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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A Copa do Mundo e o discurso de Dilma




Por Zezinho de Caetés

Ainda no ano passado, que não é de saudosa memória para o Brasil, li e guardei um texto do senador Cristovam Buarque (“Feliz 2015” – 28.12.2013), esperando uma oportunidade para comentá-lo, e só a tive agora, depois de um engordativo final de ano. Este texto, leiam, depois de algumas palavras minhas, lá embaixo.

Seria impossível não associar o escrito pelo senador com a pantomima que escreveram para Dilma, para gastar meu dinheirinho nas TVs e rádios do Brasil, em forma de pronunciamento de final de ano. Foi mais um pronunciamento eleitoral falando de uma “guerra psicológica”, como se aqueles que veem a realidade brasileira tivessem que concordar com os despautérios que são feitos com a economia brasileira devessem deixar calados os brasileiros que não se aproveitam das benesses do PT no poder.

Estamos mesmo no país do futebol, onde se vota em um candidato pelo time que ele torce. Eu não sei qual é o time da Dilma, como sei do Lula, mas espero que ela torça pelo Ibis, o nosso querido “pior time do mundo”, e tenha o volume de votos proporcional ao tamanho de sua torcida.

E pelo que se passa com a preparação da Copa do Mundo, penso que nem os torcedores do Ibis votarão nela. Está tudo atrasado, mesmo onde os estádios estão prontos. Onde tem estádio falta a infraestrutura para lá chegar. Já está decidido que nos dias de jogos será feriado nas cidades que os abrigarem. Ou seja, é um dia de trabalho perdido a se acrescentar ao custo que o país terá para, cumprindo a megalomania do Lula ao trazer a Copa do Mundo para cá.

E a pergunta que está contida dentro dos corações de todos os brasileiros, mas, não é feita às claras: E se o Brasil perder a Copa? Afinal de contas não temos mais Pelé. Temos apenas o Neymar que é muito magro para ser comparado ao Rei do Futebol. E se na final, em pleno Maracanã, der Brasil x Argentina?

Sobre esta possibilidade, li outro dia a opinião de alguém dizendo que queria que fosse esta a grande final da Copa, e, com um otimismo maior do que o meu, tivéssemos um placar de 4 x 3 para o Brasil, com 3 gols de Messi e 4 gols de Neymar, seria a realização da “Pátria de Chuteiras”, que tanto encantou o Nelson Rodrigues. E se for o inverso? Vade retro....

Mesmo sendo o inverso eu ainda prefiro o final acima  a um Brasil x Uruguai, repedindo a Copa de 1950. Desta vez implodiriam o Maracanã. Que Deus nos proteja! Fiquem com o texto de Cristovam, que nos deixa pessimista, mas, é mais verdadeiro do que o pronunciamento da presidenta.

“Algo vai mal quando um país que precisa enfrentar seus problemas chama de ano da Copa um ano de eleições presidenciais. É o que está a acontecer com o Brasil.

Cinquenta mil brasileiros são assassinados por ano, outros cinquenta mil morrem no trânsito e outros 515 mil estão presos; a droga compromete a vida, a capacidade de trabalho e o futuro de centenas de milhares de nossos jovens; metade da população não tem acesso a água e esgoto; e a economia se desindustrializa.

Quanto ao potencial científico e tecnológico estamos cada dia mais para trás em relação ao resto do mundo; as avenidas estão atravancadas; a educação apresenta um retrato vergonhoso e uma brutal desigualdade; os hospitais públicos estão caóticos; e a natureza está sendo degradada.

No país, temos 13 milhões de adultos que não diferenciam as letras e outros 40 milhões sem capacidade de leitura; a produção não dispõe de logística eficiente para sua distribuição; e cinquenta milhões de brasileiros vivem graças à (felizmente) ajuda do programa Bolsa Família. Apesar disso, em vez de propostas dos presidenciáveis para 2015, estamos preocupados se os estádios da Copa ficarão prontos em 2014.

 Isto se explica por nossa paixão pelo futebol, mas também pela descrença com a política, sobretudo porque não há candidatos propondo programas que empolguem a população. Até aqui, todos são tão iguais no comportamento e na falta de propostas diferenciadas. Assim, sobra apenas o grito de Viva a Copa.

Os candidatos ainda não apresentaram propostas para transformar a viciada economia brasileira de exportadora de bens primários, inclusive, alguns de indústria mecânica, em produtora de bens de alta tecnologia; nem mostraram como vão fazer o desenvolvimento ser sustentável ecologicamente e justo socialmente.

Não há propostas para o cerco em que vivem os brasileiros por causa da violência urbana provocada por desesperados com suas pobrezas diante da imensa guerra ao redor, nem para enfrentar a crescente mobilização de desiludidos, movidos pelas redes sociais, para promoverem atos de bloqueio de trânsito, queima de veículos e quebra de vidraças.

Nenhum candidato propôs ações para emancipar nossos pobres da necessidade de ajuda mensal.

Nenhum dos presidenciáveis disse como vai conduzir o Brasil no rumo da erradicação do analfabetismo e como garantir educação de qualidade igual para todos. Nem qual será o salário dos professores ao fim de seu mandato, nem como eles serão selecionados e avaliados.

Nesse quadro de “des-eleição”, o ano de 2014 será o ano da Copa. No primeiro de janeiro de 2015, poderemos acordar com a sensação de que tudo continuará no mesmo rumo de um país que cresce se desfazendo.


Por isso, só nos resta desejar um Feliz 2014 para cada um dos brasileiros e um Feliz 2015 para o Brasil.”

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