Por Carlos Sena (*)
Sempre ouvi dizer que politica,
futebol e religião não se discutem. Algo como “ CU” que cada qual tem o seu,
quero dizer, sua opinião. Por isso não se deveria discutir, porque discutir
implicaria necessariamente emitir opinião. Mas, ora direis como viver num mundo
sem politica? E sem opinião? Porque a politica não existe na a lógica dos
partidos, mas na da vida por ela e para ela no seu sentido mais intersubjetivo.
Há quem diga que não vive sem mulher; há quem também diga que não vive sem
politica ou mesmo sem religião e sem futebol. Mas, ora direis o que finalmente
vale na vida além ou diante do fato politico, sexual, esportivo? Francamente eu
não sei à luz dos outros, mas à luz da minha ótica talvez eu pudesse esboçar o
sentir da vida: mais pelo sentimento que
o fato politico deixa; mais pelo consentimento que o ato sexual não deixa; mais
pela insensatez que o futebol proporciona a tantos.
Sempre ouvi dizer que “numa
mulher não se bate nem com uma flor”... Mas num homem se bate com quê? Com um
martelo, com uma picareta, com uma pá? Ou com um lírio do campo daqueles que
São José carrega consigo? Mas, ora direis onde entra o politicamente correto
que tanto se empordera as discussões nos becos, nas ruas e nos alagados? O
politicamente é correto ou é o reto que politicamente degenera nas questões
genéricas da sexualidade? Como se vê, o politico não é uma opinião, mas um
estado de espírito nem sempre santo, mas santificado nos altares das nossas
consciências. Porque, a rigor, não se deve bater com uma flor numa mulher, nem
com um lírio em nenhum homem. Onde entra a violência, mesmo aquela disfarçada
de “tapa de amor não dói” acaba doendo de “vera” e então o caldo pode entornar
e descambar para o inesperado.
A civilização do amor veio acabar
definitivamente com a do olho por olho e dente por dente. Mas, mesmo no amor a politica
se estabelece como conteúdo, não como forma. No conteúdo que contém a ética que
exige do amor cumplicidade. Mas, ora direis, onde deseja o pobre articulista
chegar nessa sua prosa despojada de singularidades? E então eu lhes direi: na
singularidade desta prosa há prova de que na vida não vale tergiversar por
nada. Porque por tudo se gasta quando se revela, mas sem a revelação não se
alcança o desgaste do progresso e das perdas e ganhos tão próprios da vida por
si mesma ensimesmada.
Sempre ouvi dizer que em briga de
marido e mulher não se mete a colher. Mas, ora direis, com quantos paus se faz
uma canoa para entender mulher? Que noites turvam os gatos e os tornam pardos
para entender homem? Que tempestades nos assolam sem que tenhamos um dia plantado
ventos para entender gente? Que destinos nos reserva o futuro se o futuro não
nos pertence para nada entender?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 06/07/2013
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