“O Brasil na
encruzilhada
POR BOLÍVAR
LAMOUNIER
A condenação de
Lula pelo Tribunal Federal da 4.ª Região (TRF-4) no dia 24 do corrente tem o
potencial de alterar em profundidade o quadro político, dividindo-o em dois
cenários claramente opostos: um, extremamente negativo e o outro, assaz
alvissareiro. A premissa geral, em ambos os casos, é a de que a força eleitoral
de Lula tem sido o principal obstáculo à superação da crise que o Brasil vive
há vários anos. Nesse sentido, designarei o primeiro como um cenário de
aprofundamento e o segundo como um cenário de superação da crise.
O ponto
nevrálgico do primeiro começa com as possíveis reações do Partido dos
Trabalhadores (PT) e seus satélites de esquerda à condenação de Lula –
notadamente a explícita incitação à violência – e se completa com acidentes de
percurso mais ou menos previsíveis. O segundo vai no sentido oposto,
caracterizando-se por um adequado equacionamento das dificuldades previstas no
primeiro e delineando uma boa oportunidade de deslancharmos de vez na trilha da
recuperação.
Que o PT, seus
pequenos aliados de esquerda, os chamados “movimentos sociais”, uma ala do
clero e dos movimentos sindical e estudantil encetarão reações raivosas, disso
não há dúvida. Nada permite supor que se disponham a fazer uma reavaliação
sincera dos precários fundamentos conceituais de sua ideologia.
Tais setores se
inclinam para o confronto, são adeptos da ação direta e de uma atitude ambígua
em relação ao regime democrático. O lançamento da candidatura Lula logo após a
sentença do TRF-4 é um indicativo da estratégia que tentarão articular.
Nesse quadro, o
primeiro acidente de percurso a considerar é a resposta do Supremo Tribunal
Federal (STF), autorizando ou não o início da execução da sentença logo após o
esgotamento do período de embargos declaratórios. Não podemos esquecer que a
composição atual do Supremo foi decisivamente determinada por Lula e Dilma e
que alguns de seus membros parecem entender seu papel basicamente como o de
soltar, nunca o de prender. Nessa hipótese, teríamos um condenado por unanimidade
e com acréscimo de pena arengando pelo País, tratando de firmar sua candidatura
à Presidência como um fato irreversível. Escusado dizer que a motivação dos
raivosos a que antes fiz referência para defender seu líder, vítima de um
suposto complô, subiria à enésima potência. Alguns proporão “partir para o pau”
– bloquear avenidas e estradas, impedir a circulação de veículos –, outros
advogarão uma atitude de cautela e racionalidade, prevendo que cedo ou tarde
Lula retornará travestido de dom Sebastião.
É certo que,
mesmo preso, Lula não necessariamente conservará uma aura de mártir suficiente
para levar multidões de raivosos à rua. Com o tempo a raiva poderá tornar-se
entrópica, ou seja, consumida entre eles mesmos, em ataques mútuos.
Acrescente-se que não há entre os políticos eletivos do partido nenhum que se
preste ao papel de representante interno do grande líder injustiçado. O mais
provável é que, como na Argentina, bata um punho fechado no peito, jurando ser
o mais lulista dos lulistas – sem maiores consequências. Vistas as coisas por
esse ângulo, teríamos um cenário de desastre bastante atenuado, que mal faria
jus ao nome, a menos, naturalmente, que um novo e grave acidente acontecesse
nas eleições presidencial e congressual deste ano. Da cadeia, terá Lula a
capacidade de canalizar sua massa de votos para um Ciro Gomes, um Bolsonaro, um
Haddad ou para um poste qualquer? Pode ser que sim, pode ser que não.
O que até aqui
se expôs permite inferir que as chances de um cenário de recuperação aumentarão
muito se a sentença de 12 anos e 1 mês começar a ser executada de imediato,
como determinou o TRF-4. Fortalecida pelo julgamento de Lula, a Lava Jato
poderá evitar o desgaste público que começava a ameaçá-la e seguir em frente
com seu trabalho. Certos setores empenhados em enfraquecê-la – refiro-me aqui
em particular ao Senado e ao STF – terão de medir melhor os seus passos.
Na construção
mental de um cenário relativamente otimista, a questão crucial é, sem dúvida, a
eleição, sobre a qual pairam três graves indagações. A primeira é reverter o
presente quadro de fragmentação e potencial polarização num quadro mais
convergente. Por enquanto tímida, a recuperação econômica poderá ganhar um
pouco mais de força, revertendo em parte o pessimismo e a hostilidade à classe
política que se formou nos últimos anos. É uma possibilidade, mas não são favas
contadas.
A segunda é
que, embora o script tenha melhorado muito, o elenco não parece à altura. É um
tanto insosso. Não há um candidato natural, capaz de empolgar os corações e as
mentes. Por último, e mais importante, mesmo com o upgrade que reconheço ter
havido no script, não temos sinais de um programa, uma agenda, uma plataforma à
altura do que o País precisa e merece. Precisamos de propostas arrojadas para a
economia, a administração pública, a educação, mas o que vemos são esforços
isolados e não devidamente “fulanizados”, ou seja, associados a candidatos e
partidos relevantes.
Nunca será
demais lembrar que o Brasil é um país extremamente pobre. Nossa renda anual por
habitante mal alcança US$ 11 mil, um número pífio por qualquer critério que se
queira usar. Na administração pública, temos um quadro de servidores corroído
até a medula pelo corporativismo e pelo grevismo, sem a competência, o orgulho
profissional e o respeito pelo público que deveriam ser seu apanágio. A maior
cidade da América do Sul está sitiada pelos transmissores da temível febre
amarela.
Uma chance de
recuperação parece estar se formando. Seremos capazes de aproveitá-la?”
--------------
AGD
comenta
Quem
chegou até aqui, lendo, já deve ter concluído que a encruzilhada brasileira é
das piores. É de noite e não tem nem luz para orientar alguém. No entanto, o
que se espera é que com a prisão de Lula, o chefe, pelo menos alguns postes
sejam acesos (sem trocadilhos).
Mesmo
assim, se alguém disser e justificar com bondades que sabe qual caminho tomar
está enganado ou está enganando, como está fazendo a turma que é contra a
prisão do chamado “demiurgo” de Garanhuns, o que deixa me amigo
Zezinho de Caetés possesso porque ele é de Caetés.
Para
mim, o PT se transformou numa formiga comedeira, e se o Brasil não acabar com
ele, ele acaba com o Brasil. Que ele já começou, isto é um fato inegável. Em
apenas 15 anos nos levou ao fundo do poço. Se não o eliminarmos como força
política ele continuará cavando o poço e enterrando o Brasil.
Eu
sempre fui um grande otimista, e a possibilidade concreta do Lula ser preso e
levar o PT já aumenta meu otimismo, que já estava acabando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário