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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Para não dizer que não falei de futebol




Por Zezinho de Caetés

Para aqueles que pensam que, no Brasil, futebol não tem nada com política, falar de futebol agora já cansa. Mas, para quem, como eu, pensa que tem tudo a ver, a coisa é diferente. Da última vez que escrevi sobre a “Copa das Copas” (entre aspas mesmo, para mostrar que a expressão hoje tem apenas o significado figurativo que a Dilma tenta dar) ainda estava em ebulição. Tal qual um profeta, previ que se a gerenta presidenta comparecesse ao Maracanã iria ser xingada e vaiada. Não deu outra. A “elite branca” atacou de novo, e, queira Deus ataque em outubro na urna. Só sinto as urnas modernas não usarem papéis para escrever neles as letrinhas mágicas mais usadas nos estádios atualmente: VNTC.

A partir de agora, no entanto, é normal que se esmaeçam os escritos sobre futebol e cresçam os que falam de política. Para não perder o hábito encontrei um texto, que abaixo transcrevo de um grande escritor latino-americano, o Mário Vargas Llosa, que aborda as duas coisas de uma forma genial (site do El País em 12/07/2014), e que ele intitulou de: “A máscara do gigante”. Não é preciso concordar com ele em tudo, se concordamos no essencial: Foi o Lula quem levou este país à situação de descalabro econômico e moral em que o país se encontra, e que respingaram por todos os setores, inclusive o futebol. Portanto, não é uma novidade que hoje, estejamos dando vivas à Alemanha e chorando pela humilhação que ela nos proporcionou dentro do campo. E nem pensemos fora do campo, porque poderíamos ter um enfarto do miocárdio.

Arriscando cair aqui durinho pelas falhas do velho coração tenho que pensar. Num país onde uma presidenta está tentando ser reeleita apenas por aumentar o número de pobres dependentes do Bolsa Família, não pode ganhar da Alemanha, e, se ganhou do Chile foi graças à sorte que temos por acreditarmos que Deus é brasileiro. Eu mesmo já duvido disto, pois sei se a Dilma ganhar as eleições, Deus já está com o processo pronto para se naturalizar alemão. No Brasil de hoje a classe média ganha menos do que o salário mínimo, e o lulopetismo se jacta de ter mudado o Brasil e o livrado da miséria. Enganação tem um limite, que os próprios bolsistas familiares já estão descobrindo. Quando eles vão com suas bolsinhas ao mercado já veem que elas não valem mais no fim do mês quanto valiam no início.

Para quem leu um livro todo de economia na vida, e isto, tenho certeza não se aplica a Lula nem a Dilma, sabe que não há escapatória para determinadas leis. Sem crescimento e aumento de produtividade, qualquer ganho extra por parte de um grupo será comido cedo ou tarde pela inflação. Nós, já de uma certa idade, que alcançamos o Plano Cruzado, sabemos disto. Precisamos avisar aos nossos filhos e netos do que éramos, antes do Plano Real, ao qual o PT foi contra, e que nos livrou deste grande mal, e que hoje está sendo vilmente solapado por este governo.

As coisas estão mudando tão rapidamente que agora estou usando o sistema de PS (Post Scriptum) para desdizer ou afirmar o que disse antes (agradeço ao Zé Carlos por publicar). Estou escrevendo antes de qualquer pesquisa eleitoral ser conhecida. Com a força das minhas profetizações eu digo: A gerenta presidenta vai cair, embora não saiba se outros vão subir. Espero que antes de outubro ela chegue ao chão e que venha o Lula, para talvez dar uma palavrinha sobre os resultados de sua “Copa das Copas”. Pelo jeito ele vai dizer que não sabia ou, como é do seu feitio, vai dizer que dos gols da Alemanha, 6 foram em posição de impedimento e que somos campeões morais. Mas, o povo já sabe que imoralidade tem um limite.

Fiquem com o Vargas Llosa, que mostra muito melhor do que eu em que se transformou nosso gigante pela própria natureza, impávido colosso, corroído e mal tratado pelo PT.

“Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.

Nada funcionava bem; havia algo forçado, artificial e antinatural nesse esforço, que se traduzia em um rendimento sem graça de toda a equipe, incluído o de sua estrela máxima, Neymar. Todos os jogadores pareciam sob rédeas. O velho estilo – o de um Pelé, Sócrates, Garrincha, Tostão, Zico – seduzia porque estimulava o brilho e a criatividade de cada um, e disso resultava que a equipe brasileira, além de fazer gols, brindava um espetáculo soberbo, no qual o futebol transcendia a si mesmo e se transformava em arte: coreografia, dança, circo, balé.

Os críticos esportivos despejaram impropérios contra Luiz Felipe Scolari, o treinador brasileiro, a quem responsabilizaram pela humilhante derrota, por ter imposto à seleção brasileira uma metodologia de jogo de conjunto que traía sua rica tradição e a privava do brilhantismo e iniciativa que antes eram inseparáveis de sua eficácia, transformando seus jogadores em meras peças de uma estratégia, quase em autômatos.

Contudo, eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.

Tudo nasce com o governo de Luis Inácio 'Lula' da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.

A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.

As alianças mercantilistas entre Governo e empresas privadas enriqueceram um bom número de funcionários públicos e empresários, mas criaram um sistema tão endiabradamente burocrático que incentivava a corrupção e foi desestimulando o investimento. Por outro lado, o Estado embarcou muitas vezes em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os gastos empreendidos tendo como propósito a Copa do Mundo de futebol são um formidável exemplo.

O governo brasileiro disse que não havia dinheiro público nos 13 bilhões que investiria na Copa do Mundo. Era mentira. O BNDES (Banco Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou quase todas as empresas que receberam os contratos para obras de infraestrutura e, todas elas, subsidiavam o Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder. (Calcula-se que para cada dólar doado tenham obtido entre 15 e 30 em contratos).

As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com todo o Brasil.

As cifras que os órgãos internacionais, como o Banco Mundial, dão na atualidade sobre o futuro imediato do país são bastante alarmantes. Para este ano, calcula-se que a economia crescerá apenas 1,5%, uma queda de meio ponto em relação aos dois últimos anos, nos quais somente roçou os 2%. As perspectivas de investimento privado são muito escassas, pela desconfiança que surgiu ante o que se acreditava ser um modelo original e resultou ser nada mais do que uma perigosa aliança de populismo com mercantilismo, e pela teia burocrática e intervencionista que asfixia a atividade empresarial e propaga as práticas mafiosas.

Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações e logros de Lula.

Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento. É verdade que o Brasil tinha sido um gigante que começava a despertar nos anos em que governou Fernando Henrique Cardoso, que pôs suas finanças em ordem, deu firmeza à sua moeda e estabeleceu as bases de uma verdadeira democracia e uma genuína economia de mercado. Mas seus sucessores, em lugar de perseverar e aprofundar aquelas reformas, as foram desnaturalizando e fazendo o país retornar às velhas práticas daninhas.

Não só os brasileiros foram vítimas da miragem fabricada por Lula da Silva, também o restante dos latino-americanos. Por que a política externa do Brasil em todos esses anos tem sido de cumplicidade e apoio descarado à política venezuelana do comandante Chávez e de Nicolás Maduro, e de uma vergonhosa “neutralidade” perante Cuba, negando toda forma de apoio nos organismos internacionais aos corajosos dissidentes que em ambos os países lutam por recuperar a democracia e a liberdade. Ao mesmo tempo, os governos populistas de Evo Morales na Bolívia, do comandante Ortega na Nicarágua e de Correa no Equador – as mais imperfeitas formas de governos representativos em toda a América Latina – tiveram no Brasil seu mais ativo protetor.


Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à verdade.”

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