São Paulo ou Nordeste? |
Por Zé Carlos
Há mais de 40 anos, me formando em Economia, ciência ingrata
para aqueles que tentam fazer justiça social, principalmente, com o dinheiro
dos outros, eu não poderia dizer que estava “liso” porque ainda me restava dinheiro no bolso para algumas
passagens de ônibus. Diante desta situação financeira pior do que a do Brasil
de hoje, eu decidi enfrentar a seca. Como assim?
Para conseguir algum dinheiro e não chegar em Fortaleza,
onde iria fazer um curso de aperfeiçoamento, e ter que dormir os primeiros dias
nas marquises, resolvi aceitar uma proposta de adentrar por este sertão
nordestino, com um questionário de uma pesquisa nas mãos, entrevistando as
pessoas envolvidas com a seca que assolava nossa região de uma forma que até
hoje acontece, embora não possamos comparar seus efeitos com o que hoje existe.
Naquele período existiam as frentes de trabalho que davam sustento a muitos no
período seco, e hoje não há mais frentes de trabalho. Eu não sei decidir qual o
melhor dos dois períodos. Anteriormente se saía das frentes de trabalho, hoje
não se sai de lugar nenhum.
Foi uma grande experiência de vida o contato com aquele povo
bom e hospitaleiro de todas as cidades (lembro de Antenor Navarro (PB), Juazeiro
(CE), Exu (PE) e algumas outras que não quero puxar pela memória agora) com
histórias incríveis que, se algum dia puder, ainda escreverei sobre. Dentro de
um mês, entrevistei muita gente, cuja lembrança maior foi o pai de Luiz
Gonzaga, um dos sofredores da seca apesar de ser proprietário de um sítio. Por
este trabalho, ganhei um dinheirinho que deu para pagar a pensão no Ceará até
receber o dinheiro de uma bolsa. Sim, eu também já vivi de bolsa, embora do
tipo que sempre tinha um porta de saída para melhorar, ao contrário de certas
bolsas modernas que só aprisionam.
Mas, para que estou tocando nisto? Simples. A partir da
próxima semana irei enfrentar outra nova seca. Vou para São Paulo. Eu poderia
dizer até que fui convidado pelo governador Alckmin, pela minha experiência em
estiagem para ajudar aquele povo sofrido do seu estado. E, se isto fosse
verdade, eu até teria alguma experiência, como por exemplo, cavar açudes com a
ajuda de jumentos, o grande herói de nossos períodos poucos chuvosos do
passado. Ou então, por que não?, mostrar para ele que a solução é fazer como
muitos nordestinos o fizeram e emigrarem para outro lugar onde a chuva abunda.
O que sinto é que não posso dizer que ele envie seu povo para o sertão
nordestino, porque ainda não resolvemos o problema. Talvez, se eles viessem
para o Recife, pelo menos o Rio Capibaribe ainda não secou.
No entanto, não posso ir logo inventando histórias, nesta
emigração para São Paulo, como o fez o nosso nordestino mais famoso, o Lula,
que ainda hoje se elege lembrando daquela viagem num pau-de-arara. Eu vou num
pau-de-arara aéreo que é a classe econômica dos nossos voos domésticos, comendo
minha barrinha de cereal. Espero chegar lá vivo. E fazer o que realmente vou
fazer lá: Visitar minha filha que hoje habita aquele estado e que resolveu
cuidar dos animais paulistas (ela está fazendo o curso de Medicina Veterinária
na USP), e quem sabe um dia, voltar e cuidar dos animais nordestinos inclusive
deste animal que lhes escreve.
Deverei passa lá algum tempo, e o objetivo desta postagem,
depois de tanta enrolada escrevinhatória, é avisar aos nossos leitores, os meus
poucos, mas os muitos de nossos colaboradores, que A Gazeta Digital poderá
sofrer alguns pequenos atrasos de atualização e de publicações, até que,
enfrentando a seca paulista, encontremos um lugar de onde possa colocar o blog
em dia, como sempre o faço, com todo prazer, e sendo este prazer nossa única
paga. Embora não tenha sido isto que informaram à justiça de Bom de Conselho,
que me condenou, pelo que outra pessoa disse em nosso Mural. O juiz pensou que
eu ganhava muito dinheiro com a AGD. Eu apelei, pelo tamanho do erro, mas, só
tenho a dizer que seria melhor que ele estivesse correto. Pelo menos eu iria
para São Paulo de primeira classe.
Espero que os transtornos da viagem sejam os menores
possíveis para continuarmos tentando informar Bom Conselho e adjacências sobre
o que se passa no mundo. Como dizia o filósofo de Bom Conselho “é melhor ver se a lâmpada está queimada do
que reclamar do poste”.
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