“Aposta no caos
O Estado de
S.Paulo
O estrondoso sucesso
da greve dos caminhoneiros – que viram atendidas todas as suas reivindicações e
colocaram o governo de joelhos, arrancando urras de parte considerável da
população – inspirou os oportunistas de sempre a tentar capitalizar e, quem
sabe, ampliar a insatisfação popular.
É o caso, por
exemplo, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), sindicato petista que
decidiu deflagrar “a maior greve da história da Petrobrás” para protestar
contra “os preços abusivos dos combustíveis” e “contra o desmonte da empresa
que é estratégica para a nação” – razão pela qual exige a demissão do
presidente da estatal, Pedro Parente.
Felizmente, o
Tribunal Superior do Trabalho (TST) declarou a greve ilegal, estipulando multa
diária de R$ 500 mil em caso de descumprimento. Em sua decisão, a ministra do
TST Maria de Assis Calsing disse que se trata, “a toda evidência, de greve de
caráter político”. Com razão, a magistrada considerou que a pauta dos grevistas
representa “forte ingerência no poder diretivo da Petrobrás” e também “em ações
próprias de políticas públicas, que afetam todo o País e cuja solução não pode
ser resolvida por pressão de uma categoria profissional”. Além disso, escreveu
ela, uma greve de petroleiros neste momento provocaria enormes prejuízos à
população, especialmente “por resultar na continuidade dos efeitos danosos
causados com a paralisação dos caminhoneiros”. E Maria de Assis Calsing
arrematou: “Beira o oportunismo a greve anunciada”.
Os oportunistas
em questão, é claro, não se fizeram de rogados. “Consideramos inconstitucional
(a decisão do TST). A Constituição nos garante decidir quais interesses devemos
proteger com a greve”, disse um porta-voz da FUP. A pilantragem hermenêutica
apenas confirma o caráter totalmente mendaz desse e de outros movimentos feitos
exclusivamente para explorar o apoio popular obtido pela greve dos
caminhoneiros.
Esses movimentos
pretendem ampliar a já crescente hostilidade ao governo do presidente Michel
Temer, transformado pelos jacobinos da luta anticorrupção e por aproveitadores
em geral em símbolo de um país carcomido pela corrupção e pelos privilégios a
minorias bem articuladas.
Ora, não é
preciso morrer de amores por Temer para ver aí um evidente exagero, pois o
presidente herdou um país esfrangalhado pela criminosa irresponsabilidade
lulopetista e, em pouco tempo, restabeleceu um mínimo de racionalidade fiscal,
disso resultando a queda da inflação e dos juros e a retomada do crescimento.
No entanto, nada do que esse governo faz, mesmo seus acertos mais evidentes,
parece digno de crédito, pois, conforme indicam as pesquisas e a julgar pelo
apoio popular aos caminhoneiros, Temer passou a ser um exemplo de governo
desastroso.
Esse discurso
ressuscitou o que deveria estar morto, isto é, o embuste lulopetista, segundo o
qual o País era uma maravilha nos tempos de Lula da Silva e Dilma Rousseff –
inclusive com combustível barato, subsidiado. A nostalgia daqueles tempos
“dourados” ignora, por exemplo, que a política de subsídios tende a concentrar
renda nos grupos organizados da sociedade, restando à maioria desorganizada e
pobre arcar com o custo.
Aliás, é preciso
lembrar que a crise dos caminhoneiros tem sua origem não só na ilusão do diesel
barato, mas também na farra petista do crédito farto, que estimulou muitos a
comprar caminhões, inflando assim a oferta do serviço de transporte, o que
baixou o preço do frete. Quando veio a crise, a demanda pelo serviço caiu,
deixando muitos caminhoneiros endividados e sem trabalho. A racionalização do
preço dos combustíveis, para sanear a Petrobrás destruída pelos petistas – os
mesmos que ora organizam uma greve para “defender” a estatal –, completou o
quadro.
A política de
austeridade e as reformas de Temer nada têm a ver com essa crise. São, ao
contrário, sua solução, nunca sua causa. Mas é mais fácil acreditar nas
patranhas lulopetistas ou, pior, defender a volta dos militares ao poder, do
que aceitar a dura realidade de que o Estado não é senão administrador de
recursos escassos.”
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AGD
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