Por Zé Carlos
Há 70 anos,
nesta mesma data, quando o Bloco das Moreninhas passava de frente de minha casa
cantando:
“... Quando eu beijei na sua boca,
Sua boca fez assim,
Que coisa louca...”
Não me lembro
de toda a marchinha que uma tia cantava todinha quando me contava, que, naquele
momento, eu nascia, depois de um sofrimento danado de minha mãe, que aguentou a
parteira fumando cigarro de fumo de corda por 3 dias, durante as dores.
Isto se deu no
centro de Bom Conselho na Praça Lívio Machado, por causa de um busto que lá
havia, que eu, quando cresci um pouquinho chamava da “peste preta”. Não sei se foi por isso que a estátua daquele que deu
nome à praça sumiu, mas, sumiu. Li, em algum lugar, mais crescidinho, que ele
foi encontrado para as bandas de Alagoas. São as estórias de minha terra.
É bom dizer que
do local onde nasci, a primeira visão que tive durante a infância, de que me
lembro, ao sair de casa, foram a “peste
preta” e a Matriz de Jesus, Maria e José. Claro que devo ter tido outras
visões, que não me recordo, como a cara do Padre Alfredo me batizando, e outras
das quais me lembro como a de Dom Expedito me crismando. Bem, são tantas as visões
que seria chato contar todas aqui. Tive que escolher.
Uma delas, foi
ver a foto de Dom Expedito morto na revista “O Cruzeiro”, que ainda não sei como chegou na cidade. Talvez pela
barbaridade e banalidade do crime cometido pelo Padre Hosana, que dizem ainda
ser padre pela Igreja Brasileira. Não sei se já bateu as botas. Se isto é
verdade, penso que deve ser a Igreja Brasileira mesmo, se voltarmos aos tempos
atuais e verificarmos a situação de nossa pátria.
Porém, o que
mais me levou aqui a escrever foi a terrível idade que alcancei, que alguns
chamam de 7.0 para despistar as doenças, usando a linguagem tecnológica.
Confesso que nunca imaginei ir tão longe, até descobrir que, pelo avanço da
medicina, podemos sobreviver muito mais aos remédios, que nos matam muito mais
devagar, do que a vida original. No final, quero chegar à versão 8.0, sem
parecer com uma caixa de Biotônico Fontoura, ou com aquele homem que carregava
o bacalhau na caixa da Emulsão Scott. Eu adorava o Biotônico, mas, odiava a
Emulsão, feita de óleo de fígado de bacalhau. Para tomar era na porrada. Quem
sabe, talvez estas porradas me fizeram chegar aos 70. Vou procurar a Emulsão
para ver se chego aos 80, embora não haja mais ninguém para me dar porradas, a
não ser a própria vida.
E, só
relembrando, fiquei vendo aquela paisagem durante 7 anos, quando mudei de
residência. Mas era tão perto do local que a fiquei vendo sempre que quisesse.
Era só dar uma corridinha até a venda de Seu Sebastião Siqueira. E se quisesse
ver mais de perto a “peste preta” era
só dar uma descidinha passando pelas casas de seu Antônio Belo, Seu Abelardo,
Seu Leopoldo, a Alfaiataria de Seu Antônio da Tupi, Sapataria de Dona Teté, e
enfim de volta ao lar. Se a ordem não estiver correta é porque depois dos 70 começamos
a trocar a ordem das coisas para voltar à infância.
Vale comentar
que o local onde nasci é, até um pouco de tempo atrás, um forno de uma padaria.
Sei que não é por isso que algumas moças diziam que eu era um “pão”, porque o forno veio muito depois.
De qualquer forma ainda me considero um “pão
duro”.
E assim
continua a vida, em busca de mais tempo, e a morte correndo atrás dizendo, como a Wanderléa: “Por favor, pare, agora!”. Aí eu volto à paisagem onde nasci, vou
à Igreja Matriz, entro e não vejo mais o Padre Alfredo, o Padre Carício e penso
que estou ganhando a corrida. Aí eu encontro o Zé Basílio...
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