Por José Antonio Taveira
Belo / Zetinho
Grande menina, dizia Nilo
quando a via chegando ao Savoy na sexta à noite e na manhã do sábado. Vinha
sorridente. Contente com a vida. Vestida ora com saia florida e blusa branca,
ora com uma calça azul no corpo modelando o corpo moreno. Cabelos escorridos
sustentava uma flor rosa, prendida por bilirios. Olhos castanhos inebriavam
todos com o seu olhar provocante. Colar de pedras multicores no pescoço
descendo até os seios, blindados por um sutiã preto. No braço uma pulseira
colada do seu time de coração o SPORT, o que muitas vezes ouvia gracinha dos
torcedores dos outros clubes. De mesa em
mesa, recebia proposta indecorosas, pelos mais ousados, dizia ela, sorrindo.
Não dou bola para nenhum de vocês, pois tenho namoro fixo e ele pretende se
casar comigo.
A sua visita era esperada
pelo que ela oferecia – bolinhos de bacalhau – uma delicia. Dizia Chapinha que
era a sua mãe que fazia, para completar a renda da família, pois, o pai era
zelador e ganhava apenas um salário mínimo. Morava na Imbiribeira junto com dois
irmãos pequeno, o Gabriel e Miguel, dois anjos, dizia. Os garçons do Savoy e de
outros bares no centro do Recife, não gostavam quando ela chegava, tentava
enxota-la das mesas, o que ela fazia com muita graça, soltando beijos para o
Careca, Egidio, Luiz e Índio, ficava em pé e nós íamos até ela e trazia para a
mesa os deliciosos bolinhos de bacalhau.
Encontro Chapinha já de
idade no Shopping Boa Vista. Bem vestida e como sempre bem enfeitada, de colar,
pulseira, brincos, anéis e um bonito relógio no pulso. Reconhece-me ao passar por ela em uma das alas
do Shopping. Você não é Taveira que
frequentava o Savoy? Claro que sou Eu, respondi. Não me esta reconhecendo? É
claro estou velha! Se fosse naquele tempo você me reconheceria logo, não é?
Vamos tomar um chope com “bolinhos de bacalhau”? Comecei a rir. Era a Chapinha
que ali estava garbosamente vestida. Como o tempo passa rápido. Ela sorrindo
lembrava de vez em quando nas horas de descanso a sua vida percorrendo os bares
do centro do Recife - como era bom aquele tempo! Muitas das vezes em casa sinto
saudades das “cantadas” que ouvia e dispensava eu levava na brincadeira aquela
ousadia. Não levava a mal estes gracejos, caso contrario perdia a freguesia, e
o meu ganha pão. Mas tudo passa na vida! Cada um com o tempo foi tomando rumo
na vida. Eu por exemplo casei-me e me dei bem. Pude ajudar a minha família
naquela época. O meu marido que faleceu há dois anos foi um bom marido.
Encontrei em uma das minhas andanças vendendo o “Bolinho” e ele enamorou-se de
mim. Era um belo rapagão português, o Joaquim. De inicio não dei muita bola. O
meu namorado acabou o namoro. Sofri um pouco, mas não desanimei e o trabalho me
dava o esquecimento. Num dia de sexta à noite, passando pelo Bar da Portuguesa,
na Rua Diário de Pernambuco, conheci o Joaquim sentado em uma mesa no fundo do
bar. Comprou alguns bolinhos que coloquei em pratinho em cima da mesa e,
engracei-me dele. Pagou e disse – gostei de você, quer namorar comigo? Não sei por
que dei o meu endereço, nunca tinha dado a mínguem. Num domingo a tarde ele
chegou a minha porta. Bateu e minha mãe foi lhe atender. Viu aquele rapaz bem
afeiçoado e perguntou – o que deseja seu moço? – Boa tarde! Saudando a senhora
que lhe atendia e perguntou por uma moça chamada Chapinha. A minha mãe não
sabia deste apelido que tinha adquirido na rua e disse – não tem nenhuma
Chapinha aqui, seu moço! O senhor está enganado. Eu tenho uma filha que se
chama Sandra, e nos a tratamos como Sandrinha. Nesta ocasião eu vinha chegando a
casa. E o reconheci de logo na chegada.
Ele me reconheceu e disse para mamãe – é Ela! Minha mãe olhou para mim e disse
– onde tu arranjaste este nome? Foi vendendo bolinhos que me chamaram de
Chapinha e o apelido pegou e todo mundo onde vendo o “bolinho de bacalhau” me
conhece por este nome. Não é que o desgraçado do português, disse – quero falar
sério com você. Minha mãe coçou o queixo e passou a mão no cabelo, já pensando
em alguma presepada que tinha acontecido na rua. Ficou olhando e disse – entre
seu moço, o sol esta muito quente! Ele entrou e foi logo ao assunto – Quero
namorar com você para em pouco tempo nos casarmos – Eu fiquei eletrizada com
aquela declaração. Não sabia se ria ou se chorava em uma tarde de domingo.
Fiquei paralisada ali em pé, tomando consciência do que estava acontecendo. Um
cara que nunca vi, vem com esta “lorota” de casamento. Pensei - onde já se viu
mulher que percorre bares ter esta proposta. Na certa queria se aproveitar de
mim. Disse – vou pensar no assunto e depois darei a resposta. Ele saiu,
beijando a minha mão. Fiquei vermelha porque nunca ninguém fez este gesto. Na
semana seguinte continuei a vender os meus bolinhos de bacalhau, e não mais vi
o Joaquim, português da cidade do Porto. No domingo seguinte, lá estava ele na
minha porta. Sorridente veio ver a minha princesa. Eu pensei – este português
esta doido varrido ou eu não sei o que fazer. Para diminuir nossa conversa
aceitei o namoro e dentro de três meses nos casamos e fomos morar em Portugal,
em uma bela casa na cidade de Porto. Ele era um comerciante que tinha vindo
passar alguns dias aqui em Recife. Ai meu querido, me dei bem! Pude ajudar os
meus familiares e dei uma vida mais tranquila. E aqui estou, devo voltar nos próximos
dias. Quinho venha aqui, chamou o filho que estava escolhendo um sapato na
Esposende. Se algum daqueles rapazes estiverem vivo dê lembranças da Chapinha
que agora é “portuguesa com certeza”. Riu dando um abraço de despedida.
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