Por Carlos Sena (*)
Faz oito dias que escrevi acerca
do ultimo pingo da cueca. Fiz isso porque já não aguentava o “reme-reme” do
tema MAIS MÉDICOS e da invasão das ruas, ou mesmo da roubalheira dos políticos.
Pois é. Pensei que ninguém me desse bola para saber do pingo da cueca – se é o
ultimo ou o primeiro, e como se dá sua relação com a cueca. Pra minha surpresa
vi uma entrevista na TV com um comediante brasileiro que compõe o CQC. Só me
lembro da parte da entrevista em que o apresentador lhe perguntou: “o que lhe faz
rir”. Ele disse na hora sem titubear: “O PEIDO”. Aí eu relaxei. Porque também
acho que uma coisa que mais faz o povo rir é o peido. No meu interior
pernambucano o Peido tem várias denominações para dizer a mesma coisa: bufa,
vento, balançar a roseira, vudu, carniça, pum, além dos pudicamente corretos,
embora eu, particularmente não goste: flatulências. Nem mesmo o designativo PUM
me agrada. Tem coisas que a gente não se sente agraciado, como por exemplo:
dizer que alguém soltou flatulências ou mesmo pum é mesmo uma bosta. É como dar
uma topada e não chamar PORRA, ou um sonoro PUTA QUE PARIU! Eu nunca vi ninguém
dar uma topada e chamar por nossa Senhora.
Parece mesmo que a vida privada
tem muita relação com a própria privada. Senão vejamos: uma pessoa dá um peido
no meio do povo e logo alguém diz: “vai se limpar que deve ter saído mera”;
“vai pro banheiro”, etc. Porque de fato o banheiro é o local apropriado, mas,
se alguém quiser saber se é mesmo chegue no banheiro e dê um peido pra você vê
a reação de quem está por perto. O pior é que a gente, mesmo com o coitadinho
do peido já na porta fica mesmo envergonhado de soltá-lo. Porque a gente tem
medo de ele não ser silencioso e se for daquele meio falastrão então se cria um
clima de riso ou de galhofagem. Certo dia num elevador lotado, eis que sai, de
fininho, de baixo pra cima, um daqueles silenciosos brabos. Daqueles que mais
parecem carniça de gambá. Uma pessoa não teve dúvidas e falou bem alto:
“pediram um peido e mandaram um balaio de bosta”. Todos caíram numa risada só
e, resultado? Todos tragaram aquele peido gasoso e logo ele (o peido) se
dividiu entre os ocupantes do elevador. No rol desse tom meio blague, outro dia
escutei uma piada meio remasterizada, mas interessante para o tema. Dentro do
mesmo elevador eis que sai um pum daqueles meio estereofônicos. Um senhor de
cara sisuda foi logo interpelar um rapaz que todos achavam ter sido ele o dono
da proeza: “o senhor não tem vergonha de peidar na minha frente”? Desculpe, mas
é que eu não sabia que era sua vez, respondeu o rapaz.
Como se vê, peido é mesmo motivo
de riso. Conheço uma pessoa que não precisa nem do peido para rir. Na simples
menção do nome “bufa” ela já fica sem se controlar de tanto rir. Foi por isso
que, diante da resposta do comediante do CQC eu me remeti a essas tiradas que
mais parecem “botadas” meio escatológicas peidianas, meio bufentas. Porque as
histórias são todas meio hilárias posto que nós, pobres seres humanos, não nos
reconhecemos possuidores do intestino. Se fosse possível ver por dentro as
pessoas caminhando, seria por certo um espetáculo horroroso – algo como a gente
vendo o intestino funcionando! E isso nos remete, naturalmente ao falso
moralismo. De que forma? Todos cagam e peidam e se comportam como se isso só
fosse coisa dos outros. Quem também gosta de peido e ri de sobra com eles são
as crianças. Criança na banheira adora soltar peido e ficar rindo com os pais
juntos dando “apoio moral”. Depois quando elas crescem aí vem o patrulhamento,
nem sempre educativo, mas faz parte da trajetória do humano. Afinal, o peido
antes de tudo é um forte. Ele é quem anuncia triunfalmente que “atrás vem
gente”! Algumas vezes ele nos sacaneia. Quem um dia não deu um peido e veio
outra coisa? Pois é: a gente sabe que não só são as pessoas que nos traem. O
nosso Fiofó nem sempre nos é fiel.
O bom da vida é isso. É fazer do
limão limonada. É encontrar na escatologia do nosso corpo motivos de rir e ser
feliz. Algo como encontrar pérola na lata do lixo, ou tirar proveito de tudo de
bom e de ruim que a vida nos proporciona. É, antes de tudo, viver com o humor
em alta. E, humor em alta nos leva a rir de tudo, inclusive do peido, da bufa,
do pum ou do nome que melhor lhe agrade. Eu gosto do peido. E você? Há quem não
goste e deixa ele alí, preso, oprimido, em "dilúrio". Belo dia a tipa
fina começa engolir a tripa grossa. Resultado: a tripa gaiteira dá um nó nas
demais e o caba morre. Bem feito.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 13/07/2013
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