Por Carlos Sena (*)
Aprendi que respeito ao
semelhante é quase que uma religião, se quisermos viver bem conosco. Conosco,
porque sempre se diz com o outro. Prefiro começar por mim, porque a tolerância
tem que chegar primeiro em cada um, para depois chegar ao outro no processo da
relação conosco.
Por isso aprendi que tenho que ter
vários "EUS" dentro de mim, para poder conviver com vários
"OUTROS" dentro dos outros. E, deste modo, meus "EUS" nem
sempre se entendem e travam consigo verdadeiras batalhas, muitas delas
terrivelmente "sangrentas".
Aprendi, com isso, que o mundo
moderno estimula à predominância da aparência tanto física quanto emocional.
Algo como não bastar ser, mas apenas parecer. E não são poucos os que vivem
por aí vivendo apenas querendo ser e,
naturalmente, "querendo" distância do que seja consistente, firme, verdadeiro.
Por isso aprendi que o próprio transitório como o "culto ao corpo
sarado" e relações afetivas pouco duradouras (dos ficantes) tem assumido
formatos supostamente definitivos. E, então, novamente aprendi que esse modo de
vida equivocadamente inventado tem levado pessoas a um futuro de solidão e
tédio. Porque ( e isso também aprendi) o terceiro milênio, a era de Aquarius,
não combinam com essas atitudes imediatistas e superficiais que o mundo moderno
estabeleceu como forma.
Nesse meio de concepções tão
supostamente revolucionárias, antigas instituições como a Família vão retomando
seu poder instituidor de proteção às pessoas que, não raro, se perdem em si no
vazio que mais cedo ou mais tarde caem. A idade avança, o corpo sarado
despenca, os amigos se dissipam, e a família poderá estar ali, como salvadora.
Ou não?
No final, a vida nos mostra que,
de fato, não podemos nos desvencilhar dos nossos EUS, porque os outros cada vez
mais se perdem em si. Nós, isso temos que continuar aprendendo, porque a vida
moderna, os valores, os amores, todos estão cheios de armadilhas para nos
fragilidade. Pois o homem moderno tem sido frágil na sua condução de vida e tem
se permitido aos modismos dos "mass mídia".
Aprender com a vida se faz
imperioso, porque as nossas universidades, na sede do lucro fácil, vendem
apenas informações, não "FORMAÇÕES" como um dia já foi afeita com
mais ênfase. Por isso, para se conviver com pessoas cheias de informação, temos
que ter muito respeito conosco, pois só assim, com o exercício diário, podemos
conviver bem com os outros. Isso, eu também aprendi. Ou não?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 20/05/2014
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