Por José Antonio Taveira Belo /
Zetinho
Situada no Vale das Pedreiras a
cidadezinha Marilândia, com uma população em torno de vinte e cinco mil
habitantes vivia quase no isolamento. A paisagem da cidade refletia somente na
praça de belíssimas arvores frondosas, arrodeada de bancos de cimento junto aos
canteiros de flores coloridas, rosas, margaridas, dálias amarelas, vermelhas e
brancas, onde os moradores mais velhos ali se reuniam para a prosa no final da
tarde. O comercio era acanhado. Poucas casas comerciais, apenas a loja de
tecidos e miudezas do Sr. Policarpo, e Jose Cardoso, apelidado de Zé do Açúcar
por possuir um armazém de “Secos e Molhados”, o homem mais conhecido nas
redondezas, altamente poderoso, de pouca conversa e com este temperamento era
falado por todos que o conhecia, para uns era
grosseiro e para outros amáveis. A padaria de Seu Inácio na esquina da
Rua São João, a barbearia de Seu Mané da Barba cortava cabelo e fazia a barba
dos ricos e dos pobres, o bar de seu Biu onde os cachaceiros tomam tragos e
falava da vida alheia e a Sapataria do Seu Expedito, no conserto de sapatos por
trás da lojinha e na frente venda de sapatos novos e finalmente a casa de Dona
Linda, na Rua Bela Vista, onde costurava para senhoras da sociedade. Zé do
Açúcar era querido pelas autoridades locais, principalmente, pelo Padre Roque,
pároco da Paroquia Nossa Senhora dos Enfermos que, quando precisava de alguma
contribuição corria até o armazém e saia de lá com o que ia buscar. O Prefeito,
seu amigo, o delegado a sua disposição tudo estava em suas mãos. O seu maior
produto de venda era o açúcar, tendo ainda a carne de charque, bacalhau, arroz,
feijão, café, milho, banha de porco, manteiga, sal, canela tudo vendido em
grosso não gostava de vender a granel, pois, dava muito trabalho principalmente
pela caderneta. Casado com Dona Guiomar,
ciumento e possesivo. Tinha dois filhos, um casal, Zequinha e Maria Clara, a
Clarinha, o rapaz de boa afeição frequentava a elite da sociedade esbanjando
nas despesas das festas, que participava. Era boêmio com os seus 26 anos, vivia
das farras que acontecia na cidade. Não estudava e nem queria trabalhar com pai
no armazém, era um bom moço. Já Clarinha, de olhos azuis, cabelos longos e
alourado, boca pequena e uma altura mediana chamava atenção dos moços solteiros
da cidade. Era estudiosa no colégio Santa Maria, Era a primeira da classe, e
era admirada pelos professores pelo seu interesse no estudo. Sua elegância e
bondade chamava a atenção de todos. O rapaz decidiu estudar na capital, pois
queria ser doutor e, muitos que sabia deste intento, dizia – Doutor de que?
Medico ninguém confiava Advogado pior e assim corriam soltas as piadas.
Clarinha resolveu ser professora, nada mais queria e assim fez. Dona Guiomar,
mulher prendada no lar, sabia costurar, bordar e como ninguém sabia tomar conta
de uma casa da sala a cozinha, era o orgulho do Zé do Açúcar. Zequinha foi para
capital estudar. Foi para uma pensão na Rua Velha no Recife. Encantou-se pela
cidade grande, da quantidade de pessoas que ia de lá para cá, as lojas com suas
iluminação, os bares com mesas nas calçadas, servindo chope e cervejas bem
geladinhas, os cinemas coisas que nunca frequentava, pois na sua cidade ainda
não tinha o cinema e assim foi se embelezando pela Capital e o estudo ficou em
segundo plano. Enveredou para a bebida e com a mesada que o seu pai lhe mandava
gastava tudo em noitadas nos bares e no baixo meretrício na zona portuária,
curtindo as músicas nas vitrolas e enrolado com alguma parceira. Quando estava
liso, pedia um socorro ao seu pai, que o atendia pelo apelo triste do filho que
dizia – seu filho estava passando fome, mensalidade do colégio Anchieta, os
livros e mais de mil coisas alegavam. Certo dia, o Zé do Açúcar que também não
conhecida o Recife resolveu vir visitar com a esposa o seu filho que estava
necessitando de alguma coisa. Chegando à Capital, se inteirou onde ficava Rua
Velha, indicaram e ele partiu para lá, procurando a pensão, encontrou a de número
127 onde seu filho se hospedava. Era por volta das cinco horas da tarde.
Aguardando sentado em uma cadeira velha, e na outra mais nova Dona Guiomar,
aguardando o retorno do filho, que pela dona da pensão Zeca como era chamado
era um boêmio e vivia de bebida, nunca fora a escola. Ficou indignado com os
acontecimentos. Por volta das onze horas da noite chega Zeca na pensão com Cara
Pintada e Zarolho embriagados, cantando “Ò
abre alas que eu quero passar, ó abre alas que eu quero passar”. Não deu
conta dos seus pais ali presente. No dia seguinte, Zé do Açúcar chamou seu
filho, a partir de hoje não lhe dou mais um tostão, se quiser beber vá
trabalhar, aqui está o dinheiro para retorno, caso queira retornar e, se for é
para trabalhar. Saiu com Dona Guiomar, deu uma volta nas principais ruas do
Recife e voltou para a sua cidadezinha.
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