Por Carlos Sena (*)
Acho mesmo que o homem é suas
possibilidades; que a maioria deles tem seu preço; que muitos são os que, diante de deslizes de
outrem, metem o pau, julgam e condenam como se exemplos fossem de alguma coisa
ou de algum modo de vida. Acho, inclusive, e com muita consciência de que “nada
é mais conservador do que um liberal no poder”... E o poder é o que mais tem
corrompido os seres humanos, principalmente aqueles que nunca o ocuparam e que,
quando ocupam, sentem-se deuses. Isto nos diversos níveis de poderes, inclusive
nos poderes supostamente robustos do amor e do afeto. Por isto, não duvido que
o homem seja as suas possibilidades. Como não duvido que ele tenha seu preço.
Com isso, julgar se torna complexo e por demais perigoso. Quem julga
dificilmente não procede aos julgamentos utilizando seus próprios parâmetros.
As redes sociais têm nos dados
subliminares lições: diante de um mesmo fato, logo aparecem diversas versões
para o mesmo, principalmente nas legendas de fotos de políticos envolvidos com
falcatruas. Muitas vezes ficamos de boca aberta diante de uma pessoa em quem
votamos e que a mídia nos mostra que ela está envolvida em roubalheiras. A
gente fica bege. Logo desperta-nos uma tendência a julgar e condenar, o que não
significa que estejamos errados. Mas, sobremaneira, nosso “juiz” interior se
acende. Até aí tudo bem, porque nos é dado como eleitor essa condição de também
meter o "pau". O que nos dói nesses processos é que não raro a gente
vê outros igualmente se indignarem, mas quando ocupam posições politicas fazem
pior. Ou não? Ou são as circunstâncias? - Muitos que participam das farras dos
políticos corruptos não concordam quando dizemos que eles são ladrões.
Delineia-se, como vemos um
corolário de questionamentos intersubjetivos que nos deixam zonzos – porque as
verdades quando se misturam às mentiras nos deixam assim: zonzos. Algo como a
“mentira muitas vezes repetida se torna verdade”... Mas, a verdade é meio que
uma linha reta e a mentira uma linha ondulada que lhe entremeia. No horizonte a
linha reta da verdade seguirá incólume e a da mentira será sucumbida. É um
pouco dessa “confusão” os dias de hoje tão cheios de informações contraditórias
nos diversos meios e veículos de comunicação sociais.
No retorno à lógica do preço dos
homens e das suas possibilidades acho mesmo que só o caráter das pessoas pode
fazer a diferença. Caráter que se consolida na formação da família a quem
competirá o estabelecimento de valores sólidos capazes de nos frear diante de
algum preço que nos ofertem. Caráter que nos proporcione a certeza de que as
nossas circunstancias são a fonte da nossa razão e que sem ela – a razão – a
gente não subsiste diante da família e dos amigos. Mas, há aqueles que não
comungam dessa premissa e se vendem, se permitem às negociatas e às possibilidades
nem sempre probas. Neste contexto a vaidade vai ao cume e muitos, diante das
benesses que o poder geralmente proporciona vendem até a mãe pra se manter no
poder. Mesmo o espúrio – porque o poder quando se inocula nalguns cidadãos tal
qual um vírus potente, o que menos passa a lhes importar é a ética e os valores
e o respeito às relações sociais... A retórica passa a se impor como produto de
consumo deles e a tergiversação passam a compor o quadro do cinismo de muitos
que imaginam ser o céu o seu limite para suas vaidades... Por isso fica difícil
julgar e condenar, mesmo a esses que a gente gostaria mesmo de vê-los na
cadeia. Porque as verdades que a gente precisava saber para se garantir disso
não nos chega como deveriam... Julgar, então, incorreria no “não julgueis para
não serdes julgados”... Ou não?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 06/07/2013
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