“De olho na política
POR MÍRIAM LEITÃO
Se os juízes do TRF-4 votarem de
forma unânime confirmando a condenação do ex-presidente Lula, os recursos que
os advogados do ex-presidente apresentarem não terão efeito suspensivo da pena.
Sendo assim, ele estará, muito provavelmente, fora da disputa. Na ligação
intensa entre economia e política, o próximo dia 24 está marcado em vermelho no
calendário.
A economia sempre tem efeito
sobre as eleições. Este ano será o oposto. A disputa eleitoral deve produzir
momentos de muita volatilidade cambial e provocar adiamento das decisões de
investimento. A política também tornará o ano fiscal muito ruim. No fim de
janeiro, o governo divulgará que as contas públicas de 2017 fecharam com alguma
folga em relação à meta, mas aumentaram os temores sobre 2018.
Uma das primeiras más notícias
nas contas públicas deve ser o anúncio de um contingenciamento de R$ 20
bilhões. E isso porque na política nada andou. O Congresso não aprovou as
medidas de ajuste que permitiriam o Orçamento como ele foi pensado. Uma delas,
a que adia o reajuste dos funcionários, foi barrada pelo ministro Ricardo
Lewandowsky e isso eleva em R$ 5 bilhões as despesas. A receita com a taxação
dos fundos exclusivos foi perdida porque a MP não foi aprovada.
A análise de cada um dos
indicadores mostra melhora, mas a economia não está isolada. Ela faz parte de
um contexto de extrema incerteza política. A primeira dúvida é quem estará
concorrendo para presidente, o que só ficará claro ao longo dos primeiros
meses. A segunda é como o Congresso vai se comportar diante da rigorosa agenda
fiscal do país, que tem medidas impopulares e a reforma da Previdência para ser
votada em fevereiro.
As projeções dos economistas são
de que o ano terá o crescimento em torno de 3%. O governo ainda está com a
projeção de 2,5%. Isso é melhor do que os últimos quatro anos em que houve
estagnação, dois anos recessivos e um ligeiro crescimento. Mesmo assim é menos
do que o país precisa para consertar a devastação que houve no mercado de
trabalho. O desemprego deve cair na média do ano, ainda que tenha sempre a
oscilação natural de um começo com alta da taxa e uma queda nos últimos meses.
A inflação ficará baixa, mas subindo um pouco em relação ao ano de IPCA bem
reduzido que foi 2017. A safra será boa, mas não tão abundante. Os juros devem
continuar baixos, e um período prolongado de Selic reduzida ajudará a economia.
O que marcará o ano não será um
ou outro indicador, mas sim o quadro político de uma forma geral. E a ligação
será imediata. Por exemplo: o governo está contando com a privatização da
Eletrobras. Se ela não acontecer serão R$ 12 bilhões a menos de receita e o
governo terá que fazer outro corte nos gastos. A tensão interna, entre quem
quer gastar mais por ser ano eleitoral e os que tentam controlar o caixa de um
país em crise fiscal, vai aumentar ainda mais.
O que afetará mais diretamente a
economia será o quadro da disputa eleitoral. Nos momentos em que estiverem na
frente candidatos com discursos populistas e radicalizados, os ativos em bolsa
e o dólar vão oscilar fortemente. A alta do câmbio sempre tem efeito na
economia real porque contamina a inflação. A boa notícia é que o Banco Central
está preparado, com reservas e baixa exposição ao dólar, para atuar no mercado,
revertendo momentos de tensão e de alta exagerada.
Todas as eleições são incertas,
mas essa será mais incerta que as outras. Por isso tem sido tão frequentemente
comparada à de 1989. Mas até aquele ano inaugural das eleições diretas,
pós-ditadura militar, não reflete inteiramente o grau de incerteza de 2018.
Desta vez a dúvida será ainda maior. Se o ex-presidente Lula estiver
concorrendo, a eleição será naturalmente polarizada desde o início. Num quadro
de polarização, pode haver demanda por uma pessoa de centro, longe dos polos. O
beneficiário dessa ida do eleitor em busca do centro não está definido. Se o
ex-presidente Lula não estiver na disputa, os votos lulistas não serão
transmitidos todos para a pessoa que ele apoiar. Devem se dispersar, formando o
quadro fragmentado parecido com o de 1989. A economia passará este ano de olho
na política, porque ela é que vai definir o cenário atual e futuro.”
-----------------
AGD comenta:
Como diria um filósofo de Bom
Conselho, aquele que pensar que sabe o que vai acontecer em 2018, está
desinformado ou de má fé. Eu hoje estou de má fé e penso que uma das coisas
certas é que o Lula terá sua condenação aprovada, no TRF-4.
Não me aventuro a dizer mais
nada, pelo que li acima e alhures. Não posso dizer que estamos num mato sem
cachorros, porque o que não faltam no Brasil são cachorros em todos os partidos
políticos. De todas as raças.
O que me mete mais medo do
imponderável são as eleições. Será a grande esperança, mas, poderá ser nossa
grande decepção. Já pensaram se o Renan for reeleito?
Nenhum comentário:
Postar um comentário