Por Carlos Sena (*)
Adoro compartilhar.
Principalmente coisas boas, experiências particulares, mas que podem ser
repassadas para outrem sem delongas. Diferente do FACEBOOK, nós humanos estamos
compartilhando pouco afeto com os nossos semelhantes. Qual Face, “cutucamos”
mais (qual o cão com vara curta) do que compartilhamos.
Pois bem: nesta tarde de sexta-feira
fiz uma experiência interessante e simples: DESLIGUEI O CELULAR. Sabem por quê?
Porque eu estava reclamando muito que não tinha tempo, sequer, para namorar.
Pela falta de “tempo” imaginei criar um tempo pra mim dentro deste nosso tempo
ofertado pela nossa civilização e tão escravizador dos nossos desejos e sonhos.
Desligar o celular por algumas horas, ou por uma manhã é experiência que todos
deveriam passar. Você fica com a impressão, de fato, de ter criado um tempo pra
você e isso basta. Porque essa
“coleirinha” eletrônica que se chama celular nos escraviza em nós de forma
trágica – posto que nos prende pela suporta crença de que sejamos
livres e com ele (o celular) temos o mundo em nossas mãos. Até podemos tê-lo em
nossas mãos, mas com tudo de bom e de ruim que lá fora existe e que nós, sob a
pecha de modernos achamos maravilhoso, ou não?
Hoje minha tarde de sexta
pareceu-me com doze horas. Pude ter certeza de que barulhos outros não me
incomodavam pela possibilidade de imaginar que meu celular estava tocando, ou
urrando, ou berrando. Porque celular pra muita gente é divã de psicanalista,
quando deveria ser para contatos breves ou um pouco mais longos desde que de
comprovada necessidade. Por isso hoje meu dia ficou maior e, qual Deus fiz o
tempo. Não sei se poderei fazer a hora, posto que sabe faz ela e não espera
acontecer. Sem o celular por perto consegui ouvi o silencio e achei que ele
estava fazendo barulho, tamanho era a minha ausência de tê-lo perto me
permitindo o sentimento da fala, não do trinado. Do tato, não do caquiado das
mensagens incomodativas. Nesta tarde não vi chover, nem vi o dia morrer se
entregando ao à noite nem sempre criança, como dizem os seresteiros. Que bom
que ainda não perdemos o sentido do valor das pequenas coisas como tomar uma
água de coco no calçadão, comer pipoca na frente da TV, ler um livro pegando
nele, riscando ele, sentindo seu cheiro de naftalinas. Desligando o celular vez
por outra para não se perder de si, nem dos que a gente ama e nos amam também.
Pena que nem sei se fazem isso por aí, mas eu fiz e adoooooorei.
---------------
(*) Publicado no Recanto de
Letras em 08/11/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário