Por Zezinho de Caetés
Ainda no ano passado, que não é de saudosa memória para o
Brasil, li e guardei um texto do senador Cristovam Buarque (“Feliz 2015” – 28.12.2013), esperando
uma oportunidade para comentá-lo, e só a tive agora, depois de um engordativo
final de ano. Este texto, leiam, depois de algumas palavras minhas, lá embaixo.
Seria impossível não associar o escrito pelo senador com a
pantomima que escreveram para Dilma, para gastar meu dinheirinho nas TVs e
rádios do Brasil, em forma de pronunciamento de final de ano. Foi mais um
pronunciamento eleitoral falando de uma “guerra
psicológica”, como se aqueles que veem a realidade brasileira tivessem que
concordar com os despautérios que são feitos com a economia brasileira devessem
deixar calados os brasileiros que não se aproveitam das benesses do PT no poder.
Estamos mesmo no país do futebol, onde se vota em um
candidato pelo time que ele torce. Eu não sei qual é o time da Dilma, como sei
do Lula, mas espero que ela torça pelo Ibis, o nosso querido “pior time do mundo”, e tenha o volume de
votos proporcional ao tamanho de sua torcida.
E pelo que se passa com a preparação da Copa do Mundo, penso
que nem os torcedores do Ibis votarão nela. Está tudo atrasado, mesmo onde os
estádios estão prontos. Onde tem estádio falta a infraestrutura para lá chegar.
Já está decidido que nos dias de jogos será feriado nas cidades que os
abrigarem. Ou seja, é um dia de trabalho perdido a se acrescentar ao custo que
o país terá para, cumprindo a megalomania do Lula ao trazer a Copa do Mundo
para cá.
E a pergunta que está contida dentro dos corações de todos
os brasileiros, mas, não é feita às claras: E
se o Brasil perder a Copa? Afinal de contas não temos mais Pelé. Temos
apenas o Neymar que é muito magro para ser comparado ao Rei do Futebol. E se na
final, em pleno Maracanã, der Brasil x Argentina?
Sobre esta possibilidade, li outro dia a opinião de alguém
dizendo que queria que fosse esta a grande final da Copa, e, com um otimismo
maior do que o meu, tivéssemos um placar de 4 x 3 para o Brasil, com 3 gols de
Messi e 4 gols de Neymar, seria a realização da “Pátria de Chuteiras”, que tanto encantou o Nelson Rodrigues. E se
for o inverso? Vade retro....
Mesmo sendo o inverso eu ainda prefiro o final acima a um Brasil x Uruguai, repedindo a Copa de
1950. Desta vez implodiriam o Maracanã. Que Deus nos proteja! Fiquem com o
texto de Cristovam, que nos deixa pessimista, mas, é mais verdadeiro do que o
pronunciamento da presidenta.
“Algo vai mal quando um país que precisa enfrentar seus problemas chama
de ano da Copa um ano de eleições presidenciais. É o que está a acontecer com o
Brasil.
Cinquenta mil brasileiros são assassinados por ano, outros cinquenta
mil morrem no trânsito e outros 515 mil estão presos; a droga compromete a
vida, a capacidade de trabalho e o futuro de centenas de milhares de nossos
jovens; metade da população não tem acesso a água e esgoto; e a economia se
desindustrializa.
Quanto ao potencial científico e tecnológico estamos cada dia mais para
trás em relação ao resto do mundo; as avenidas estão atravancadas; a educação
apresenta um retrato vergonhoso e uma brutal desigualdade; os hospitais
públicos estão caóticos; e a natureza está sendo degradada.
No país, temos 13 milhões de adultos que não diferenciam as letras e
outros 40 milhões sem capacidade de leitura; a produção não dispõe de logística
eficiente para sua distribuição; e cinquenta milhões de brasileiros vivem
graças à (felizmente) ajuda do programa Bolsa Família. Apesar disso, em vez de
propostas dos presidenciáveis para 2015, estamos preocupados se os estádios da
Copa ficarão prontos em 2014.
Isto se explica por nossa paixão
pelo futebol, mas também pela descrença com a política, sobretudo porque não há
candidatos propondo programas que empolguem a população. Até aqui, todos são
tão iguais no comportamento e na falta de propostas diferenciadas. Assim, sobra
apenas o grito de Viva a Copa.
Os candidatos ainda não apresentaram propostas para transformar a
viciada economia brasileira de exportadora de bens primários, inclusive, alguns
de indústria mecânica, em produtora de bens de alta tecnologia; nem mostraram
como vão fazer o desenvolvimento ser sustentável ecologicamente e justo
socialmente.
Não há propostas para o cerco em que vivem os brasileiros por causa da
violência urbana provocada por desesperados com suas pobrezas diante da imensa
guerra ao redor, nem para enfrentar a crescente mobilização de desiludidos,
movidos pelas redes sociais, para promoverem atos de bloqueio de trânsito,
queima de veículos e quebra de vidraças.
Nenhum candidato propôs ações para emancipar nossos pobres da
necessidade de ajuda mensal.
Nenhum dos presidenciáveis disse como vai conduzir o Brasil no rumo da
erradicação do analfabetismo e como garantir educação de qualidade igual para
todos. Nem qual será o salário dos professores ao fim de seu mandato, nem como
eles serão selecionados e avaliados.
Nesse quadro de “des-eleição”, o ano de 2014 será o ano da Copa. No
primeiro de janeiro de 2015, poderemos acordar com a sensação de que tudo
continuará no mesmo rumo de um país que cresce se desfazendo.
Por isso, só nos resta desejar um Feliz 2014 para cada um dos
brasileiros e um Feliz 2015 para o Brasil.”
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