somente cabia a cama de solteira. Ela nunca teve homem, alguns se aventuraram a namora-la mais ela era desconfiada, pois tinha desde criança tinha fobia a agressão, pois seu pai gritava e dava bofetões em sua mãe que corria para o quarto a lamentar-se do ocorrido. Ela pequena via tudo calada encostada na parede, somente ouvindo o choro e soluços de sua mãe. Isto veio trazer durante toda a sua vida cisma dos homens. Quando se tornou moça saiu de casa e foi morar num cidade maior, longe da família, pois não aguentava mais aquele sofrimento. O tempo passa e ela começou vender xerem na Praça Galdino Filho, de madrugada aos fregueses que iam trabalhar e aos motoristas de ônibus. A mesa improvisada forrada com uma tolha vermelha para chamar a atenção das pessoas, junto com duas panelas em cima de um fogareiro que esquentava o xerem mexido com uma pá de madeira comprada no armazém de seu Caetano. Não estudou, mas aprendeu com sua mãe a cozinhar. Gostava da cozinha e com isso era solicitada por várias pessoas principalmente para as festas. Voltou depois de algum tempo para a sua cidade, pois cidade grande não lhe dava conforto era uma luta de sacrifício e o dinheiro não lhe dava lucro. Voltou foi bem recebida, apertos de mão, tapinhas nas costas e abraços Foi morar sozinha, seus pais ainda viviam juntos apesar das agressões que ela, sua mãe, sofria. Começou a fazer doces em calda, de goiaba, banana, caju, e o xerem que era vendido na Pracinha do Coreto, ali ela se instalou e começou a colocar o xerem em pequenos cubos que eram comprados pelo povo. E assim foi se tornando dona de si, começou a ajudar seus pais na feira da semana. Moça bonita, todo mundo dizia, olhos claros, cabelos encaracolados, morena sapoti, sorriso largo e vestimenta de uma saia azul e uma blusa branca, começou a ter pretendentes. Ela que odiava homens, sem engraçou por Alcebíades, um belo rapaz da redondeza, trabalhando no Correios. O namoro começou bem, sempre toda tarde estava ele esperando que Maroca dessa a hora para recolher os materiais para sua casa. O namoro foi adiante. Iam todos os domingos para a Santa Missa, o Padre Afrânio, admirava aquele casal e o trabalho dela na luta pela sobrevivência. Noivaram e com três meses depois, estavam em frente ao altar da Matriz de São Sebastião, se casando. Os pais compareceram juntos com alguns amigos e logo depois foram morar numa casa confortável, era visível alegria no casal, era bem visto pela sociedade e sempre estavam sendo convidados para aniversários. Maroca, mesmo casada e bem de vida, não deixou de colocar a sua mesa na Pracinha do Correto. Atendia os fregueses sempre com a melhor atenção e muitos diziam – Marroquinha deixa este serviço, já não precisas – ela, sorria e agradecia o conselho. Passaram-se dois anos na maior felicidade, nasceu Margarida uma bonita menina gordinha. Alcibíades continua a entregar cartas e telegramas, mas de repente apareceu doente. Foi o médico Dr. Olavo fez exames e foi declarado com problema pulmonar. Tomou remedido caseiro, mas não adiantava cada dia à tosse aumentava, a palidez e o emagrecimento estampavam no seu corpo, não tinha mais força para caminhar, e assim foi à morte. Maroca ficou enlouquecida, chorava e era consolada pelas senhoras, mas ela não cedia. O tempo passa e ela continuou a vender o seu xerem todos os dias e o apurado junto com a pensão do falecido deu para custear os estudos da filha, que se tornou medica. Maroca continuou com a sua venda de xerem que era procurado por todos.  

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Intervenção meia-boca





“Intervenção meia-boca
        
 Por José Nêumanne

Como todas as iniciativas demagógicas adotadas para algum fim inconfessável e anunciadas como se tivessem por objetivo o interesse público, que dificilmente será alcançado, a intervenção federal sob chefia militar na segurança pública do Rio é, no popular, meia-boca.

O Estado do Rio de Janeiro está clamando por uma intervenção federal por inteiro há muito tempo, desde, pelo menos, a ampla divulgação da roubalheira superlativa que faz do ex-governador Sérgio Cabral protagonista do maior escândalo de corrupção e má gestão da História. E o atual ocupante do cargo (chamá-lo de governador é uma cínica licenciosidade léxica), Luiz Fernando Pezão, não passa de um capataz com carta branca do antecessor, enquanto este passa uma temporada no inferno prisional. Intervir na segurança e mantê-lo no cargo é um acinte para os fluminenses, que terão de continuar a suportar sua óbvia nulidade, e os brasileiros, que pagam a pesada conta secreta para manter essa fantasia de bloco de sujos.

No editorial Uma intervenção injustificável, publicado sábado, este jornal já fez a pergunta que não quer calar: o que aconteceu nos últimos dias que justificasse a decretação da medida radical antes de ser debatida e votada no Congresso Nacional a reforma da Previdência? Ao que se saiba, nada! A crônica do fiasco anunciado na conquista dos três quintos de votos dos congressistas para aprovar a reforma, sem a qual não há remendo possível para as contas públicas nacionais, é mero pretexto.

Em nome da busca desse ideal, Temer nomeou o mais truculento cabo de esquadra das hostes que herdou, no pra lá de baixo clero do MDB – à época ainda com o pê, não o do início de pudor, mas, sim, o do meio de impunidade –, do colega Eduardo Cunha, hoje habitante do Arquipélago Curitiba, onde se encontra Cabral. Carlos Marun na Secretaria de Governo é o erro de pessoa no lugar errado. Nomeado para seduzir parlamentares resistentes a uma causa improvável, ele só sabe rosnar e morder.

Se seria injusto inculpar só o valentão de circo com porrete à mão pela derrota na votação capital para o equilíbrio das contas públicas, sua instalação no Palácio do Planalto, à direita de “deus-pai todo-poderoso”, é a mais completa tradução da desistência sem honra da votação e do pretexto para evitá-la. Marun é subserviente a Eduardo Cunha a ponto de figurar entre os gatos-pingados que tentaram evitar sua cassação pela Câmara e de ir visitá-lo na cela, com passagem paga pelo contribuinte. E Marun não seria Marun se não tivesse confessado, como o fez há pouco, que a única atitude de que já se arrependeu até hoje na vida foi, sob pressão, devolver essa despesa. Pois, para ele, tudo o que o chefe manda é legítimo.

Resta a segunda questão: por que intervir pela metade, se Pezão já renunciou a governar o Estado? Não é o que ele fez ao se acoitar em seu berço, Piraí, para fugir do caos momesco na capital do Estado, depois de ter anunciado um plano de segurança sem dados, comprometimento de verbas nem metas à vista? A única explicação (usar justificativa seria um engano semântico) é a conveniência para os remanescentes palacianos – Temer, Moreira e Padilha –, que preferiram evitar a investigação do que Rodrigo Janot chamou de “quadrilhão do PMDB” a encará-la.

Eles são do mesmo partido de Geddel, que, ainda que viva aos prantos na Papuda, nunca deu nem indício de origem e destino dos R$ 51 milhões encontrados num apartamento em Salvador usado pelo clã, também formado pelo mano Lúcio, da fiel base de Temer na Câmara, e “mãinha” Marluce, acusada de usar o próprio closet como caverna de Ali Babá. São da patota de Rodrigo (nome pelo qual se identificou Joesley Batista ao entrar no Jaburu para gravar o presidente) Rocha Loures, recordista dos cem metros com mala com R$ 500 mil, sem dono nem fiel depositário. E de Henrique Alves, aquele lá das Dunas.

Convém não omitir Jorge Picciani, chefão na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro que conseguiu de Eduardo Cunha a nomeação do filhote Leonardo para a liderança da bancada do então PMDB na Câmara, vendeu o voto dele a Dilma e terminou aderindo ao companheiro de primeira hora, Temer. Por mercê dessa virada dupla, Leonardo Picciani é ministro do Esporte no ano da Copa do Mundo e, ao que indica seu sumiço, deve estar dando expediente na Rússia.

A terceira causa (usar razão seria um escárnio gramatical) da intervenção pela metade é que, despojado do disfarce de presidente reformista em plena Quarta-Feira de Cinzas, o atual chefe-geral da súcia resolveu apelar para o velho refrão da violência como tema de enredo que todos os governos adotam, mas nenhum se arrisca a enfrentar de verdade.

Para isso tomou “na moral” a bandeira de Bolsonaro e apelou para os militares de hábito. Assim foi na Eco-92, nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Mundial da Fifa em 2014 e na Olimpíada de 2016. Sempre no Rio e com idêntico receituário: um acordo com os chefões do tráfico de drogas, que tiraram férias e deixaram a autoridade brincar de ocupação do Haiti nas praias, longe do seu território. Deu certo enquanto duraram os acordos. E agora?

O problema agora é que um objetivo colide com o outro. A violência campeia porque as Polícias Civil e Militar são corrompidas do topo à base, como constatou Torquato Jardim, “escanteado” ministro da Justiça. E isso só é possível porque os gestores públicos fazem vista grossa após serem comprados como o são os subordinados. Como se reprime o crime organizado se se faz isso para impedir que policiais, procuradores e juízes federais da primeira instância tenham mãos livres para combatê-lo? E isso não é só no Executivo. Quem duvida que o Supremo Tribunal Federal julgue (o que já é um absurdo) e até conceda habeas corpus ao criminoso (condenado por corrupção e lavagem de dinheiro) Lula da Silva? E um fato nega outro.”

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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Nossas mazelas políticas





“O incrível espectro partidário
        
Por Almir Pazzianotto Pinto

O cadastro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela a existência de 39 partidos registrados e 76 em processo de fundação. Temos, por enquanto, 115 legendas com pretensões às delícias do poder, cada qual com proprietários, dirigentes e filiados virtuais.

Durante o Império (1822-1889) existiam dois partidos, o Liberal e o Conservador, ambos poderosos e integrados por homens cujo nome a História perpetua como exemplos de honestidade e de honradez. Na Primeira, na Segunda e na Terceira Repúblicas não teria sido muito diferente. Ao longo do regime militar (1964-1985) as atividades partidárias foram inibidas pela força de atos institucionais e complementares, que davam ao presidente da República a prerrogativa de dissolver partidos e controlar a fundação de entidades de caráter partidário. Assim nasceram a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o primeiro como instrumento de sustentação do governo e o segundo incumbido de lhe fazer oposição.

O site Wikipédia relaciona partidos registrados e em processo de regularização. Relativamente aos primeiros, encontramos singular coluna com a denominação “espectro político”, que nos permite avaliar o conteúdo programático de cada legenda. Desconheço as fontes de informações. Reconheço, porém, que os dados contêm mais acertos do que erros e retratam, de maneira simples e didática, o perfil dos dirigentes.

Seriam de centro o PMDB, o PSL, o PV, o PTB e o Avante. Do centro-esquerda à esquerda, o PDT, o PT e o PSB. De centro-direita, o PR, o PHS, o PRP, o Pros, o DEM. De centro-esquerda, o PMB, o PMN, o PPS, o SD, a Rede. De extrema esquerda, o PCO, o PSTU, o PCB. De direita, o PRTB, o PP e o Novo. De direita para a extrema direita, o PEN. De esquerda e extrema esquerda, o PSOL e o PCdoB. De centro-esquerda, o PSD. Posição singular é a do PSDB, apontado como versátil partido de centro, de centro-esquerda e de centro-direita.

Na realidade, os 35 partidos reconhecidos e os 76 em processo de organização são carecedores de consistência ideológica. As agremiações que se definem como de extrema esquerda, esquerda, direita e extrema direita, ao se submeterem ao teste das urnas, revelam maciça rejeição do eleitorado. Algumas não elegem um único deputado sequer.

O que temos no Poder Legislativo é a presença de bancadas evangélicas, da bancada ruralista, de sindicalistas, de políticos profissionais e da maioria fisiológica na busca imoral de nomeações para ministérios, de dinheiro e de empregos. Pessoas jurídicas de direito privado, as legendas agem como empresas a serviço do acionista controlador, como se dá com o PDT, o PTB, o PRTB e o PSC, cujos dirigentes são detentores do domínio absoluto da legenda. Poderiam estar registrados na Junta Comercial.

Os conceitos políticos de direita, centro e esquerda surgiram na Revolução Francesa, durante o período conhecido como Terror, conforme registra o historiador norte-americano Stanley Loomis (1922-1972) em Paris sob o Terror (Ed. Civil. Bras., 1965). Para o inglês Edward H. Carr (1892-1982), a distinção é fruto da antítese entre utopia e realidade, teoria e prática, radical e conservador, embora ressalve que seria imprudente presumir que partidos que carregam esses rótulos representem tais tendências. Nas palavras do historiador e jurista inglês, “o radical é necessariamente utópico e o conservador, realista” (Vinte Anos de Crise: 1919-1939, Ed. Universidade de Brasília, 1981). O filósofo espanhol Ortega Y Gasset afirmou que “ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil” (A Rebelião das Massas, Livro Ibero-Americano, 1959).

É inútil buscar agremiações definidas ideologicamente – observe-se a troca de legendas como garantia de reeleição. Existem, mas nunca alimentadas por ideias e consagradas à execução de programas permanentes. Sobrevivem financiadas pelo Tesouro Nacional, provedor do Fundo Partidário. Leiam o número declarado de filiados no site do TSE. O PMDB, cuja ideologia é o governismo a qualquer preço, aponta 2,4 milhões de filiados. O PT, em acentuada decadência, vem em segundo lugar, com 1,6 milhão. A seguir o PSDB, com 1,45 milhão. O PPS, 481 mil. O PCO, 2.930. Pela quantidade de inscritos, qualquer deles desenvolveria suas atividades mediante módicas contribuições mensais de R$ 10, o suficiente para devolver ao erário o dinheiro retirado da educação, da saúde, da segurança, da infraestrutura.

Nas democracias, a rigor, bastariam dois partidos: situação e oposição. Entre os 35 registrados, não mais do que meia dúzia tem presença política. Os demais fazem número, à espera do momento pré-eleitoral para negociar a legenda, aspirar à eleição de um ou dois representantes, conseguir cargos e ganhar dinheiro.

As eleições de outubro confirmarão a fragilidade dos partidos e a falta de limites éticos dos dirigentes. Para conquistar a Presidência da República, governos estaduais, cadeiras na Câmara dos Deputados, no Senado e nas Assembleias Legislativas, todos os recursos serão válidos. O importante, como disse alguém, é juntar. O lema será: “para vencer faço acordo com o demônio”. Na composição das chapas de candidatos prevalecerão o requisito popularidade entre as classes C e D, a posição nas congregações evangélicas, o dinheiro que se dispõem a gastar com cabos eleitorais, dobradinhas, marqueteiros e demagogia, ao mentir e prometer.

O paradoxo brasileiro está em a força dos partidos resultar do vácuo ideológico. Nesse tópico o PMDB é insuperável. Quem desejar vencer dependerá dele como aliado. Por outro lado, com ele no Palácio do Planalto será impossível governar, tal a volúpia por ministérios, cargos, estatais, sociedades de economia mista.”

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AGD comenta:

Ontem, num comentário neste espaço, eu procurava ver como resolver problemas mudando a maneira de resolvê-los. Hoje, encontrei o texto acima do Almir Pazzianoto que já foi, um dia Ministro do Trabalho.

O que me veio à mente, junto com a leitura, foi perguntar se a Cristiane Brasil já venceu à Justiça e já tem o mesmo posto. Este episódio, de nosso sistema partidário, apenas comprava os fatos citados no texto.

Para obter apoio numa votação do Congresso, o presidente (Temer por acaso, poderia ser outro qualquer) nomeou a jovem filha de um bastante conhecido político, o Roberto Jefferson, que se enquadraria muito bem no que o Pazzianoto diz que é dono de uma firma comercial, e registrado seu partido, o PTB, na Junta Comercial. O Jefferson é o detentor do domínio absoluto da legenda, que se finge de Partido.

Será que nossa tenra Democracia suportará o quadro acima? Até quando? Estas são reflexões para o final de semana que deixo aos leitores interessados em resolver nossas mazelas políticas.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Revolução do Bem ou Revolução do Mal?





“Mudar o jeito de resolver problemas
        
 Por Fernão Lara Mesquita

É a hora do tiroteio. Quem foram os policiais, as mulheres grávidas, as crianças despedaçadas a tiros de fuzil do dia? Não ha mais singular nesses relatos. Aonde é mesmo aquele mar de miséria amontoada em barracos de bloco? Qual estado deixou de pagar a polícia agora? Onde é que o crime passou a correr oficialmente solto? Que prisão está tendo a sua quinzena de matadouro? Onde está batendo hoje a epidemia do século retrasado?

A peste, a guerra, a fome e a morte galopam soltas pela geografia do caos dos jacarezinhos, das rocinhas, dos “complexos” e periferias do favelão nacional que vai engolindo o país que nós quase fomos. A toda hora os dois brasis cruzam “a Linha” e a morte sem edição fica registrada num canto de câmera do nosso sistema de hiper-vigilância só das consequências. Não ha como deter isso com polícia. Nada - nem o Exército Brasileiro - resistirá ao contato direto com esse grau de infecção. Enquanto as mães da favela não tiverem um argumento convincente para demonstrar aos seus filhos que vão ganhar mais estudando que pegando o fuzil, o sistema seguirá nos comendo por dentro.

Corta...

É a hora dos “especialistas”. Gente que tem o que vestir, gente que tem onde morar. Mas o Brasil de que eles falam não é esse do Rio de Janeiro. Nada no deles está fundamentalmente errado senão o eleitor que “escolhe” sempre mal. “Basta escolher a pessoa certa. Um homem ético...” (...mas que compre tempo na TV e ponha votos na urna, seja como for...). O compromisso com a impassibilidade chega às raias da lobotomia. Uns só falam do que os outros disseram. Nenhum alarme, nenhum sinal das hemorragias maciças cá de fora. “Se isto, então aquilo”. “Na hipótese um, dois. Na hipótese dois, três”. “O governo perdeu”. “O governo ganhou”. A bolsa sobe ou a bolsa cai mas as tertúlias nunca vêm ao chão. Não ha “país”. As consequências não têm causas e as causas não têm consequências.

É proibido constatar, mas na espreita rosna a Venezuela. É o que resgata o assunto“eleição” da irrelevância absoluta. Mas não ha qualquer espaço para a esperança. É o campeonato do nada. Os “especialistas” estão aposentados. O futuro do Brasil está aposentado.

Circulam pela internet um monte de listas de medidas para “resolver o problema nacional”.“Assine aí! Não se omita!”Mudar o nome de um crime, multiplicar penas cujo cumprimento não se exige,“proibir”mais isto ou aquilo,“acabar”com não sei o quê, criar mais uma“politica pública"...

O que nos falta não são mais leis vindas de cima, é poder para o povo de tornar efetivas as suas cobranças. Transparência, fiscalização, ética não se pede. Arma-se a mão do povo para exigi-las contra a sobrevivência do emprego de quem foi contratado ou eleito para entregá-las, assim como se exige (e por isso se entrega) todo e qualquer trabalho contratado no Brasil ou fora do Brasil, menos o público.

As hipérboles são o invólucro da mentira. Toda lei pétrea seria estupida se não fosse como são as nossas apenas desonesta. A única exceção é para a que mantem o jogo sendo jogado.“É proibido tornar antidemocrático o jogo democrático". Em tudo o mais, amarrar o leme e esperar que o barco ande sozinho é a maneira mais certa de naufragar.

Essa violência das ruas é de fera acuada nas carências da Idade Média em plena era da abundância. É de continuar estrebuchando na doença com a cura ao alcance da mão. É de ser cobrado pelo erro alheio mesmo tendo pago o preço de fazer tudo certo. É da certeza do triunfo da mentira sempre.

O Brasil não tem de resolver este ou aquele problema. Tem é de mudar o seu jeito de resolver problemas. O Brasil precisa de uma revolução: das vitórias irrecorríveis do bem que só as deseleições à mão armada podem garantir. É preciso abrirmo-nos à reforma permanente para habilitarmo-nos a desconstruir, pedra por pedra, esse edifício torto em que nos enfiaram. Os candidatos, que têm“porteiros”com quem se acumpliciar, vá lá. Mas a imprensa não precisa disputar a próxima eleição. É a ela que cabe criar esse novo tipo de demanda no mercado do voto. Nada que precise ser inventado nas redações. É só informar como funciona o mundo que funciona.

Democracia é um“software livre". Um aplicativo de código aberto. O primeiro passo é montar um sistema real de representação para a nossa “democracia representativa”. Enquanto continuarmos sem saber quem é quem na hora de decidir prevalecerão os seis do STF. E enquanto puderem prevalecer os seis do STF eles serão isso em que se transformaram. Voto distrital puro, com um único representante eleito por cada pedaço da população (para poder ser legitimamente deseleito em caso de necessidade, nada mais) é o jeito testado e aprovado de esclarecer isso. Dizermos nós de que leis estamos precisando com leis de iniciativa popular é o jeito democrático de estabelecer prioridades. Deixar bem claro quem manda em quem com recall para político que trai seu eleitor e para juiz que trai a justiça; desafiar com referendos as leis que saírem deformadas dos legislativos é o jeito democrático de garantir que não haverá falcatruas.

Essas três ferramentas, quando andam juntas e somente quando andam juntas, são infernais. Invertem a direção do vetor primordial de forças sobre o sistema. Põem todo o poder nas mãos de cada cidadão mas só permitem que ele o exerça sobre o seu representante. Dão a todo o mundo o poder de obrigar o governo a se mexer mas a ninguém força bastante para agir sozinho ou para se impor a quem quer que seja.

O Brasil só se salva enriquecendo, e rápido. Mas felizmente não é preciso esperar o resultado inteiro. Basta o poder enriquecer que se destrava com os velhos remédios da política. Não é preciso estudar medicina para salvar a própria vida tomando antibióticos. Eles curam até os idiotas. Democratizar o nosso jeito de resolver problemas daria aos brasileiros a condição de voltar a jogar com as próprias pernas. E os brasileiros sempre se dão bem quando jogam com as próprias pernas. Eles provam isso todos os dias sobrevivendo aos governos que têm.

(Escrito antes do anúncio da intervenção na segurança pública do RJ)."

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AGD comenta:

Eu não ia comentar o belo texto do Mesquita, acima transcrito, mas, quando vi a nota do autor de que ele havia sido escrito antes do anúncio da intervenção na segurança pública do RJ, decidi fazê-lo.

E começo perguntando em que ele deveria ser mudado se o autor soubesse da intervenção? Cheguei à conclusão que, nada. Ele continua ainda a ser válido em suas propostas, com apenas um agravante ou atenuante, não sei. Se já tivéssemos com o voto distrital puro, recall e referendos, não estaríamos na bagunça em que estamos.

A intervenção no RJ, seja ela uma medida política ou técnica, já era necessária, mas, não só lá no Rio e sim no Brasil como um todo, seguido por uma eleição de uma Assembleia Constituinte que trouxesse a maneira de tratar nossos problemas como apresentado no texto.

Evitaríamos problemas mais sérios em nosso país, se é que podemos chamar assim esta “coisa” em que nossa Pátria salve, salve, se transformou. Esta seria a revolução do bem para não cairmos na revolução do mal.

Mas, no meio do caminho temos as eleições, temos as eleições no meio do caminho. Por que não aproveitá-las em prol de uma revolução do bem? Hoje, eu não sei em quem votar, pois as ideias da maioria dos nossos políticos estão tão confusas que nem dá para saber o que alguém está defendendo, a não ser se manter com o foro privilegiado. Fixo-me nos partidos. Outra barafunda.

Ou seja, se todo cidadão tiver tão decidido quanto eu, no mínimo, votará em branco, e que não sejam processados por racismo, pois a coisa está preta. Rezemos!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

LOLO DO PEIXE FRITO!





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Na ladeira íngremes de Olinda, uma pequena casa de verde escuro e janelas amarelo canário se encontra uma bela morena vestida a baiana na cozinha fritando peixe. Lorena começou a esse trabalho aprendido com sua mãe rainha do peixe em Olinda, para sustentar família. Lorena aprendeu todo o trabalho na preparação de peixe de todos os tipos se especializando no peixe frito. Recebeu logo o apelido de Lolo. Começou como todas as pessoas fazem quando precisam ganhar o pão de cada dia, na calçada aos pedestres e oferecendo a vizinhança principalmente aqueles que vinham da praia. O início foi um pouco difícil, mas a perseverança foi maior do que a desistência. Uma mesa, duas mesas no interior da casa verde escuro começou a atender os visitantes aqueles que queriam tira gosto com uma cerveja bem gelada. O cheiro exalava por todo ambiente e invadindo a rua. As pessoas que passavam comentava o peixe frito daqui é famoso. E assim pouco a pouco foi adquirido freguesia, todo o dia estava ela já pronta com alguns peixes em bandeja a fim de tender os clientes que li passavam no final da tarde. Os peixes eram do dia, não guardava para o dia seguinte a sobra, já tinha na cabeça quantos peixes fritava. Era solteira, desimpedida mais sempre com o coração a espera de alguém que a fizesse feliz. Não era feia, pelo contrário, era bonita, esbelta, olhos castanhos, cabelos lisos, boca pequena com lábios chamados para um beijo ardente, mãos com anéis e um colar dourado no pescoço com a imagem do Senhor do Bom Fim, trazido de uma viagem que fez a Salvador. As pessoas foram tomando conhecimento daquele lugar aconchegante e bem atendido pela bela morena, quase não comportava as pessoas colocou mais uma mesa na casa para atender os clientes. Com o sorriso nos lábios, conquistou Ernesto, um boêmio de Olinda que todos os dias lá passavam para comer um peixe frito. Cortejador começou a olhar para Lolo e ela não o subestimou começou dar bola para ele era o que ele queria, ali estava à mina de ouro. Vivia na beira mar no Carmo, junto com alguns pescadores a tomar cerveja e botar conversa fora. Era malandro e com malandro não se brinca. Qualquer porto atracava o seu navio. E assim passou a frequentar com miais frequência. Engrenaram um namoro e disse que ia ajudar ela na tarefa de ficar no caixa para receber o pagamento enquanto ela cuidasse da cozinha com Esmeralda que ajudava ela. Passou algum tempo e o apurado já não dava para comprar os peixes, sempre deixava um pendura na peixaria de Seu Isidoro, dizia amanhã eu pago. Assim foi se afunilando o negócio, nunca desconfiou de Ernesto que dava de tudo para estar presente no dia a dia da casa de Lolo. Era solicito com ela, dizia “estou apaixonado por você meu peixinho’’ um beijinho no bochecha, um tapa no traseiro”. Às onze horas encerravam-se atividades, da casa verde Esmeralda recolhia os pratos e limpava as mesas e depois para cozinha, Lolo e Ernesto sentava-se a mesa a contar o dinheiro apurado. Ela começou a desconfiar. Eu comprei cem peixes, vendi todos os cem, com 30% do valor comprado, caldinho cada copo a três reais, tudo e não tinha dinheiro para comprar a mercadoria. Mas não se incomodou no momento. No dia seguinte foi à peixaria comprar para o dia , quando o Seu Isidoro falou com ela – olha, estão falando por ai, que Ernesto está vacilando por ai, fazendo farra pela manhã, ele nunca foi disse, vivia por aqui sem um tostão furado. Ela saiu da peixaria foi direto para casa. Não encontrou Ernesto que sempre estava lá para ajudar. Desconfiou. Mas eu vou descobrir o que está acontecendo. A tardezinha o seu amor chegou deu-lhe um cheiro, arrumou algumas coisas e começou receber o pagamento, enquanto ela lá dentro fazia anotação em um caderno tudo que era servido. Nesta noite sentados, como de costume, começaram a contar o apurado do dia. Não bateu faltava dinheiro. Foi dormir e nesta mesma noite decidiu que nada mais queria com Ernesto. No dia seguinte  dispensou-o...

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Paralisia (in)decisória?





“Paralisia (in)decisória?
        
Por Pedro S. Malan

“Falhar em se preparar é preparar-se para falhar”, escreveu Benjamin Franklin, um dos pais fundadores da democracia norte-americana. A observação vale para indivíduos e organizações, mas também para países que estejam a viver momentos definidores. Como o Brasil nesta transição de 2018 para 2019 e adiante. Para muitos, o “ano da virada” será 2019 - o primeiro de um governo recém-saído das urnas, dotado de legitimidade e capital político, capaz de tomar decisões difíceis e avançar na agenda de reformas com o Congresso.

Na verdade, para que 2019 seja “ano de virada” é fundamental que 2018 também o seja. Quatro episódios de nossa história recente permitem compreendê-lo. Em meados de 1993, a inflação caminhava para mais de 2.000% ao ano e o descalabro das contas públicas era evidente; o Brasil não tinha a opção de esperar as eleições de outubro de 1994 e a posse, no começo de 1995, de um novo governo que então decidisse o que fazer. Assim como não podia, em meados de 1998, esperar o início de 1999 para adotar medidas drásticas de ajuste, anunciar seu programa fiscal para o triênio 1999-2001 e sinalizar a decisão de buscar apoio internacional para esse programa. Em meados de 2002 o Brasil não podia esperar o início de 2003; os riscos eram muito claros desde abril/maio e levaram a uma preparação para não falhar que permitiu transição civilizada entre o governo que saía e o que entrava - que fez muito bem a este último e ao País por vários anos.

O quarto episódio ilustra não um êxito, mas um fracasso. Em 2014 o Brasil falhou em se preparar - ou se preparou para falhar -, apesar dos inúmeros alertas de que a política econômica era insustentável e teria de mudar, qualquer que fosse o resultado das urnas de outubro daquele ano, aí incluída a eventual reeleição de Dilma Rousseff. A mudança veio no mês seguinte às eleições, quando era tarde demais. A recessão, iniciada em abril de 2014, só terminaria em dezembro de 2016 - após quase 10% da queda na renda per capita e 13 milhões de desempregados.

Encontramo-nos desde então em modesta, mas consistente recuperação cíclica, para a qual contribuiu a condução da política econômica. 2018 será um ano melhor que 2017, por sua vez melhor que 2016. Mas está claro que a sustentabilidade dessa recuperação depende fundamentalmente de avanços no processo de mudança e reformas. Este depende, por sua vez, de avanços na percepção da opinião pública, antes das eleições, sobre a natureza dos desafios. Quanto mais as dificuldades forem escamoteadas na campanha eleitoral, mais tortuoso será esse processo.

O risco de falhar em nos prepararmos é especialmente dramático em duas grandes áreas.

A primeira é a das finanças públicas. O equacionamento de sua insustentável situação exige que candidatos a presidente e a governador que se levem a sério se proponham a conhecer o nível e a composição de despesas, receitas e endividamento, respectivamente, do País e de seus Estados. Que mostrem a seus eleitores estar cientes da gravidade do problema e empenhados em enfrentá-lo, sugerindo linhas de ação e demonstrando disposição de buscar pessoas honestas e tecnicamente competentes para a empreitada. Será impossível evitar um debate sério sobre Previdência, a despeito do barulho das corporações.

A segunda grande área é a educação - que constitui o maior desafio na definição de nosso futuro neste século 21. Com foco no que é fundamental: a redução da desigualdade de oportunidades nos anos iniciais de formação. A exemplo do debate sobre finanças públicas, também aqui tem havido progresso no entendimento dos desafios. Mas tem faltado foco no que importa: a redução das desigualdades na distribuição de renda e de riqueza passa, necessariamente, pela redução das desigualdades na distribuição de oportunidades. Aprendizado de qualidade nas idades certas nas áreas de leitura, escrita e noções básicas de matemática e de ciências. Nosso sistema educacional é regressivo do ponto de vista da distribuição de oportunidades; o problema não se resolve no âmbito do ensino superior ou médio, porque então já é demasiado tarde.

Observações importantes de duas pessoas de diferente formação política ilustram as possibilidades de diálogo sobre essa que é uma das tragédias brasileiras. O atual secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro, César Benjamin - responsável por 1.530 escolas, 650 mil alunos, 43 mil professores e 25 mil funcionários -, foi direto ao ponto: “Uma criança/adolescente que não aprendeu leitura e escrita e noções básicas de matemática já é um excluído”. Na mesma linha se pronunciou Simon Schwartzman, um de nossos mais respeitados especialistas no tema: “Uma criança que chegar aos 10/11 anos de idade numa escola precária, que não aprendeu a ler nem escrever, não tem futuro”. Ambos se referem, naturalmente, a este mundo em que o vertiginoso processo de “destruição criadora” em tecnologia de informação, robotização e inteligência artificial tende a marginalizar pessoas desprovidas das qualificações mínimas requeridas.

É domingo de carnaval e não quero aborrecer o leitor com números. Basta dizer que as duas observações citadas têm base em amplas evidências empíricas, como a Avaliação Nacional de Alfabetização, que cobre milhares de alunos de 8/9 anos e cerca de 2 mil escolas públicas; e a pesquisa da OCDE (Pisa), que cobre alunos de 15 anos de mais de 60 países do mundo. Têm amparo também em pesquisa oficial recente que compara pais e filhos em termos dos respectivos níveis de educação e renda - e mostram o desastre que é o analfabetismo funcional no Brasil. (Vejam a esse respeito o excelente artigo de João Batista de Oliveira Analfabetismo no Século 21, publicado  em 27/1.)

Estamos falhando em nos preparar. Serão crescentes os riscos de esperar o carnaval - de 2019 - chegar. E passar.”

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AGD comenta:

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A Guerra do Rio. Teremos a Guerra do Brasil?





“A intervenção e as dúvidas
        
Por Celso Ming

O presidente Temer apressou-se a desmentir que tenha decretado a intervenção federal no Estado do Rio apenas para produzir cortina de fumaça que oculte o fracasso do projeto de reforma da Previdência, como pareceu. Não há indicações de que a população acredite nisso.

Mesmo que a intervenção tenha sido decidida por outras razões – por exemplo, para tentar reverter a baixíssima aprovação do governo – parece enterrada a reforma da Previdência. A pauta do Congresso tem como prioridade agora a discussão do decreto de intervenção, o que empurraria inevitavelmente o exame do Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência Social, de importante impacto eleitoral, para mais perto das eleições.

O governo quer mostrar ação em outra direção e será cobrado por isso. A falta de resultados imediatos na área da segurança, além de desmoralizar a intervenção, poderia produzir desastre político, também de consequências eleitorais imprevisíveis.

Há apenas algumas semanas, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, tentava desencorajar uma decisão como a comunicada sexta-feira. Argumentava que uma intervenção em Pernambuco desembocaria necessariamente em outras. Agora, passou a defender a intervenção no Rio e abandonou sua posição anterior. Mas ficou difícil sustentar que outros Estados, como o Rio Grande do Sul e o Rio Grande do Norte, não precisem do mesmo tratamento, embora mostrem a mesma anomia na segurança pública e em outras.

A intervenção federal tem por objetivo declarado restabelecer a ordem pública e submeter o crime organizado. As bases da bandidagem serão atacadas e, com elas, o narcotráfico e suas condições de sustentação, assegura ele.

Mas há indicações de que esta não é uma operação planejada, o que, por si só, tende a comprometer seu sucesso. A convocação apressada das autoridades ligadas à área para avaliar a decisão, a rápida mudança de discurso do ministro Jungmann e o apelo a que a população encaminhe sugestões são indicação do grau de improvisação. Uma operação de guerra não se baseia em sondagens populares prévias. Simplesmente põe em marcha decisões amadurecidas pelo Alto Comando.

As Forças Armadas podem ter mapeado certos focos de atuação dos agentes desse estado de violência permanente, pelo menos no Rio e, eventualmente, no Espírito Santo. Mas sobram dúvidas de que a empreitada tenha êxito. Até agora iniciativas desse tipo fracassaram, porque as causas do câncer não foram extirpadas e porque, como outra vez, terão de contar com a colaboração da atual polícia, tão conivente com o crime e tão podre quanto a podridão que se pretende erradicar.

Uma das questões que a nova situação do Rio deve suscitar tem a ver com o âmbito geográfico da segurança que se quer ver restabelecida. Como restringir a intervenção apenas a um Estado se o problema é nacional e não respeita fronteiras? E como evitar que a bandidagem fuja momentaneamente do Rio e busque refúgio em territórios adjacentes e de lá passem a atuar, como aconteceu outras vezes?

Outra questão vai às causas mais profundas. A perda de controle da segurança não ocorreu apenas por gestão incompetente e corrupta das autoridades públicas. Ocorreu porque a droga e o crime viraram negócios tão lucrativos que compram a polícia, compram políticos, compram juízes, compram armamentos pesados, sustentam logísticas complexas, destroem o monopólio da força exercido pelo Estado e sustentam poderoso estado paralelo. Outras regiões do mundo, como Nova York, enfrentaram com sucesso problemas parecidos, com determinação, recursos e com uma polícia competente. Mas, por aqui, estamos a anos-luz de resultados assim.

E há as dúvidas que têm a ver com a economia. O novo adiamento da votação da PEC da Previdência passa o sinal de que o rombo das contas públicas continua se abrindo e, assim, tende a alargar as incertezas e a sabotar a ainda frágil recuperação econômica. Nesta sexta-feira, o mercado financeiro pareceu já contar com esse adiamento. Mas a essas incertezas podem juntar-se as outras, tanto as eleitorais de origem interna como as que estão se avolumando nos mercados globais.

Até agora, a população não sentiu a melhora dos indicadores da economia no dia a dia de suas vidas. Apenas em parte isso pode estar acontecendo porque a falta de segurança passou a ser preocupação central do consumidor e prejudicou outras percepções.

Um dos objetivos do governo com a intervenção parece ter sido criar clima favorável para que os resultados da economia sejam mais bem notados.

Enfim, muitas dúvidas pairam sobre esta decisão.”             

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AGD comenta:

Como dizia o Chacrinha: Realmente... é difícil crer na efetividade de uma intervenção como a que se abateu sobre o Rio de Janeiro, pelo governo federal.

Quando eu participei de nossas forças militares me preparando para a guerra, para ser Oficial da Reserva, e já vai algum tempo, diziam que nossas forças armadas estariam sempre preparadas para a guerra, e este era o significado do nosso treinamento.

Mesmo assim, naquela época, nos preparávamos para pegar guerrilheiros que existiam entre nós, de fato ou na cabeça de alguns. Mas, nunca nos foi ensinado como fazer papel de polícia, mesmo que existisse uma Polícia do Exército, com outras finalidades.

Éramos preparados para a guerra, mesmo que o inimigo atacasse primeiro. Só que, desde então nossas forças armadas nunca se prepararam para a Guerra do Rio, na qual foram jogadas com esta intervenção, quando o inimigo já vive em guerra por muito tempo.

Concordo com o Celso Ming que será muito difícil vencer esta guerra. E tenho certeza que outros Estados sofrerão com a migração de bandidos e poderá haver uma Guerra do Brasil ao invés de uma Guerra do Rio.

Como sou muito otimista, espero que a política ressuscite e saiamos do caos em que os próprios políticos nos meteram e que traficantes de drogas sejam combatidos por quem sabe fazer isto, que são as Polícias.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

ZÉ DO AÇUCAR!




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Situada no Vale das Pedreiras a cidadezinha Marilândia, com uma população em torno de vinte e cinco mil habitantes vivia quase no isolamento. A paisagem da cidade refletia somente na praça de belíssimas arvores frondosas, arrodeada de bancos de cimento junto aos canteiros de flores coloridas, rosas, margaridas, dálias amarelas, vermelhas e brancas, onde os moradores mais velhos ali se reuniam para a prosa no final da tarde. O comercio era acanhado. Poucas casas comerciais, apenas a loja de tecidos e miudezas do Sr. Policarpo, e Jose Cardoso, apelidado de Zé do Açúcar por possuir um armazém de “Secos e Molhados”, o homem mais conhecido nas redondezas, altamente poderoso, de pouca conversa e com este temperamento era falado por todos que o conhecia, para uns era  grosseiro e para outros amáveis. A padaria de Seu Inácio na esquina da Rua São João, a barbearia de Seu Mané da Barba cortava cabelo e fazia a barba dos ricos e dos pobres, o bar de seu Biu onde os cachaceiros tomam tragos e falava da vida alheia e a Sapataria do Seu Expedito, no conserto de sapatos por trás da lojinha e na frente venda de sapatos novos e finalmente a casa de Dona Linda, na Rua Bela Vista, onde costurava para senhoras da sociedade. Zé do Açúcar era querido pelas autoridades locais, principalmente, pelo Padre Roque, pároco da Paroquia Nossa Senhora dos Enfermos que, quando precisava de alguma contribuição corria até o armazém e saia de lá com o que ia buscar. O Prefeito, seu amigo, o delegado a sua disposição tudo estava em suas mãos. O seu maior produto de venda era o açúcar, tendo ainda a carne de charque, bacalhau, arroz, feijão, café, milho, banha de porco, manteiga, sal, canela tudo vendido em grosso não gostava de vender a granel, pois, dava muito trabalho principalmente pela caderneta.  Casado com Dona Guiomar, ciumento e possesivo. Tinha dois filhos, um casal, Zequinha e Maria Clara, a Clarinha, o rapaz de boa afeição frequentava a elite da sociedade esbanjando nas despesas das festas, que participava. Era boêmio com os seus 26 anos, vivia das farras que acontecia na cidade. Não estudava e nem queria trabalhar com pai no armazém, era um bom moço. Já Clarinha, de olhos azuis, cabelos longos e alourado, boca pequena e uma altura mediana chamava atenção dos moços solteiros da cidade. Era estudiosa no colégio Santa Maria, Era a primeira da classe, e era admirada pelos professores pelo seu interesse no estudo. Sua elegância e bondade chamava a atenção de todos. O rapaz decidiu estudar na capital, pois queria ser doutor e, muitos que sabia deste intento, dizia – Doutor de que? Medico ninguém confiava Advogado pior e assim corriam soltas as piadas. Clarinha resolveu ser professora, nada mais queria e assim fez. Dona Guiomar, mulher prendada no lar, sabia costurar, bordar e como ninguém sabia tomar conta de uma casa da sala a cozinha, era o orgulho do Zé do Açúcar. Zequinha foi para capital estudar. Foi para uma pensão na Rua Velha no Recife. Encantou-se pela cidade grande, da quantidade de pessoas que ia de lá para cá, as lojas com suas iluminação, os bares com mesas nas calçadas, servindo chope e cervejas bem geladinhas, os cinemas coisas que nunca frequentava, pois na sua cidade ainda não tinha o cinema e assim foi se embelezando pela Capital e o estudo ficou em segundo plano. Enveredou para a bebida e com a mesada que o seu pai lhe mandava gastava tudo em noitadas nos bares e no baixo meretrício na zona portuária, curtindo as músicas nas vitrolas e enrolado com alguma parceira. Quando estava liso, pedia um socorro ao seu pai, que o atendia pelo apelo triste do filho que dizia – seu filho estava passando fome, mensalidade do colégio Anchieta, os livros e mais de mil coisas alegavam. Certo dia, o Zé do Açúcar que também não conhecida o Recife resolveu vir visitar com a esposa o seu filho que estava necessitando de alguma coisa. Chegando à Capital, se inteirou onde ficava Rua Velha, indicaram e ele partiu para lá, procurando a pensão, encontrou a de número 127 onde seu filho se hospedava. Era por volta das cinco horas da tarde. Aguardando sentado em uma cadeira velha, e na outra mais nova Dona Guiomar, aguardando o retorno do filho, que pela dona da pensão Zeca como era chamado era um boêmio e vivia de bebida, nunca fora a escola. Ficou indignado com os acontecimentos. Por volta das onze horas da noite chega Zeca na pensão com Cara Pintada e Zarolho embriagados, cantando “Ò abre alas que eu quero passar, ó abre alas que eu quero passar”. Não deu conta dos seus pais ali presente. No dia seguinte, Zé do Açúcar chamou seu filho, a partir de hoje não lhe dou mais um tostão, se quiser beber vá trabalhar, aqui está o dinheiro para retorno, caso queira retornar e, se for é para trabalhar. Saiu com Dona Guiomar, deu uma volta nas principais ruas do Recife e voltou para a sua cidadezinha.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

De volta para o futuro





“De volta para o futuro

POR MERVAL PEREIRA

A história brasileira anda muito repetitiva, o que a transforma em farsa com facilidade. E não apenas pelas semelhanças desta eleição com a de 1989, de que tanto já se falou e que o senador Collor, apresentando-se como candidato, só reforçou.

Em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, todos davam o então presidente Lula morto politicamente, a ponto de o PSDB ter descartado a possibilidade de pedir o impeachment dele. Seria o segundo presidente impedido em pouco tempo, e, além do mais, era preciso evitar “um Getúlio vivo”, na definição de Fernando Henrique.

Lula, como anda fazendo agora, chegou a enviar emissários aos tucanos propondo uma negociação: não seria candidato à reeleição, desde que o deixassem terminar o mandato. Deu no que deu, Lula venceu a reeleição.

Naquele ano, seu adversário foi o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que teve mais votos no primeiro que no segundo turno. A votação surpreendente no primeiro turno, em volta de 40%, indicava que poderia vencer a eleição pela fragilidade de Lula diante das acusações de corrupção no mensalão.

Mas Alckmin, fundador do PSDB, mas o menos tucano dos tucanos na aparência e no pensamento, cometeu erros crassos, a começar por aceitar fazer uma pausa na campanha entre o primeiro e o segundo turnos. Lula ficou tão abalado com a votação de Alckmin que sumiu de circulação por uns dias.

Na volta, o tucano desfilou com um colete cheio de logotipos de empresas estatais, para desmentir que pretendesse privatizá-las, mesmo depois do sucesso da privatização da telefonia. Hoje, Alckmin apresenta-se novamente como candidato, mas sua candidatura não deslancha, o que faz o PSDB buscar alternativa.

Fernando Henrique diz que o apresentador Luciano Huck “sempre foi muito próximo ao PSDB, o estilo dele é peessedebista. É um bom cara”.  Voltamos à coincidência. Ao definir Fernando Haddad – que pode vir a ser seu substituto agora na eleição – como o candidato petista à prefeitura de São Paulo em 2012, o ex-presidente Lula disse que ele tinha sido escolhido por ter “cara de tucano” numa cidade tucana.

Deu certo na primeira vez, errado na reeleição, quando apareceu João Dória, com mais cara de tucano ainda, e levou no primeiro turno. Nem Dória nem Huck, com estilos tucanos, têm vez na disputa presidencial pelo PSDB hoje, e podem sair pela tangente, em outros partidos.

Dória pelo DEM ou mesmo PMDB – ontem ele teve uma reunião com o presidente Temer para debater a campanha presidencial – e Huck pelo PPS.

De volta ao futuro, o novo advogado de Lula, o ministro aposentado do STF Sepúlveda Pertence, comparou-o a Getúlio logo na sua primeira fala na nova função. Disse que perseguição igual, nem mesmo contra Getúlio. Temos aí a volta do Getúlio vivo que tanto temia Fernando Henrique há 13 anos.

A proposta atual de Lula não tem nem mesmo um começo, pois dizer-se que ele não se candidatará em troca de não ser preso é uma negociação nula. Não há jeito de Lula não ser preso, ou dentro de poucos meses ou no final do processo, mesmo que a nova jurisprudência do Supremo volte à exigência do trânsito em julgado, o que é difícil de acontecer.

Sepúlveda Pertence é velho companheiro de Lula, foi advogado do líder operário durante a ditadura, aventado como vice na primeira vez em que ele se candidatou à presidência da República. Não merece a acusação de que entrou na disputa jurídica para constranger seus antigos companheiros de STF.

 Mas tem uma missão impossível pela frente: anular o julgamento do TRF-4, ou acabar com a Lei da Ficha Limpa, únicas maneiras de evitar a prisão de Lula e conseguir que ele se candidate em outubro. Para retardar a prisão, basta que o plenário do STF mude a jurisprudência sobre o início do cumprimento da pena em segunda instância, o que, se acontecer, não terá sido por influência dele.

O ministro Gilmar Mendes já anunciou que está em transição para mudar o voto, o que inverte o resultado. Mas a ministra Rosa Weber permanece uma incógnita. Ela tem seguido a maioria, a favor da prisão em segunda instância, embora tenha votado contra e continue com o mesmo pensamento. Ela tanto pode manter seu voto, como pode votar a favor da atual jurisprudência apenas para não mudar devido a um caso específico.

No caso de Lula, então, há outra coincidência com o passado. A ministra Rosa Weber teve como assessor no julgamento do mensalão ninguém menos que o juiz Sérgio Moro. E Lula, no petrolão, foi apanhado numa conversa com Jacques Wagner – que é outro possível substituto de Lula na urna eletrônica – pedindo que ele fizesse pressão sobre Rosa Weber para que tirasse seu caso de Moro. Não deu certo.” 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O país do carnaval e das novelas





“O país do carnaval e das novelas
        
Por Fernando Gabeira

Dizem que no Brasil o ano só começa depois do carnaval. Não é verdade, pelo menos em 2018. Há várias novelas em andamento e o carnaval será uma simples pausa na sua trajetória.

A nomeação da deputada Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho é uma delas. O governo cometeu um erro na escolha. À medida que os fatos vão ampliando a dimensão desse erro, Temer insiste em manter sua decisão, apesar do imenso desgaste.

O que fazer diante de pessoas que percebem o erro, mas insistem em levá-lo até o fim? Talvez desejar que Deus as proteja delas mesmas.

A outra novela é a tentativa de Lula de escapar das consequências de uma condenação em segunda instância. É uma expectativa que envolve o Supremo Tribunal, a quem se pede, no fundo, a negação do fundamento que inspirou as investigações da Operação Lava Jato: a lei vale para todos. Não há condições de mudá-la sem que isso represente uma imensa fratura na já combalida credibilidade da instituição.

A terceira é mais delicada, porque envolve a Justiça e a sociedade, que a apoiou no curso das investigações e das sentenças. Auxílios-moradia, salários turbinados, juízes combatendo uma necessária reforma da Previdência Social – tudo isso vai criando uma distância que ainda pode ser reparada pelo bom senso.

A Justiça tardou a compreender que o movimento de combate à corrupção com apoio da sociedade certamente traria uma visão mais severa sobre o uso do dinheiro público. O fato de oportunistas tentarem invalidar a luta contra a corrupção porque os juízes recebem salário-moradia em cidades onde têm residência é inconsistente e não está aí o maior problema.

É possível dizer que a Justiça parcialmente triunfou sobre o gigantesco esquema de corrupção. Mas é um tipo de luta que imediatamente leva a um novo patamar: o da coerência.

A reforma é também um confronto com as corporações. A dos juízes está em posição especial para constatar como o País foi saqueado e como a máquina do Estado é inflacionada com cargos em comissão e inúmeros penduricalhos.

Estamos na lona. Mas esperando que as instituições confiáveis, como a Justiça e as próprias Forcas Armadas, se aproximem do esforço nacional de ajustar o País à sua realidade financeira.

Não é só a luta contra a corrupção nem o princípio de que a lei vale para todos que estão em jogo. Há toda uma luta silenciosa no País contra a ideia de que todos querem vantagens públicas, mesmo os que aplicam a lei.

Desejo um final feliz para essa novela, uma vez que dela depende, em parte, o futuro de uma reconstrução baseada na aliança de amplos setores da sociedade com as instituições confiáveis.

Um dos meus argumentos contra a luta armada é que ela precisa criar um exército de salvação nacional para triunfar. Depois, quem nos salvará dos salvadores? Claro que vivemos uma situação diversa, mas é importante que a Justiça, após um trabalho nacionalmente aprovado, reconheça que ela mesma precisa se ajustar aos tempos que ajudou a moldar.

Tudo isso ainda nos espera depois do carnaval, abrindo alas para o enredo maior de 2018: eleições. Delas é possível esperar a escolha de gente que nos possa ajudar a sair do buraco não só da economia, mas também do desencanto geral com os rumos do País.

A reforma da Previdência foi conduzida por um governo impopular. Mas ela não é necessariamente impopular se reduz privilégios, cobra dos devedores e garante um futuro menos instável. Não precisa vir numa situação já de emergência, como na Grécia, trazendo insegurança e sofrimento. Ou como no Rio, para não ir mais longe.

Minha expectativa é de que isso se resolva bem na campanha. Os candidatos sabem que a reforma é necessária. Ou a defendem ou serão obrigados a fazê-la depois, nesse caso com baixa legitimidade, porque mentiram na campanha.

É uma ilusão da esquerda negar uma reforma necessária. Um dos fatores que a levam à resistência é o fato de estar muito enraizada nas corporações. Nesse caso pesa também o cálculo eleitoral. Até que ponto perder parcialmente o apoio dos funcionários públicos seria recompensado em votos pelos contribuintes?

Não só a esquerda vive esse dilema, mas o sistema político-partidário no seu conjunto. Ele não tem fôlego para realizar uma tarefa decisiva. Tornou-se um obstáculo às chances de reconstrução econômica. Entre outras, essa é uma das fortes razões para esperar mudanças a partir das escolhas de 2018.

Se o carnaval dá uma pausa para as novelas políticas, ele é implacável com a tragédia da violência urbana. Tudo continua. No Rio, três grandes vias, Linha Vermelha, Linha Amarela e Avenida Brasil, foram interditadas por tiroteios entre polícia e bandidos. Um menino e um homem morreram. Balas perdidas, governo perdido.

Já é um pouco estranho que tanta gente pare para fazer o carnaval. Mas seria mais estranho ainda que o governo parasse sobretudo nesta emergência. Existem graves problemas de violência no Norte e no Nordeste, mas o caso do Rio tem algumas agravantes.

A situação é tão grave que os responsáveis por atenuar o problema o examinam de certa distância. O ministro da Defesa declarou que o sistema de segurança está falido e o governador Pezão disse que na Rocinha se mata policial como se mata galinha. São bons comentários para um programa de rádio, mas quem está na linha de frente, ao dizer isso, imediatamente tem de responder a perguntas como: e daí? E os tiroteios? Como é que vai ser? Significa que estamos sós e desarmados antes, durante e depois do carnaval?

A moderada esperança nas eleições não significa abstrair problemas que não podem esperar, não só porque envolvem vidas, mas porque podem criar um terreno fértil para soluções autoritárias.”

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

FLIG / 2007




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho 

Há muito tempo que não me reporto para a criação da ACADEMIA BONCONSELHENSE DE LETRAS – ABCL em nossa cidade de Bom Conselho, terra que mesmo de longe e sem a visitar amamos nosso torrão natal. Como sempre faço, a cada mês visualizo e limpo os meus queridos livros nas prateleiras. Um olha para mim e, sinto no seu aspecto desejo: – vem me folhear e assim faço quando estou nesta tarefa, folheando alguns. Desta vez, foi sem pretensão  do  ANAIS – II FESTIVAL DE LITERATURA DE GARANHUNS – FLIG de 2007, realizado há dez anos, coordenado pelo garanhuense Manoel Neto Teixeira  com varias fotos de personalidades da literatura pernambucana que participaram deste evento cultural. Depois de folhear todo volume, vejo com alegria que o nosso grande conterrâneo Jodeval Duarte, participou ativamente como presidente da mesa, no trabalho desenvolvido pela professora, ensaísta conferencista, Ana Maria Cézar, sob BALA E A MITRA” – NOVOS TEMPOS DE VERDADES ANTIGAS (conforme consta n pagina 143) quando preside o trabalho E ai ao termino desta leitura resolvi voltar lembrar aos conterrâneos criação desta academia, que seria um marco da nossa liberdade acadêmica de nossos conterrâneos. Passo a transcrever o seu parecer na orelha deste Anais, do Jodeval Duarte:  

O II FLIG foi quase um xerox do1º. Ariano fez a diferença. Mas porque foi quase tudo igual cabe ser pensado. Há de se admitir que tendo sido um sucesso o º, nada demais que o segundo seja um repeteco. Em tese, porque na verdade todos pecamos pela ambição de nos superar. A ideia, findo o º, foi de fazer um  do seguinte Festival insuperável... até o próximo. Problema é que, basicamente, a fundação foi a mesma, nada se acrescentou para dar sustentação á nova construção. Mas claramente: o II FLIG pecou por não ousar. Limitou-se, como o primeiro, a sua vocação excessivamente acadêmicaNote-se que as academias sempre serão ponto de partida para qualquer esforço intelectual. Até quando se trata de ciências exatas, historia se faz através das famosas Academias de CiênciasMas se diga quando o assunto é literatura. Entretanto, se no primeiro movimento podem fazer bonito em andante, no mínimo espera-se que sobrevenha algo como o alegro moderato, que ao baixo sempre suceda, no tempo certo, o contraponto do tenor. Festival de Literatura é, obrigatoriamente, polifonia. O que vimos no II FLIG foi sempre um moderato – puxado para cantochão – até o belíssimo allegro final. Para ser mais exato, cabe lembrar que no meio da peça houve um movimento novo que se para uns pareceres quebrar a harmonia para outros foi o momento de uma nova emoção, antecipadora do FLIG que todos desejamos com acadêmicos, sim, mas menos academias e mais personagens, leituras, partilha de sentimentos. Não há partilha de sentimentos em longos discursos. Há em  curtas, médias e longas leituras. De poesias, de cantos, romances. Caldo de cultura para os leitores em potencial. Revelações para os leitores habituais. Do III FLIG esperamos – os que estamos na planície – a presença de mais gentes da província. Até a hora de Ariano Suassuna, o que se viu foi um auditório com os mesmos acadêmicos e poucos, bem poucos,  de cá de Garanhuns ou de cidades vizinhas. Como se por aqui fosse parco o gosto pelas letras. Pelo contrário, sempre fomos tidos como gente metida a escrever. E não faltam escritores. Bons, toleráveis e medíocres, como costuma ser em qualquer lugar e qualquer tempo.  Mas que há, há. Por que, então, fazer-se um Festival de Literatura fundado apenas nos letrados da capital – muitos dos quais saídos do interior? Por que não se abrir espaço p ara os locais na comisso organizadora? A resposta a essas questões pode ser um indicador do que poderá ser o III FLIG. Até lá, de certo mesmo só teremos a devoção pessoal do poeta João Marques,  quem devemos a realização do Festival – com admirável empenho do prefeito Luis Carlos, sem o qual não haveria FLIG, naturalmente. Deseja-se, apenas, que a tanto gosto e tanta vontade pessoal se acrescente o gosto coletivo, que de tão coletivo venha um dia o FLIG a ser uma grande festa cultural de Pernambuco com repercussão em todo o Brasil – como acontecepor exemplo, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul -, sem dono e sem risco de ficar um dia penas guardado em documentos com este que o diligente Manoel Neto torna possível, Jodeval Duarte, escritor e jornalista. 

Acredito piamente que algum dia a Academia Bonconselhense de Letras – ABCL surgira em nossa cidade.