Por Carlos Sena (*)
Joana era uma senhora bonita, “reboculosa”
– loira de farmácia, mas loira. Morava num bairro nobre do Recife em um prédio
simples, mas bem localizado para o exercício da sua profissão. Quem a visse
produzida não dizia que ela era mãe de uma jovem de 15 anos, tampouco que
morava naquele prediozinho chinfrim. Quando Joana saia de casa por gosto se
poderia ver, diferente da sua filha que, embora jovem, era insossa, sem
atrativos como a mãe.
Diziam as más línguas que ela
trabalhava numa empresa durante o dia, mas durante a noite ou em horas vagas,
“rodava a bolsinha” para complementar sua renda mensal.
Quando alguém era apresentado a
Joana imaginava logo se tratar de uma madame fina da alta sociedade
pernambucana, mas... O buraco, literalmente era mais embaixo.
Certo dia ela se queixou a uma
sua vizinha de apartamento. Dizia não ter sorte com os homens, pois desde que
seu casamento acabou ela não conseguiu um relacionamento sério com ninguém. De
fato isso era o que todo mundo que a conhecia se perguntava, pois Joana, como
disse se vestia bem e tinha um ar de sedutora além de um bom papo.
Surpreendentemente, eis que surge um “príncipe encantado” na vida dela!
Alvíssaras. Já não era sem tempo. Bela noite, Joana sai para a noitada (hoje
seria balada) ou, como se diz na gíria, para a “batalha”. Foi a um barzinho da
moda – daqueles que tem musica ao vivo e são muitos bons para a “pegação”
(mulher de hoje pega os homens!). De repente, ela se sente olhada por um senhor
que tinha cara de gringo. Mas não era. Era um empresário paulistano que estava
passando férias no Recife. Amor a primeira vista. O homem endoidou por Joana e
passou o resto das suas férias saindo com ela o tempo todo. O empresário ficou,
de fato, apaixonado por ela e logo engatou aquilo que a gente chama de “relação
séria”. Mas, as férias do pretendente de Joana chegaram ao fim. No aeroporto
ele se despediu com um ardente beijo. Ela, coitada, chorava a cântaros. Mas ele
a consolou dizendo que ia mandar uma passagem para ela e sua filha passarem um
mês em São Paulo. E cumpriu sua promessa.
Mandou duas passagens de avião – uma pra ela e outra pra sua filha. E as duas
se foram conhecer Sampa em alto estilo. Ficaram num hotel cinco estrelas com
tudo pago pelo namorado apaixonado. Finalmente, pensou Joana, encontrei o que
tanto esperava!
De volta a Recife, a relação ia
de vento em popa. Joana era riso só, felicidade só e não escondia da sua
vizinhança. Parecia “pinto no lixo” de tão contente. Mas, olha o “mas” aí!
Certo dia Joana teve a idéia de escrever para o empresário dizendo estar grávida
e que, por conta disso, precisava de dinheiro para fazer o pré-natal da
criança. Não demorou muito e logo veio, também por carta, a tão esperada
resposta. Joana abriu a missiva e... Dentro tinha um cheque de dez mil reais!
Em anexo, um atestado do médico que dizia ser o empresário vasectomizado há
mais de dez anos.
Assim, com um simples “adeus” o
empresário paulista curtiu sua decepção. E deu nela essa conhecida “tapa com
luvas de pelica”...
Joana até pensou em suicídio, mas
como boa puta (embora burra) logo foi para a rua tentar encontrar mais um
suposto bobo...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 15/09/2014
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