Por Mary Zaidan
Um em cada quatro brasileiros
sobrevive abaixo da linha da pobreza, 13,4 milhões desse contingente de mais de
52 milhões na miséria absoluta. Os números da Síntese de Indicadores Sociais
2017 do IBGE são assustadores, situam o Brasil para lá do quinto mundo. E
destroem o cerne do discurso petista: ao contrário do que propagam, a pobreza
se agudizou.
E desta vez não vai dar para
culpar o governo Michel Temer.
A bolha social, inflada no
segundo mandato do presidente Lula e mais ainda por sua pupila Dilma Rousseff,
estourou.
Nada que não fosse previsível com
o estímulo desvairado ao consumo, desacerto nas contas, invencionices e abuso
de políticas voluntaristas.
O estudo do IBGE tem como base a
métrica do Banco Mundial que estipula o limiar da pobreza à renda de U$ 5,5 por
dia, R$ 18,24, R$ 387 ao mês. O valor desmascara a esperteza estatística
introduzida em 2013 pelo PT, que definiu como classe média aqueles que
percebiam entre R$ 291 e R$ 1.019.
Foi contabilizando famílias com
ganhos nesta faixa de até R$ 1 mil que se cunhou o termo da nova classe média,
patamar social a que o petismo se pavoneia de ter elevado 40 milhões de
brasileiros. Boa parte deles sem nunca ter podido saborear o rótulo, com
dívidas a mais e centavos a menos. Pior: hoje, mais pobres.
Outros 32 milhões, Lula garante
que tirou da pobreza. Se o fez parcialmente no primeiro mandato quando reinava
a bonança, sabe que os ganhos daquele período se perderam nos anos seguintes,
quando abdicou aos princípios econômicos herdados de antecessor Fernando
Henrique Cardoso e preservados pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Os dados, processados por um
instituto ilibado que Lula não poderá acusar de ter manipulado números para
denegri-lo, derrubam as bravatas do ex.
Esbarram ainda em regiões
nefrálgicas para a sua campanha: Nordeste e Norte concentram mais de 43% dos
muito pobres, que, nem com o reforço do Bolsa Família escapam dos limites
mínimos aferidos pelo IBGE.
Mais: segundo o estudo, 42% das
crianças brasileiras de até 14 anos, nada menos do que 17,8 milhões, sobrevivem
na pobreza, 28% com restrição ao acesso à escola, demonstrando a falha brutal
de políticas de médio prazo.
No que diz respeito a
investimentos contínuos e planejados, as condições precárias de oferta de água
potável e saneamento demostram total desleixo com os mais pobres: 25% desse
grupamento não têm nem banheiro em casa.
Ainda que cruel, o quadro exposto
pelo IBGE só impactará a campanha presidencial se a oposição a Lula o fizer.
O ex não mudará sua fala em um
milímetro. Continuará se autoproclamando protetor dos desvalidos – “que os
pobres vão salvar de novo este país” – e se vangloriando de ter sido o
governante que tirou o Brasil da miséria.
Dito e redito sem ser contestado.
Pelo menos, até então.
Como não provocam oscilações nas
bolsas de valores e no mercado, bolhas sociais dificilmente ganham os
holofotes. Os governos que as provocam demoram muito mais a entrar na berlinda
– isso, quando entram.
Mas os efeitos dessas bolhas
podem ser até mais lancinantes.
As milhões de pessoas
engambeladas pelas falsas promessas de políticos inescrupulosos jamais são
indenizadas ou mediamente reparadas se o investimento falhar. Não há como
repassar a opção de compra, comercializar o investimento. Até porque em quinto
mundo a democracia é manca e, não raro, a Justiça é lenta e falha. Inexistem
mecanismos de revisão de voto, moção de censura, recall.
Só o eleitor pode mudar o país de
patamar. Para fazê-lo experimentar modelos políticos menos indigestos e índices
sociais mais justos. E impedir o sucesso de quem aposta no ludibrio.
---------------
AGD comenta
Sem comentários
Nenhum comentário:
Postar um comentário