Por Hubert Alquéres
“Para os pessimistas de plantão
2017 foi um ano para se esquecer e nada há para comemorar. Já os otimistas
farão sua leitura cor de rosa, caracterizando-o como o ano em que o Brasil deu
a volta por cima e saiu da recessão. Um e outro tem razão, ao menos
parcialmente.
Quando se olha para o raquítico
crescimento da economia e para os mais de 12 milhões de desempregados, a sensação
é que de fato o ano em que se encerra já vai tarde, sobretudo porque a agenda
da reforma ficou interditada.
Agregue-se ainda que a incipiente
recuperação da economia dos últimos 12 meses pode ser interrompida tanto pela
fraqueza política do governo, como pelas incertezas da batalha presidencial.
Não se pode omitir que em 2017 a crise chegou ao PMDB e ao PSDB, atingidos
pelos torpedos da Odebrecht e JBS.
Ao contrário dos dois anos
anteriores quando multidões vestidas de amarelo foram às ruas nas jornadas do
impeachment, neste ano a sociedade entrou em estado estupefação. A crise de
segurança nos grandes centros urbanos e a banalização da impunidade fez surgir
uma onda conservadora e regressista, que se expressa nos dois extremos que
lideram as pesquisas eleitorais.
2017 não foi uma Brastemp, mas
também não é para se jogar a criança fora com a água suja da banheira. Há
muitas tonalidades cinzas nesse breu. A começar pela economia. E aqui há que se
cotejar seus números com os anos de terra arrasada do governo de Dilma
Rousseff, responsável por uma queda do PIB de 8,6% em dois anos, pelo
desemprego de 14 milhões de brasileiros e inflação na casa de dois dígitos.
A simples reversão desse quadro
já é um feito. Esse mérito o governo de Michel Temer tem, gostemos ou não. Não
é irrelevante o fato de a inflação estar abaixo do centro da meta, afastando o
fantasma inflacionário que tanto atormentou a vida dos brasileiros num passado
não muito distante.
Tampouco é de menor importância a
redução da taxa de juros básicos para a casa de 7%, trazendo os juros reais
para padrões civilizados. Depois de canibalizada pela ação predatória e
corrupta do lulopetismo, a Petrobrás voltou a ter lucro e retoma sua capacidade
de investimentos. A mudança do marco regulatório do petróleo também é outro
feito nada desprezível que dá espaço para a atração de investimentos privados
na área de óleo e gás.
Projeta-se um crescimento
econômico de 3% a 3,5% para 2018. Mas como a economia não opera em ambiente
neutro e se alimenta de expectativas, a consolidação dos avanços obtidos em
2017 dependem da superação das incertezas e vulnerabilidades do cenário
político.
Pode-se dividir 2017 em antes e
depois da delação da JBS. Até então Temer contava com uma forte base
parlamentar – quase 80% do Congresso Nacional -
e seu governo tinha como núcleo principal o PMDB e PSDB.
Os tucanos emprestavam credibilidade
ao presidente e este pintava que concluiria seu mandato como um presidente
reformista que levou a bom termo a travessia de uma economia e um estado
desorganizados para um país em condições de avançar na direção do crescimento
sustentado.
A revelação das gravações de
Joesley Batista descontruiu essa arquitetura. Atingido pelas denúncias, o PSDB
também entrou em barafunda, sem saber como se comportar diante do passivo ético
de Aécio Neves. Passou a viver o drama shakespeariano de ser ou não ser governo.
A crise existencial e política
dos tucanos deixou não só o governo sem referencial, mas também o centro
democrático sem um polo aglutinador.
A maior desestruturação veio na
relação de Temer com sua base parlamentar. Às voltas com duas denúncias, o
presidente tornou-se refém do Centrão.
No final de maio já era
perfeitamente previsível que o governo perderia seu ímpeto reformista e que
teria como principal objetivo estratégico livrar-se das denúncias, mesmo que
tivesse de vender a alma ao diabo. A fatura do diabo veio agora, com sua base
fisiológica dando-lhe um verdadeiro presente de grego às vésperas natalinas,
com a postergação da aprovação da reforma da Previdência para a rubrica do Deus
sabe quando.
O presente natalino da Justiça
Federal para Lula não foi nada bom. Com a decisão da 8ª turma da 4ª Região de
realizar seu julgamento em 24 de janeiro, complicou-se a estratégica lulista do
fato consumado. Condenado e esgotado os recursos cabíveis, estará fora da urna
eletrônica. O resto será agitação política ou aventura que aliado algum vai
encarar.
São os imponderáveis da votação
da reforma e do julgamento de Lula que estendem 2017 até os dois primeiros
meses do ano. Mas como se diz que no Brasil tudo começa após o carnaval, vamos
esperar.
Até lá, o jeito é curtir o que
houve de bom no ano que se encerra, apesar de não ter sido nenhuma Brastemp.”
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