“Nem inferno,
nem céu
Por Eliane
Cantanhêde
O presidente
Michel Temer deu uma cambalhota. Deixou de ser o presidente mais impopular
desde a redemocratização, sem horizonte e carregando nas costas o defunto da
reforma da Previdência, para passar a ser o presidente que interveio no Rio de
Janeiro, deflagrou uma guerra à violência e passou até, vejam só, a ser
considerado candidato a um novo mandato.
Nem ao inferno,
nem ao céu. Temer enfrentou uma pedreira desde o impeachment de Dilma, com a
pecha de golpista e as denúncias de Rodrigo Janot, e sacou a arma que sabe
manejar bem: a negociação com partidos e políticos, chegando a excrescências
como nomear, e desnomear, Cristiane Brasil, sob intenso tiroteio da mídia e com
o Ministério do Trabalho vago. Nem por isso era o diabo.
Mas também não
vai virar santo – ou candidato –, de uma hora para outra, só com a intervenção
na segurança. Apenas ganha fôlego, possivelmente alguns pontos nas pesquisas e
discurso para enfrentar os áridos meses até a eleição e a passagem de cargo,
com os holofotes nos candidatos, não num governo nos seus estertores.
Antes da
intervenção, Temer só entrava mal na mídia. Com a intervenção, entra na boa e
ganhando colunas, notinhas e análises sobre uma possível candidatura. Na
eleição, tende a sair das manchetes, minguar, tendo de fugir de denúncias e dos
malfeitos de companheiros do PMDB e de assessores no governo. Portanto, das
páginas policiais.
O que dizer do
encaminhamento de Gustavo Perrella como futuro ministro dos Esportes? Não é
aquele famoso pela apreensão de um helicóptero da família com cocaína no
Espírito Santo? Agora, Temer não tem mais a desculpa de ter de ceder tudo,
anéis e dedos, por três ou quatro votinhos a mais para a Previdência. Livre,
ele pode escolher melhor, certo? Sua própria equipe acreditava nisso.
E Henrique
Meirelles? Presidente do Banco Central de Lula, ileso no desastre Dilma e
ministro da Fazenda de Temer, ele só deixou o primeiro time do BankBoston e
voltou ao Brasil com uma única ideia fixa: ser presidente da República. Faltou
combinar com os adversários. E com ele próprio, sua falta de jeito e de talento
para a política.
Além disso,
Meirelles pode capitalizar os avanços positivos na economia, com previsão de
crescimento acima dos 3% em 2018, inflação e juros historicamente baixos e
balança comercial animada, mas... a pior herança de Dilma foi a cratera fiscal
e isso continua sem solução. E teve azar. Sem ter quem lançá-lo, ele decidiu
lançar-se. No mesmo dia, a agência Fitch rebaixou a nota do Brasil pela falta
da reforma da Previdência e de perspectivas de sair do atoleiro fiscal.
É assim que o
governo que não tinha nenhum candidato passou subitamente a ter dois, mas
nenhum deles é capaz de convencer de que tem as condições de decolagem, voo
seguro e pouso garantido. Tudo pode mudar, mas a expectativa é de que se gaste
muita tinta e gogó com as candidaturas Temer e Meirelles para nada. Assim como
se gasta com as de Lula, ficha suja, e Jair Bolsonaro, aquele que faz que vai,
mas não vai.
Além deles,
João Doria não deu para o gasto, Luciano Huck roeu a corda, ninguém mais fala
em Rodrigo Maia, Marina Silva faz campanha escondida, Ciro Gomes ainda não foi
assimilado pelo PT, Álvaro Dias é regional. Enquanto o centro e a direita vão
de voo de galinha em voo de galinha e a esquerda está imobilizada pelo fator
Lula, Geraldo Alckmin vê a Lava Jato avançando pelas searas do PSDB justamente
no ano eleitoral. Ele tem as condições objetivas e trabalha com afinco para
consolidá-las, aguardando pacientemente o apoio do Planalto. Mas precisa
sobreviver e garantir as condições subjetivas: Alckmin precisa alavancar
Alckmin.”
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AGD
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