Por Carlos Sena (*)
Não sei se foi Deus quem nos deu
inteligência. Mas, deve ter sido. Porque essa tal de “inteligência” que,
segundo dizem é o que nos diferencia dos animais irracionais é em si mesma uma
faca de dois legumes, como dizia um cartola paulista... Ela serve para nos
conduzir aos céus e aos infernos. Aos céus deliberadamente pela condição de
prêmio que o céu nos foi passado pela influencia religiosa do catolicismo; aos
infernos pela negativa disso, motivada pela nossa capacidade de temer satanás o
grande desafeto da igreja católica.
Sempre fico pensando que as
pessoas que usam o ardil como forma de vida geralmente se “ferram”. E o
principal motivo desse “rasgamento de boca” se dá quando os outros a quem Deus
ou o Diabo também concederam inteligência, mostram sua força e sua capacidade
de também pensar, de também agir com sagacidade. Principalmente de também
reagir.
Nas relações de trabalho a
inteligência é um bom elemento de alcançar objetivos sérios e escusos. Mas, nos
dois casos, os que estão no processo de trabalho ou se defendem diante de
ataques ou se associam na lógica colaborativa. No jogo das relações a
inteligência se mostra muito mais ativa, posto que os seus “usuários” para
alcançar objetivos outros, tudo fazem para se darem bem, notadamente nas
realizações de atribuições no serviço quer publico ou privado. No público isso
nos parece mais patente. Simples: a concepção de que o serviço público não tem
dono, leva a muitos espertos à utilização das suas inteligências no maior nível
possível. É nessa concepção equivocada do serviço público que muitos gestores
posam de superinteligentes e, traídos pela ganância, esquecem que os que lhes
cercam são também dotados de inteligência. Não demoram muito, esses
“inteligentes” são traídos por aqueles a quem nunca foram levados a sério e
que, não raro, tinham a pecha de burros. Por isso e outros motivos, acho mesmo
que a inteligência seja “comum de dois gêneros” – serve a dois senhores sem que
um senhor se aperceba do outro. Ufa, ainda bem! Porque se não fosse assim a
raça humana certamente sucumbiria diante dos poderosos que dificilmente
compreendem que alguém fora eles, tenha inteligência e que a utilize como
também lhe convier, inclusive de “contraveneno”...
Se pelo lado corporativo a
inteligência tem essas nuances democráticas, muito mais assim se apresenta na
vida do cidadão comum – aquele que paga impostos, tem vida comum e tudo que
quer é ser feliz, se possível, com um grande amor. Porque os amores entre duas
pessoas são terreno fértil para o “jogo” que, se por um lado é condenado pelas
ciências comportamentais, por outro deveria ser enaltecido na lógica da
utilização sedutora do processo. Mentir é um processo de inteligência, mas pode
ser de burrice. Dizer que ama pode ser
processo idêntico como qualquer
outro. Porque na vida tudo tem perdas e ganhos, tudo tem idas e vindas,
tudo tem sem ter e muitas vezes tendo se nega a dizer que tem. Algo como
entender que “coração é terra que ninguém anda” – pelo entendimento de que
coração não pensa, apenas bombeia o sangue para nosso corpo ser pleno de
emoções. Porque emoções vem do cérebro a quem compete o domínio da inteligência
nos mais variados níveis de concessões.
Nesse contexto da inteligência
ser filha de Deus ou de Zeus, ou de quem quer que tenha sido o seu autor, não
importa. Fato é que ela tem sido a grande aliada da nossa raça, independente de
poderes constituídos, de classes sociais ou semelhantes. Porque ela, a
inteligência, tem sido a grande “protetora” que proporcionou os oprimidos a se
rebelar contra os opressores, principalmente aqueles disfarçados de democratas;
aqueles que ocupam cargos públicos ou privados, especialmente os públicos pelos
diversos motivos que não o de servir ao público. Locupletam-se para tirar
proveito próprio, ou para jogar suas frustrações nos subordinados, ou para
proceder ao assédio moral que geralmente é resultante de suas poucas
capacidades de buscar ajuda com um Psicanalista. Por essas e outras, a
inteligência é quem nos redime e que nos pode livrar desses que se sentem
superior ao bem e ao mal, mas que são vitimados pelos seus venenos com um
simples “morder de língua”...
----------------
(*) Publicado no Recanto de
Letras em 17/07/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário